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Hoje é quarta-feira, 17 de maio de 2024. Faltam oito dias pro aniversário do Luan, e cada vez que penso nisso, parece que meu cérebro entra em pane. Tipo quando o computador trava e a tela fica congelada, esperando alguém apertar "reiniciar".
Marianna disse que ia me ajudar a pensar num presente. Claro, ela acha que o problema é escolher uma camiseta ou um perfume. Mas o presente que eu queria dar ainda é o mesmo: eu mesmo. Meu coração, minha verdade. Mas embrulhado de um jeito que ele não queira devolver.
Na aula de português, a professora pediu uma redação sobre "um momento inesquecível". Luan fez uma careta e sussurrou pra mim:
- Inesquecível? Tipo aquela vez que a gente caiu da árvore tentando pegar a pipa?
Ri baixinho. Claro que ele lembraria disso. Eu tinha oito pontos no joelho, ele saiu com um braço engessado e a pipa... a pipa voou embora.
No recreio, sentamos juntos como sempre. Só que dessa vez ele parecia mais quieto. Olhava pro celular com uma cara estranha. Não resisti.
- Tá tudo bem?
Ele demorou a responder.
- É que... uma menina da turma da manhã me chamou pra sair no sábado. Não sei se vou.
Meu coração despencou. Tipo um elevador quando acaba a força.
- Ah... - foi tudo que consegui dizer.
Ele olhou pra mim de um jeito que não consegui decifrar. Depois deu um sorriso leve.
- Mas acho que vou recusar. Tô sem cabeça pra isso agora.
Assenti, tentando fingir que aquilo não tinha me atingido em cheio. Por dentro, minha cabeça gritava: "por quê? por minha causa?"
No fim do dia, ele me deu um tapa de leve no ombro, daquele jeito que só ele faz.
- Não esquece: sábado tem o jogo do Kauê. Quero você lá.
Fiquei parado vendo ele se afastar pelo corredor. E foi ali, naquele instante simples, que percebi uma coisa: talvez eu esteja esperando o momento certo pra dizer o que sinto... mas e se ele também estiver?