- Isso não significa que vá rolar algo entre nós. - Olhei decidida a sair das garras dele. - Me deixa em paz, melhor assim, para nós dois. - Abri a porta, e parti ligeira, ofegando.
No curto trajeto até a mesa, respirei fundo, passei dezenas de vezes as mãos nos cabelos e alisei novamente o meu vestido, ele não era do tipo que amassava com facilidade, mesmo assim, tinha receio de me entregar. Como se não bastasse as bochechas avermelhadas e a pulsação acelerada além do nomal.
- Vamos dançar? - Estiquei a mão para o Tony assim que os reencontreis. Eu praticamente o arrastei até o meio da pista, que estava apinhada de pessoas dançando.
- Está tudo bem? - Ele inquiriu percebendo minha inquietação.
- Está. Só estou cansada. Muitos acontecimentos, viagem, trabalho novo, essas coisas - menti descaradamente.
- Então, vamos nos sentar.
- NÃO! - contestei. - Dançar me relaxa, fico bem melhor quando me movimento.
- Tem certeza? - indagou duvidoso.
- Tenho. Claro que sim. Dançar é relaxante. Pelo menos no meu caso. - Sorri timidamente, olhando para os lados, em busca do homem que havia me desestabilizado por completo.
A música agitada parou e deu vez para uma trilha sonora mais romântica soou.
- Adoro essa música. - falei ao ouvir Right Here Waiting, de Richard Marx.
- Eu também. - Tony envolveu minha cintura e inspirou o perfume dos meus cabelos.
Dançamos quietos e abraçadinhos, sem dizer uma única palavra. Fui me acalmando com as batidas tranquilas do seu coração. Acabara de sair do inferno e com ele encontrara o céu. E o pior... eu havia gostado de ser chamuscada pelo impetuoso Roger. Suspirei e aproveitei a paz que os braços do Tony me passava. Dançamos mais duas lentas e, por infelicidade, o jantar foi anunciado. Eu teria que voltar à mesa e encarar o Roger depois do que havia acontecido e isso era perturbador.
- Não dançava agarradinho assim com uma mulher estonteante há anos. - Enquanto voltávamos, Tony segurou uma das minhas mãos e depositou um suave beijo.
- Mentiroso, mente que nem sente. Somente se recusasse a dançar, mulheres com certeza não faltam dispostas a aquecerem o seu enorme coração. De todos os amigos do meu irmão, para não dizer meu, você é o mais gentil. Sempre me senti muito bem ao seu lado.
- Agradeço, a amizade é reciproca. Quanto às mulheres, nenhuma foi capaz de me tocar lá no fundo, de penetrar todas as barreiras erguidas pela minha ex-esposa. Você me conhece. - Trocamos um sorriso complacente. Sim, eu o conhecia. Tony não possuía apenas um enorme coração, era o que o comandava; quando se apaixonava, ele não poupava esforços, pulava de cabeça , saltava em queda livre, sem medo ou amarras.
Nós nos sentamos, e tentei fugir dos olhares do Roger, mas era impossível. Aquelas pedras de ônix me atraíam e traíam.
- Me conta, Chloe. Os italianos são bonitos? - perguntou Kelly com a voz arrastada.
- São sim - respondi garfando um pouco da minha entrada, fazendo um esfroço hercúleo para não defrontar o moreno gostoso que me cobiçava.
- Dançam bem?
- Pode-se dizer que sim.
- E o seu namorado? Como ele era?
- Chega de perguntas, Kelly - Roger se dirigiu a ela incomodado e, mais uma vez, nos encaramos. Pelo tom ríspido supus que ali tinha uma pontinha de ciúmes.
- O que tem, neném? - Kelly segurou o rosto dele e o beijou como se estivessem sozinhos.
- Tudo bem - retorqui interrompendo o casal. - Posso responder sua pergunta, Kelly. O Pietro era lindo. Alto, porte atlético, olhos azuis, cabelos pretos e encaracolados, um homem belíssimo. - Garfei mais um pouco da minha salada.
- E por que terminaram, Chloe? - Desta vez, Dafne indagou.
- Ele queria algo mais sério e eu não estava pronta, Pietro me pediu em casamento.
Meus pais arregalaram os olhos, era novidade para eles.
- Você não nos contou, filha - ressaltou minha mãe.
- Não achei que seria irrelevante, mãe. Eu recusei e resolvemos terminar, no entanto nos falamos com frequência, somos bons amigos.
- E o que ele faz? - perguntou Dafne.
- Ele atua em filmes e novelas na Itália.
- Caralho! - soltou Kelly. - Ele era famoso? Tem foto?
- Digamos que sim e quanto às fotos, no Google você as encontra - respondi começando a ficar incomodada com a chuva de perguntas. - Pietro D'Angelo.
As duas largaram os talheres e pegaram os celulares, exasperadas.
- Caramba, Chloe! Você é louca? Esse homem é lindo, meu Deus, literalmente, ele saiu da tela do cinema. - Impactada Kelly mostrou a foto para todos na mesa.
- Lindo é pouco - Dafne completou mostrando a foto para os demais. Roger olhou a mesma com desprezo. - Como se conheceram?
- Nos conhecemos numa festa, um amigo em comum nos apresentou. A amizade surgiu, começamos a sair; e, quando nos demos conta, estávamos namorando. Namoramos durante nove meses. Ele era incrível. Só que entre namorar e casar existe uma grande diferença. Aliás, o perfume que eu uso e o que eu trouxe para o Tony são da grife dele. O Pietro é um fofo. Só não era ele. - Dei de ombros.
- Irmãzinha, eu deixo você se casar com esse cara, parece gente fina.
- Diz isso, André, porque ele está a quilômetros de distância daqui. - Sorri debochada.
- Está certa, filha. Casamento é coisa séria. Tenho muito orgulho de você, lamento não tê-lo conhecido - comentou papai.
- Não vai faltar oportunidade. Ele disse que vem ao Brasil me visitar.
- Ele deve gostar de você, Chloe. E como não gostar? - Tony falou carinhosamente e eu deitei minha cabeça no ombro dele, retribuindo o carinho.
O restante da noite o assunto foi o Pietro, com certeza as orelhas dele estavam queimando. Kelly até se curou do porre após ver as fotos, as duas ficaram pesquisando o pobre do meu ex, e mostrando nossas fotos nas redes sociais, na praia, em um lançamento de um filme, ele me beijando enquanto caminhávamos pelas ruas de Roma e por aí foi. Roger não se importava nem um pouco com a empolgação da namorada. Nem ele e muito menos meu irmão. Fiquei boba, que namoro era esse? André tinha mais ciúmes de mim do que da Dafne.
Quando a festa chegou ao fim, dei graças aos céus. Que noite! Se não fosse pela companhia do Tony, eu classificaria como péssima. Pisei em um terreno minado quando me atraquei com o Roger naquele banheiro. Saímos todos juntos até o estacionamento, nos despedimos; e no momento que fui me despedir dele, ele balbuciou em meu ouvido:
- Te espero no meu apartamento.
- Sentado, de pé vai cansar - rebati sussurrando.
Entrei no carro com o Tony e fomos embora.
Durante o percurso aproveitei e o convidei para almoçar conosco logo mais. Seria o pretexto perfeito para entregar o presente comprado com muito carinho e admiração.