Madrugada passada
Tudo estava tranquilo (só que não) pois o Conde Vlad Tepes III ordenara e liderara um ataque brutal com os seus mais de 600 homens – melhor dizendo, vampiros – a matilha de seu rival Magnus.
A guerra entre lobisomens e vampiros estava no seu auge como fora esperado, pois do nada os vampiros comandados por Vlad, ou assim este se intitulava, pois o verdadeiro Conde morrera a muitos anos e seu filho que poderia ter tomado o seu lugar sumira no mundo após cometer um massacre doentio em um mosteiro. Esse tal 'Conde Vlad'de agora também era bom em cometer
atrocidades e até agora nenhum ser viria seu rosto a não ser seus cruéis olhos vampirescos (o conhecido rubi em águas negras) que seu capacete que cobria todo o resto deixara á mostra, bem como seu longo casacão que só mostrava seu pescoço branco como leite.
Os lobisomens como sempre atentos a qualquer movimento e cheiro diferente dos seus já haviam mandado as mulheres e crianças para mais longe do acampamento, enquanto estes cuidavam dos intrusos.
Não havia lua, nem um resquício de estrelas, nem vento até parecia que o vento havia feito uma pausa para dormir e nem o uivar de dor e raiva dos lobos e/ou o esganiçar estridente dos vampiros junto ao barulho dos sabres e espadas poderiam acordá-lo. Há alguns vampiros que se utilizavam de sabres de prata para matar os lobisomens, os mais vis preferem o método tradicional: decapitação, com as próprias mãos e, por fim, para o deleite destes, a empalação (ato abominável de enfiar uma estaca pela boca
e/ou ânus e fazer sair pelos mesmos).
O acampamento se tornara um campo de guerra violento, havia vários corpos mutilados e ensanguentados por todos os lados, outros ainda agonizando e alguns poucos sãs protegendo os que se recuperavam – caso dos lobos.
Um exemplo claro era Magnus que estava com os pelos cobertos de sangue e com os olhos em chamas de raiva estava em pé ao lado do filho um pouco ferido á frente de dois lobos que estavam com as pernas quebradas e deslocadas, e dito momento, outros dois recolocavam seus ossos no lugar.
-É louvável vocês quererem proteger aqueles que já estão mortos – falou Vlad em romeno (coincidência?) ao surgir entre alguns vampiros cobertos de sangue a alguma distância segura de Magnus e os do seu lado com as bocarras arreganhadas e salivando.
Magnus respondeu a altura e em romeno ao voltar a sua forma humana.
-Nós, lobos somos assim, mas no momento estou tentado a matar um vivo para fazê-lo morto, se é que isto é possível
já que você está morto a muito tempo.
Claro que o Conde não gostara nada da indireta, no caso, bem direta. E ele próprio fora atacar Magnus e assim, novamente a carnificina iniciou-se, mas a atenção estava voltada para os dois líderes.
O primeiro a dar o golpe fora Magnus que assim que Vlad entrou em sua linha imaginária de ataque e defesa colocou toda a sua fúria lupina em sua garra que arrancou com um único golpe arrancara a máscara de Vlad e levou junto dela seu olho esquerdo , e assim todos viram sua face demoníaca.
Magnus e até os próprios vampiros arregalaram os olhos diante de toda a coisa horrenda que era aquele rosto, se é que poderia se chamar aquilo de rosto. E agora sem um olho só piorou a grotesca imagem.
Vlad sentiu o sangue escorrer em seu rosto já todo rasgado e queimado; cicatrizes se encontravam até mesmo por sua cabeça raspada - não era de admirar que usasse aquela máscara. Para Magnus, aquele homem só poderia ser um dos turco otomanos que certa vez fizeram o verdadeiro Vlad prisioneiro , e que de alguma forma ele tenha feito uma troca pela liberdade de Vlad pelos poderes até então desconhecidos a este.
Vlad rosnou correndo de encontro a Magnus com unhas letais, dentes como navalhas e a força dos golpes que iam e vinham como choque entre espadas. Ora Magnus o atingia com patadas e mordidas violentas ora Vlad o fazia com suas unhas e como sabia que um lobo com quebraduras precisaria de outro, dependendo do lugar a ser 'concertado', resolvera atingir Magnus diretamente no meio de suas costas Vlad sorriu com o uivo da dor do inimigo ao ouvir os ossos das costas do mesmo se quebrando contra seus
órgãos enquanto ia ao chão se retorcendo.
Afastada do acampamento, dentre árvores Sheila sentiu um aperto no peito e olhou com expressão atormentada pelo caminho que levava de volta ao acampamento e sussurrou para si o nome de seu marido.
Augusto que arrancava a cabeça de um vampiro cujo o sangue espirrava em seu rosto e peito ouviu o barulho inconfundível de ossos se quebrando e o uivo da dor de um lobo e quando viu-se tratar de seu pai não pensara duas vezes em ir ao seu encontro.
Magnus não esperava por um ataque traiçoeiro, mas aa culpa fora sua, ainda não aprendera de que um vampiro pode se esperar tudo, principalmente, ataques á traiçoeira.
Quando se dera de conta seus ossos já estavam sendo quebrados e muitos de seus órgãos perfurados. E por instinto, pensara na mulher e em seus filhos enquanto caia ao chão sufocado, provavelmente algum osso adentrara seu coração ou pulmão.
Vlad não esperava atingir e tão pouco derrubar esse lobo, pois a fúria que corria em suas veias era mais intensa do que a trocada entre ele e o verdadeiro Conde, então não poderia perder tempo pois conforme fora tratado entre ele e o Conde – mate todo e qualquer Alfa com mais brutalidade do que mataria qualquer outro lobo. E queime-o –palavras do próprio antes de escapar das masmorras do castelo com a ajuda de seu substituto. Seu escravo.
Sendo assim, desde o momento em que saíra das Cavernas do Norte junto com os seus vampiros já tratava de preparar um sabre banhado em óleo de baleia que ao menor resquício de fogo queima tudo. Mas no dito momento em que empunhava o sabre em direção a Magnus que agonizava ao voltar a forma humana com gritos sufocados, um lobo negro surgira acertando-o pela lateral do corpo lançando-o para longe, mas não soltara o sabre.
O lobo negro posicionou-se á frente de Magnus e o desafiara com os olhos a ataca-lo. Se ousasse...
Vlad rosnou, não seria aquele lobo que o deteria, pois custe o que custasse, hoje o Alfa morreria.
-Afastem o lobo negro do Alfa – ordenou; o lobo negro rosnou em fúria, e tudo acontecera rápido e letal com um golpe de flecha com a dor que sentira ao ver o pai ser queimado.
Não se sabe como, mas vários vampiros surgiram de todos os lados cercando e atacando Augusto que matara vários, mas já era tarde. Vlad correra até Magnus que todo quebrado nem conseguira se defender, em fúria enfiou o sabre em seu peito – e seu último olhar fora dirigido ao filho - então as chamas surgiram e o consumiram.
-Não!!! - gritou Augusto desesperado, já tinha se livrado dos vampiros mas já nada podia fazer pelo pai.
Vlad riu em deleite – agora é sua vez, garoto – e foi ao seu encontro enquanto um vampiro lhe entregava outro sabre.
As narinas de Augusto inflaram com a raiva que estava a sentir, mas então aconteceu algo que nem os vampiros ou lobos esperavam; as lobas da matilha de Magnus surgiram de todos os lados por entre as árvores já matando vampiros pelo caminho.
Sheila nunca fora de desrespeitar as regras da matilha, principalmente os pedidos de seu marido a ela, mas ele sempre, e bem sabia que se necessário fosse, ela infligiria toda e qualquer regra para proteger os seus.
Augusto não esperava que a sua mãe iria ir contra um pedido do pai e tão pouco que esta iria surgir com as lobas e empunhando dois sabres em mãos, os cruzaria como uma tesoura e separaria o pescoço do corpo de Vlad que só teve tempo para arregalar os olhos.
Os vampiros ainda vivos depois que viram o seu líder ser decapitado, e o pior, por uma mulher acabaram fugindo.
-Jamais mexam com a família do grande Magnus.
Sheila já havia visto um corpo destroçado pelas chamas, mas ainda não havia reconhecido que era o do marido até olhar para o filho, caído ao lado do que sobrara do corpo e chorar.
-Meu Deus, não - murmurou ela com lágrimas rolando por seu rosto.
Dia presente
Lágrimas rolaram pelo rosto de Augusto ao ver Soraia chorar sobre o túmulo do pai. Soraia dissera que ele não precisava lhe acompanhar, mas como sempre lá estava ele, a uma certa distância para o que ela precisasse.
-Pai, que falta o senhor faz – murmurou chorosa ao passar a mão pela fato do pai na lápide de granito adornada com esmeraldas, e como sempre, o tempo chorou com ela.
-Perdão - pediu ao olhar o sorriso do pai na foto e desejar que ele ainda estivesse ali. Então uma mão forte e morena pousou sobre a sua, um calor lhe envolveu as costas e a outra mão lhe rodeou a cintura e uma voz murmurou – a culpa não foi sua – e beijou-lhe a lateral da cabeça.
-Mas se eu não tivesse me envolvido com Julio Cesar –tentou achar uma desculpa pela morte do pai, mas Augusto a interrompeu.
-Seu pai iria atrás de qualquer um humano ou não para te salvar. E além do mais, você fez justiça em nome dele ao matar seu assassino.
-E eu me tornei uma assassina – disse ao secar as lágrimas com as pontas dos dedos – mas não consigo me arrepender.
-E nem deve, pois Julio Cesar fez coisas tão brutais que não se pode nem nomear. Você fez um favor ao mundo livrando-o dele.
-Obrigado por você estar ao meu lado.
-Obrigado por você me deixar ficar ao seu lado - então trocaram um sorriso e se abraçaram fortemente.