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O restante do passeio foi bastante divertido, mas limitado. Porque eu não andei em muitos brinquedos. Meu estômago embrulhou por ter ido na roda gigante. Então só fui no carrinho de bate bate, dando por encerrada minha ousadia. Verônica, pelo contrário, foi em quase todos os brinquedos. Ela continuava ótima. Um pouco antes de virmos embora, Saem pegou um ursinho para mim e o garoto que Verônica conheceu pegou um para ela. Portanto, voltamos as duas com presentes. Ao chegarmos na casa do Saem, Verônica informou que voltaria sozinha de carro, pedindo que ele me levasse.
Saem aceitou e algo me dizia que Verônica planejou aquilo, ela estava, sem dúvidas bancando o cupido. Dentro do carro, Saem colocou o pendrive com as músicas que ele gostava. Fui cantando Coisa linda do Tiago Iorc baixinho, batucando nas pernas. Saem fazia o mesmo e olhava vez ou outra em minha direção, parecia feliz e relaxado enquanto dirigia.
- Como foi seu dia? - perguntou curioso e sorriu de leve.
Notei uma coisa na qual não tinha reparado antes. Seus dentes caninos eram ligeiramente maiores, se sobressaindo em meio aos outros.
- Foi muito agradável - assumi, sendo sucinta propositalmente. - E o seu?
- Foi fantástico! - exclamou eufórico, mal posso esperar pelo dia de amanhã.
- O que faremos amanhã? - perguntei curiosa.
Saem fez um barulho com a língua e respondeu:
- É surpresa.
- Tá legal - aceitei vencida. - Agora me devolve a foto - pedi, estendendo a mão.
Ele tinha colocado na carteira, pensando que não vi.
- Que foto? Não sei de foto alguma. - Se fez de sonso.
- Passa a fotografia e ninguém se machuca - ordenei, mais enfática.
- Ui, que medo - desdenhou. - Essa foto terá um preço, não posso devolvê-la a troco de nada.
- O que você quer? - indaguei, tentando fingir não ligar muito.
- Me conta uma coisa que reparou em mim e depois eu faço o mesmo - pediu, não precisei nem pensar.
- Seus dentes caninos são mais afiados, só vi há pouco quando sorriu pela centésima vez - provoquei.
Saem balançou a cabeça, adivinhem? Sorrindo.
- É verdade - concordou sem graça. - Como você reparou nisso?
- Por que não o faria se até seus dentes afiados de vampiro são bonitinhos? - Quis que soasse como uma ofensa, mas ele não levou como tal.
- Acho que entendi - estalei a língua, olhando pela janela. - Agora vou contar algo que reparei em você. - Fiz que sim com a cabeça, atenta. - Surgem duas ruguinhas bem adoráveis em cada uma das suas bochechas quando sorri.
Emburrei.
- Eu odeio isso! - exclamei, cruzando os braços.
- Por quê? É tão lindo.
- Eu odeio.
- Boba.
Na base de provocações inocentes, chegamos em minha casa. Eu queria pedir para ele entrar, no entanto, fiquei com vergonha de soar estranho. Ou de Saem imaginar outra coisa, então me despedi no carro.
- Bom, obrigada pelo passeio e por sua ajuda nos relatórios - agradeci sem jeito.
- Não foi nada - respondeu e girou o corpo, ficando de frente para mim. - Mereço um beijinho de despedida?
Meu coração pulou, mordi o lábio pensando que ele queria me beijar na boca. O que seria louco por termos acabado de nos conhecer, mas também muito gostoso porque, aquela boca vermelha dele.
Meu pai do céu!
- Não - neguei, nervosa demais para concordar.
Saem riu, abaixando a cabeça por um segundo. Ao voltar a me encarar, aproximou-se lentamente de mim. Claramente me provocando. Fui indo para trás até encostar as costas na porta do carro. Meu coração era um cavalo de corrida nesse ponto, espalmei seu peito para mantê-lo longe. Ele segurou delicadamente meus pulsos, ficamos a centímetros de distância um do outro. Seus lábios entreabertos me chamavam, bastava somente eu me inclinar para tocá-los nos meus. Meu estômago gelou. Saem olhou bem dentro dos meus olhos, em seguida tascou um beijo estalado na minha bochecha. Foi no canto da boca praticamente, para ser sincera, deixando um gostinho de quero mais.
- Se continuar fazendo isso, eu vou ter um treco, estou avisando - sussurrei.
- Acostume-se. - Ele apertou a ponta do meu nariz e se afastou.
Ai. meu. Deus!
Sai do carro meio aérea, com meu urso agarrado ao peito, era como um feitiço. O que esse garoto tinha de tão especial, além de um jeitinho doce, um olhar apaixonante e uma boca gostosa que implorava por um beijo? Ah, quem eu queria enganar, Saem era a personificação do garoto adorável que todas as garotas queriam para si. Inclusive eu, que não era boba nem nada.
Quando estava razoavelmente recomposta, percebi que ele nem me devolveu a fotografia, simplesmente ignorou minha ordem. Tomei um banho, me joguei na cama na sequência, virei de lado e coloquei um travesseiro no rosto para abafar o gritinho histérico que saiu.
Meu celular apitou, peguei imaginando que fosse Saem, mas era a Verônica.
Nica: Me conta tudo, ele te beijou ou você o beijou?
Li a mensagem duas vezes antes de responder.
Ananda: Ninguém beijou ninguém, não na boca.
Ela mandou um emoji dando um tapa na testa.
Nica: Pensei que tinham saído do zero a zero, eu beijei o gatinho da roda gigante. Ah, peguei seu número com o Saem, espero que não se importe... Eu precisava fofocar com uma garota pra variar!
Mandei risos e já fui digitando, quando dei por mim era quase uma da madrugada, Verônica e eu conversamos tanto que não vimos a hora passar. Deixamos de digitar, para mandar áudio e ela surtou tanto quando eu contei do lance no carro. Que fiquei envergonhada de vê-la depois, pensando que jogaria alguma indireta para o Saem quando estivéssemos juntos. Antes de dormir, entretanto, recebi uma mensagem dele:
Saem: Algo me disse que você e Verônica estavam conversando, não quis atrapalhar. Durma bem e obrigado por passar o seu dia comigo.
∞∞∞
Eram onze horas da manhã quando meu celular tocou.
Dessa vez ao atender ouvi a voz do Saem, ele estava me convidando para sair, informou que seria só nós dois hoje. Verônica tinha compromisso, ao que parecia ela iria em outro encontro com Eduardo. O garoto da roda gigante, como ela o rotulou. Eu queria estar produzida, portanto, tomei um banho e hidratei o cabelo. Fiz uma fitagem bem elaborada para meus cachos ficarem definidos e soltinhos. Maquiei os olhos, vesti uma calça jeans justa e um cropped que marcava minha cintura, completando com um converse azul. Sim, conforto igual a tudo, eu que não enfiaria meus pezinhos em um salto nos meus poucos dias de folga.
Ontem foi necessário Verônica me emprestar um tênis e nem era meu número. Passei perfume, olhei no espelho e estava pronta. Um arraso, para falar a verdade. Fazia tempos que não me arrumava desse jeito, senti uma confiança agradável tomando conta de mim ao avisar que ele podia me buscar. Ajeitei a cama enquanto esperava, colocando o ursinho rosa que ganhei de presente no centro. Quase o tinha esquecido no carro ontem, ou deixado cair na rua devido a minha agitação interior. Agora eu cuidaria bem dele, era importante para mim. Demorou menos do previsto para ouvir uma buzina, sai de casa afoita dando de cara com o Saem encostado no carro.
Girando a chave nos dedos de forma displicente, a perna encostada na porta. Demorou alguns segundos para ele me ver. E, quando aconteceu eu quis enfiar a cara no chão. Saem colocou a mão direita sobre os olhos, inclinando a cabeça para cima. Sorrindo como se imaginasse coisas. Em seguida abriu uma frestinha entre os dedos para me olhar e colocou a outra mão no peito como se sentisse dor.
Extremamente adorável.
- Para de exagero - pedi, envergonhada.
- Como, se meu coração é fraco? - devolveu sorrindo, depois me encarou tão profundamente, que minhas pernas bambearam.
- É fraco nada, o meu que é - revidei, indo até ele casualmente.
Não podia entregar que estava tão rendida, qual é?
Saem fez o mesmo, vindo para mim. Entretanto, para minha surpresa, ao invés de parar por aí, ele envolveu minha cintura e me apertou rente a si.
Uau, espera, de novo, uau!
Eu me sentia quase líquida, estava a ponto de escorrer pela calçada. Ele me apertou um pouco mais e meu coração deu um duplo twist carpado, acho que esse é o nome do salto.
Enfim, não fazia diferença agora.
Para completar ou piorar tudo, deu uma fungada no meu cabelo e sussurrou próximo ao meu ouvido:
- Linda e cheirosa, assim eu não aguento.
- Você é um assanhado! - exclamei, tentando me desvencilhar de seus braços só de pirraça.
Óbvio que não queria sair dali. Rá rá.
- Quietinha, Ananda - pediu, sua voz soando levemente rouca, característica dele. - Se quiser realmente sair, eu te solto.
Fiquei imóvel, nem respirava quase. Tá legal, respirava do contrário iria morrer.
Morrer por causa das gracinhas do Saem.
Ele riu quando parei de me mexer.
- Convencido - murmurei, fechando os olhos e o envolvendo pela cintura.
- Assim está melhor - respondeu, agitando ainda mais meu coração.
Que droga, dava para se apaixonar em poucos dias? Não era algo que só acontecia em filmes no estilo romance clichê? Não era possível que isso realmente acontecesse na vida real.