Melhor Natal de Todos - Especial de Natal
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Capítulo 4 4

Abro as bandejas de gelo, torcendo-as até que os cubos caiam em uma tigela que coloquei no balcão de fórmica desgastado. Duas lágrimas escapam e mergulham na tigela, congelando com os cubos. As palavras de Ingram foram como um punhal, um punhal que ainda está alojado entre minhas costelas. Mas ele está certo. Eu não estava lá para o papai.

Enxugando o rosto com as costas da mão, afasto as lágrimas. É tarde demais para chorar sobre isso. Papai se foi. E não importa que ele tinha me dito tantas vezes para não voltar para casa, para não vê-lo deteriorar-se. Ele não queria que eu me lembrasse dele dessa forma, especialmente quando tive que ver a mamãe desvanecer diante dos meus olhos quando eu era criança. Todas as suas palavras fizeram sentido, seu raciocínio, mas eu deveria estar aqui.

Suspiro e pego um saco plástico, em seguida, jogo o gelo dentro. Uma vez que consegui me recompor, caminho de volta para sala e sento-me na frente de Ingram.

Ele está ao telefone, falando baixo. "Mantenha-se atento para problemas. A gangue Piper está de volta. Com certeza eles são os que estão roubando gado. Volto em breve. Aguente firme até então." Depois de mais algumas palavras concisas, ele coloca o fone no gancho e caminha de volta para o sofá, cada passo arrancando um gemido dele.

"Tudo está bem em sua casa?"

"Zane disse que estamos bem. O lugar está fechado firmemente. Os animais protegidos." Ele me olha com uma expressão pensativa enquanto desenrolo a atadura e começo a envolver seu joelho.

"Zane é uma boa ajuda."

"Tive muita sorte com ele, com certeza. Segue bem as ordens."

Uma vez que seu joelho está coberto, fecho a atadura e aponto para o sofá. "Vá em frente e deite-se. Vou colocar o gelo em cima quando estiver deitado."

"Eu preciso ir." Ingram pega sua calça jeans.

"Você não pode andar." Olho pela janela. "A neve não está diminuindo. As estradas já estão geladas como o inferno. E nós temos alguns negócios para discutir."

"Negócios?"

"Os Pipers." Tive desentendimentos com eles antes, mas nada nessa escala. Trey tentou conversar comigo na cooperativa quando voltei para casa. Ele queria comprar minha terra. Minha recusa não foi fácil com ele, especialmente considerando que sua proposta também incluía que ele e eu passássemos algum 'tempo de qualidade' juntos. Bonito e loiro como todos os outros homens Piper, ele não está acostumado a ser rejeitado no lado comercial ou pessoal. Ele só não tinha me encontrado ainda.

O olhar de Ingram escurece. "Pretendo resolver isso, logo que eu possa chegar lá."

"E o xerife?"

Ele estreita os olhos. "O xerife Crow está no bolso deles. Eles o mantêm bem pago para olhar para o outro lado enquanto atropelam os fazendeiros do município."

"Ótimo. Vamos, deite-se." Levanto sua perna boa e giro-a para o sofá.

Com uma careta, ele traz a perna ferida para cima, depois se acomoda nas almofadas. "Eu preciso voltar para casa."

"Você disse que Zane tinha o lugar fechado." Coloco o gelo sobre o joelho, em seguida, espalho uma malha vermelha e branca sobre ele.

"Sim."

"Então por que você está com tanta pressa para voltar?"

Ingram coloca uma mão atrás de sua cabeça e olha para mim à medida que dobro a malha em torno dele. "Eu não pertenço aqui. Assim como você não pertence à minha casa."

"Você já esteve aqui muitas vezes. Não vejo por que isso tem que mudar só porque eu estou no comando agora." Fico de pé e caminho até o fogo, adicionando uma tora grossa para manter o fogo até altas horas. Suas palavras sobre meu pai dão voltas, me pegando como um bumerangue. Engulo em seco e fico vermelha enquanto as chamas consomem a parte de baixo do combustível fresco.

"Não quero que você saia da estrada em seu caminho de volta. Então, partirei assim que amanheça." Ele suspira, como se isso fosse uma grande concessão por parte dele.

Queria argumentar, para informá-lo de que eu poderia dirigir muito bem, muito obrigada, mas não tenho energia para isso. Os pensamentos sobre o papai rodeiam-me como um fantasma, drenando-me da maneira que só a culpa poderia.

"Como quiser." Caminho até a porta e finalmente tiro as minhas botas. Empilho-as ao lado das dele em um pequeno tapete, fazendo o meu melhor para evitar que o exterior estrague o piso de madeira áspera mais que o necessário.

"Posso pelo menos me desculpar pelo que disse antes?" Sua voz não é dura como eu esperava. É uma carícia suave, uma que me faz voltar para ele e sentar-me em uma cadeira puída.

Ingram passa a mão pelo cabelo escuro, alguns fios grisalhos aparecendo nas têmporas. "Não sei o que aconteceu entre você e seu pai, ok? E realmente não é da minha conta." Faz uma pausa e parece meditar em suas próximas palavras. "Eu não tinha nenhum direito de dizer aquilo para você. Então, sinto muito por isso."

Aceito seu pedido de desculpas, um que eu não mereço e certamente não esperava. O silêncio cai entre nós, o tipo desconfortável que sufoca.

Pensamentos de papai correm pela minha mente, e tenho que quebrar a tensão ou vou chorar de novo. "Como ele estava?" Coloco meus pés debaixo de mim, tentando preencher o menor espaço quando faço a pergunta que me assombrou por meses. "No final, como ele estava?"

Ingram solta um suspiro e inclina a cabeça para trás. "Depende. Quando tinha poucos meses, ele não estava em plena faculdade mental." Ele bate na testa. "Ainda inteligente e com uma língua tão afiada quanto a sua. Mas quando o seu tempo ficou mais curto, ele meio que recuou para si mesmo. Não queria visitas. Não queria que ninguém o visse na cadeira de rodas ou tivesse um vislumbre de todos os medicamentos que tomava."

Já sabia que a última parte era verdade. Tinha feito tudo que podia para convencê-lo de que eu deveria voltar para casa e cuidar dele. Mas papai não queria. Ele me disse que se eu chegasse à sua porta, ele não me deixaria entrar. Deus, isso doeu. Mas papai não era de medir palavras. Ele disse isso. E quis dizer isso.

"Fique na faculdade. Consiga esse mestrado. Eu estou orgulhoso de você, Molly. Tão orgulhoso. Sua mãe está olhando para você agora, sorrindo como ela costumava fazer." Ele tem uma crise de tosse, e seguro o telefone mais apertado.

"Papai?"

Mais algumas tosses profundas, aquelas que significam problemas, e então volta ao telefone. "Quero dizer isso, agora. Não se incomode em vir aqui. Tenho Ingram no meu pé metade do tempo, e a outra metade estou dormindo graças a essas pílulas malditas. Você não está perdendo coisa alguma."

"Eu ainda acho que deveria estar aí-"

"Não!" Sua recusa estala como um chicote. "Você tem memórias ruins suficientes quando Lurleen faleceu. Não terei você acrescentando esse mesmo tipo de memórias de mim. Eu te amo. E preciso que você respeite meus desejos e fique longe. Você pode fazer isso por mim, esquilo?"

Esquilo. Ele não tinha me chamado assim desde que eu tinha doze anos. Quando eu era criança, tinha o hábito de subir qualquer árvore que conseguia pegar. Às vezes papai viria me procurar, e eu ficava a seis metros no ar e tentando ir mais alto. Ele começou a me chamar de seu pequeno esquilo.

Eu não queria aceitar.

"Por favor, esquilo. Por favor?" Sua voz falha.

"Tudo bem." Cedi. "Eu não irei."

"Obrigado." Seu suspiro sopra através do telefone. "Obrigado. Agora volte aos seus estudos. Já estou cochilando.

Pílulas malditas."

"Ok, pai. Eu te amo."

"Também te amo, Molly."

"Molly?" Ingram senta e inclina-se, a ponta áspera do seu polegar enxugando uma lágrima do meu rosto.

"Desculpe." Esfrego a manga da minha blusa no meu rosto. "Apenas pensando em uma das últimas vezes que conversei com o papai."

Ele se move e senta-se à mesa de centro, estremecendo apenas ligeiramente enquanto apoia a perna ruim no sofá.

"Não." Faço um gesto em direção ao seu joelho. "Você vai feri-lo mais."

"Não posso sentir nada. Graças a quaisquer pílulas que você me deu e o uísque." Seus lábios elevam-se nos cantos, e eu não tinha percebido que lindo sorriso ele tem.

"Por que você nunca sorri?" A pergunta sai antes que eu tenha a chance de pensar sobre isso.

Ingram encolhe os ombros. "Eu sorrio."

"Quando?"

Ele coça o queixo enquanto o fogo crepita e Tanya ronca levemente. "Bem, vamos ver aqui. Talvez quando nasce um bezerro? Sinto que eu sorrio." Suas palavras afastam a tensão que ameaçava me consumir.

"Sério?" Podia imaginá-lo ajudando com um nascimento, as mangas da camisa arregaçadas e suas mãos grandes e fortes prontas para puxar se o bezerro estivesse lutando.

"Certo."

Fico maliciosa. "Qualquer outra coisa que te faz sorrir?"

Ingram segura o meu olhar, embora seus olhos tenham uma qualidade ligeiramente vítrea - o álcool e as pílulas para dor é uma mistura potente. "Talvez uma coisa."

Um tremor passa por mim com a insinuação nessas três pequenas palavras. Apesar de toda sua aspereza, Ingram já tinha feito incursões ao meu coração, cuidando do meu pai. Papai me disse todas as coisas que Ingram o ajudou; era um dos pontos de discussão de papai quando tentei voltar para casa. "Ingram está cuidando de mim, esquilo, eu prometo."

Era uma das razões pelas quais não me incomodava com a arrogância de Ingram e seu comportamento teimoso. Ele estava lá para o papai quando eu não podia. Ele tem um grande coração escondido debaixo de sua casca dura. E não faz mal que se parece um cowboy na capa de um livro de romance.

Aperto minhas coxas juntas e mexo-me no assento. Talvez não devesse ter adicionado outra tora ao fogo; está ficando quente aqui. Mais quente a cada segundo que ele olha para mim com aquele olhar direto, seus pensamentos fervendo logo abaixo da superfície.

"Você deveria, hum... você deveria descansar um pouco." Deslizo para frente, prestes a ficar de pé, mas ele coloca as mãos em ambos os braços da minha cadeira, me prendendo.

"Só me diga uma coisa."

Minha respiração engata, e me pergunto se ele pode ouvir a batida tumultuada do meu coração.

"Ok." Minha voz é hesitante, minha mente correndo de uma possível questão para a próxima. O que ele quer saber?

"Por que você não veio ver seu pai?"

Tudo dentro de mim congela, e afasto-me dele.

Sua mandíbula se aperta e ele começa a estender a mão, em seguida, puxa a mão de volta. "Eu só preciso saber, é tudo. Seu pai nunca me disse. Não importa quantas vezes perguntei, ele disse que eu precisava me preocupar com meus próprios negócios e deixar de me preocupar com o que você estava fazendo."

"Você estava?"

"O quê?" Ele inclina a cabeça um pouco para o lado, e eu tenho a sensação de que ele sabe exatamente o que estou perguntando.

"Preocupado com o que eu estava fazendo?"

Ingram coloca alguma distância entre nós neste momento, endireitando as costas e olhando para mim com seus olhos escuros. "Eu queria saber por que você nunca voltou para casa." Ele para, aparentemente lutando com as palavras que estão em sua mente. "Comecei a me perguntar se alguma coisa ruim aconteceu entre você e seu pai. Nós dois sabemos que ele tinha um temperamento, e-"

"Oh, não." Balanço a cabeça com veemência. "Não foi nada disso. Papai sempre foi bom para mim, especialmente depois que a mamãe morreu. E sempre costumava vir visitar-me na faculdade todos os meses. Pelo menos, ele ia até que ficou doente. Depois disso, eu queria voltar."

Seus olhos se arregalam. "Por que não voltou?"

"Papai me disse para não voltar." Minhas palavras saem apressadas. "Implorei que ele me deixasse voltar, mas ele não queria que eu o visse sofrer. Foi inflexível que eu ficasse longe. E fui tola e concordei." O buraco que papai deixou no meu coração ainda está cru, raivoso, mesmo que ele tenha partido há seis meses.

Uma ruga forma-se entre as sobrancelhas, depois desaparece à medida que Ingram digere o que eu disse.

Minha respiração fica presa em um soluço, mas continuo. "Toda vez que conversamos, prometi que não viria vê-lo. Implorou-me para ficar longe." As lágrimas voltam. "E eu concordei, porque ele estava tão fraco, e eu não queria perturbálo. Mas todos os dias eu liguei, tentei fazê-lo mudar de ideia. Ele não mudou. Nem mesmo no final. Nem mesmo quando sabia que eram os últimos dias. Papai me implorou para não vir porque ele queria apenas memórias felizes para mim. Especialmente depois da mamãe." Fico sem fôlego quando Ingram aperta minhas mãos repentinamente frias em suas calorosas.

"Eu deveria ter vindo," as palavras deixam meus lábios em um sussurro.

            
            

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