A Princesa em Fuga
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Capítulo 6 Aquele da reunião interrompida

Harriet já estava uma pilha de nervos.

Tinha se passado uma semana desde que seu pai disse que ia pensar na sua proposta. E durante toda essa semana ela se remoera em pensamentos e ilusões. Tinha alimentado suas esperanças fazendo pesquisas das possíveis universidades. Porém seu pai não tinha dito uma única palavra e por mais que Harriet tivesse ansiosa, ela não queria irrita-lo.

E sem contar que esteve bem ocupada durante esse tempo, entre discussões da sua mãe, a insistindo em aceitar o casamento, e com Jonathan, correndo atrás dela o tempo todo, querendo um momento a sós com ela, e obviamente ela fugia dele de todas as formas possíveis. Sem contar todas as suas aulas e obrigações que tinha.

Harriet já estava começando a pensar na hipótese de ir falar com seu pai. Então ao sair de uma de suas aulas de línguas, correu até o escritório dela, onde tinha uma porta acoplada para o dele. Andou nervosa de um lado para o outro na frente da porta, antes de entrar e encontra-lo vazio.

Foi em direção a sua mesa, querendo ver se achava alguma papelada que indicava sua localização. Ela remexeu na mesa, procurando o cronograma dele, que iria dizer qual compromisso ele tinha nesse horário. Até que ela viu de relance seu nome escrito em uma carta, posicionada corretamente em cima do jornal daquele dia.

Harriet lia o jornal todos os dias, de modo que não precisou ler para saber o que estava escrito naquela página em específico. Falava sobre um protesto mal sucedido, pedindo para que revogassem a lei, dando o trono a Harry no lugar da primogênita. Ignorando o jornal, ela pegou a carta em cima dele, escrito com uma caligrafia delicada e floreada que ela não reconhecia.

Vossa Majestade Real,

Rei Anthony,

venho por meio dessa carta dizer que apesar das grandes revoltas, conseguimos abafar a notícia na esperança de que as pessoas não sejam incentivadas a se levantar contra nossa princesa. Porém, lamento informar, que a quantidade de protestantes vem crescendo cada vez mais, e a taxa de rejeição da princesa nunca foi maior, até mesmo entre os lordes. Isso pode ser preocupante se eles decidirem fazer algo quanto a isso, porém não devemos nos alarmar por agora, e principalmente, não alarmar a Princesa Harriet.

Peço, no entanto, que possamos nos reunir o mais rápido possível, talvez seja uma boa ideia tentarmos melhorar a imagem da princesa. Precisamos discutir isso o mais rápido possível e...

O mordomo do rei entrou, fazendo um barulho com a porta, assustando Harriet, que soltou a carta na mesma hora e pegou uma outra pasta, querendo disfarçar.

Parecendo surpreso de vê-la ali, o mordomo analisou tudo, pousando seu olhar na pasta que estava na mão da Harriet. Então fez uma reverencia desajeitada.

- Sua Alteza, eu posso lhe ajudar em algo?

- Eu só queria encontrar meu pai. – Harriet respondeu, soltando os documentos de sua mão.

- Bem, ele está em uma reunião, mas não quer ser perturbado...

Ignorando completamente o resto da frase, Harriet voou para fora do escritório, correndo para a sala de reuniões principal. Ela não conseguia deixar de pensar no que tinha lido da carta, pensar no que mais estariam escondendo dela. Chegando perto da sala de reuniões, ela diminuiu os passos, ouvindo as vozes esbravejarem pelo corredor, com a curiosidade batendo mais alto.

Ela parou do lado de fora, ouvindo os homens lá dentro gritarem cada vez mais alto.

- Você não pode deixa-la sair do país! – Ivan, um dos parlamentares gritou.

- Eu ainda não decidi, Ivan. – Anthony respondeu com toda a paciência do mundo.

- Você não tem que decidir nada, ela não pode sair do país! Ela nem deveria ser rainha para começar, essa ideia ridícula de mudar a lei...

- Ivan, eu tive muita paciência com você até o momento, mas cuidado com suas próximas palavras!

Harriet franziu o nariz, nunca havia gostado do Ivan, e em mais de uma ocasião tinha perguntado ao pai porque ele ainda aceitava seu comportamento. E seu pai sempre dizia que as vezes precisamos aguentar umas pedras no sapato.

- Eu só quero dizer que, nunca tivemos uma rainha governando sozinha, sem um rei.

- Existe uma primeira vez para tudo.

- Eu não vejo problema em deixar a garota ir, desde que seja com a supervisão necessária, e que assista as aulas obrigatórias. – Nicolas, o conselheiro real, disse.

Harriet abriu um sorriso dessa vez, dele ela sempre gostara, ela pensou.

- Se ela pelo menos decidisse se casar com algum príncipe, e conseguisse um rei... – Ivan começou a murmurar.

- Mesmo que ela se casasse, ele não seria rei, somente príncipe consorte, e você está ciente disso, Ivan. – Nicolas falou.

- Sim, o que está em jogo não é isso. Eu quero saber se é possível ela estudar em outro país. Talvez mudar a identidade dela. – O rei disse.

- Desculpa, Sua Majestade, mas acho que é exatamente isso que está em jogo. - Ivan falou com a voz mais controlada. - Não creio que sua filha esteja apta para o trono.

Cansada de só ficar ouvindo, Harriet ajeitou a postura e a tiara em seu cabelo. E com toda a postura, que treinou durante anos, ela entrou na sala de reuniões sem ao menos bater.

- Senhores. – Ela disse, fazendo um gesto de cabeça. – Majestade. – Harriet fez uma reverencia exagerada em direção ao seu pai. – Me desculpe pelo atraso.

- O que a mocinha está fazendo aqui? – Ivan perguntou.

- Para você, a mocinha é Sua Alteza Real, não se esqueça quem eu sou, Lorde Ivan. – Harriet falou com um sorriso. – E eu vim aqui participar da reunião.

Sentou-se com toda elegância na cadeira que estava na ponta oposta do seu pai. Além do Ivan e Nicolas, um outro parlamentar estava presente, o Marco, que estava anormalmente quieto. Todos os olhos se repousaram nela.

- Você não pode estar aqui! – Ivan falou.

- Até onde eu sei, sou a princesa de Aston. Rainha dentro de um ano, este palácio é meu, eu posso andar aonde eu quiser. – Ela se inclinou levemente para frente. – E a próxima vez que você se referir a mim de forma informal irá pagar por isso, Lorde Ivan!

Ivan se encolheu levemente, ao passo que o rei e Nicolas abriram sorrisinhos disfarçados.

- Muito bem, sobre o que estavam falando? – Ela perguntou, olhando para seu pai.

- Estávamos discutindo sobre a possibilidade da sua... viagem.

- Ah sim. E o que exatamente era a pauta do assunto?

- A segurança da futura rainha. Não é qualquer país em que poderíamos te colocar, ou que você poderia receber uma nova identidade. – Falou Nicolas. - Alguns deles adoraria te manter como refém para conseguir algo em troca.

- Bem, se algo acontecer comigo, vocês ainda têm mais dois jogadores no banco reserva. – Harriet falou em tom de brincadeira.

Nicolas soltou uma leve risada, seu pai pareceu segurar o riso, mas a piada só serviu para Ivan ficar mais vermelho ainda.

- E você acha que isso é uma brincadeira, garota? Acha que só porque você foi agraciado com dois irmãos, pode se dar o luxo de andar por qualquer lugar e fazer qualquer coisa?! – Ele estava quase esbravejando. – Você não sabe o seu lugar, menina!

Ela bateu com força na mesa, se levantando.

- Você não sabe o seu lugar! – Harriet falou, firme, sem levantar a sua voz. – A última vez que eu chequei, minha posição ainda está acima da sua! E você ainda me deve muito respeito. Posso até não poder te tirar do seu cargo, mas você pode acreditar que farei da sua vida um inferno na terra se continuar a me tratar assim.

O Marco se moveu da cadeira, o que pareceu a primeira vez desde o inicio da reunião.

- Claramente a Sua Alteza está mais do que capacitada de lidar com seus problemas sozinha, e parece conhecer muito bem a sua posição, apesar da brincadeira. – Ele se apoiou na mesa, olhando para o rei. – Não vejo o porquê dela não poder ir, se as corretas providencias forem tomadas.

Harriet olhou na direção dele, completamente surpresa.

- Certas providencias? - Ela perguntou.

- Creio que talvez não seja uma boa ideia que seu povo saiba que você foi para outro país, tão perto de tomar o trono. - Marco continuou falando, sem olhar para ela. - E bem, tem outras circunstancias, alguns problemas.

Harriet ergueu as sobrancelhas, vendo que ele tentava evitar algum assunto na presença dela. A princesa encarou o pai, com um tom de desafio.

- Sim, eu estou ciente dos protestos contra mim. - Harriet falou. - É sobre isso que você está se referindo, Lorde Marco?

Os olhos azuis do rei escureceram, chegando quase ao preto, enquanto ele encarava a filha com o rosto impassível.

- Como você descobriu sobre isso? - A voz do rei saiu grave.

- Importa como?

- Acredito que agora que a princesa esteja ciente, a prioridade seja melhorar a imagem dela. - Nicolas falou, querendo disfarçar a situação estranha. - Talvez desse modo, nós conseguiremos deixar que ela viaje tranquilamente.

- E como podemos fazer isso? - Harriet perguntou.

Houve um silencio na sala, aonde o rei, Nicolas e Marco se encararam, parecendo que estava conspirando algo. Harriet olhou para todos eles, o único que não estava minimamente interessado na conversa era Ivan, obviamente para ele era melhor que a imagem dela continuasse manchada. O olhar da princesa se repousou no pai, que dessa vez, evitava olhar para ela.

- Papai? – Sua voz saiu não mais do que um sussurro.

- Bem, Harriet, creio que agora você terá que esperar até o fim do dia, nós vamos debater sobre tudo e eu ainda terei que falar com sua mãe. – Ele fez uma pausa. – E você, Ivan, está dispensado. Claramente não está ajudando nessa questão.

Harriet se levantou, ao receber a dispensa do pai, mas antes de sair da sala, observou Ivan sair contrariado, enquanto ela tinha um grande sorriso no rosto e um ar vitorioso.

            
            

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