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MAR DE AMOR - DIONE – PARTE 6
Os quatro foram à mesma danceteria em que Luciano tinha conhecido Dione. Mal entraram, Luciano puxou Dione para a pista e foram dançar.
- Vamos também? – Sandra propôs.
- Agora não, eu quero sentar e tomar alguma coisa.
Ela concordou. Sentaram-se numa mesa e pediram bebidas. Marcos acendeu um cigarro e começou a fumar em silêncio. Sandra encostou-se no peito dele e ficou olhando para o casal se divertindo muito, morrendo de vontade de dançar, mas preocupada com Marcos.
- Você não está se divertindo, não é? – ela perguntou.
- Estou... ele disse, sorrindo e beijando o alto de sua cabeça. – Estou sim.
- Não está não. Não precisa mentir, ela disse, colocando a mão sobre a dele. – Eu te conheço.
Marcos tragou do cigarro e olhou para os dois na pista. Disse:
- Concorda comigo que eles combinam?
- É, mas ela não está lá...
- Como não?
- Ela não está ligada nele.
- Não põe minhocas na minha cabeça, Sandra. Que espécie da namorada é você?
Ela riu.
- Aquela que sabe que é traída e suporta os chifres com paciência.
- Não fala assim. Eu não estou traindo você...
Sandra se virou para ele e o beijou.
- Foi só pra descontrair. Me beija também. Faz parecer de verdade. Eu quero que ela olhe pra cá e veja como você me ama.
Ele obedeceu e lhe deu um beijo cinematográfico e o beijo foi visto por Dione que tinha a cabeça apoiada no ombro de Luciano enquanto dançavam uma música lenta. Ao ver o beijo, ela fechou os olhos e escondeu o rosto no ombro do rapaz.
- Didi? – ele chamou.
- Hum?
- Eu te amo!
Ela apenas olhou para ele e sorriu. Luciano a beijou.
A música acabou e eles foram para a mesa. Dione deu a desculpa de estar cansada e não quis dançar outro ritmo mais quente. Luciano apenas tomou um pouco de refrigerante e nem sentou, estava muito aceso ainda, convidou:
- Cunhadinha, vem dançar comigo? A Dione não quer dançar essa. Vem mexer o esqueleto, eu sei que você quer, hã?
- Você se importa, amor? – ela perguntou para Marcos.
Ele olhou para o irmão e depois para ela e finalmente respondeu:
- Na verdade... eu me importo sim, mas... se a Dione concordar... por mim, tudo bem.
- Pode ir, Sandra, a garota falou, olhando séria para Marcos depois.
Sandra beijou Marcos e acompanhou Luciano para a pista. Marcos tragou mais uma vez o cigarro e jogou a fumaça para cima, olhando para os dois se afastarem.
- Por que você está fazendo isso? – Dione perguntou.
Ele olhou para ele com ar inocente.
- Isso o quê?... Ah, o cigarro?... Você não gosta? Eu apago, tudo bem.
Ele apagou o cigarro no cinzeiro no meio da mesa.
- Você sabe que não é disso que eu estou falando, Marcos.
- E do que é então?
- Você está encenando esse seu... namoro com a Sandra.
- Eu?! – ele perguntou, sorrindo, apontando para o próprio peito. – De onde você tirou isso? Você está enganada. Eu gosto dela. Ela é minha namorada de verdade, tanto quanto você é namorada do meu irmão.
- Mentira! Você não gosta dela que eu sei!
Marcos ficou sério.
- Dos meus sentimentos, sei eu, Dione. Preocupe-se com o Luciano, ok? Isso é fantasia da sua cabecinha adolescente.
Ofendida, Dione apoiou o rosto na mão e voltou a olhar para os casais na pista de dança, triste. Marcos acendeu outro cigarro e deu uma tragada mais forte, morrendo de raiva de si mesmo e querendo sair correndo dali. A vontade que tinha era de abraçá-la e pedir desculpas pelo que tinha dito, mas ficou em silêncio. Tomou um gole de cerveja e olhou para a pista também, ficando em um silêncio com ela, até que Sandra e Luciano voltaram.
- Seu irmão tem uma energia bárbara, benzinho! – disse Sandra. – Nunca vi dançar tão bem.
- Não exagera, cunhada, disse ele, sentando-se ao lado de Dione e abraçando-a.
- Ele só fazia isso no Rio, entregou Marcos.
- Não posso nem negar, confessou o rapaz. – Isso é verdade. Nenhuma garota conseguia dançar comigo por mais de duas músicas ou como par constante a noite inteira. Eu perdi duas namoradas por causa disso.
- A Dione você não perde. Ela não parece gostar muito de dançar. E pelo jeito não faz diferença se você dança com outra ou não.
- Isso é verdade, Didi? – ele perguntou, beijando o ombro da garota.
- Mais ou menos, mas é bom não abusar, ela disse, sorrindo.
Começou a tocar uma música lenta e Luciano atiçou:
- Ih! Olha aí, a pista está chamando vocês dois agora. "Let's just kiss and say goodbye"! Adoro essa música! É boa pra ouvir e pra dançar de rosto colado com a gata. Sandra, puxa esse cara pra pista!
Marcos fez um ar de que não estava muito disposto.
- Eu estou cansada, ela disse, enchendo um copo de cerveja. – O casal Lunny's é que devia ir!
Marcos olhou para ele surpreso. Sandra tomou um gole e olhou para ele, cínica.
- Vai, amor! Dança com a Dione!
Ele olhou para a moça e ela para ele.
- Vamos?
Ela balançou a cabeça concordando. Levantaram-se e Marcos foi com ela até o centro da pista. Luciano seguiu os dois com os olhos e disse:
- Engraçado...
- Engraçado o quê? – Sandra perguntou.
- Eu... tenho ciúme dela com meu irmão...
- Que bobagem! Ele é meu, gatinho!
- Eu sei... mas essa coisa da Lunny's... Aquela paquera do comercial, parece que ainda não saiu de dentro dos dois... Pinta uma insegurança...
- Que nada! É só pra mostrar como eles deram o melhor deles. É puro trabalho profissional, Luciano, não seja bobo. O Marcos acha a Dione muito criança.
- Ele também me disse isso. Você acredita nisso?
- Ela é muito criança pra ele.
- Mas olhando daqui... ela é um mulherão! Ela engana muito bem. Ela é criança só na idade.
- Isso é, mas ela é muito criança pra ele.
- É mesmo... Eu estou bancando o neurótico, não é?
- Acho que sim, disse ela, tentando se convencer do que dizia. Meio que morrendo de ciúme do namorado também.
Na pista, depois de alguns segundos de silêncio, quando sentiu a frieza com que Marcos a conduzia na dança, sem nenhum envolvimento, Dione arranjou coragem para perguntar:
- O que aconteceu com a gente, Marcos?
- Não sei do que você está falando?
- Sabe sim. Você anda me tratando como se eu fosse uma idiota, mas você sabe muito bem do que eu estou falando. Não faz muito tempo a gente parecia estar começando alguma coisa tão bonita... depois acabou tudo e... você começou a me tratar de um modo tão frio, tão distante... O que foi que deu errado?
Ela a olhou de frente e viajou com os olhos pelo rosto dele.
- Diz pra mim, pra eu entender: o que foi que eu fiz de errado? O que eu te fiz que te magoou?
Ele se desarmou também.
- Aqui não é o melhor lugar pra gente conversar sobre isso, Dione...
- Não vai haver lugar melhor pra gente se falar, Marcos. Toda vez que a gente se vê, o Luciano está por perto... e agora a Sandra. Você não namorava ninguém quando a gente fazia o comercial.
- Mas você namorava o Victor.
- Não namoro mais!
- Namora o meu irmão agora.
Ela se cala por um instante e pergunta:
- Diz pra mim de uma vez... você não ama a Sandra... ama?
Marcos olhou nos olhos dela e só conseguiu dizer:
- Você não me fez nada.
- Não foi isso que eu perguntei.
- Perguntou sim.
- Antes, agora a pergunta é outra! Você está usando a Sandra pra me atingir, não é? Você ama a Sandra?
Ele ficou olhando para ela e não respondeu.
- Ama, Marcos? É só dizer sim ou não!
- Você ama o Luciano?
- Não... Eu já disse que amo você!
- Então, por que está namorando ele?
- Eu te fiz uma pergunta primeiro!
- Amo...
Os olhos dela encheram-se de água.
- Eu amo você...
Dione sorriu entre as lágrimas.
- Eu sabia!
- Só que isso não muda nada. Eu não vou deixar a Sandra... e você não vai deixar o Luciano e... se deixar... não vai ser por minha causa. Ficou claro?
- Mas por quê?
- Porque tem que ser assim. Eu quero que seja assim.
- Meu Deus, Marcos, eu juro que não te entendo! Eu também te amo!
- Tarde demais, não é? Você devia ter pensado nisso antes de começar a iludir meu irmão.
- Eu só decidi isso quando vi você beijando a Sandra. Você já estava namorando ela! Eu cheguei a te dizer lá na faculdade! Quem está iludindo quem?
- Ela sabe que eu te amo. Eu não estou iludindo ninguém.
- Ela sabe? E como se presta a isso?
- A opinião da Sandra não está em jogo aqui. Ela vai me fazer esquecer de você.
Duas lágrimas rolaram pelo rosto dela. Dione encostou o rosto no peito dele e começou a chorar. Marcos ficou preocupado e olhou para a mesa onde Luciano ainda olhava para eles.
- Não chora, o Luciano vai perceber.
- Que se dane! Eu quero ir embora! Vou até o toalete!
Dione afastou-se dele e Marcos ficou sem saber se voltava à mesa ou se esperava por ela.
Resolveu ir até o bar e esperou que ela voltasse. E ela voltou, minutos depois, já refeita e procurou por ele, mas estava nervosa. Marcos aproximou-se dela.
- Vou pedir por Luciano me levar pra casa, ela disse.
- Eu sinto muito.
- Você não sente nada. Você não tem nada por dentro, Marcos! Você é só casca.
Ela afastou-se e foi para a mesa. Marcos ficou parado, sem saber o que fazer. Uma garota aproximou-se dele e perguntou:
- Você o Marcos Bianchi, não é? O carinha da propaganda da Lunny's.
Ele sorriu sem graça.
- Se eu disser que não você acredita?
- Não! Eu tenho fotos suas em todas as paredes do meu quarto e nos meus cadernos. Eu venho aqui todo final de semana porque sei que muita gente legal frequenta esse lugar! Tem uma agência de modelo aqui perto. Me dá um autógrafo?
Ela estendeu uma caneta para ele e como não tinham papel, ele assinou num guardanapo mesmo.
- Você vem sempre aqui mesmo, não vem?
- Não... é meio difícil, mas... você me dá licença. Eu preciso ir. Meus amigos estão me esperando.
- Eu te acho um gato!
- Obrigado... Tchau.
Ele afastou-se dela e voltou para a mesa.
Quando Marcos chegou à mesa, encontrou Dione séria e Luciano abraçando-a preocupado, acariciando seu braço. Sandra também não estava com cara muito boa. Quando ele se sentou a seu lado, ela segurou sua mão e perguntou baixinho:
- O que você fez?
- Nada! O que aconteceu?
Ele nem precisou ouvir a resposta dela, Luciano se adiantou em responder.
- A Dione quer ir embora, Marcos. Está com dor de cabeça.
- Tudo bem... Se ela quer ir... Vamos nessa.
Luciano olhou para ele desconfiado. Sandra não estava desconfiada. Tinha absoluta certeza de que tinha acontecido alguma coisa entre os dois.
Dione saiu da mesa primeiro.
- Eu espero vocês no carro, Lu. Vou sair desse barulho. Minha cabeça está estourando.
Ela afastou-se e Luciano se levantou também e perguntou ao irmão:
- O que você disse pra ela?
- Eu?!
- Eu vi ela começar a chorar enquanto dançava com você. O que foi que você disse, Marcos?
- Eu não disse nada! Ela... disse que a música... fazia ela lembrar de coisas que ela não queria lembrar e...
- Mentira sua! Se ela não gostasse da música, não teria ido dançar com você! Conta outra, cara! Você disse alguma coisa que a deixou nervosa. Quando chegar em casa a gente conversa mais sobre isso. Você tem muito que explicar.
O rapaz se afastou e foi atrás da namorada. Sandra olhou para Marcos.
- Quer me dizer agora ou depois em casa?
- Dizer o quê, Sandra? Eu... senti... uma vontade louca de beijá-la lá e... foi saindo um monte de besteira da minha boca que... eu não consegui... evitar. Eu tinha que ocupar a minha boca com alguma coisa, pra não...
Ele colocou as duas mãos no rosto e em seguida levantou-se.
- Vamos pra casa. Depois a gente conversa.
Marcos se afastou dela também e foi para o carro.
Durante todo o caminho até a casa de Dione, ninguém abriu a boca para falar no assunto. Luciano abriu a porta do carro, ajudou-a a sair e levou a moça até o portão.
- Você está legal mesmo? – ele perguntou, segurando o rosto dela entre as mãos.
- Estou... Só fiquei cansada. Estudei muito essa noite e... estou com sono. Costumo dormir cedo.
- É só isso mesmo?
- Só. O que mais poderia ser?
- Sei lá... Meu irmão te disse alguma coisa que te magoou?
- Não, Lu! O que o Marcos podia dizer que me magoasse? Ele é o cara mais educado que eu já conheci. O Marcos não magoa ninguém por querer. Só as fãs dele quando o "gato da Lunny's" as dispensa.
Ele riu e ficou olhando para ela.
- Eu te amo, linda! Quer que eu suba?
- Não, eu estou bem. Vocês têm que ir e levar a Sandra pra casa.
Dione o beijou e abraçou forte.
- Tchau, Lu. Obrigada pela noite.
- Te vejo amanhã?
- Me liga. Se eu estiver legal, a gente pode se encontrar.
- Ok. Tchau, princesa.
Luciano beijou sua mão. Dione afastou-se dele e entrou no portão. Ele voltou para o carro.
- Ela está muito esquisita, disse ele, enquanto entrava no carro na porta traseira. – E é por sua causa!
- O quê?! – Marcos perguntou.
- Deixa pra lá. Depois a gente conversa. Vamos embora.
- Não, espera aí. Você me acusou de uma coisa bem grave. Diz logo o que você está pensando.
Luciano olhou para Sandra e depois de novo para ele e faliu:
- Não. Não quero falar agora. Vamos pra casa.
- Luciano...
- Vai, dirige logo essa droga aí, antes que eu saia do carro e vá a pé!
Marcos resolve não discutir. Deu a partida no carro e só parou diante de casa. Luciano saiu do carro e como o irmão não se moveu, perguntou:
- Você não vem?
- Não, avisa o papai que eu não vou dormir em casa.
- Que é? Vai fugir? – Luciano perguntou.
- Vou levar a Sandra em casa e vou ficar lá.
- Bem conveniente, hein? Esperto! – ele disse sorrindo. – Tudo bem, mas amanhã a gente tira esse lero a limpo. Você estragou com a minha noite... Tchau, Sandra!
- Tchau, Lu.
Sandra, sentada no banco da frente, olhou para Marcos e perguntou:
- O que foi que aconteceu realmente lá, Marcos?
Ele segurou firme no volante, deu a partida e saiu com o carro, depois respondeu:
- Me risquei do caderninho dela definitivamente. Eu mesmo me descartei da cabeça dela e agora ele fica contra mim.
- Ele está desconfiado. Estava morrendo de ciúme de vocês na pista.
- Droga! Mas foi ele mesmo que propôs que eu fosse dançar com ela! Você viu!
- Calma... ela disse, passando a mão em sua nuca. – Lá em casa a gente continua essa conversa.
No meio da madrugada, deitados juntos no quarto de Sandra, ela perguntou:
- O que você disse pra ela que a fez ficar tão nervosa com você?
- Acho que tudo. Ela queria que eu dissesse que eu gosto dela e... que quero ficar com ela.
- E você disse?
- Ela perguntou se eu estava namorando você... se eu te amava...
- E você?
Marcos não olhou para ela.
- Eu disse... que amava ela...
Sandra ficou em silêncio e passou as unhas delicadamente pelos pelos do braço dele.
- Ela deve ter ficado muito feliz.
- Ficou... Olhou pra mim sorrindo com aqueles os olhos verdes lindos cheios de água que quase me desmontaram...
- E...
- Eu disse que aquilo não mudava nada. Que não podia acontecer nada diferente do que já acontecia. E ela ficou zangada e ameaçou terminar tudo com o Luciano.
- E se ela fizer isso?
- Vai fazer besteira... Eu não vou mudar de opinião.
- Você vai dizer a verdade pra ele?
- Não... Não sei, acho que não.
- E se ela disser?
- Eu desminto.
- Marcos...
- Se eu falar a verdade, ele é que deixa ela, eu tenho certeza. Enquanto a gente dançava, ela confessou com todas as letras que... me ama. Eu não quero que ele saiba que existiu a mínima possibilidade de ter havido algo entre nós dois, além daquele malfadado comercial. E na verdade, não houve nada mesmo. Só a intenção... Só a vontade... E um beijo...
Os olhos dele encheram-se de água e Marcos escondeu o rosto no colo dela.
- Ah, Deus!...
- Sabe o que eu acho? – ela perguntou, tocando o peito dele. – Se você não colocar pra fora tudo que está guardado aqui dentro, você vai acabar morrendo, Marcos. Você não pode continuar reprimindo isso. Está te fazendo mal!
- Passa! Isso vai passar!
- Eu nem quero mais te ajudar a reprimir, queria te ajudar a não sofrer. Não faz bem pra mim também. Eu "estou" namorada samaritana, mas não esquece que eu te amo também. Minha samaritanice está ficando fina como manteiga passada num pedaço enorme de pão.
Ele olhou para ela.
- Que lindo isso...
- Ouvi num filme, acho que foi... "O Senhor dos anéis". O Bilbo diz pro Gandalf, acho, numa cena.
- Lindo...
As lágrimas continuavam rolando pelo rosto dele.
- Posso fazer o que mais por você?
- Me beija e não fala mais nisso.
Ela obedeceu e ele a abraçou forte, ainda chorando.
- Queria tanto que essas lágrimas escapando desses olhos azuis que eu amo fossem pra mim... ela disse.
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Quando Marcos chegou em casa na manhã seguinte, encontrou surpresa. Rosana, sua mãe, estava lá e, pelo que ele pode notar, já tinha discutido muito com Luciano, pois ela chorava. Mara e Thereza só assistiam.
Logo que ele entrou na casa, Luciano falou:
- Que bom que você chegou, Marcos. Estava doido pra te apresentar nossa nova mãe! Dona Rosana, a senhora conhece seu antigo filho mais velho, Marcos Roberto Bianchi!
- Para com isso, Luciano! – Marcos exigiu.
Luciano se calou e passou as mãos pelos cabelos, ainda zangado.
Marcos se aproximou da mãe e a beijou.
- Oi, mãe. Tudo bem?
- Você também está zangado comigo?
- Não... Eu acho que você não está grudada em ninguém mais aqui. Só não acho que tenha o direito de levar o Luciano daqui se ele não quiser isso.
- E eu não vou! Já disse pra ela. Eu não vou! – Luciano disse, categórico.
- Você não pode me abandonar assim, Luciano!
- Você me abandonou duas vezes! – ele gritou. – Duas! A primeira foi quando resolveu tirar o papai lá de casa e a segunda foi quando resolveu arranjar um pai novo pra gente! Você não pensou em nós nenhuma das duas vezes!
- O Gilberto me deu apoiou e a você também. Ele te ajudou a ser o que é quando nem eu sabia como cuidar de você! Ele era teu amigo!
- Era! Falou bem. Era! Casado com você, transando com você, eu quero vê-lo bem longe. Aliás, ele não veio aí dentro da sua bolsa?
- Ele ficou no hotel, ela disse constrangida.
- Claro! Pelo menos nisso ele tem semancol.
- Dá um tempo, Lu, falou Marcos. Sua agressividade não vai ajudar em nada.
Luciano começou a andar pela sala, girando um chaveiro no dedo, nervoso e deu um chute na porta.
- Para, Luciano! – Marcos gritou. – Muito madura essa sua atitude. Está conseguindo provar que não é mais criança pra depender da mamãe.
O rapaz se encostou na porta e ficou parado, olhando para a mãe, sentada no sofá.
Marcos abaixou-se junto da mãe e segurou sua mão.
- Deixa ele ficar. Vai ser melhor pra você. Você vai ter mais liberdade, vai poder cuidar mais de você. A gente aqui se vira.
- Você acha que eu não sinto nada por você, não é, Marcos?
- Eu não acho nada, mãe...
- Eu amo você, filho, muito... ela disse, acariciando seu rosto. – Eu me afastei do seu pai por que não dava mais pra ficar com ele. Você sabe disso melhor do que ninguém. Você sentiu na pela muita coisa. A gente só vivia brigando... Não íamos dar uma vida decente e de qualidade pra vocês dois. Será que não deu pra entender isso?
- Eu nunca te culpei por ter se separado do papai, mãe... e também não te culpo por querer refazer a sua vida, querer... se casar de novo. Você é bonita, é moça ainda e não é justo ficar sozinha e se enterrar, ficando sozinha. Eu só não entendo... e acho que é isso que o Luciano também não entende e não aceita... é que o homem com quem você quer se unir... tenha a idade pra ser seu filho também, mãe.
- Você não o conhece pra dizer isso. Ele me ajudou em muita coisa e o rosto do seu irmão é um dos mais conhecidos na publicidade do Rio de Janeiro por causa dele! Se você estivesse lá, com o rosto que você tem, já teria ficado famoso do que ele!
- Pode ser, se esse fosse o meu objetivo, mas... daí ele querer fazer uma vida com você pra sempre, como deveria ser o seu casamento com o velho... Eu não acredito que daria certo. Ele vai deixar você daqui dois três anos. Você vai acabar sofrendo depois e o pior é que vai perder um filho. Pensa nisso.
Rosana olhou para Luciano que também olhou para ela, magoado ainda.
- Se eu deixar ele... você volta comigo, filho?
- Não é tão simples assim... Você ainda não deixou. Essas coisa levam tempo e... Eu estou bem aqui por enquanto, muito bem. E estou... namorando... firme... - Ele olhou para o irmão rapidamente.
- Namorando? Mas você chegou aqui outro dia, Luciano...
- Ela é da agência do Marcos. A garota que fez o comercial com ele. A gente se apaixonou e eu não quero... me afastar dela. Também estou fazendo fotos aqui e os caras da agência nova estão gostando do meu trabalho. O Marcos viu.
Rosana olhou para o filho mais velho que confirmou com um aceno de cabeça.
- É verdade...
Ela ficou pensativa.
- E aí? Posso ficar? – Luciano perguntou.
Rosana foi sentar-se no sofá e disse:
- Preciso falar com seu pai primeiro. Como você mesmo disse, essas coisas não são simples assim. Minha vida estava num rumo e agora... Seu pai está de acordo com esse seu trabalho? Eu sei que vocês não estão vivendo uma vida de luxo aqui. O Marcos faz uma faculdade cara que seu pai está ajudando a bancar quase que sozinho...
- Quase sozinho, Marcos interrompeu. – O meu comercial ajudou bastante e eu estou pra rodar outro ainda esses dias e isso sempre dá grana.
- Acredito... Mas mesmo assim. Eu queria que o Luciano ficasse comigo, justamente pela dificuldade extra que ele traria pro Breno vindo pra cá. Nós dividimos a família justamente por conta dessa dificuldade. Ninguém aqui está nadando em dinheiro. Além do mais, você não terminou o colégio e não vai deixar a escola assim. Estudar é muito importante. Foi uma das condições que eu impus pra você começar a modelar.
- Vou terminar no ano que vem, disse Luciano.
- Ano que vem?
- Esse ano já foi, mãe. Não vou conseguir passar mesmo. Eu me transfiro de lá pra cá e ano que vem, começo tudo pra valer.
Rosana não achou aquela uma ideia muito viável.
- Não sei... Eu preciso falar com seu pai primeiro.
- Ele está no consultório, Mara informou.
- Mas ele vem almoçar daqui a pouco, Thereza esclarece. – A senhora pode ficar e almoçar com a gente.
A empregada olhou para Marcos pedindo apoio. Ele concordou com ela.
- É isso mesmo, mãe. O pai quer mesmo conversar com você. Fica. Vai ser bom a gente conversar todos juntos. Tem muita coisa pra ser esclarecida e... resolvida.
- Eu preciso ligar... pro hotel. Tenho que avisar pro Gilberto que vou almoçar aqui.
Luciano e Marcos trocaram um olhar e Marcos achou por bem sugerir que a mãe fizesse a ligação dali mesmo.
- Liga daqui mesmo.
- Você não quer convidar ele pra almoçar? – Luciano sugeriu ironicamente.
Rosana sentiu sua intenção e achou que aquilo não seria uma boa ideia. A presença de Gilberto poderia causar algum desconforto.
- Não, filho, ele ainda não quer confrontar seu pai... e vocês. É muito cedo ainda.
- É, ele é muito covarde. Te namora há quase um ano e está com medo de "confrontar" seu marido. No Rio é diferente, não?
- Luciano, ele não é covarde! E o Breno não é meu marido. É meu ex-marido... há cinco anos.
- Mas é o cara que tem idade certa pra estar casado com você!
- Lu, pega leve, disse Marcos. - A gente vai conversar e depois, quando tivermos uma posição sobre tudo, se possível, ele vem até aqui e a mamãe diz para ele o que decidiu ou conta pra ele depois no hotel... Não complica. Calma. Mãe, pode ligar. A gente vai deixar você sozinha.
Mara e Thereza nem precisaram de aviso. Saíram da sala e foram para a cozinha. Luciano não se mexeu. Marcos olhou para o irmão e disse:
- Vamos pro quarto?
- Pode ser, preciso mesmo conversar com você.
Luciano deu as costas e foi para o quarto. Marcos o seguiu.
Rosana apanhou o telefone e discou para o hotel onde Gilberto estava, pedindo para a recepção transferir a ligação. Quando ele atendeu, foi logo perguntando:
- Que demora, Rô! Pensei que você fosse almoçar comigo e o Luciano pra gente poder voltar pro Rio ainda hoje. Está ligando de onde?
- Da casa do Breno. Eu ainda não saí daqui.
- Por quê? Algum problema?
- Mais ou menos... Vou ter que conversar com o Breno ainda.
- E cadê ele?
- No consultório ainda. Ele trabalha até o meio dia. Vai vir almoçar e aí vamos conversar.
- Conversar sobre o quê? Não é só pegar o garoto e ir embora?
- Não está tão fácil assim, amor. O Luciano não quer ir comigo e o Marcos e o Breno estão apoiando ele.
- Ah, caramba! Só faltava essa. Mas você não é a tutora legal dele? Ele não é obrigado a ir com você?
- Pela lei sim, mas... não é só lei que está valendo aqui, Gil. A felicidade do meu filho também. Faz o seguinte: me espera mais um pouco. Talvez a gente tenha que dormir aqui em São Paulo. Ou não, dependendo do que a gente conversar. À noite eu te digo o que foi decidido, ok?
- Meu Deus, não pensei que o Luciano fosse dar tanto trabalho por causa disso. Eu pensei que ele gostasse de mim... e de você! Ele não quer que a gente seja feliz?
- Quer, Gil, mas não juntos.
- Quê?!
- Espera, depois a gente conversa. Tem paciência.
- Você está estranha, Rosana. Você não está pensando em fazer o que ele quer, está? Ele é só um moleque mimado, amor.
- Ele é meu filho, Gilberto. Põe na sua cabeça que ele chegou primeiro que você na minha vida. Ele e o Marcos.
Gilberto ficou em silêncio.
- Tá, desculpe... Eu vou esperar.
- Beijo...
- Não esquece que eu te amo, gata.
- Também te amo, tchau.
Rosana desligou o telefone e ficou meio deslocada sem saber o que fazer. Thereza apareceu na sala e percebeu seu constrangimento.
- A senhora não quer vir para a cozinha ficar comigo? Estou fazendo um suco de frutas pra tomarmos à tarde. O Marcos adora.
- Claro...
As duas foram para lá.
No quarto de Marcos, ele tinha começado a arrumar seus livros para o dia seguinte e Luciano sentou na cama e apenas ficou observando o irmão.
- A gente pode conversar agora?
- Conversar sobre o quê? - Marcos perguntou, sem olhar para ele e sem parar o que fazia.
- Você sabe muito bem. Sobre o que aconteceu ontem.
- Luciano, não aconteceu nada ontem.
- Ah, com certeza aconteceu. A poeira já baixou, você se escondeu na casa da Sandra, mas eu ainda quero saber o que foi que você e a Dione conversaram pra ela ter ficado tão esquisita.
- Eu não me escondi na casa da Sandra...
Luciano levantou-se e se aproximou dele fazendo-o parar e voltar-se para ele.
- Não me enrola, Marcos. Olha pra mim!
O rapaz o encarou e esperou.
- Fala logo.
- Lu, não aconteceu nada. Foi o que eu disse. Ela ficou triste por causa da música e começou a chorar enquanto dançava comigo.
Luciano ficou olhando para ele por um momento e perguntou:
- Você ama a Sandra... de verdade?
- Que pergunta mais idiota. Claro que eu amo! Ela é minha namorada!
- Mas não era antes de eu vir pra cá. Você faz faculdade há três anos e não namorava ninguém. Não acha estranho ter descoberto a garota agora, depois que eu conheci a Dione que você já conhecia há tanto tempo?
- Não, não acho. O mundo não começou a girar em torno de você depois que você veio pra São Paulo fugido da mamãe, Luciano. Larga de besteira. Vamos esquecer esse assunto. O seu problema agora é convencer o papai e a mamãe que você realmente quer ficar aqui e procurar fazer algo que fixe sua vida de novo com a gente.
- Eu já fixei minha vida aqui quando falei que volto a estudar no ano que vem e que estou com a Dione.
- Dois motivos bem importantes mesmo... Mas a decisão de você ficar ou não aqui vai depender da conversa dos nossos pais daqui a pouco.
- Eu já falei que não vou com ela.
- E se ela deixar o Gilberto?
Luciano pensou e disse:
- Não vejo ela deixando ele.
- Você não sabe o que uma mãe faz por causa de um filho. A mamãe é muito ligada a você. Ela me parece estar bem diferente. Você balançou ela, maninho. Foi uma tacada de mestre ter vindo pra cá. Inteligente pra caramba.
- Eu não quero separar ninguém de ninguém, Marcos, ele disse, indo se deitar de bruços na cama, abraçando-se a uma almofada.
- Eu só não queria... morar na mesma casa que ela e ele morassem depois que se casassem. Eu não pensei que fosse preconceituoso com essas coisas.
- Você já parou pra pensar que talvez a mãe nunca se case com o Gilberto?
- Sei lá... cada vez que eu vejo os dois juntos dá a impressão que ela já casou.
Marcos riu.
- Cisma tua.
A porta se abriu e Breno apareceu por ela.
- Boa tarde, filhos? Tudo bem?
Os dois olharam para ele ao mesmo tempo e sorriram.
- Oi, pai! – responderam os dois.
- Nossa! Que sintonia! Ensaiaram muito? – Breno perguntou, rindo. – Estou varado de fome! Que foi que a Thereza fez pro almoço? O cheiro estava na esquina da rua!
Ambos riram. Breno ia saindo da porta e Marcos chamou:
- Pai!
- Oi!
- Entra aqui um pouquinho.
- Vou tomar um banho, Marcos, tenho só uma hora de almoço, você sabe.
- É coisa rápida.
Breno entrou no quarto e esperou. Luciano foi até o pai e o fez sentar-se numa das camas, carinhoso, acariciando seus ombros. Breno estranhou.
- Êh, que foi que vocês fizeram? Que aconteceu?
- Você não viu ninguém na sala quando entrou? – Marcos perguntou.
- Não, não tinha ninguém lá. Por quê?
Marcos ficou em silêncio e olhou para o irmão.
- Fala logo, Marcos. O que foi que houve?
Os dois falaram ao mesmo tempo:
- A mamãe está aí!
Breno cairia no chão se estivesse em pé. Apenas abriu a boca e ficou olhando para os dois filhos.
MAR DE AMOR – DIONE - PARTE 6
SONHAR É DE GRAÇA
BONS PENSAMENTOS NOS ACOMPANHEM!
DEUS NOS ABENÇOE A TODOS NÓS!
OBRIGADA PELA COMPANHIA!
PAZ, LUZ, ALEGRIA E HARMONIA...
ALÉM DE MUITA SAÚDE A TODOS!