Eu me sentei na cadeira em frente à dele; e mesmo separados por uma mesa, a tensão entre nós era quase palpável. Olhei curiosa procurando por fotos, mas só vi um porta-retratos com um casal jovem e bonito. O homem era parecido com o Roger e a mulher sorria alegremente para o rapaz, que estampava a fotografia um pouco surrada, ao lado dela. Pudera! Encantar era com eles mesmos. Que dupla! Se tratando de pai e filho, ambos eram de arrasar corações.
- Chloe? - ele balbuciou meu nome tirando-me da situação de devaneio e não gostei nada da sensação da voz dele soando em meus ouvidos, causando um furor até nas minhas entranhas.
- Podemos começar, Roger? Eu gostaria de estar a par de tudo o quanto antes.
Se esse cara lesse pensamentos, eu daria a ele e ao seu charme fatal, um arsenal de munições. Roger era perturbador e eu uma maluca por não saber lidar com essa situação.
- Perfeito. - Ele se levantou pegou a cadeira que estava ao meu lado e a colocou próximo a dele. - Por favor. - Continuou segurando a mesma, para que eu pudesse me sentar.
- Obrigada. - Engoli em seco e me sentei.
- Que perfume é esse? - Roger se inclinou na minha direção com os olhos fechados e inalou a fragrância, eu senti sua respiração quente no meu pescoço e no mesmo instante os pelos da minha nuca eriçaram.
- Presente do Pietro - respondi rapidamente.
- Quem é o Pietro?
- Meu ex-namorado. - retorqui de pronto sem titubear.
Roger semicerrou os olhos e os fixou na minha boca.
Desta vez respirei fundo como se o ar me faltasse. E os meus pensamentos até então emaranhados começaram a evaporar. O frenesi entre nós era grande e essa aproximação era perigosa ao extremo; decididamente eu não estava disposta a brincar com fogo e sair chamuscada, porque com certeza era isso que aconteceria se eu caísse em tentação.
- Ok. Vamos lá. - Roger se afastou, aquiescendo com a cabeça e por um segundo pareceu tão perturbado com as circunstâncias quanto eu.
Por sorte ou azar sabe-se lá, ele tinha tantas informações para me passar que eu permaneci o dia todo ao lado dele e do seu adorável jogo de sedução. O André implicava com o Tony... o inofensivo, enquanto a tentação de nome Roger era quem realmente estava me atiçando. Felizmente, a minha função era a mesma do meu antigo trabalho, porque, caso fosse exercer outra, seria impossível me concentrar com duas pedras de ônix sobre mim. Foi difícil, mas não impossível, por diversas vezes o peguei me olhando e ao confrontar sua visão, o danado não disfarçava como deveria, continuava me encarando, fazendo com que eu desviasse o olhar.
Quando me despedi dele, meus ombros estavam tensos, pois passei o tempo todo tentando ser indiferente, o que na verdade era uma grande mentira. Como ser apática diante de suas artimanhas?
***
O restante da semana não fora diferente, Roger desfilava com seus ternos que o deixavam insuportável de lindo, e eu tentando ser o mais profissional possível. Fiquei tão feliz com a chegada do final de semana, que mais parecia um filhotinho de tartaruga eclodindo de seu pequeno ovo. A alegria era por estar me sentindo um pouco mais segura, sem o Roger o tempo todo ao meu lado. Embora nós nos encontraremos mais tarde na festa beneficente. Porém, ele com a Kelly; e eu como acompanhante do Tony. Minha aconchegante zona de conforto.
- Filha, agendei um horário para nós no salão - minha mãe comentou assim que entrei na cozinha para me servir de uma deliciosa xícara de café.
- Mãezinha, não fica triste. Mas durante esses anos, quase não frequentava salão, pelo contrário fiz cursos de automaquiagem e gosto, é sério.
- E as unhas?
- Me viro bem também.
- Não me diga que você mesma corta o seu cabelo?
- Não. - Sorri diante do espanto dela. - Neste caso, eu frequentava o salão.
- Ah, que susto! Minha menina virou uma bela e talentosa mulher. Se eu soubesse nem teria marcado horário, adoraria ser maquiada por você.
- Oh, mãe! Eu também. Não faltará oportunidade.
- Tudo bem. De hoje em diante, já sei a quem recorrer.
- Combinado. Vou amar. Gosto tanto de dedicar umas horinhas cuidando de mim, que não é transtorno, pelo contrário é uma distração e vou amar ainda mais se tiver a sua companhia de hoje em diante.
- Lindeza. - Ela afagou meu rosto e sorriu terna, como sempre fazia. Esse afago também me fez uma imensa falta. - O almoço está quase pronto, essa xícara de café vai tirar seu apetite.
- De forma alguma, mãe. Meu combustível - brinquei ajudando-a com a arrumação da mesa.
Almoçamos em companhia do meu pai, pois o André estava na casa da Dafne e iriam direto de lá para a festa. Como a nossa secretária do lar estava de folga, eu dei uma folguinha para a minha mãe que já havia se dedicado ao seu fantástico bobó de camarão e deixei a cozinha organizada. Mais relaxada, fui esmaltar as unhas no meu quarto e depois delas secas e impecáveis num lindo tom de vermelho vivo, dei-me ao luxo de um relaxante banho demorado. Ah, Brasil! Seu clima tropical muitas vezes me deixou nostálgica. No verão, Pádua era morna e úmida; e no inverno, só por Deus, era muito frio, de congelar os ossos, e banhos demorados, isso sim era quase raro, eu que não me atreveria, sairia do bagno petrificada.
Dispus meu fabuloso vestido preto de grife sobre a cama, fora uma excelente aquisição. Eu o comprei em uma liquidação, ele parecia ter sido costurado no meu corpo de tão justo, sem contar o generoso decote. Indiscutivelmente ressaltava as minhas generosas curvas herdadas da minha mãe. Sem demora, maquiei-me e o vesti.
- Ei! Estamos indo, o Tony já está lá embaixo - Papai chamou-me ao bater na porta semiaberta do meu quarto.
- Prontíssima. Como estou? - Dei uma voltinha, fazendo graça.
- Linda! Simplesmente linda. Tão bela como no dia em que a tive pela primeira vez em meus braços.
- Awn, pai, obrigada. O senhor é o meu porto - Beijei-o no rosto e limpei a marca deixada pelo batom.
- Vamos? - Galanteador, ele esticou o braço dando-me passagem.
Ao ver-me, mamãe arregalou os olhos, mas o Tony... o Tony quase me engoliu viva.
- Oi, moço bonito! - cumprimentei-o com dois beijinhos no rosto, tentada a rir do semblante espantoso dele.
- Caramba, Chloe! Está linda.
- Idem, gatão. Arrancará grandes suspiros essa noite. Quantas mulheres terei que espantar, hein?! - Trocamos um sorriso. - Não ria, seu Tony a coisa é bem séria.
Ele sorriu mais uma vez.
- O que me dizem? Vamos ou não? Não podemos nos atrasar - comentou minha mãe com as chaves nas mãos, pronta para fechar a porta.
Tony gentilmente abriu a porta do carro e eu entrei.
- Olha! Agora que seus pais não estão aqui. - Ele encarou-me com um sorriso açucarado. - Chloe, você está... Não tenho palavras que definam o quanto está incrível.
- Bonitinho! Você é gentil até para elogiar uma mulher. Aquela cretina da sua ex foi uma otária em deixar você escapar. - Sorri e afaguei o braço dele.
- Otário fui eu, por me deixar envolver com quem não valia a pena.
Nesta ocasião eu não disse nada, mesmo porque diria o quê? Já tinha dito uma enorme besteira citando a infeliz. Disfarcei e mudei o rumo da conversa para algo agradável. Conversamos sobre a minha primeira semana e o quanto a metalúrgica do meu pai havia despontado no mercado nos últimos anos.
Quando ele estacionou o carro, o valet me ajudou a descer, em seguida Tony todo carinhoso entrelaçou seus dedos nos meus. Ele sempre me passou segurança, e eu adorava isso nele.
- Eles estão ali. - Apontou para a mesa onde já se encontravam André, Dafne, Roger, Kelly e meus pais, que assim como nós haviam acabado de chegar.
Caminhamos em direção aos outros. Foi inevitável não sustentar o olhar do Roger, que simplesmente me devorava.