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Hoje é sábado, 20 de maio de 2024. Faltam cinco dias pro aniversário do Luan. Também é o dia do jogo do Kauê - aquele campeonato que ele tanto falou. Eu nem gosto de futebol, mas, por Luan, iria até pra um show cover do Restart.
Cheguei no campo e ele já tava lá, no meio da arquibancada, com uma garrafa de água e uma camisa azul clara que combinava com os olhos dele. Sentei do lado e ele sorriu daquele jeito que só ele sorri, como se eu fosse a melhor parte do dia dele.
- Achei que ia furar - ele disse.
- Achei que você ia me chamar de novo de "pequeno gênio".
- Pequeno gênio, rei dos cálculos e da pontualidade - completou, rindo.
O jogo começou e a torcida gritava tanto que dava pra sentir o chão tremer. Mas, mesmo com todo o barulho, eu só conseguia prestar atenção em Luan. No jeito como ele jogava a cabeça pra trás quando ria. No jeito como ele falava com as mãos. Na forma como nossos ombros se encostavam de vez em quando - e ele não afastava.
Durante o intervalo, ele me cutucou de novo.
- Você tá mais quieto do que o normal. Tá tudo bem?
Aí eu soltei, sem pensar muito:
- Só tô tentando não pensar demais.
Ele franziu a testa, meio confuso.
- Pensar em quê?
Pensei em dizer. Pensei de novo. Mas aí Kauê fez um gol, a arquibancada explodiu e o momento se perdeu.
Na volta, andamos devagar pela rua. Ele chutava uma pedra com o pé, em silêncio. De vez em quando me olhava, mas não dizia nada. E eu também não. Porque ainda falta coragem. Porque ainda falta cinco dias.
Na porta da casa dele, antes de entrar, ele disse:
- Se você quiser dormir lá em casa depois da festinha, fala com sua mãe. Vai ser só a galera de sempre.
Assenti. Ele sorriu, e entrou.
Fiquei ali parado, olhando a porta fechar, sentindo o coração bater rápido como se tivesse corrido uma maratona.
Faltam cinco dias. E alguma coisa me diz que o tempo tá pedindo pra eu parar de esperar.