A Princesa em Fuga
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Capítulo 3 Aquele da grande confusão

Assim que chegou ao castelo, ouviu os guardas perguntando o que tinha acontecido. Mas ela não parou para explicações, só queria chegar no seu quarto o mais rápido possível, onde teria privacidade. O máximo de privacidade que uma princesa poderia ter na verdade. Provavelmente todas as suas damas de companhia estavam em seu quarto naquele momento.

Ela deveria ter levado uma para o passeio, mas sua mãe graciosamente arranjou um jeito que todas ficassem ocupadas. Não que uma dama pudesse ter impedido o pedido de casamento do príncipe, dificilmente ele esperava que teriam privacidade.

Ao subir a grande escadaria que levava aos quartos reservados à família real, ela bateu de cara em algo grande e forte, quase caindo para trás. Por sorte, seu irmão foi rápido e a segurou antes que rolasse escada a baixo.

- Para onde estava indo com tanta pressa?

Ele estava sorrindo, com seus trajes formais, a caminho de um chá da tarde com a mãe e convidados. Mas quando viu a expressão no rosto de sua irmã, toda a felicidade foi esvaída de seu rosto. Sua mandíbula ficou tensa, e suas mãos se apertaram em seus braços.

- O que aconteceu, Harriet?

- O príncipe, ele... ele... – Sua voz saiu igual a de uma criança com medo, enquanto ela arfava tentando recuperar o ar depois de correr.

- Jonathan? - Harry perguntou, confuso.

- Sim! Quem mais seria? Nós estávamos só passeando, eu não esperava que... ele...

Harriet não sabia como terminar a frase de tão embaralhada que estava a sua mente, as lágrimas ainda escorriam de seu rosto, deixando tudo embaçado. Mas seu irmão não estava escutando mais. Ele já tinha começado a descer as escadas em uma velocidade impressionante. Harriet desceu atrás dele, tentando alcança-lo, mas além dele ser mais alto que ela, ele não estava usando os malditos saltos que a impediam de correr.

- Harry? Harry! Para onde está indo?

- Matar aquele desgraçado. – Ele rugiu.

- Volta aqui, você não vai matar ninguém, você nem me ouviu!

Já era tarde demais, pois ele tinha chego no primeiro andar, e o príncipe Jonathan estava no pé das escadas. Estava muito distraído se explicando para um dos guardas que provavelmente tinha ido examinar todo o transtorno. Então antes que ele pudesse sequer olhar na direção da gritaria dos irmãos, Harry acertou um soco em sua mandíbula, o fazendo cair no chão.

Harriet gritava para que o irmão parasse, mas ele não parecia ouvir. E foi só depois do terceiro soco, que os guardas o afastaram do convidado.

- O que está acontecendo aqui? – A voz da rainha ressoou pelo salão.

Os dois irmãos olharam para sua mãe, enquanto viam seu pai correr atrás dela, e logo em seguida a rainha de Guinerva.

- O que você fez?! – Sua mãe gritou para Harriet.

- Eu?! – Ela perguntou descrente. – Por que já logo assumiu que a culpa seria minha?!

- Você que estava passeando com ele pelos jardins.

- Sim, até que esse idiota a fez sair de lá chorando, eu a encontrei e ela me disse que ele fez algo! – Harry retrucou com raiva.

- Ele fez alguma coisa com você, Harriet? – O rei perguntou, preocupado, e ficando com raiva também.

- Eu só a pedi em casamento. – O convidado disse, do chão, sem ter conseguido se levantar ainda.

- O que? - Harry perguntou, encarando sua irmã.

Houve um silencio constrangedor, enquanto Jonathan se levantava, limpando o sangue que escorria de seu nariz e todos olhavam dele, para Harriet e Harry.

- Ah! Mas isso são ótimas notícias! – Nicole falou em uma radiante felicidade, quebrando o silencio. – Temos que começar os preparativos logo.

- Casamento? – O rei perguntou, confuso.

- Jonathan Caprio! – A rainha Mary falou, muito feliz. – E Harriet. Juntos.

- Não é possível que vocês concordem com essa palhaçada! – Harry falou irritado.

- Casamento? – Seu pai repetiu a pergunta.

Céus! A situação não poderia ser mais desastrosa, ela pensou. O pobre príncipe Jonathan ainda tentava estancar seu sangue, e Harriet sentia um forte impulso de ajuda-lo, mas se conteve. Afinal, não queria dar esperanças nenhuma a ele, nem aos demais.

- Me deixem explicar, vocês não estão entendendo! – Ela tentou dizer.

- Então ele só a pediu em casamento? – Harry perguntou.

- Sim, ele o fez, mas...

- Não tem mas! - A mãe exclamou de felicidade. - Ele fez o convite, você obviamente aceitou. Vocês vão ser um lindo casal.

- Mas você não me escuta!

- Deveríamos já enviar os convites para a festa de anuncio do noivado. – A rainha Mary falou.

- Ela não quer se casar com ele! – Harry falou em voz alta. – Será que vocês não estão vendo?!

- Você recusou a proposta? – A mãe perguntou horrorizada.

- Na verdade, não. Ela não me deu uma resposta. – O príncipe Jonathan respondeu.

- Você não deu uma resposta? – Harry perguntou a ela.

- Não, mas foi porque eu...

- Bem, ele já tem uma resposta então, a Harriet ficaria encantada em casar com você. – Nicole disse, abrindo um sorriso gentil.

- Você não pode fazer essa escolha por mim! – Harriet gritou.

Ela tinha falado baixo durante todo esse tempo, confusa demais com toda a discussão e acontecimentos recentes para conseguir rebater qualquer coisa. Tudo que saia de sua boca, até então, eram balbucios baixos. Mas aquela tinha sido a gota d'água.

- É a escolha óbvia, e a mais sensata. - Nicole falou para ela.

- Não vejo como isso é uma escolha óbvia.

- Nossas famílias são amigas a anos, você é a futura rainha, deve se casar com um príncipe.

- Não me lembro de meu pai ter se casado com uma princesa quando ele era o futuro rei!

- Harriet Spencer! – Sua mãe se enfurecera, e ficara vermelha como um tomate. – Como ousa falar assim comigo?!

- Querida amiga, vamos nos acalmar. – A rainha Mary falou. – Nós podemos conversar sobre os acordos depois, quando meu filho se recuperar e eles finalmente puderem conversar. Vou leva-lo a ala médica e deixar vocês se acertarem.

Abraçando seu filho de um modo maternal, a rainha Mary se retirou, indo em direção a enfermaria. Então, como um furacão, a mãe agarrou o pulso de Harriet com força, o de seu marido e arrastou os dois para a sala mais próxima, Harry foi correndo atrás, para ajudar sua irmã.

- Que história é essa que você não vai se casar? – A mãe esbravejou.

- Eu não vou me casar com alguém que mal conheço e que não gosto! Muito menos um idiota!

- Não fale assim dele, tem muito mais senso que você, já que fez o pedido.

- Eu não quero casar com ele! E o fato dele fazer o pedido só mostra o quão sem senso ele é!

- Então tivesse recusado o pedido! – Ela gritou, andando de um lado para o outro. – Explicasse para ele que não estava interessada! Que não queria nada com ele! Evitaria toda essa confusão.

- Eu acho que já deixei isso bem claro! – Harriet elevou a voz. – A única pessoa que não percebe isso é você!

Natalie deu um passo para trás, como se tivesse levado um soco de sua própria filha.

- Como disse? – Ela perguntou.

Já tinha ido longe demais para desistir naquele ponto, então ao invés de ficar quieta, explodiu.

- Você está tão ocupada querendo que eu tenha a vida que planejou para mim que não percebe quão infeliz eu sou! Não percebe o quanto eu odeio essa ideia de casamento. Ainda mais com príncipes idiotas que não tem nada em comum comigo! E o mais importante, não percebe o quanto eu não quero essa droga desse trono! – Ela deu vários passos para se aproximar da mãe. – Todo mundo sabe! Todo mundo percebe! Menos minha própria mãe! Eu não ligo para essa droga de título, nem para essa droga de coroa!

Para demonstrar o que disse, ela retirou a tiara que estava em sua cabeça, a jogando longe. Percebera tarde demais que tinha sido a primeira tiara que tinha ganho, a tiara que pertencera a sua mãe, quando ela se casou com seu pai e se tornou princesa, e a sua avó antes disso. Estava na família a tanto tempo, que possivelmente era o bem mais precioso que tinha. E lhe partia o coração ver que agora, ela não prestava mais.

Ao bater no chão, a tiara se amassou, e algumas de suas pedras caíram da armação e voaram para todo o lado.

Mas ela não queria dar o braço a torcer. Ela encarou sua mãe, e lhe viu o olhar horrorizado no rosto.

- Harriet, você foi longe demais. – A mãe falou em voz baixa, porém mortal. – Agora as coisas vão ser do meu jeito! Você vai até a enfermaria e...

- Ela não vai em lugar algum! – O pai esbravejou. – Além do seu próprio quarto. Ninguém vai se casar até que eu diga o contrário.

Todos olharam assustados para o rei, que tivera ficado quieto durante todo aquele tempo, e estava prestes a entrar em colapso.

- Harry, leve sua irmã para o quarto e não saiam de lá até o jantar. Eu e sua mãe vamos ter uma conversa.

Os dois saíram da sala, deixando o rei e a rainha para trás, que trocavam olhares de raiva. Juntos, os irmãos foram andando até o quarto da princesa. O único são audível era o de seu salto batendo contra o mármore frio, e os gritos do casal que havia ficado para trás.

            
            

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