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No quarto do Saem, Verônica e eu cantávamos Stay Gold do BTS na maior altura. Além de pular na cama dele, só para constar. Saem só balançava a cabeça e dava risada, ele deixou a gente pular por quinze minutos na cama, mesmo não recomendando por termos acabado de almoçar. De início eu não aceitei. Pular na cama de um garoto que para todos os efeitos eu acabei de conhecer, não me parecia muito educado e maduro. Entretanto, Verônica foi insistente e como tinha mais intimidade com ele, me convenceu a entrar na bagunça também.
Ela ligou perguntando se podia vir para cá, pois ficava sozinha em casa. Já que os pais trabalhavam o tempo todo e Saem era seu amigo. Ele contou que eu estava aqui, que iríamos almoçar juntos e perguntou se podia convidá-la. Concordei prontamente, seria melhor ter alguém por perto. Porque eu não responderia por mim sozinha com ele. Então ela inventou de ouvir música e me puxou para o quarto do Saem, onde tinha um Home Theater tunado. Enfim, aquela loucura estava divertida, meus tímpanos quase estourados e minha garganta queimando de tanto gritar, comprovaram isso.
Cantávamos juntas, eu tudo errado. Preciso nem justificar. Verônica era melhor, acho que falava coreano um pouco. Já Saem ria tanto, que se curvou com a mão no estômago enquanto presenciava a cena. Quando a música acabou, caímos na cama de barriga para cima. Meus batimentos cardíacos enlouquecidos e minha respiração descompassada fizeram com que eu respirasse fundo várias vezes. Além dos protestos do meu estômago, é claro.
Saem foi até o som, abaixando o volume, parou em frente à cama e encarou nós duas com uma expressão divertida.
- Se invocaram algum demônio, terão que lidar com ele sozinhas. - Eu ri e Verônica me acompanhou.
- Qual é? Nosso coreano é fantástico! - ela respondeu, sarcástica.
- Depois disso acho que minha cama não dura mais nem um mês - comentou, cruzando os braços.
Mas seu tom soou travesso, não repreensivo.
- Você é rico. - Verônica resmungou, eu não ousaria contestar.
- Deselegante - Saem fez uma careta. - Agora o que querem fazer? - perguntou, interessado. - Ananda está de folga por sete dias, seria legal levá-la em algum lugar - propôs, olhando para Verônica.
- Concordo! - ela exclamou, sentando no colchão em um segundo. - Vamos ao parque. - deu a ideia, eu fiquei só observando os dois discutirem onde me levariam.
Quando dei por mim, estávamos dentro do carro a caminho de um parquinho meio duvidoso. Porque todos os parques maiores provavelmente estariam cheios àquela hora do dia. Dessa vez fui conversando e interagindo com eles. Estava mais relaxada e não tão envergonhada como antes, então foi fácil. Ao chegarmos, já era quase noite. Saem foi comprar os ingressos, ficando somente Verônica e eu, comendo hambúrguer com batata frita até ele voltar.
- Sabe, o Saem está encantado por você. Posso sentir - ela comentou do nada.
Fiquei desconfortável.
- Que isso - desmenti, nesse ponto eu tinha feito outro penteado no cabelo e ele estava meio solto e meio preso em cima.
Verônica me ajudou a ajeitá-lo antes de sairmos. Enquanto Saem tomava banho e trocava de roupa no quarto.
- Estou falando sério, eu o conheço desde criança - argumentou, mordendo uma batata frita. - Só o vi interessado assim poucas vezes, uma delas foi comigo. Portanto, não diga que não sei o que está rolando. - Verônica riu, dando uma empurrada leve com o ombro em mim.
Meu coração ficou quentinho sem querer.
- Isso te incomoda? - perguntei, temendo irritá-la de alguma forma.
Sei lá, de uma maneira ou de outra eles foram namorados um dia.
- Não - ela negou de pronto, pensou um pouco e acrescentou: - acho que um tiquinho quando a vi pela primeira vez. Mas passou, acredito que não gosto mais dele dessa forma, sabe? Sempre fomos amigos e talvez eu tenha sentido medo de ser deixada de lado. Afinal, qual garota permite que o namorado continue sendo amigo da ex?
- Acho que você está viajando. - dei um gole no meu milk-shake para disfarçar o constrangimento.
- Não insulte minha inteligência, Ananda. - Verônica piscou, ainda rindo. - É sério, eu já vi esse mesmo brilho nos olhos do Saem. Sei do que estou falando.
Tentei não demonstrar tanto interesse.
- Ainda não sei de nada - insisti, mas acabei rindo e me entreguei.
- Só quero pedir que não o magoe. - Verônica ficou séria de repente. - Saem é muito sensível, é um garoto ótimo e quando se apaixona é meio que intenso. Não dá para fugir, então se não sentir o mesmo... - deixou a frase no ar.
Balancei a cabeça.
- Entendo - respondi com a garganta seca. - Não quero magoá-lo.
- Eu sei que não, Ananda - ela confirmou. - Eu também não sou ninguém para ditar ordens, é só um conselho de amiga. Se me considerar uma algum dia.
Eu sorri.
- Vou seguir, com certeza - garanti amistosa.
- Eu queria pedir mais uma coisa. - Verônica anunciou em um tom de voz baixo e receoso.
- Pode pedir.
- Se eu estiver certa e rolar algo entre vocês, por favor não o impeça de falar comigo - arregalei os olhos com seu pedido direto. - Pode não parecer, mas sou tímida e ele é meio que meu único amigo. Eu ficaria muito triste se a namorada atual do Saem me proibisse de falar com ele.
- Eu jamais faria algo assim - afirmei tocada.
- Eu imaginei isso, você é uma garota legal. Estou feliz que o Saem tenha se interessado por você. - Verônica sorriu e nesse instante ele estava quase na nossa mesa.
- O que conversaram quando estive longe? - perguntou, curioso.
- Nada que seja da sua conta. - Verônica deu a língua, Saem retrucou mostrando a língua também.
Totalmente maduros.
- Rabugenta - resmungou, pegando várias batatas e enfiando tudo na boca. - Querem comer mais ou andar nos brinquedos? - questionou, bebendo meu milk-shake.
- Se eu brincar agora vou botar tudo pra fora - respondi, encostando na cadeira.
- Não se for na roda gigante. - Verônica apontou para o brinquedo enorme e iluminado do parque. - Vão vocês dois, eu cuido da comida - propôs, sem deixar de abocanhar o lanche.
- Você vai comer tudo. - Saem retrucou de boca cheia.
- Para de ser mesquinho, eu compro mais. - ela deu um tapa fraco nele. - Vão logo, depois eu vou com a Ananda também.
- Vamos? - ele estendeu a mão para mim, acabei aceitando.
Fomos indo em silêncio, ainda de mãos dadas até o brinquedo.
Não estava cheio, então foi relativamente rápido embarcar. Após termos nos ajeitado e prendido o cinto de segurança, Saem me olhou de lado.
- Não consigo parar de pensar no porquê minha mãe nunca falou de você - refletiu, esperei que continuasse. - Não faz sentido, podia ter sido tudo diferente. Eu poderia ter ficado ao seu lado durante todo esse tempo.
- Ela deve ter tido bons motivos - afirmei, ainda que incerta.
Seu cabelo caiu nos olhos quando o brinquedo se moveu.
Fiquei em dúvida se tirava ou não, mas meus dedos formigavam para tocá-lo. Com cuidado, afastei a mecha teimosa, sentindo meu coração acelerar.
- Você é tão linda - elogiou, olhando para mim de um jeito indecifrável. - Eu queria ter estado por perto quando precisou.
- Está tudo bem, você não tem culpa - respondi, tentando manter a voz calma apesar do meu surto interno.
Ele sorriu.
- Vou ficar a partir de hoje - garantiu em um tom sério e definitivo.
A roda gigante já estava lá em cima, olhei ao redor deslumbrada com as luzes do parque.
Meu coração ainda batia acelerado, atribuí à altura em que estávamos, e não ao garoto me olhando como se eu fosse a garota mais linda de todo o universo.