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MAR DE AMOR – FAMÍLIA REUNIDA – PARTE 8
Breno chegou do consultório bem tarde da noite ao entrar em casa não viu ninguém na sala como era de costume. Ouviu conversa vinda do quarto e já imaginou que Rosana e os outros estivessem lá conversando. Não quis se juntar à essa reunião tão íntima dela com os filhos ainda. Foi para a cozinha falar com Thereza e a encontrou sentada na mesa da cozinha, ouvindo música no rádio de pilha. Ela sorriu ao vê-lo entrar.
- Chegou, menino?
- Não, estou ali na esquina ainda, Thê, ele brincou, calmamente.
- Hum... pensei... ela disse displicentemente.
Breno foi até o filtro pegar um copo de água e, enquanto bebia, perguntou:
- Cadê o pessoal?
- No quarto do Marquinho, batendo papo há um tempão. Parece que eles tinham conversa atrasada há cinco anos, ela disse, sorrindo.
- É bem capaz... ele suspirou.
- Por que você veio pra cá antes de entrar no quarto primeiro? Você sempre faz isso.
- Eu imaginei que... ela estivesse lá...
- Ela quem?
- A rainha Elizabeth... A Rosana, claro, Thereza!
- Está com medo dela?
- Não... Só não quero cortar a vibe deles. Tenho a impressão que tudo vai se quebrar entre eles de novo quando eu aparecer.
- Bobagem! A família vai ficar mais inteira ainda quando você entrar lá.
- Você acha?
- Tenho certeza. Vai lá.
- Não, vou tomar um banho primeiro. Eu estou com cheiro de flúor...
- E é um cheiro muito bom. O que tem demais?
Breno sorriu, colocou o copo sobre a pia e saiu, indo para o banheiro.
Ele tomou seu banho, saiu do banheiro, foi até seu quarto, trocou de roupa e só então chegou diante da porta aberta do quarto de Marcos. Os três olharam para ele ao mesmo tempo.
Rosana estava deitada numa das camas, com a cabeça encostada num travesseiro, coberta por um lençol, Marcos estava sentado feito índio na outra cama, com um cobertor leve nas pernas e Luciano estava sentado aos pés da cama dele.
Breno olhou para os três e imaginou sua família reunida de novo, como se nunca tivesse se separado. Sentiu um aperto dolorido no peito.
- Oi, pai! – disse Luciano.
- Boa noite! – Breno cumprimentou.
- Boa noite, pai! – disse Marcos, sorrindo.
- Boa noite, Breno, foi a vez dela cumprimentar, sentando-se na cama.
Rosana estava vestida num pijama de bolinhas que Mara tinha lhe emprestado e parecia muito leve e bonita.
- Você demorou! – disse Luciano. – Algum problema com o canal do cara?
- Não, nenhum problema. Fiquei atualizando algumas fichas de uns pacientes que vou ter que atender amanhã. Um trabalho que seria da Cleide, se ela tivesse ido trabalhar hoje, mas não foi porque é domingo, ou seu, quando e se você começar a trabalhar comigo. Já pensou sobre isso, garoto?
- Ahn, eu? – Luciano perguntou, fingindo-se desentendido.
- Tem mais alguém aqui candidato a meu assistente?
- Acho que... não. Só eu e... eu ainda estou pensando. Prometi pra mãe que respondo tudo amanhã.
- Você não prometeu pra sua mãe, prometeu pra mim.
- É... também. Amanhã, pai, amanhã.
- Espero...
Breno olhou para Marcos.
- Vai sair a que horas amanhã, filho?
- Cedinho, pai. Umas seis horas. Estava aqui me despedindo mais ou menos da mamãe porque amanhã não sei se ela vai estar aqui quando eu voltar da faculdade... Ela está querendo voltar pro Rio à tarde, depois da decisão do Luciano.
- Não vou nem almoçar aqui. Sua resposta tem que ser dada no café da manhã, filho, ela disse olhando para Luciano.
- Eu vou dar, mãe. Fique tranquila.
Breno olhou para Rosana e suspirou, colocando a mão na maçaneta da porta.
- Bom... então temos todos que dormir cedo, não? Eu estou morto pra ir pra cama.
- Você já jantou? – Luciano perguntou.
- Comi na rua. Não estou com fome. Só com sono. Vou dormir. Eu estou vendo que você já está instalada, Rosana. Conseguiu até roupas pra dormir.
- Mara me emprestou um pijama.
- E cadê ela?
- Foi dormir. Ela também vai sair cedo amanhã pro estúdio. É bom ela trabalhar com o marido. Eles parecem se dar muito bem.
- Se dão, se dão sim.
- Pai... chamou Luciano.
- Oi...
- Não seria melhor eu dormir aqui com o Beto e a mamãe dormir lá no quarto com você?
- Que pergunta sem propósito é essa, Luciano?
- Por que sem propósito, pai? Não faz mais sentido ela dormir lá com você?
- Não. Não faz.
- Mas, pai!
- Vem pro quarto e se acomode logo no seu colchonete, Luciano. Eu quero dormir e não colocar você pra dormir. Você já está bem grandinho pra eu fazer isso, não acha, não? Boa noite a todos.
Breno beijou o alto das cabeças dos filhos e sorriu para Rosana.
- Boa noite, Rosana. Espero que durma bem.
- Boa noite, Breno, ela disse, também sorrindo.
Ele saiu do quarto e Marcos, Rosana e Luciano se olharam. Marcos se esticou para beijar a mãe no rosto.
- Boa noite, mãe.
- Boa noite, amor. Durma bem.
Ele deitou-se na cama de bruços e virou o rosto para a parede oposta.
- Lu, vai, vai logo pro quarto. Eu preciso dormir, é sério. Você não vai madrugar, mas eu vou. Colabora, irmãozinho.
Luciano suspirou e, com ar de desapontamento, esticou-se e beijou a mãe no rosto também.
- Tem certeza que você...
- Luciano... ela interrompeu, falando baixinho. – vai dormir, bebê. Não estamos na nossa casa no Rio. Estamos na casa do seu pai.
- Mas...
- Boa noite, filho.
Ele suspirou, cedendo à realidade, beijou a mãe de novo e foi para a porta. Apagou a luz do quarto e perguntou:
- Quer que eu feche a porta?
- Não, Marcos respondeu. – Está muito calor... A mãe pode querer sair no meio da madrugada. Deixa a luz do banheiro acesa. Dormir em casa diferente é bem estranho na primeira noite.
- Tá... Concorda, mãe?
- Pode ser, filhote. Obrigada pela preocupação, Marquinho.
- Boa noite aos dois...
- Boa noite, Lu, disseram os dois.
Luciano afastou-se e acendeu a luz do banheiro, deixando a porta meio fechada, só para deixar alguma luz no corredor, caso a mãe precisasse.
Rosana demorou um pouco para dormir. Dez minutos depois, com a casa toda em silêncio, mesmo no escuro, chamou:
- Marcos?
- Hum?...
- Está acordado, filho?
Ele virou-se para o lado dela e respondeu:
- Estou. Quer alguma coisa, mãe?
- Você também quer o mesmo que o seu irmão quer?
- Não sei... O que você acha que meu irmão quer? Ele quer tanta coisa, mãe...
- Ele planejou tudo isso que está acontecendo agora. Eu vim pra São Paulo, conversei com seu pai de novo, estou dormindo na mesma casa que ele... de novo... e sei que o Luciano queria que eu dormisse no mesmo quarto que o Breno, talvez até... com ele! Você também quer isso?
Marcos fez um instante de silêncio e sorriu, coisa que Rosana não viu, por estarem no escuro.
- Quer, filho?
- Eu também quero muita coisa, mãe. Há muito tempo que eu quero muita coisa, mas... eu quero muito e sempre quis que vocês dois fossem felizes. Juntos ou separados.
- Responde ao que eu perguntei, Marcos.
- Só completando a minha resposta... Meu pai não está feliz... desde que se separou de você... Eu acho que você já percebeu que ele mudou muito. O Breno Bianchi de quem você se separou não é o mesmo Breno Bianchi com quem você conversou hoje... Estou errado?
- Não... Ele está mais maduro, mais centrado...
- E mais triste... Meu pai ainda é apaixonado por você, mãe. Tudo que ele faz agora é tentar erguer a nossa vida e sobreviver. E ele tem tentado bravamente, tem várias namoradas, no tempo livre que tem, ele sai e passa madrugadas fora, mas... ele nunca superou e não supera a falta que sente de você e do Luciano.
- Você acha?
- Não acho, tenho certeza.
- Então você pensa como o doidinho do seu irmão pensa... Você acha que ainda temos chance de...
- Eu não acho nada. Só acho que meu irmão... doidinho, enxerga longe e o susto de ver você unida a outro homem que não fosse meu pai foi como... se ele fosse um grão de pipoca que sentiu a panela esquentar debaixo dele e pulou, quando sentiu o perigo de virar pipoca. Pulou pra cá e trouxe você junto. E eu gostaria de estar aqui amanhã pra ver a resposta a tudo que meu pai exigiu dele.
Rosana fica em silêncio. E a vez de Marcos perguntar:
- E você, mãe? Você ama o Gilberto mais do que amou meu pai? Estando aqui a metros dele, você não sente nada diferente?
Ela continuou em silêncio. Marcos sorriu e apenas se virou de novo para o outro lado, disse:
- Obrigado pela resposta, minha mãe... Boa noite.
Sem conseguir dormir, Rosana levantou-se e saiu do quarto. Foi até a cozinha tomar um copo de água. Atravessou com cuidado o corredor e chegou à sala, iluminada apenas pela luz da rua. Viu na penumbra alguém deitado no sofá. Era Luciano, deitado de costas, dormindo, virado para a claridade da janela da sala.
- Lu? – ela chamou, baixinho.
Ele não respondeu, o que indicava já estar dormindo profundamente. Ela respirou fundo e olhou para a porta do quarto de Breno, também aberta por causa do calor.
Rosana não sabia bem o que a havia feito sair do quarto e estar ali numa casa estranha. Seriam as palavras do filho mais velho que diziam que o pai ainda a amava ou as atitudes do mais novo que a arrastaram para junto do ex-marido novamente?
O que ela tinha visto de Breno era que ele não era mais o garoto inconsequente que ela havia conhecido e se apaixonado. Era um homem forte e responsável, triste sim, como Marcos havia falado, mas diferente de anos atrás.
Timidamente, ela chegou à porta do quarto e olhou para dentro dele. Breno tinha os olhos fechados e estava deitado de costas na cama com o braço direito erguido sobre a cabeça.
Ela ficou olhando para ele e lembrou-se de como gostava de vê-lo dormir assim, quando estava muito calor. Aproximou-se e sentou com muito cuidado na beira da cama. Olhou para o colchonete no chão onde Luciano dormiria e sorriu, imaginando que o filho teria planejado aquilo estrategicamente para aproximar os pais. Luciano foi dormir na sala, para deixar o caminho livre para ela. Quando olhou de volta para Breno, ela o viu olhando para ela em silêncio. Sussurrou:
- Breno...
Ele não disse nada. Abaixou a mão que estava erguida e segurou seu braço. Rosana sentiu o braço arrepiar com o toque dele.
- Desculpa... Não queria te acordar...
- E queria o quê?
- Não sei...
- Nosso filho é bem safadinho, não? – ele disse, sorrindo.
Ela riu.
- Ele ainda é virgem? – Breno perguntou. – Aqui eu ainda não percebi isso. Não deu tempo.
- É... Acho que é... Não tenho certeza. Eu procurava afastar ele de toda garota oportunista que aparecia depois que ele começou a fazer sucesso nas passarelas e na mídia, mas... não estava em todos os lugares ao mesmo tempo. Isso... é meio impossível...
Breno acariciou seu braço, delicadamente.
- Ele fez toda essa pantomima por um motivo... Queria que o impossível acontecesse... depois de cinco anos...
- E você quer?
- Não sei... Eu quis muito, sonhei muito com isso nesses anos todos... mas agora...
- Agora...
- Agora você tem outro cara. Eu é que tenho que perguntar: você quer?
Rosana abaixou a cabeça e o beijou docemente. Breno retribuiu ao beijo, mas fez uma pequena pressão em seu braço para que ela parasse.
- O que foi? – Rosana perguntou.
- O que você vai fazer com o... Gilberto?
- Posso te responder amanhã?
- Não... Eu posso dar esse tempo ao meu filho, porque sei os motivos dele, mas... no seu caso eu não sei... não quero começar alguma coisa com você pela metade, Rosana. Eu sofri o pão que o diabo amassou sem você nesses cinco anos... Essa coisa de estar tendo um caso e querer de casar com um cara da idade do seu filho foi demais, até pra mim. O que você quer de mim, agora?
Ela fechou os olhos e respondeu:
- Eu quero o que sempre quis. Quero seu amor maduro e forte, me protegendo e agindo como um escudo que defende nossa família.
- Você estava procurando por isso num cara mais novo que você?
- Ele não é irresponsável, como possa parecer, Breno. O Gilberto é um empresário forte no Rio, apesar da idade. Ele não começou a carreira dele ontem.
- Ok, eu posso até entender isso, mas como é que vai ficar amanhã? Que é que eu vou dizer pros meus filhos amanhã, se a gente...
Rosana o beijou de novo.
- Por minha conta e risco. Eu queria apostar na gente de novo. Não é o que nossos filhos querem?
Ele resolveu não resistir mais à vontade que sentia desde que a tinha visto pela primeira vez em sua frente.
Breno amou Rosana sem pensar em nada. Sem pensar se aquela atitude teria consequências ou não. Aquilo parecia mais um sonho do que realidade.
Luciano acordou e, como a porta do quero estava entreaberta, ele ouviu sons estranhos vindos do quarto do pai e abriu a boca, abismado, ao reconhecer do que se tratava. Sua surpresa virou felicidade e ele achou por bem ir fechar a porta do quarto. Levantou-se devagar e foi providenciar que os pais tivessem mais privacidade. Fechou a porta bem sutilmente e correu para o quarto de Marcos, chacoalhando o irmão.
- Marcos! Marcos! Acorda!
Marcos acordou e bronqueou.
- O que foi, Luciano? Está maluco?! Vai dormir! O que você quer? Vai acordar a mãe!
- Ela não está aqui, cara!
Marcos levantou-se e olhou para a cama do lado, verificando que Luciano falava a verdade.
- Ué! Cadê ela?
- Nossa mãe está no quarto do papai!
- Quê?!
- Deu certo, Macbeto! Eu consegui juntar meu pai e minha mãe de novo, cara! Nem acredito!
Marcos sentou-se na cama e tentou pensar no que ele estava falando.
- Quer se explicar, Luciano? Eu não entendi nada!
- Minha mãe foi pro quarto do papai e está, com todo respeito, transando com ele... no quarto dele?!
- Mas como? Você não estava dormindo com ele lá?
- Não fui pro quarto. Dormi na sala. Eu apostei num cavalo azarão que ganhou a corrida, meu irmão! Eu vou unir nossa família de novo, Marcos! Nossos pais ainda se amam!
Marcos passou a mão pelos cabelos, ainda confuso.
- A mamãe está lá com o pai... transando? – ele perguntou, fazendo uma leve careta.
Luciano balança a cabeça bem devagar, sorrindo.
- E como você... sabe disso?
- Eles não estão conversando. O barulho que eu ouvi não é de... palavras, se é que você me entende...
- Ai, Luciano, você... não entrou lá no quarto pra ver nada, entrou?
- Claro que não! Ficou doido? Eu teria que começar a fazer análise se entrasse lá e visse alguma coisa, maluco!
Luciano sentou-se na cama ao lado do irmão.
- Você pode estar enganado, sabia?
- Não estou. Os sons eram bem específicos.
- E como você sabe disso? – Marcos perguntou, desconfiado. – Até outro dia eu pensei que você fosse virgem!
Luciano sorriu sem graça e desconversou.
- Não estamos falando de mim, Marcos. E há vários outros jeitos de se saber essas coisas.
- Revistas de pornografia não têm som. Pelo menos eu nunca comprei uma Playboy que tivesse. A coisa ainda não está tão moderna assim.
- Você compra Playboy, ahn? Vou querer emprestado...
- Não estamos falando de mim, Luciano... Estamos falando, por mais absurdo que pareça, dos nossos pais!
- E os dois estão se divertindo lá no quarto dele! Eu estou tão feliz, cara!
Luciano deitou-se nos pés da cama do irmão e abriu os braços, muito satisfeito.
- Infelizmente, não querendo te botar pra baixo, irmãozinho, isso pode não querer dizer nada.
- Como não? – ele perguntou levantando-se de novo. – Se eles não quisessem, não estavam...
- Esqueceu do Gilberto?
- Ah, o Gilberto já era. Depois de hoje, a mamãe vai despachar ele pra cochinchina logo logo.
- Calma, Luciano. Tem muita água pra rolar debaixo dessa ponte ainda.
- Não importa, Marcos! Minha mãe e meu pai ainda se amam. Eles vão voltar e eu estou muito feliz!
Luciano beijou o rosto do irmão.
- Boa noite, Macbeto! Eu te amo! Amanhã eu vou responder tudo que meu pai me sugeriu hoje e vou ser o filho mais obediente do mundo, você vai ver.
- Você vai aceitar tudo que ele exigiu de você? Vai trabalhar com ele, vai parar com as baladas de final de semana, vai deixar de ser modelo...
- Ei, ei, ei, ele não pediu pra eu deixar de ser modelo! Você disse que ia me ajudar.
Marcos riu.
- E vou. Calma. Mas o resto está garantido? Você vai ser bonzinho se ficar aqui?
Luciano levantou-se e uniu as mãos em prece.
- Eu vou ser quase canonizado, bro! Amanhã vai nascer um novo Luciano! Se meu pai e minha mãe voltarem a ficar juntos, eu faço qualquer sacrifício.
- E se não voltarem?
O rapaz ficou sério, mas voltou a se animar.
- Eles vão voltar!
Luciano saiu do quarto e voltou para a sala. Marcos voltou a deitar na cama e ficou pensativo. Feliz também com a possibilidade dos pais voltarem a se unir. Mas ele sabia que sexo não era resposta de nada. Sexo unia corpos, mas talvez não unisse duas mentes que estavam separadas há tantos anos.
Rosana e Breno acordaram quase ao mesmo tempo. Ele abriu os olhos e a sentiu apoiada em seu braço, olhando para ele. Rosana sorriu.
- Oi.
Breno apertou os olhos, fechando-os com força e passou a mão pelo rosto, tentando focar a visão.
- O que aconteceu aqui? – ele perguntou.
- Devo pedir desculpas? – ela perguntou.
- Sei lá... Você acha que deve?
- Eu só quero agradecer...
Ela o beijou de novo.
- Rosana... para... a gente tem que pensar...
- No quê?
- No que a gente vai dizer pros meninos.
- Dizer que a gente está feliz? – ela perguntou, sorrindo.
- Volta pra terra, Rosana. Nós estamos separados há cinco anos, você mora no Rio de Janeiro, eu moro aqui em São Paulo, acorda, mulher. Eu não tenho mais vinte anos...
- Que bom! – ela disse, rindo. – Está muito melhor que antes...
Breno afastou-se dela e começou a sair da cama.
- A gente tem que acordar de verdade. Eu... vou... tomar um banho pra você tomar depois de mim. Eu nem sei onde o Luciano dormiu, se ele... não está aqui...
- Ele planejou isso tudo. Dormiu no sofá da sala.
- Pois é... Mais uma coisa pra se pensar... Ele estava colocando muita esperança nisso que aconteceu com a gente hoje, mas...
- E estava certo...
- Pois é, mas... Vamos pensar numa coisa de cada vez. Eu... vou tomar meu banho. Vai pensando no que você vai dizer pra ele e pro Marcos.
Ela apenas sorriu e beijou as pontas dos dedos e lançou para ele. Breno apenas balançou na cabeça, achando aquilo tudo que tinha acontecido muito sonho ainda, mas muito sério. Saiu do quarto.
Ele passou pela sala e viu o filho deitado no sofá, ainda dormindo de bruços e com a cabeça coberta. Passou devagarzinho e entrou no banheiro.
Rosana se levantou, enrolou-se no lençol e foi até a porta, olhando para o filho também. Viu a mesma coisa, voltou a entrar no quarto e aguardou que Breno tomasse seu banho.
Uma hora depois, banho tomado e vestida num roupão de Breno, como ela havia deixado as roupas no quarto de Marcos, ainda tentando fazer o menor barulho possível, ela entrou no quarto do filho mais velho. A luz do quarto já estava acesa e ela viu Marcos já pronto pra ir pra faculdade, penteando os cabelos diante do espelho.
Ao ouvir o barulho na porta, Marcos olhou para a mãe e os dois ficaram se olhando. Marcos sorriu e disfarçou:
- Bom dia, mãe.
- Bom dia, meu filho. Já vai sair?
- Vou, já estou quase atrasado. Não dormi direito.
- Por minha culpa, não foi? – ela disse, sentando-se na cama.
- Não... nem tanto. A noite até que foi legal. Você... quer se trocar? Eu já vou sair do quarto.
Ele colocou o pente sobre a penteadeira e ia sair do quarto. Rosana se levantou e segurou a mão do filho.
- Você fica a cada dia mais bonito, meu bebê...
Ele apenas sorriu e beijou sua testa.
- A culpa é sua.
- Não, só minha não, você parece muito com seu pai.
- Vou sair pra você se trocar, mãe. Vou me despedir já aqui mesmo. Você já vai embora hoje... Foi muito bom te ver, de verdade. Não demora a voltar.
- Marcos, você não vai me perguntar por que eu não dormi aqui com você?
Ele sorriu e respondeu:
- Eu não vou perguntar nada, mãe. Eu tenho uma... leve ideia de onde você dormiu, mas isso não é da minha conta.
- O que você pensa disso?
Marcos pensou por um momento, mordeu o lábio inferior e disse:
- Como eu te falei ontem... eu só quero ver vocês dois felizes... Você está feliz?
- Muito... ela respondeu, timidamente, encostando a testa no ombro dele.
- Isso só pode me deixar feliz também. Quero só que vocês façam o que seus corações pedem.
- Te amo, meu amor...
- Também te amo.
Ele beijou de novo a testa da mãe e saiu do quarto fechando a porta.
Quando chegou à cozinha, encontrou o pai tomando seu café. Apenas olhou para ele, naturalmente e cumprimentaram-se:
- Bom dia, pai.
- Oi, filho.
- Dormiu bem?
- Muito bem... Breno respondeu, simplesmente, sem erguer o rosto.
- Estou indo. Até a tarde.
- Não vai tomar café?
- Não, como alguma coisa na faculdade. Tchau, disse ele, beijando o alto da cabeça do pai.
- Tchau, filho.
- Você não vai pro consultório agora de manhã, vai?
- Não. Vou resolver essa pendenga do Luciano. Sua mãe precisa da decisão dele pra poder voltar pro Rio e decidir a vida dela. Muita coisa está dependendo disso. Aliás, ele já acordou? Passei pela sala agora e ele estava dormindo feito um bebê no sofá como se fosse uma cama de espuma. Não sei como ele consegue! Quando você passar pela sala, acorda ele, por favor, filho.
- Ok. Boa sorte. Tomara que dê tudo certo. Tchau.
- Tchau, Marcos. Boa aula.
Ao passar pela sala, Marcos viu Luciano ainda na mesma posição com a cabeça coberta. Chegou perto dele e o descobriu sem aviso.
- Luciano, acorda, vida-boa.
O rapaz gritou e riu alto, assustando Marcos que ficou zangado.
- Boo!
- Ai, caramba! Você é um idiota! Cresce, Luciano!
- Bom dia pra você também, gato da Lunny's! – o rapaz disse, ainda rindo.
- Tchau, e tomara que a mãe leve você embora daqui hoje!
- Tchau! Boa aula, maninho! E eu sei que é da boca pra fora. Você me ama!
Marcos pegou o lençol e jogou de novo em cima dele, saindo da casa em seguida.
Rosana e Breno apareceram ambos na sala e ficaram os dois olhando para o filho caçula com caras não muito amigáveis. A brincadeira não agradou aos dois também.
- Oi, casal! – Luciano disse, com cara de paisagem.
- Vamos conversar? – Breno perguntou.
- Eu posso tomar meu banho primeiro?
- Não, você não precisa disso pra responder o que eu espero desde ontem.
- Tomar meu café?
- Nem precisa estar de estômago cheio pra dizer da sua decisão.
- Vocês... dormiram bem? – ele perguntou, sorrindo descaradamente.
Rosana se sentou perto dele e falou séria:
- Filho, vamos falar sério. Eu preciso voltar pro Rio agora e precisamos, eu e seu pai, saber da sua decisão. O que você decidiu?
Luciano respirou fundo e cruzou as pernas sobre o sofá, se abraçando ao lençol, resolvendo parar de brincar, já que não parecia haver outro jeito.
- Eu não vou protelar mais. Sem brincadeira... Eu quero muito ficar aqui com meu pai e o Marcos. Independente de tudo que eu vou ter que fazer aqui pra isso... acho que não dá pra matar... Eu vou... trabalhar com ele no consultório, substituindo a Cleide... Vou... voltar a estudar ano que vem e tentar terminar o colégio... Quero ajudar a batalhar pra comprar um canto pra nós três morarmos pra sair da casa do tio Toni e... pra isso, com a ajuda do Macbeto, meu maninho, quero... por enquanto... enquanto o pai concordar... investir na minha carreira de modelo bem a sério.
- Isso é sério mesmo ou você está falando isso da boca pra fora? – Breno perguntou. – Eu não quero daqui algum tempo ter o trabalho de dizer, como a Marcos disse agora, que quero você longe daqui por molecagem sua.
Luciano cruzou os dedos das mãos e o beijou cruzados.
- Palavra de escoteiro!
- Luciano, você nunca foi escoteiro...
- Mais uma gracinha e você vai fazer as malas pra volta pro Rio com sua mãe, declarou Breno, enfático.
- Palavra de honra! – Luciano a sério. – Sério, pai. Desculpa! Palavra de honra! Caramba, mas não se pode sem brincar nessa casa!
- Pode-se sim, mas não quando a maioria quer falar a sério.
- Ok, vou me lembrar.
- Ótimo, ela disse, tocando sua mão. – Então eu vou pro Rio mais tranquila.
- Mas... e como fica o caso do... Gilberto? Você vai continuar com ele?
Breno olhou para Rosana. Aquela resposta também interessava a ele.
MAR DE AMOR – FAMÍLIA REUNIDA – PARTE 8
DEUS NOS ABENÇOE A TODOS NÓS!
OBRIGADA PELA COMPANHIA!
ALIMENTEM A ALMA DE PAZ
E HAVERÁ SAÚDE PARA TODOS!
PAZ E LUZ