Capítulo 7 $ dias para o aniversario de Luan

Hoje é domingo, 21 de maio de 2024. Faltam quatro dias pro aniversário do Luan, e eu sinto que o tempo resolveu brincar comigo. Não sei se está correndo rápido demais ou lento demais, só sei que cada minuto sem dizer o que eu sinto parece um castigo.

O dia começou com Marianna batendo na minha porta com força desnecessária.

- Levanta, Romeu. O mundo não vai parar porque você ama o Luan.

Joguei o travesseiro nela. Ela riu e foi embora como se tivesse cumprido alguma missão divina. Mas, por mais irritante que minha irmã seja, ela não está errada.

Passei a manhã todo tentando fazer alguma coisa que distraísse minha cabeça. Tentei estudar. Abri o caderno de matemática e fiquei olhando os números como se fossem símbolos de uma língua alienígena. Fechei. Tentei desenhar. Fiz uns rabiscos que acabaram virando o nome dele, meio escondido no canto da folha.

Luan.

Fui até a sala. Meu pai estava lendo o jornal como se fosse 1980, e minha mãe assistia a um programa de culinária. Sentei no sofá e fiquei encarando a tela sem realmente ver nada. Uma mulher explicava como fazer um bolo de morango em camadas. Meu pensamento foi direto pro aniversário do Luan.

E se eu fizesse um bolo pra ele? Não só qualquer bolo. Um bolo que tivesse tudo o que ele gosta: chocolate, brigadeiro, granulado por cima, com uma plaquinha escrita "Feliz Aniversário, Luan". Mas em vez de "Feliz Aniversário", podia estar escrito "Eu gosto de você". Só que... não. Isso seria muito. Ou não?

Meu celular vibrou. Mensagem do Luan.

LUAN: Vai estar em casa hoje?

EU: Sim. Por quê?

LUAN: Posso passar aí?

Respirei fundo. Pensei em responder com um "claro", mas deletei. Escrevi "só se trouxer chocolate", mas deletei de novo. Por fim, só mandei:

EU: Pode.

Em menos de uma hora, ele estava na minha porta. Tínhamos passado o dia anterior juntos, mas não parecia suficiente. Nunca é.

Ele entrou, tirou os tênis, jogou a mochila no canto e se jogou no meu quarto como se fosse a casa dele. E, de um jeito estranho, é.

- Tô de saco cheio do Kauê se achando porque fez dois gols ontem - ele disse, pegando meu controle de videogame.

- Ele fez três.

- Não lembra ele disso, por favor.

Rimos. Jogamos umas partidas, mas eu não conseguia me concentrar. A cada vez que nossos braços se encostavam, minha mente fazia um escândalo. Quando ele vencia, me provocava de um jeito que me fazia sorrir e querer beijar ele ao mesmo tempo.

Depois de um tempo, ele se deitou de costas no chão do meu quarto e ficou encarando o teto.

- Já pensou no que vai me dar de presente? - ele perguntou.

Engoli seco.

- Tô pensando ainda.

Ele virou a cabeça pra mim, com um sorrisinho.

- Só quero uma coisa. Mas não sei se você tem coragem.

Meu coração deu um salto tão grande que quase saí da sala. Tentei manter a voz firme.

- O quê você quer?

Ele olhou pra mim por um segundo longo. Muito longo. A respiração dele ficou mais lenta. A minha nem existia mais.

- Surpresa - ele disse, e fechou os olhos com um sorriso preguiçoso.

Fiquei ali, olhando ele respirar, sentindo o quarto pequeno demais pro tamanho do que eu estava sentindo. Tinha tanta coisa que eu queria dizer. Que ele é a melhor parte dos meus dias. Que não passa uma noite sem eu pensar nele. Que minha vida inteira está ficando dividida entre antes e depois de admitir isso.

Mas não disse.

Porque ainda faltam quatro dias. Quatro dias pra encontrar a coragem.

Quatro dias pra talvez perder o que mais importa. Ou pra finalmente ganhar o que eu sempre sonhei.

            
            

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