Na manhã seguinte, mais uma vez fui acordada pelas lambidas do Fog, não tinha o hábito de trancar a porta e o danadinho a empurrava e entrava na maior cara de pau.
- Seu pestinha! - Acariciei o pelo ralo dele.
- Está aí, é? - André entrou à procura do cão.
- Ele adora me acordar - comentei sonolenta. - Nem preciso lavar o rosto, ele fez isso por mim. - Entre um bocejo e outro sorri.
- Sua porca. O meu cachorro gosta de você. - André jogou em mim uma das minhas almofadas que estava sobre uma poltrona de canto. - Apegou-se a você tão rápido, que estou começando a sentir ciúmes.
- André? - eu o chamei e ele voltou.
- Sim.
- É sério o lance com a Dafne?
- Estamos nos conhecendo.
- Legal! Mas a namorada do Roger bebe demais - enfatizei.l
- Ela exagera! É tão gostosa que a bebida não faz a mínima diferença pra mim.
- Nossa! Fala isso da namorada do seu amigo?
- E o que tem de mais nisso? É gostosa mesmo. Fui.
- Tchau. - Eles saíram e voltei a dormir.
Ao acordar pela segunda vez, quase no horário do almoço, desci para almoçar com a minha família. Há cinco anos, essa rotina havia ficado no passado e ao me sentar com eles amei me sentir em casa novamente. Passamos o restante do domingo desfazendo as malas, por sorte contei com a ajuda dos meus pais, ou teria passado a noite também. Não sei como não paguei por excesso de bagagem, entreguei os devidos presentes e todos adoraram. O presente do Tony, eu darei no sábado quando ele vier me buscar para a festa beneficente.
- Prontinho! Parece que está tudo no lugar - minha mãe comentou se jogando na cama exausta.
- Até que enfim - meu pai emendou.
- Graças a Deus! - Joguei-me ao lado dela, essa sensação do aconchego do lar era maravilhosa e ser paparicada por eles era a minha cereja do bolo.
- E aí, família? Querem uns sanduíches? Parecem acabados. - perguntou André colocando a cabeça para dentro do meu quarto.
- Com muita maionese - respondi.
- É pra já. Aviso assim que terminar, ou melhor trago aqui.
Meia hora depois, André voltou trazendo uma bandeja recheada de sanduíches e uma Coca-Cola de dois litros extremamente gelada.
- Olha quem veio - falei ao ver Fog todo faceiro com cara de cachorro comilão, louco para abocanhar um dos lanches.
- Preparada, Chloe, para trabalhar com essas feras? - perguntou minha mãe em tom de brincadeira.
- Qualquer problema, mãe, eu me demito na experiência - comecei a rir. "Problema mesmo era trabalhar com o Roger", pensei mordendo meu lanche.
Depois de um agradável jantar, cada um seguiu para o seu quarto e eu caí na cama de banho tomado, com ideias borbulhando e um friozinho na barriga. Afinal, a partir de amanhã, uma nova etapa da minha vida se iniciaria, uma na qual um moreno charmoso, alto e sensual fazia parte dela.
Acordei elétrica e cheia de disposição, coloquei um terninho preto para parecer bem profissional e, apesar do receio que se instalara na minha mente ao me lembrar do Roger, estava afoita para pegar no batente e colocar em prática tudo que havia aprendido na Itália. Tinha inúmeras ideias borbulhando e queria projetá-las na empresa que meus pais criaram com tanto sacrifício.
Como nos velhos tempos, tomamos o nosso café da manhã em família e saímos os quatro, minha mãe seguiu com o meu pai e eu de carona com o meu irmão, que me encheu de perguntas o trajeto todo. Ao chegarmos ao andar da diretoria da empresa, meu pai todo orgulhoso fez questão de me apresentar para os funcionários que ainda não me conheciam e todos sem exceção foram gentis.
- Sua sala, Chloe! - mamãe se adiantou. - Você vai ficar no meio do seu irmão e do Roger. Bem que eu tentei outro local, mas achar um espaço físico está crítico ou melhor, é impossível.
- Ô! Coisa boa. É agora que eu dou pulos de alegria? - perguntei ironicamente, ficar ao lado do irmão e da tentação ambulante seria... perfetto.
- Não, filha. Pode ser no final do expediente. Falando nele - ela disse ao ver o Roger caminhando lentamente em nossa direção.
- Bom dia!
- Bom dia! - respondemos juntas.
- Filha! Vou para a minha sala, tenho assuntos pendentes. Está em ótimas mãos. - Beijou meu rosto e saiu.
- Bom. - Suspirei mais alto do que deveria. - Vamos lá. - Olhei para ele, que estava uma coisa de louco vestido com um terno cinza chumbo. Quanto antes eu desse início às minhas funções melhor seria para a minha cabecinha.
- Se não se importa podemos conversar na minha sala? Lá tenho tudo de que preciso - ele inquiriu perscrutando meu rosto, com seu jeito charmoso de ser e nada discreto.
- Claro, sem problema algum. - retorqui em estado quase hipnótico.