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Antes de chegar em seu quarto, ela pediu para seu irmão a deixar sozinha e então foi para seu esconderijo, onde ninguém a encontraria.
Bom, quase ninguém a encontraria.
Descobrira isso duas horas depois, quando sua irmã, Hannah, apareceu do seu lado no telhado do castelo.
Existia uma passagem secreta que levava até ali. E essa passagem, por acaso, ficava na lareira do quarto de Harriet. O que ela se esquecera era que já tinha levado seus irmãos ali.
- Como adivinhou que eu estaria aqui? – Harriet perguntou, enquanto sua irmã se sentava ao seu lado.
- Mamãe mandou revistarem este castelo a sua busca. Mas como ninguém encontrou nada, eu assumi que poderia estar aqui.
- Contou a ela onde eu estava?
- Claro que não! Por mais que você me tire do sério as vezes, não planejo que morra tão precocemente.
- Ela está muito irritada? – Ela perguntou, apesar de saber a resposta.
Sua irmã concordou com a cabeça.
Era de se supor que as duas fossem parecidas, porém ao contrário de sua irmã mais velha, Hannah tinha cabelos lisos e loiros tão claros que quase chegavam ao branco. E seus olhos não eram azuis escuros, e sim cor de âmbar. Pareciam duas bolas douradas, o que tornava sua aparência muito deslumbrante. Ela tinha certeza que sua irmã seria alvo de muitos pedidos a matrimonio, assim que começasse a aparecer mais nos bailes. Ela tinha completado dezoito há alguns meses atrás, então não duvidava que logo estaria cheia de pretendentes.
- Sabe, ela na verdade ficou muito triste em saber que você não queria ser rainha.
Harriet olhou para sua irmã, descrente.
- Não é possível que ela não soubesse!
- Acho que no fundo, ela sabia, só não queria acreditar. – Ela fez uma pausa. – Harriet, tem certeza que é isso que quer?
- Renunciar ao trono? Não muita, as vezes penso o que aconteceria a Harry se eu fizesse isso.
- Ele renunciaria também. – Ela deu de ombros.
- Como você sabe?
- Está mais do que claro que ele está apaixonado pela Tiana. E não era obrigação dele o título de rei em primeiro lugar.
- A obrigação é minha. – Disse Harriet se sentindo muito velha de repente.
- Não acho que seja assim, afinal, você tem uma opção, ele também.
- E você acha que não tem? – Harriet a encarou, curiosa pela sua resposta.
- Obvio que não. Você vai renunciar para seguir seus sonhos, com a certeza que tem alguém para assumir o trono no seu lugar, Harry é a mesma coisa, só que ele vai seguir seu amor. E eu? Eu não tenho ninguém para ficar em meu lugar.
- Creio que tenha alguma razão. Você tem medo que isso aconteça?
- Não sei. – Ela deu de ombros novamente. – Sempre enxerguei essa possibilidade, por isso sempre fiz questão de ter todas as aulas que você, mesmo que não precisasse. E não é como se eu tivesse algo emocionante me esperando.
Ela olhou para a irmã caçula com um sorriso em seu rosto. Não se lembrava de quando a irmã tinha crescido. Mas era um fato, ela já estava grande o suficiente para conhecer suas escolhas. E ali estava Harriet. A mais velha, e não tinha nenhuma noção do que deveria fazer com sua vida. E ela odiava isso.
- Pode não ter nada emocionante agora, Hannah. – Ela afirmou com certeza. – Mas vai ter, eu tenho certeza.
- Eu não teria tanto assim, minha vida é bem enfadonha.
- Creio que muitas pessoas não vejam assim, afinal, você é uma princesa.
- Isso é um elogio entre irmãs, ou vocês estão sendo literais? – Harry disse, aparecendo sob as escadas.
- Isso depende, você acha que sua irmã mais nova é só uma princesa literalmente, ou também a considera figurativamente?
- Não sei. O que você considera ser uma princesa figurativamente? Porque se for alguém delicada, ela claramente não é. No outro dia me deu um soco bem no meu nariz.
- Eu já lhe disse que foi um acidente. – Hannah falou, muito séria. – Além disso, você mereceu.
- Eu não fiz nada!
- Entrou em meu quarto sem bater.
- Porque você estava gritando feito uma louca.
- Eu tinha meus motivos. – Ela empinou o nariz e cruzou os braços, o que fez Harriet rir.
- Eu posso saber que motivos são esses? – Perguntou a mais velha.
- Conta a ela. – Harry falou, com um sorriso superior em seus lábios.
- Tudo bem, talvez, somente talvez, eu tenha deixado a janela aberta. E talvez, eu tenha colocado um vaso de flores na minha escrivaninha. E pode ter acontecido de uma abelha aparecer.
- Você estava gritando por conta de uma abelha? – Harriet perguntou, descrente.
- Não seja tola. Eu estava gritando porque na hora que fui me livrar dela esbarrei no vaso que caiu e quebrou.
- Ainda não vejo o motivo para os gritos.
- Acontece que ele estava cheio d'agua e caiu em cima de meus livros favoritos. – Ela concluiu tristonha.
- E foi por isso que gritou?
- Foi um momento de luto.
- Você é rica, compre outros.
- Como pode falar assim? – Hannah a olhou horrorizada. – O corpo deles nem esfriou ainda.
Harriet levou meus dedos ao dorso do nariz, e apertou. Precisava de paciência para ouvir essa história.
- E como exatamente você levou um soco? – Ela se virou ao irmão.
- Eu entrei porque a ouvi gritar. Ela estava de costas para a porta, eu dei um passo para dentro e levei o soco. Gratuitamente.
- É tão bom saber que meus filhos se dão bem. – Disse uma voz grossa e rouca, que pertencia ao rei Anthony, em um tom muito irônico.