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MAR DE AMOR - SANDRA – PARTE 5
Marcos continuou:
- Tenho medo que ela não seja o que eu penso que é... ou melhor... tenho medo de que ele esteja apaixonado só pela imagem dela. Ela é linda, mas é só uma menina. Ele se apaixonou muito rápido, na primeira vez que a viu. Pode ser só fogo de palha... sei lá...
- Neurose tua! – Sandra disse.
- Ela é uma menina, Sandra! Não é como você com quem eu posso conversar de igual pra igual sobre qualquer assunto além do básico do curso que a gente está fazendo. Que papo eu vou ter com uma garota que está fazendo o primeiro colegial?! Eu estou no terceiro de Odontologia! Daqui três anos eu vou ser um dentista formado e ela?
- Vai estar cursando algum ano de alguma faculdade e daí?
- Não sei... Talvez seja só um Top Model de alguma grife famosa e eu não quero ter uma boneca de cabeça vazia do meu lado! Eu já sei o que é isso! Minha mãe era assim!
Sandra ficou olhando para ele, entendendo todo seu drama.
- Você considera a Dione uma boneca de cabeça vazia? Você se apaixonou por essa boneca de cabeça vazia?
Ele pensou por um momento e respondeu:
- Não... Eu me apaixonei... pela mulher que ela era enquanto a gente fazia o comercial... Ela não era uma menina naquele momento...
- E você era o adolescente que era seu personagem...
- Acho... que sim... Não... Não sei! Não importa... Vivendo a vida real agora... ela é uma menina agora, deslumbrada com o próprio rosto e isso é uma coisa super normal. Ela é linda mesmo e tem que aproveitar essa beleza. Nem todo mundo tem esse privilégio. Ela é... perfeita. Mas... ser modelo é um ramo de atividade que só tem futuro se a pessoa tem cabeça pra crescer por dentro também enquanto está diante das luzes dos spots. É uma emoção fácil, mas rápida. Se você não se faz notar por dentro, além de por fora, as pessoas se esquecem logo que você é um ser humano com alguma coisa por dentro e te trocam rapidamente por um rosto mais bonito.
- Você se sente frustrado depois que fez o comercial, Marcos?
- Não. Eu fiz o comercial porque meu tio me indicou, fiz o teste e passei. Eu precisava da grana. Mas eu não quero isso como profissão, senão não estava fazendo Odonto. Mas a Dione está nisso de corpo inteiro. Ela já me disse que quer levar isso adiante. Ela vai sair na capa de uma outra revista aí, em pouco tempo e eu sei que vai ser notada, mas até quando?
- Acho que eu te entendo, mas... até onde isso atrapalharia sua relação com ela?
- Eu já disse: tenho medo de... de me intrometer, de ser muito radical como meu pai é sobre isso, é podá-la. Ela precisa de alguém como ela do lado.
- Luciano...
- É... o Luciano.
Sandra foi sentar-se ao lado dele e perguntou:
- Você já ouviu dizer que dois bicudos não se beijam? Dois iguais não se combinam.
Marcos riu.
- Isso não é uma lei que se aplica sempre, Sandra. É como acreditar em signo... Se isso for verdade, você também não serve pra mim!
Ela sorriu.
- Vou me lembrar de manter a boca fechada da próxima vez.
Ele segurou sua mão.
- Eu já gosto demais de você, Sandrinha, e não vai ser muito difícil eu chegar a sentir por você o que eu sinto por ela. Me ajuda.
Sandra o abraçou e o beijou apaixonada.
- Você não está se violentando, Marcos?
- Violentando? Não, por quê? – ele estranhou.
- Deve ser uma barra ouvir da pessoa que a gente ama a declaração de gosta da gente da gente também e jogar tudo pra cima como você está fazendo. Depois do que ela te disse, eu não estaria aqui comigo. Estaria lá com ela usufruindo da minha sorte.
- Ela tem quinze anos, Sandra.
- Nunca teve namorado?
- Teve. Ela namorava um garoto enquanto fazia o comercial comigo. Eu o conheci. Ele tem dezoito anos.
- Namorava? Não namora mais?
- Ela namora meu irmão agora. Deixou o carinha pelo Luciano.
- Ela é virgem?
Marcos riu.
- Você já está querendo saber demais. Não sei!
- Pois eu acho que não é!
- Porque essa certeza, sabichona?
- Ela é modelo fotográfico, vive no meio de pessoas bem versáteis. Já deve ter transado com o namoradinho, não?
- Não sei! – ele disse, colocando as mãos no rosto e ficando desconcertado e vermelho. – Faz uma pergunta mais fácil!
- Tudo bem, não precisa responder. Não quero te constranger. Você não quer nem testar?
- Não... Ela tem... quinze anos. Mesmo o Luciano acho que não devia... testar, como você diz. Eu até já falei isso pra ele.
- Mas não é passível de acontecer?
- Ele está doido pra fazer isso, mas não acho que seja a primeira coisa em que se deva pensar, Sandra, quando se começa a namorar alguém. Ele não é um pedaço de carne, é um ser humano.
- Pra um garoto de dezoito anos isso não tem muita diferença.
- Pra mim tem, muita!
Sandra ficou olhando para ele, pensativa.
- Por mais que eu te ame, Marcos, por mais que eu tire proveito disso... eu quero o teu bem, quero te ver feliz... e definitivamente a sua felicidade não está comigo ainda.
- A felicidade está onde a gente estiver, é só abrir um caminho pra ela passar. Você pode ser a minha luz no fim do túnel...
- Eu posso ficar muito convencida, sabia? – ela disse, acariciando seus cabelos, e beijando sua boca. – Posso começar a fazer exigências.
Ele riu, apertando-a nos braços.
- Como o quê?
- Ah, tipo... Vou começar a proibir você de usar a marca Lunny's...
Ele afastou-se para olhá-la nos olhos.
- Vou ter que jogar fora toda roupa que eu ganhei deles?
- Hum, hum... A começar por essa aqui.
Sandra começou a desabotoar a camisa de brim azul que ele usava.
- Essa não é da Lunny's!
- Não? – ela perguntou, sem parar de tirar a camisa.
- Não...
- Hum... É que agora eu não quero marca nenhuma em cima de você.
Marcos sorriu e deixou que ela tirasse a camisa, até ajudou. As roupas dos dois foram caindo no chão uma a uma até que não ficou mais nada.
Em segundos, eles estavam deitados no carpete fazendo amor e Sandra sussurrava:
- Tem certeza de que não quer pensar um pouco sobre isso?
- Estou pensando... fica quieta... não me atrapalha...
Ela riu e mordeu o lábio inferior, beijando seu pescoço em seguida.
Algum tempo depois, depois de um silêncio nascido do cansaço e da total falta de palavras, Marcos disse:
- Preciso ir...
Sandra, abraçada a ele e com a cabeça recostada em seu peito, fechou os olhos e o abraçou mais forte.
- Não deixo não...
- Isso não pode acontecer toda noite, sabia?
- Por que não?
- Vai acabar virando vício.
- Um vício que não vai nos custar nada. Não faz mal pros pulmões, nem pro fígado... Muito pelo contrário. É uma viagem, mas que traz a gente de volta com a cabeça ótima. A gente estuda e rala o dia inteiro e depois vem transgredir as leis do amor mais abençoadas por todos os anjos.
Marcos riu e beijou sua testa.
- Eu te amo, ela disse.
Ele a beijou na boca e sentou-se, começando a pescar as roupas jogadas em volta deles e se vestindo aos poucos. Sandra continuou deitada e ficou olhando para ele se vestir, até que, já vestido, ele deitou sobre ela e a beijou novamente.
- Obrigado...
- Fica, dorme aqui, a gente vai pra faculdade juntos amanhã...
- Até amanhã, ele disse, ignorando-a.
- É horrível deixar você ir...
- Eu não vou morrer.
- Não, espero que não, mas sempre tenho a impressão de que amanhã você não vai ser mais meu. Sei que você vai dirigir até sua casa, tomar banho, jantar e dormir... pensando nela. E eu vou morrer de ciúme.
- Depois do que a gente fez aqui, não acho isso possível... Não sou tão volúvel assim, aliás, eu não sou volúvel. E sua função aqui é me fazer esquecer e não me lembrar, mocinha! Eu quase consegui.
- Desculpe!
Beijaram-se várias vezes e ele se levantou. Ela também.
- Veste logo a roupa, garota, vai ficar resfriada, ele disse, brincando.
- Não vou nem tomar banho, hoje, ela disse, sorrindo e se abraçando.
- Por quê?
- Pra dormir com teu cheiro em mim.
- Eu, hein! Se a moda pega...
Ele a beijou novamente.
- Tchau, até amanhã.
- Tchau, meu gato.
***********************************
Mal colocou o carro na garagem de casa, Marcos já foi recebido por Luciano que, animado, disse:
- Tenho uma novidade do tamanho do mundo pra te contar!
Marcos saiu do carro e riu.
- Deve ser grande mesmo hein? Pelo tamanho do sorriso e pra você estar fora da cama a essa hora da noite.
- Adivinha!
Marcos fechou o carro e foi entrando na casa, mais ou menos sabendo o que seria.
- Não faço a mínima ideia.
- Chuta, vai!
Ele colocou os cadernos sobre a mesa da sala e chutou:
- Foi contratado pra fazer novela na Globo?
- Não! – disse Luciano com uma careta. – Que coisa mais brega!
- Brega por quê? Eu fui sondado uma vez enquanto o jingle da Lunny's estava bombando. É dinheiro, não é? Fiz muita força pra declinar.
- É, mas... não é isso. Tenta de novo.
- Ah, é coisa mais chique? – brincou Marcos.
- Chiquérrima!
- Ah, não sei, Lu, fala logo. Não estou com cabeça pra adivinhações.
- Estou... namorando oficialmente a Dione!
Como já imaginava que podia ser aqui, Marcos procurou ficar firme e natural.
- Hum... Que legal!
- Só isso? Pensei que você fosse ficar feliz como eu estou!
- Por que eu ficaria feliz como você? É você que está namorando com ela, não eu! Mas eu pensei que isso já estivesse acontecendo faz tempo.
- Não, ela estava indecisa. Hoje de manhã ela me ligou dizendo que queria falar comigo e concordou com o meu pedido.
- Hoje de manhã?
- É, achei meio estranho, já que ela tinha me dado o prazo até domingo, mas... ela não resistiu ao meu charme. Não é o máximo?
- É, é o máximo sim. Meus parabéns.
Marcos bate duas vezes nas costas do irmão. Thereza apareceu na sala.
- Chegou?
- Cheguei, Theca. Ainda te alguma coisa pra eu comer? Estou morto de fome.
- Eu guardei um prato pra você, meu bonequinho. Vou esquentar.
- Obrigado, linda.
Ele foi para o quarto e Luciano o seguiu.
- Onde você estava?
- Adivinha, Marcos brincou, começando a tirar a roupa.
- Na faculdade, claro, eu sei, mas você não sai tão tarde. Depois da faculdade.
- Estava... estudando com uma amiga.
- Hum... estudando, é? Com a Sandra?
- Como você sabe?
- Não sabia. Chutei. Você falava dela toda vez que a gente falava por telefone. O nome me veio à cabeça. Ela parece ser gente boa.
Marcos riu, tirando a calça e colocando um moletom.
- Boa memória, hein?
- É só uma amiga ou... rolam outros assuntos?
- Você quer saber se é namoro, é. Rolam outros assuntos, sim.
- Que legal! E ela é bonita? É gatinha como a minha Di?
Marcos ficou olhando para ele e sentiu vontade de tirar vantagem da situação.
- Ela é linda, além de outras coisas. Você não devia ver só ver beleza numa garota, cara. Isso não ajuda a durar o namoro, hein?
- Foi só uma pergunta de praxe, maninho. Se ela está no terceiro de Odonto, deve ter no mínimo uma cabeça igual a sua e no mínimo muita cabeça. De repente ela pode até ser feia, de óculos, magricela e já começando a ficar com cara de dentista. Mas se você gosta...
- Você está falando da minha namorada, moleque. Você acha que meu gosto é tão estranho assim?
- Não, claro que não, mas é difícil imaginar uma gata fazendo Odontologia. Quando ela for dentista mesmo, os caras vão ao consultório pra ela examinar as bocas deles bem a fundo!
- Que absurdo! – Marcos disse, rindo. – Não fala bobagem, Luciano!
- Mas é sério! Eu nunca vi uma mulher dentista!
- Ela não vai ser dentista como os homens costumam ser.
- Não?
- Não. Ela trabalha como assistente social numa instituição particular aí. Uma espécie de hospital pra crianças carentes e eles contratam estudantes de Odonto pra cuidar dos dentes da garotada, só que ela quer ser efetivada no cargo.
- Ah, que pena!
- Por quê?
- Eu já estava imaginando tendo consultas de graça com a minha cunhada.
Marcos jogou a camisa nele.
- Doente!
Luciano segurou a camisa e sentiu um perfume diferente nela.
- Hum... Que cheiro bom! Perfume feminino, hein, cara? A coisa está boa!
- Não enche, disse Marcos, tomando a camisa dele.
Luciano riu.
- Vamos fazer um programa, amanhã à noite?
- Programa? Que programa?
- Sei lá... sair, nós quatro. Eu, você, a Dione e a Sandra.
- Pode ser. Vou falar com a Sandra.
- Joia!
**********************************************
Na manhã seguinte, Marcos falou com Sandra sobre o convite do irmão.
- O que você acha?
- Por mim, tudo bem. Vou adorar conhecer seu irmão. Mas você está preparado pra isso?
- Vou ter que me acostumar, não vou? Ela aceitou namorar com ele por sua causa, porque viu que eu não podia mais corresponder ao que ela sente, já que namoro com você. Nós estamos sendo empurrados pra longe um do outro sem querer. So que eu não posso me afastar dela. Ela é... namorada do meu irmão e eu não vou poder evitá-la a vida inteira, ainda mais porque ele pode descobrir e eu não quero isso. Eu vou ter que engolir a Dione pendurada no braço do Luciano, quer queira ou não.
- Hum... Você ficou tão amargo nessa frase...
Ele respirou fundo e não disse nada.
Quando chegou em cada à tarde, Dione estava lá, sendo o centro das atenções de Thereza e Mara que tinha chegado cedo do trabalho, como em toda sexta-feira.
- Eis que chega o meu grande brother! – falou Luciano ao vê-lo entrar.
- Marcos, você não disse pra gente que ela era tão linda! – exclamou Mara, deslumbrada com a garota.
Dione estava realmente muito bonita, vestida num conjunto azul de plush da Lunny's, com os cabelos presos num rabo de cavalo e com uma maquiagem bem leve, mas que realçava bem seu rosto de menina.
Ele olhou para ela demoradamente, extasiado, e finalmente se lembrou de dizer alguma coisa.
- Oi, Dione!
- Oi, ela respondeu, sorrindo quase que forçado.
- Como é? Falou com a Sandra?
- Falei... Ela... Ela topou. Eu vou só tomar um banho, me trocar e a gente sai. Fiquei de pegá-la em casa.
- Tudo bem.
- Com licença. Eu não demoro.
Ele foi para o quarto. Thereza pediu licença também e foi atrás dele. Encontrou Marcos apoiado na escrivaninha.
- Filho...
Ele se voltou para ela rapidamente e procurou disfarçar, tirando o relógio e ajeitando com mais cuidado do que o de costume em cima do móvel.
- Oi, Thê?
- Você está bem?
- Estou... Eu estava aqui pensando... na roupa que eu vou por. O que você sugere, Theca?
- Você estava pensando em tirar a roupa aí da gaveta da escrivaninha?
Ele percebeu o que havia dito e onde estava e foi para perto do guarda-roupa, abrindo a porta, confuso.
Thereza se aproximou dele e sugou seu rosto entre as mãos.
- Filho, diz, olhando nos meus olhos que você não se apaixonou por aquele anjinho de olhos verdes que está lá na sala com seu irmão?
Marcos ficou olhando para ele também e seus olhos se encheram de água. Ele abraçou a empregada e não respondeu.
- Filho, por que você deixou seu irmão chegar primeiro?
- Eu não quero falar sobre isso, Theca, ele disse, afastando-se dela e tirando alguns cabides com camisas de dentro do guarda-roupa. – Se você não vai me ajudar a escolher uma roupa, me deixa sozinho. Eu preciso me trocar.
Ela balançou a cabeça e saiu do quarto.
Depois que ela saiu do quarto, Marcos foi para o banheiro e depois de fechar a porta, apoiou-se na pia e olhou-se no espelho, mas são viu o reflexo de Dione nele.
**************************************************************
Mara e Thereza deixaram Luciano e Dione sozinhos na sala com a desculpa de irem fazer alguma coisa para o café da tarde na cozinha.
- Minha tia gostou de você, Luciano falou, tocando o queixo dela.
- Também gostei dela. E a dona Thereza parece ser uma mãezona pra todo mundo aqui, não é?
- E é! Ela trabalha pro meu tio desde que ele se casou com a tia Mara, há cinco anos. Depois o papai e o Marcos vieram do Rio e a família começou a comer inteira na mão dela, com exceção de mim e da minha mãe. Mas eu gosto um bocado da Theca. Toda vez que eu vinha pra cá nas férias, ela me tratava feito filho e trata até hoje. É mais carinhosa comigo que minha mãe mesmo.
- E sua mãe, por que não vem pra cá, já que você também está aqui? Quero dizer, ela podia morar em São Paulo também...
O rosto dele mudou.
- Ela não quer morar aqui. Gosta demais do Rio de Janeiro. Eu também não quero que ela venha.
- Por que não?
- É uma longa estória que eu não estou muito a fim de contar pra você agora, Didi. Não quero estragar nossa noite. Estou muito feliz.
Ele a beijou apaixonado. Marcos viu o beijo da porta do quarto e sentiu o peito doer de ciúme. Entrou no banheiro e tomou um longo banho, tentando esfriar a cabeça. Saiu, trocou-se com a melhor roupa que conseguiu encontrar e diante do espelho, ajeitou os cabelos. Olhou o próprio reflexo por alguns segundos, respirou fundo e jurou a si mesmo que daria a volta por cima naquela noite. Pensou consigo mesmo:
- "É só uma menininha que não sabe o que quer, cara. Você já tem vinte e dois anos. Não daria certo."
Apanhou a jaqueta e saiu do quarto. Dione estava sozinha na sala e ele colocou a jaqueta numa poltrona.
- Cadê o Luciano?
- Foi pegar o álbum de casamento da sua tia pra mostrar a mãe de vocês.
- Ah...
- Você está lindo!
Ele sorriu sutilmente.
- Obrigado.
Dione ajeitou a bolsinha de mão sobre o colo e, séria, falou:
- Eu tinha tanta coisa pra te falar, hoje de manhã...
Luciano entrou na sala com os álbuns de fotografia e sentou-se junto dela novamente. Olhou para o irmão e elogiou:
- Opa! Está gato hein, cara? Caprichou! Você vai fechar o trânsito, hoje, meu! A Sandra vai gostar!
- Não amola. Vou ver se a Thereza e a Mara já aprontaram o café.
- Legal, vai lá.
Luciano abriu um dos álbuns numa página pré-marcada e apontou para Rosana.
- Minha mãe é essa aqui, Di.
- Ela é bonita... ela disse, sem nenhum entusiasmo na voz.
Nunca conseguia falar com Marcos o que tinha vontade.
Ao entrar na cozinha, Marcos apoiou-se numa cadeira e desabafou para si mesmo:
- Meu Deus...
Thereza, sentada na mesa, perguntou, vendo seu desespero:
- Quem foi que inventou esse passeio?
- Ele...
- E você aceitou, filho?
- Dizer não como, Theca. Dar que desculpa?
- Era só dizer que vai estudar, que vai dormir cedo! Desculpa é o que não falta!
- Agora já era.
- Esse namoro com essa Sandra, é coisa séria?
- É... ele disse, encolhendo os ombros. – Mas ela sabe que... Não estou enganando ninguém, Thereza. Ela sabe de tudo.
- Deve ser uma santa, coitada! Vai ser uma excelente dentista.
Ele riu.
- Chame os dois. O café vai ser servido aqui na cozinha.
- Chama você, ele disse, sentando-se à mesa, começando a servir-se.
Thereza balançou a cabeça, sorrindo, dizendo:
- Só estando viva pra ver isso!... Tenho vontade de bater em você. Pena que meu metro e sessenta não alcança seu metro e 83!
E ela foi chamar os jovens.
Eles tomaram o café gostoso de Thereza e depois saíram no carro de Marcos, só que Luciano dirigia. Marcos ia sentado no banco do carona e Dione ia sentada no banco de trás.
- Como é mesmo o nome da rua dela? – Luciano perguntou.
- Manoel da Nóbrega. Segue aí direto pela Santo Amaro que depois eu te explico. Foi você quem quis dirigir.
- Não estou reclamando, Macbeto. Eu quero aprender a dirigir aqui em São Paulo, só isso!
- Com o meu carro!
- Ah, cara, não avacalha! Eu ainda vou ter o meu, você vai ver.
Marcos abriu os braços e apoiou-se no banco. Dione tinha o braço apoiado na janela e o rosto apoiado na mão. Sorriu do modo como Luciano chamou o irmão.
- Macbeto? Por quê?
- Pelo óbvio ululante, gata. Marcos Roberto. Macbeto é mais fácil de falar tudo de uma vez. Esse cara tem o nome composto! Exagerado até nisso! Na beleza, na altura, na inteligência. Tinha que ser exagerado no nome também. Eu adoraria ter um segundo nome tipo... Luciano Augusto, Luciano Carlos... ou José Luciano que fosse. Já pensou?
Dione ria, segurando os cabelos que havia soltado e que voavam ao vento. Luciano colocou o braço direito para trás para segurar a mão dela e perguntou:
- Quer fechar um pouco a janela, amor? Vai ficar resfriada.
- Não, está bom assim, está calor, só quero que você dirija com as duas mãos no volante, por favor!
- Concordo com ela, disse Marcos. – Está maluco! Com meu carro não!
Luciano riu e voltou a colocar as duas mãos no volante. Olhou para a garota pelo espelho retrovisor.
- Você está quietinha, amor. Que foi? – ele quis saber.
- Nada... Só estou quieta.
Ainda teimando, Luciano colocou a mão para trás de novo e acariciou se rosto. Marcos olhou feio para ele e disse:
- Mais uma vez que você faça isso, vai parar o carro e eu vou dirigir, aí você senta atrás com ela e pode namorar a vontade!
- Quer que eu sente aí na frente? – ela sugeriu.
- Pode ser também!
Luciano adorou a troca. Pararam o carro e ela trocou de lugar com Marcos que foi para o banco de trás. Seguiram viagem.
Com a namorada sentada a seu lado, Luciano ficou mais à vontade. Com a mão livre, ele acariciou o rosto dela e sorriu, segurando sua mão em seguida. Dione jogou os cabelos para trás e as pontas caíram fora do banco. Marcos ficou muito tentando a tocá-los. Colocou a mão sobre os joelhos e bem sutilmente tocou uma mecha, sentindo-o entre os dedos. Dione sentiu o toque dele, mas não fez nenhum movimento que denunciasse aquele carinho clandestino, só fechou os olhos e continuou olhando pela janela, fingindo sentir o vento. Marcos recolheu a mão e viu que aquilo não era justo para com o irmão.
Ao chegarem diante do prédio de Sandra, Luciano perguntou:
- É aqui?
- É. Vocês querem subir ou vão esperar que eu vá pegá-la?
- Como é lá em cima? Em que andar ela mora?
- Décimo terceiro.
- Uau! Deve ter uma vista maravilhosa da cidade lá de cima, hein?
- Tem. Uma vista fantástica! Ela tem uma parede inteira só de janela.
- Uau de novo! A gata é rica é?
- Ela é dona de uma herançazinha de uma avó e vive até que bem, mas estuda e trabalha pra manter o nível mental em equilíbrio com o financeiro.
- Ah, eu quero ver isso de perto. Vamos, Didi?
- Não estou a fim, não. Não dava pra ser outro dia?
- Ah, gata, vamos lá!
Ela olhou para Marcos e cedeu. Eles subiram.
Sandra os recebeu com um sorriso simpático.
- Estava esperando que vocês subissem, ela disse, já segurando a mão de Dione e beijando seu rosto. – Como vai, Dione?
- Bem, e você?
- Melhor agora.
Sandra olhou para Luciano e segurou sua mão; eles trocaram dois beijos no rosto.
- Poxa, não preciso perguntar quem você é, não? Você é a cara do seu irmão! Como vai, Luciano?
- Bem, acho bom a gente colocar uma fitinha vermelha no braço de um dos dois, né? Já que somos tão parecidos, ele disse gozador. - Você pode confundir nós dois, já que somos tão parecidos.
Todos riram. Sandra beijou Marcos e complementou, fazendo-o entrar depois dos dois:
- Pode deixar, Luciano. Eu não confundiria o Marcos com ninguém. Você só não tem esses olhos azuis que só ele tem. E acredito que a Dione também não confundiria você, não é, Dione?
- Claro que não, ela disse, olhando para o namorado. – O Luciano é inconfundível...
- Ninguém é igual a ninguém, disse Marcos. – Mesmo que fôssemos gêmeos não seria difícil descobrir as diferenças entre nós.
- Eu sou e sempre fui mais bonito, mais novo, mais carioca...
Eles riram novamente do humor escrachado do rapaz.
- Mas entrem. Vou só colocar uma cor na cara e nós já saímos.
- Você já está linda assim mesmo, não precisa mais nada, disse Marcos, beijando sua mão.
- Obrigada, amor... mas precisa sim.
Todos se acomodaram e Dione observou:
- Você tem um apartamento muito gostoso...
- Tem mesmo, concordando e já se aproximando da janela, sempre com a namorada pela mão. – Essa vista é linda demais!
- Obrigada, disponham! Eu preparei algumas coisinhas pra gente comer antes de ir, vocês estão com pressa?
- Não, respondeu Luciano. – A noite é uma criança e amanhã é sábado mesmo. Temos todo o tempo do mundo.
- Falou a voz da ociosidade, disse Marcos, em voz baixa.
As moças riram.
- Pô, maninho, rebaixou legal, hein? Também não é bem assim que a banda toca.
- Beto, vem me ajudar a servir, disse Sandra, puxando o rapaz pela mão e levando-o para a cozinha.
Lá, ela tocou seu peito e perguntou:
- Como esse coitadinho está? Firme?
Ele riu.
- Firme, não sei, mas está batendo ainda.
Ela o beijou, acariciando suas costas.
- Você está tão lindo! Essa produção foi pra mim ou pra ela?
- Sandra...
- Senti saudade! Dorme aqui hoje?
- Eu tenho que levar os dois pra casa, na volta.
- Leva e volta.
- É... Não é má ideia... Tudo bem, pode ser.
- Mesmo?
- Mesmo.
- Perguntei só por perguntar. Já tinha me preparado para um não, mas que bom! Te amo!
Ela o beijou de novo com paixão e a porta da cozinha se abriu e Dione apareceu por ela.
- Ah, desculpe! Eu só queria...
Os dois se afastaram e Sandra perguntou, educada.
- Posso ajudar?
- Eu queria só um copo d'água, por favor.
- Claro!
Sandra apanhou um copo e pegou um pouco de água para ela no filtro sobre a pia.
- Prontinho.
A moça pegou o copo de água e voltou para a sala. Marcos se apoiou na pia e coloca as mãos no rosto.
- Tudo bem? – Sandra pergunta.
- Tudo... Quanto mais flagrante melhor...
Ele respirou fundo e jogou o ar para fora da boca devagar. Sandra pegou uma bandeja de canapés e docinhos e colocou nas mãos dele.
- Me ajuda, amor? Vamos servir as visitas?
- Claro, meu bem! – ele ironizou.
Chegando à sala, Sandra viu Luciano e Dione encantados com a vista da janela. Ela e Marcos colocaram as bandejas de salgadinhos e refrigerantes na mesa de centro e ela perguntou:
- Gostaram da vista?
- Poxa, é demais! – falou Luciano afastando-se da janela. – Isso aqui parece outro mundo, nem parece São Paulo! Nem se ouve o caos que é lá em baixo!
- Não parece o apartamento do Rio, Lu? – Marcos perguntou.
- Parece, mas lá era só o oitavo andar. O décimo terceiro é bem melhor.
- Onde você mora Dione? – Sandra perguntou.
- Indianápolis, perto do Ibirapuera. Do outro lado.
- Perto deles?
- Mais ou menos.
- Eu não mereço tanto, disse Luciano, abraçando a namorada pela cintura e lhe beijando o rosto.
Marcos sentou-se no sofá e apanhou um salgadinho, ligando a televisão para ter algum lugar para olhar. Depois puxou Sandra pela mão e a fez sentar-se junto dele, passando o braço em volta de seu ombro.
- Você mora sozinha aqui? – Dione perguntou.
- Sozinha, até me casar, claro.
- Você vai deixar seu marido morar aqui com você ou pretende mudar?
- E por que não?
- Você não gostaria de ter uma casa com quintal, jardim, uma porção de vizinhos...
- É, até que gostaria, mas hoje em dia a gente tem que fazer das tripas coração pra conseguir comprar uma casa decente pra morar. Esse apartamento foi herança da minha avó e eu fico feliz por poder morar nele. Tem gente que mora em lugares três vezes menores que isso.
- Marcão tá feito, hein?! – brincou Luciano.
Sandra riu, Marcos também, mas não disse nada. Ela passou a mão no rosto dele.
- Vou visitar vocês todo fim de semana...
- Para com isso, Luciano! – Marcos bronqueou. A brincadeira estava ficando chata em sua opinião.
- Ué! Vocês não pensam em se casar?
- Não antes de três anos, Sandra respondeu. – Tanto eu quanto ele temos muita coisa pra fazer antes disso.
- Uma delas é tirar o papai lá da casa do tio Toni, viu, rapazinho? – disse Marcos, olhando para o irmão. – Já que você vai ficar em São Paulo, acho bom começar a pensar em ajudar o velho a comprar uma casa pra gente. A pensão da mamãe anda secando todo o orçamento dele.
- Pode deixar. Eu não vou cruzar os braços não. A grana que eu vou ganhar com as fotos vai todinha pro bolso do velho. Não sou tão irresponsável assim.
- Eu não disse que era.
- E precisa?
- Vocês não vão brigar agora, vão? – Sandra perguntou, levantando-se. – Vocês não acham melhor a gente ir saindo? Estou com vontade de dançar!
- É uma ótima! – concordou Luciano. – Você gosta de dançar, Sandra?
- Amo!
- Então é das minhas. Vamos nessa! Chacoalhar o esqueleto é a primeira ordem do dia!
Ele pegou a mão dela e começaram a dançar feito doidos na direção da porta. Marcos e Dione ficaram olhando para os dois e subitamente seus olhares de cruzaram, mas desviaram rapidamente, seguindo os dois. Ele a deixou passar na frente e fechou a porta.
MAR DE AMOR - SANDRA – PARTE 5
SONHAR É DE GRAÇA
BONS PENSAMENTOS NOS ACOMPANHEM!
DEUS NOS ABENÇOE A TODOS NÓS!
OBRIGADA PELA COMPANHIA!
PAZ, LUZ, ALEGRIA E HARMONIA...
ALÉM DE MUITA SAÚDE A TODOS!