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No dia seguinte, Harriet passeou nos jardins com o príncipe Jonathan como prometera. Mas enquanto ela estava de braços dados com ele e o príncipe tagarelava sobre algum assunto, sua mente divagava longe.
Ela olhava para os muros do castelo e pensava em como seria bom estar lá fora. Sem ninguém para te dizer o que fazer, o que vestir ou como se comportar. Onde ela poderia ser dona do próprio nariz, ser capaz de fazer suas próprias decisões. Parecia o mundo perfeito, parecia tão distante.
- ...você não concorda? – O príncipe perguntou, chamando sua atenção.
- Hã? O que? – Harriet balançou a cabeça, voltando ao presente. – Concordo. – Ela balbuciou.
Mesmo não sabendo com o que estava concordando, ela não se importava. Só queria que aquele passeio acabasse o mais rápido possível. Jonathan parou e se virou para ela, com um sorriso tímido.
- Você não ouviu uma palavra do que eu disse, não é?
Ela abriu a boca, e ficou daquele jeito por um tempo. Não esperava que ele reparasse, até porque, sua família não era uma das mais inteligentes da espécie. Sem contar que ele sempre fora tão educado que, se reparasse, ela acreditava que ele não iria comentar nada sobre.
- Claro que eu estava ouvindo. – Ela respondeu com confiança.
Ele ergueu suas sobrancelhas, a encarando, e não disse nada.
- Tudo bem. – Harriet confessou. – Eu não ouvi nada desde que a gente saiu do castelo.
- Eu sei. – Ele confessou. – Eu reparo nas coisas. E já reparei que quando você fica com esse olhar sonhador, não está prestando atenção em nada a nossa volta.
Talvez ele não fosse tão burro assim, como ela acreditava.
- Para ser bem sincera, as vezes sonhar acordada é a única coisa que me faz suportar o dia.
- Me desculpe, eu sei que você gostaria de estar fazendo outra coisa agora. Sei que só está aqui porque sua mãe quer. E também sei que ela espera que você se case comigo.
- Minha mãe espera muitas coisas. – Harriet murmurou, sem saber o rumo daquela conversa.
- Eu sei como é. A minha quer que eu tenha um casamento tão bom quanto dos meus irmãos. Como se isso fosse meu objetivo de vida.
- E qual é seu objetivo de vida? – Ela se viu perguntando.
- Não sei. – Ele deu de ombros. – Como posso saber se nunca me deram a oportunidade de descobrir?
Ela sorriu para ele. Até que o príncipe não era de todo o mal, e estava sendo uma companhia agradável. Por que ela nunca tinha notado isso antes?
- Acho que, sendo quem somos, não podemos nos dar o luxo de fazer o que queremos. E sim o que os outros querem para gente. – Ela sussurrou.
Ele deu um passo a frente, chegando muito perto dela. Perigosamente perto. Harriet não pode deixar de recuar, tentando entender o que o príncipe Jonathan estava planejando.
- E se eu quiser fazer exatamente o que os outros querem que eu faça? - Ele perguntou, a encarando com seus olhos escuros.
- Então acho que é um garoto de sorte.
Ela estava pronta para recuar ainda mais e mudar de assunto, quando ele a surpreendeu ainda mais, segurando suas mãos, a forçando a olhar para ele.
- Eu tenho uma proposta para você. - Sua voz saiu grave. - Eu adoraria que você me desse a honra de se casar comigo.
Pela primeira vez na vida, Harriet tinha ficado completamente calada. E a única coisa que passava em sua cabeça era como aquela cena deveria parecer ridícula vista de fora. Ela estava parada ali, com os olhos arregalados, a boca aberta e completamente imóvel, enquanto Jonathan estava claramente esperançoso.
- Eu imaginei que fosse ficar surpresa, mas esperava uma resposta. – O príncipe falou.
- Eu... Você... Nós nem nos conhecemos. – Foi a única coisa que ela conseguiu dizer.
- Você mesma disse que nos conhecemos durante anos.
- Sim! Não! E-eu... Quero dizer... – Ela soltou um grunhido.
Em anos de aulas com tutores e convivência com sua mãe, sabia que receberia uma penalidade por estar falando daquele jeito, se sua mãe estivesse vendo. Ela deveria ser extremamente educada a todo momento e articulada. Mas naquele momento parecia impossível conseguir formar uma frase coerente.
- Nós nunca tivemos uma conversa, você nem sabe qual é a minha cor favorita! - Harriet exclamou.
- Creio que isso não seja relevante ao casamento, essas coisas podemos aprender com o tempo.
A princesa começou a andar de um lado para o outro, impaciente.
- Claro que não é relevante ao casamento, mas é algo que você deveria saber! E... nós nem nos gostamos.
- Isso também pode ser aprendido com o tempo.
- Não é assim que um casamento deveria funcionar! - A princesa praticamente gritou. - Primeiro deveríamos nos conhecer, nos aproximar, nos amar e depois nos casar. É assim que qualquer pessoa normal faz.
- Nós não somos pessoas normais. Nem podemos ter os mesmos luxos delas, e você sabe disso.
- Por que você está fazendo esse pedido? - Ela parou, o encarando fixamente pela primeira vez naquele momento.
- Nos conhecemos faz muito tempo, e eu conheço você o suficiente para saber que nós podemos dar certo juntos, só precisamos de tempo.
- Eu preciso de ar. – Harriet falou, se afastando dele.
- Nós estamos no jardim – O príncipe disse, com um certo divertimento.
Só que Harriet já não podia responder, pois saíra correndo, desesperada para fugir daquela situação, e enquanto corria sentia seu coração batendo tão rápido que parecia que ia explodir de seu peito. Seu segundo maior medo estava se concretizando, aquilo não podia estar acontecendo, e ela não podia evitar de deixar as lágrimas escorrerem por suas faces.