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Paramos na praça de alimentação do shopping para almoçar, comemos conversando e sorrindo. Vez ou outra ele segurava minha mão, ou fazia um carinho sutil na minha bochecha. Estava sempre me tocando de alguma forma, em meus braços, no meu rosto... Percebi que Saem provavelmente era muito carinhoso em um relacionamento e pensei no quanto Verônica foi sortuda por namorá-lo tanto tempo. Quer dizer, estávamos nos conhecendo, nada garantia que fossemos namorar a longo prazo. Tudo era incerto ainda, essa convicção não existia na minha cabeça. Foi aí que eu percebi, eu o queria.
Não somente um dia como pensei, então cheguei a conclusão de que não era somente atração física. Se fosse eu não estaria imaginando como seria quando estivéssemos namorando. Saem em casa aos finais de semana para assistirmos filmes juntos. Andando de mãos dadas na rua, os sorrisos, os abraços... Tudo isso não se obtinha em uma única noite de beijos apaixonados. Se construía aos pouquinhos, da forma como ele mesmo mencionou que pretendia me conquistar.
Meu coração flutuou, o que me fez abrir um sorriso bobo e involuntário chamando a atenção dele.
- Está feliz?
- Estou - confirmei. - Obrigada.
Saem assentiu, sorrindo discretamente. Em seguida inclinou a cabeça para o lado, me olhando de um jeito apaixonado? Não, quem se apaixonava em alguns dias, meu Deus!
É, tá legal, eu.
Eu provavelmente estava apaixonada ou na cara do gol. Mas, gente, como não se deixar levar pelos sentimentos ao lado desse garoto? Ele fez cursinho com os príncipes encantados da Disney? Só podia.
Quando eu iria fazer a mesma pergunta para ele, um grupinho majoritariamente formado por garotas se aproximou da nossa mesa.
- Saem! - exclamaram juntas, aos suspiros.
Ele olhou de lado para elas, sua expressão estava confusa de início. Depois passou para resignada.
- Oi, meninas e... - olhou para o único garoto do grupo, acrescentando: - menino.
- O que faz aqui, mano? - O garoto passou entre elas, vindo falar com Saem. - Pensei que estivesse na Coreia com os seus avós.
- Eu estava, mas voltei há alguns dias. - Saem explicou, enquanto as garotas o olhavam como se ele fosse um pote de sorvete no deserto.
- Fico feliz que voltou - respondeu, Saem fez um movimento de cabeça, como se concordasse.
- Deixa eu te apresentar. - Ele apontou para mim. - Essa é Ananda, esse daqui é meu amigo, Alex. Essas são as irmãs dele - indicou as meninas, mas não disse o nome de cada uma.
Abri um sorriso comportado, no entanto, por dentro estava me mordendo. Elas vieram até ele para beijá-lo no rosto, mas Saem se esquivou todo sem graça.
- Se comportem, não vê que ele está acompanhado! - Alex exclamou, puxando uma das irmãs pelo braço. - Prazer em te conhecer, Ananda. Agora vou tirar minhas irmãs daqui antes que o pior aconteça. - Ele foi empurrando as meninas, que acenavam para Saem. - Precisamos marcar um encontro de homens, fechou? - mencionou antes de se afastar completamente.
O amigo do Saem era alto, magro, cabelo cacheado e pele negra. Era um garoto muito bonito, assim como as irmãs dele; e, droga, eu fiquei levemente enciumada.
- Só marcar o dia. - Saem respondeu, acenando para Alex.
- Você tem muitas fãs - provoquei, espetando raivosamente uma batata.
- Você é ciumenta, Ananda? - perguntou sério.
- Depende - assumi. - Você é muito legal com todo mundo, com a Verônica, com as meninas... - Virei o rosto envergonhada.
Ele pegou minha mão.
- Esse é meu jeito, mas eu não fui carinhoso com as irmãs do Alex. - Se defendeu. - Eu pensei em você.
- É, pode ser. - fingi descaso.
- Já sobre a Verônica, somos amigos e sempre a tratei assim. Mas prometo tentar ser mais ponderado, não quero que se incomode por ela ser minha ex. - Saem tocou meu queixo, fazendo-me olhar para ele. - Quero que sejam amigas, ela é uma ótima pessoa e gostou mesmo de você.
- Eu gostei dela também - confessei, abrindo um sorriso. - E você já ficou com alguma dessas meninas? - Ergui desafiadoramente a sobrancelha direita.
- Só uma... - Ele coçou a nuca, ficando subitamente vermelho.
- Você era um pegador! - quase gritei, senti tanto ciúme, pensei que fosse explodir.
- Foi só um beijinho, nem conta.
Estreitei os olhos, ficando em silêncio por alguns instantes. Saem mordeu o lábio inferior, receoso. Sua atitude não foi para me provocar, parecia ter agido pelo nervosismo. Mas foi um gesto tão lento e provocante... me perdi no raciocínio por um segundo ou dois. Contudo, logo me recuperei.
- Não sabia que você era um galinha - puxei minha mão, cruzando os braços. - Eu devia saber que com esse rostinho, você provavelmente passou o rodo em geral.
- Não fala assim, eu não fiquei com tantas garotas. Posso contar nos dedos - argumentou.
- Então conte - desafiei.
- Você ficaria chateada.
- É, ficaria mesmo - concordei, sorrindo meio constrangida.
- Vamos parar de falar disso? - pediu, tornando a pegar minha mão. - Estamos juntos aqui, você é a única que tem minha atenção e eu queria te contar uma coisa particular.
Fiquei atenta, expulsando qualquer sentimento egoísta de ciúmes do meu coração.
- Pode contar. - Ele suspirou, sua expressão ficando um pouco mais séria.
- Eu conheci o Alex no colégio. Ele era bolsista e não tinha dinheiro para comer, então eu sempre dividia o que levava e assim nos tornamos amigos... - Saem fez uma pausa, somente aguardei. - Enfim, no passeio na roda gigante, você mencionou algo sobre minha mãe. Eu rebati dizendo que ela não podia controlar minhas relações pessoais, quando na verdade ela pode e já fez isso. Minha mãe não gostava da nossa amizade, porque o Alex não tinha dinheiro e conexões. Pode parecer ridículo quando se trata da vida real, não de uma novela coreana. Só que ela selecionava a dedo quem podia ser meu amigo. No final, acabei me afastando dele por um bom tempo, então talvez seja melhor manter o que temos em segredo por enquanto. Não quero que minha mãe interfira ou faça alguma coisa com você. - Saem apertou minha mão.
- Tudo bem, ela não precisa saber por enquanto - aceitei, comovida. - E sinto muito pelo seu amigo.
- Já nos resolvemos. - Ele sorriu. - Só te contei isso para me redimir, fiquei chateado pelo que você me disse. Porque eu sabia ser verdade e isso doeu. Muito mais por saber que ela sempre apoiou minha amizade com a Verônica. Com certeza devido aos pais dela serem influentes aqui no Brasil. Como eu disse, minha mãe não dá ponto sem nó. - Foi minha vez de apertar sua mão.
- Eu não quis te magoar com o meu comentário - informei. - Para falar a verdade, tem sim uma coisa que me incomodou na sua conversa com a senhora Angélica. - Saem me olhou apreensivo.
- O que?
- A forma como ela falou com você, eu não gostei. Achei injusto - revelei, mas com medo de que ele não aprovasse minha opinião.
Ao contrário, Saem sorriu.
- Você se importa comigo - constatou.
- Claro que me importo, seu bobo. - Fiquei embaraçada devido ao jeito como ele me olhava.
Era um olhar tão carinhoso, acho que nenhum garoto me olhou assim antes.
- Não se preocupe com nada, eu sou psicologicamente forte. - Saem piscou, me desnorteando. - Sei lidar com a minha mãe... quer dizer - se corrigiu -, mais ou menos. Estou aprendendo, quem sabe um dia?
Nós dois gargalhamos.
- Você não existe - escapou, assim como o sorriso boboca que eu não conseguia desfazer.
- Vamos? - perguntou, levantando. - Tenho que te levar a um lugar ainda.
Fiz que sim, também me levantando. Saem entrelaçou os dedos aos meus e caminhamos pelo shopping. Até pararmos em uma loja de eletrônicos, ele perguntou à atendente sobre câmeras fotográficas Polaroid. Fiquei em silêncio observando, ela veio mostrar os modelos.
Saem indagou:
- Gosta de alguma?
- É para mim? - devolvi, confusa.
- Você vai precisar aonde vamos - respondeu sorrindo.
- Ah, não precisa comprar nada, Saem.
- Deixa de ser boba, eu quero te dar um presente que vai ser útil nos nossos passeios - argumentou. - Quero criar lembranças e marcar esses momentos, a melhor forma é através da fotografia.
Aceitei.
- Tudo bem, gostei dessa aqui - apontei para a câmera instantânea azul bebê, que era a coisa mais linda do universo.
- Ótimo, vamos levar essa. - Saem sorriu novamente e foi até o caixa fazer o pagamento.
Não queria ganhar presentes dele, mas não tinha nada demais, certo? Era só paranoia da minha cabeça.
- Não quero que fique comprando presentes pra mim - informei, sendo estupidamente infantil.
- Por que não? - quis saber, ofendido. - Não é exclusivamente seu, eu também vou usar - respondeu, parando de andar.
Mirou a câmera no meu rosto, batendo a foto. E pronto, tinha uma fotografia instantânea minha com um bico enorme na mão dele.
- Me dá aqui! - Estendi a mão.
- Tão fofa! - gracejou.
- Me dá - pedi novamente.
- Sabe que tem um preço, certo?
- Chantagista - brinquei, ele sorriu pegando minha mão.
- Quer sorvete? - ofereceu, mudando de assunto.
- Quero - concordei bem rápido.
E, quando saímos do shopping, eu segurava uma casquinha com duplo chocolate. Enquanto ele preferiu um sundae simples.
- Quer um pouco do meu? - Fiz que sim.
Saem colocou na minha boca e tive que oferecer o meu por educação. Mas ele não quis.
Ao entrarmos no carro, Saem pediu para eu segurar seu pote de sorvete. Então notei que tinha uma mancha de chocolate no canto de sua boca. Meu coração acelerou com o pensamento que surgiu na minha mente. Não pensei muito, apenas me inclinei sobre ele e dei uma sugadinha com os lábios onde estava "sujo". Afastei-me surtando internamente, no entanto, Saem segurou meu pulso e olhou bem dentro dos meus olhos. Suas pupilas estavam maiores e ele ficou tão lindo com aquela expressão surpresa e travessa no olhar. Que novamente não pensei muito, apenas selei nossos lábios.
Foi rápido, um beijo simples com um estalo no final.
- Não resisti - sussurrei em choque.
Saem soltou um suspiro profundo, antes de começar a se inclinar para mim. Eu me afastei somente pelo reflexo, mas não pretendia.
- Já percebi que você não é uma boa menina - respondeu muito baixo.
Sua voz soou estranhamente rouca, causando um arrepio na minha espinha.
- O que você vai fazer, então? - desafiei.
Ele sorriu, mordendo o lábio inferior. Em seguida, colou a boca na minha, envolvendo meu rosto em suas mãos. O beijo começou um pouco abrupto, eu segurava minha casquinha ainda e não podia corresponder como desejava. Contudo, Saem não pareceu se importar com minha falta de tato, apenas guiou o beijo com maestria. Seus lábios se movimentavam com calma, explorando e conhecendo. Seus dedos acariciavam meu rosto, enquanto sua boca se movia sobre a minha sincronizadamente. Como se já a conhecesse, como se aquele beijo fosse muito desejado e necessário. Ele mordeu meu lábio inferior cuidadosamente e eu suspirei com o contato. Sentindo-me nas nuvens, imaginei muito como seria quando de fato nos beijássemos. Contudo, estava sendo mil vezes melhor, era como se eu renascesse.
Não fazia ideia de que precisava tanto beijá-lo até esse exato momento. Infelizmente, acabou rápido demais. Quando eu estava completamente entregue, ele se afastou. Deixando-me confusa e desnorteada.
Saem passou a mão direita pelos cabelos - que eu nem pude puxar por causa do sorvete - e ligou o carro.
- Não posso ficar sozinho com você, preso aqui - avisou, seu tom de voz soando levemente alterado. - Meu raciocínio lógico me deixou e você não colabora comigo.
Sorri, me divertindo.
- Eu não quero colaborar, quero continuar te beijando. Posso? - pedi, minha voz também soou estranha aos meus próprios ouvidos.
Eu queria continuar beijando Saem até o ar me faltar. Queria embrenhar meus dedos naquele cabelo, puxá-lo para mim e beijá-lo como se não houvesse amanhã.
- O sorvete vai derreter. - Ele sorriu, apontando com a cabeça para a minha casquinha.
Argh!
- Como faz para poder te beijar até minha vontade passar? - indaguei brava. - Você está acabando com a minha sanidade mental!
- É ótimo ouvir isso. - Saem provocou, dando partida. - Só que aqui não é o lugar apropriado, por isso seja boazinha. - E então piscou.
Seus lábios estavam vermelhos e a parte de baixo ligeiramente mais inchada. Meus batimentos cardíacos denunciavam o meu estado também.
Eu o queria para mim e não somente por um breve momento, como cogitei antes.
Era bem mais intenso e real do que eu havia imaginado.