Capítulo 4 Sete Dias Para o aniversario de Luan

Hoje é quinta-feira, 18 de maio de 2024. Faltam sete dias pro aniversário do Luan. Uma semana. Sete cafés da manhã. Sete recreios. Sete chances - ou sete desculpas pra não dizer nada.

Acordei com uma notificação dele no celular. Uma figurinha. Era aquele meme do gato com cara de sono e a frase: "acordei, mas não recomendo." Respondi com um emoji de risada, mas meu coração já estava batendo mais rápido só por isso.

No colégio, ele me esperava no mesmo lugar de sempre, mas parecia... ansioso? Ficava mexendo na alça da mochila, como se tivesse alguma coisa pra falar e não soubesse como. Por um momento, pensei: "é hoje. Ele vai dizer alguma coisa."

Mas tudo o que ele disse foi:

- A gente vai no shopping depois da aula? Quero ver uma parada.

- Que parada?

- Presente. Pro meu aniversário. Minha mãe quer ideias. Ela disse que se eu não escolher logo, vai me dar mais uma camisa polo.

Ri. Luan odeia camisa polo. Disse que parece uniforme de vendedor de loja.

No shopping, ele experimentou um tênis e perguntou o que eu achava. Eu disse que combinava com ele. Ele disse que tudo combinava com ele. E aí a gente riu.

No meio da loja, enquanto ele amarrava o cadarço do tênis, ele olhou pra mim e falou:

- Você anda diferente.

Travei.

- Diferente como?

- Não sei... mais calado. Mais... sei lá. Tá tudo certo?

Pensei em dizer. Pensei mesmo. O shopping era barulhento, e ninguém estava prestando atenção na gente. Podia ser o momento perfeito. Mas as palavras engasgaram.

- Só tô cansado - menti.

Ele assentiu, mas ficou olhando pra mim como se não tivesse acreditado.

No fim da tarde, ele encostou o braço no meu quando estávamos esperando o ônibus. Aquela coisa de sempre, sem pensar. Só que eu penso. Penso demais.

E agora só faltam sete dias. E eu fico me perguntando se ele sente também. Ou se eu tô vivendo isso sozinho.

            
            

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