Capítulo 5 6 dias para o aniversario de Luan

Hoje é sexta-feira, 19 de maio de 2024. Faltam seis dias pro aniversário do Luan, e às vezes sinto que o tempo corre quando eu queria que parasse, e para quando eu mais queria que corresse.

Passei a madrugada relendo nossa conversa do WhatsApp. Não por necessidade - eu sei de cor as piadas, os áudios, os memes. Mas tem algo de reconfortante em ver a gente ali, tão próximos, mesmo que só por texto. Como se, de alguma forma, isso me provasse que eu não tô sozinho nisso.

Na escola, Luan parecia mais animado. Contou que talvez role uma festa pequena no dia 25, porque a mãe dele vai viajar no fim de semana. Eu fingi surpresa, mas Marianna já tinha me contado. Ela é tipo a ponte entre todas as informações que o Luan não me dá direto.

- E aí, se eu fizer, você vai, né? - ele perguntou, meio rindo.

- Claro, né - respondi. - Vai ter bolo?

- Se você for, sim. Se não for, só batata frita e suco de caixinha.

Pausa. Ele me olhou de um jeito que não era zoeira. Um segundo só. Mas um segundo que ficou preso na minha memória até agora.

Na aula de história, ele me cutucou com a ponta do lápis.

- Se você fosse me dar um presente agora, o que seria?

Minha mente deu tilt. Meu coração gritou "eu mesmo", mas minha boca respondeu:

- Um livro de matemática. Pra ver se você aprende de vez.

Ele riu, jogou a borracha em mim e disse:

- Chato.

Mas não foi de verdade. Foi aquele "chato" carinhoso, que ele sempre diz quando tá sorrindo.

Na saída, Marianna apareceu me esperando no portão - provavelmente mandada pela minha mãe. Entramos no carro e, assim que saímos da frente do colégio, ela soltou:

- Ele gosta de você.

- Quê? - Olhei pra ela como se tivesse ouvido um raio.

- O jeito que ele te olha. O jeito que ele te escuta. O jeito que ele... sei lá. Só presta atenção em você.

Fiquei quieto. Muito quieto. Porque, se isso for verdade, então talvez o medo que eu sinto seja só o último obstáculo.

Ou talvez seja a prova de que estou mais perto do que nunca.