Capítulo 2 9 dias pra o niver de Luan

Hoje é terça-feira, 16 de maio de 2024. Faltam nove dias pro aniversário do Luan e eu ainda não faço ideia de como dar o presente que eu realmente quero dar: meu coração. Marianna entrou no meu quarto de manhã, sem bater, como sempre. - Sonhou com ele de novo, né? Fiz a cara mais indiferente do mundo. - Não sei do que você tá falando. Ela cruzou os braços, arqueou uma sobrancelha e me lançou aquele olhar de irmã mais velha que parece atravessar a alma. - Henry, você fala o nome dele dormindo. Travei. - Relaxa, não vou contar pra ninguém.

Mas você precisa se decidir: ou você conta pra ele ou vai viver se torturando por mais quanto tempo? O problema não é não querer contar. É o medo do depois. Medo de ele se afastar, de estragar a amizade, de ele olhar pra mim com pena. No colégio, Luan me esperava no portão como sempre. Mochila nas costas, cabelo bagun

- Dorminhoco - ele disse. - Achei que ia me deixar plantado hoje.

Dei de ombros, tentando parecer natural.

- Só perdi a hora.

Mentira. Eu tinha acordado uma hora antes só pra escolher uma camiseta que não parecesse "tentei demais" mas também não fosse "tô nem aí". Acabei indo com a de sempre mesmo, azul-marinho com uma estampa de planeta. Luan gosta de astronomia, vai saber.

A gente entrou no colégio e seguiu juntos até a sala. No caminho, ele começou a falar sobre o campeonato de futebol de sábado, e como achava que a gente devia ir torcer pro Kauê - não pelo futebol em si, mas porque "a torcida feminina vai estar em peso". Ele riu. Eu fingi que ri também.

Mas por dentro, fiquei pensando que talvez uma dessas garotas goste dele. Talvez ele goste de alguma delas. Talvez ele já tenha alguém em mente e eu esteja aqui, colecionando esperanças impossíveis.

Durante a aula de geografia, ele passou um bilhete:

"Você vai no sábado, né? Se não for, vai ser um tédio."

Respondi com um simples "vou sim". Mas, por dentro, eu queria escrever:

"Vou porque você vai estar lá."

No intervalo, ele dividiu o lanche comigo como sempre. Me deu metade do sanduíche de queijo e falou que mãe dele tinha feito demais. Não precisava, mas ele sempre faz isso.

E aí, no meio de tudo, ele me olhou e perguntou:

- Tá tudo bem com você?

Por um segundo, achei que ele sabia. Que ele tinha percebido. Mas respondi com um "tô de boa" e mudei de assunto rapidinho.

Porque tô de boa, né?

Só faltam nove dias pro aniversário dele e eu tô tentando não surtar cada vez que ele sorri

            
            

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