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Harriet adentrou o salão de jantar de braços dados com seu irmão. Os dois conversavam baixinho e riam de piadas que só eles entenderiam.
Todo mundo olhou para os dois, que chegaram atrasados, já que estavam ocupados escrevendo uma carta para Tiana. O rei estava sentado na ponta da mesa, com a rainha posicionada a sua direita, tinham duas cadeiras livres no lado esquerdo do rei. Hannah já estava sentada ao lado da rainha, com um rosto impassível, sem seu habitual sorriso. E era obvio o porquê. A família real de Guinevra estava presente, e uma das gêmeas estava sentada ao lado da princesa caçula, tagarelando sem parar.
Harriet foi sentar em seu lugar, a esquerda do rei, porém antes de conseguir chegar em sua cadeira, a rainha de Aston se levantou.
- Harriet, querida, hoje mudamos um pouco os lugares, você vai se sentar na frente da Hannah.
A futura rainha parou, e logo entendeu porque a súbita mudança dos locais na mesa. Do lado da cadeira que geralmente pertencia ao Harry estava o príncipe Jonathan. Harriet sabia que era um erro ter se juntado a família esta noite, devia ter jantado em seu quarto, igual a todos os dias dessa semana.
Mas agora era tarde demais.
Ela se dirigiu a cadeira e sentou-se. Em uma tentativa fracassada de fugir daquela situação, começou a conversar com seus irmãos. Hannah parecia aliviada por ter outra pessoa lhe dirigindo a palavra que não fosse uma das filhas da rainha Mary.
Porém a conversa não foi muito longe, sua mãe estava mais do que obstinada em juntar os jovens príncipes.
- Minha filha, o príncipe Jonathan estava nos falando ainda agora como estava ansioso em abrir a dança do baile com você. - Nicole falou com um largo sorriso no rosto.
Harriet ergueu as sobrancelhas, olhando do príncipe a sua mãe.
- Estava? - A princesa usou uma falsa curiosidade na sua voz. - Bem, mas isso não poderia acontecer, quem abre a dança é a rainha e o rei.
- Mas eu não gostaria de deixar minha amiga Mary sozinha, então, nesse caso, quem abre a dança é você. – A mãe falou com um grande sorriso.
- Nesse caso, eu ficaria feliz de abrir a dança, como já comecei algumas vezes, junto ao meu irmão. - Ela disse, apesar de saber aonde sua mãe iria a seguir.
- Não seja ridícula, seu irmão estará acompanhando a Tiana. Ela com certeza vem, não é mesmo?
- Sim, ela vem. Porque diferente de mim, ela não é uma prisioneira do palácio. – Harriet respondeu, incapaz de se conter.
- Você não é prisioneira, é uma princesa. – A mãe perdeu o sorriso radiante.
- Engraçado, Hannah também é uma princesa e não vejo ela sendo impedida de ir a bailes em outros palácios, ou sendo obrigada a fazer coisas que não quer.
- Acho melhor mudarmos o assunto. – O rei falou calmamente. – E talvez seja melhor deixar Harry acompanhar a Harriet, isso é, se ele quiser.
- Eu não vejo problema algum nisso. – Seu irmão respondeu, dando uma piscadela para ela.
A rainha pareceu contrariada, mas não disse nenhuma outra palavra sobre o assunto. A comida foi servida, e começaram a comer silenciosamente. Foi uma benção para Harriet aqueles minutos, porém toda vez que os pratos mudavam, a conversa recomeçava, e o príncipe insistia em conversar com ela.
- Sua alteza poderia me dizer sua cor favorita. – Ele disse.
- E para que o senhor quer saber isso? – Harriet ergueu as sobrancelhas.
- Bem, a senhorita me disse que não podemos nos casar se não soubermos as cores favoritas um do outro. - Jonathan falou, em tom de brincadeira.
- Eu nunca disse isso. – Ela então abriu um sorriso sincero. – Só que deveríamos saber essas coisas um do outro, antes de pensar em nos casar.
- Então, é o que eu quero fazer. Eu gostaria de te conhecer.
Harriet analisou o príncipe, que tinha um olhar curioso, e um sorriso leve. Não parecia haver nenhuma esperança, somente sinceridade em seu rosto, e de alguma forma isso deixou Harriet preocupada.
- Jonathan, me escute...
- Eu só perguntei a sua cor favorita, não é como se eu estivesse te pedindo em casamento. – O príncipe Jonathan falou, brincando.
A princesa soltou uma risada, incapaz de se conter.
- Muito bem, é vermelho. Na verdade, seria um vermelho escuro, mais para o vinho. E a sua?
- Amarelo. – Ele fez uma pausa, analisando a princesa. – Viu, agora nos conhecemos um pouco melhor.
- Sim, mas Jonathan, você não sabe nada sobre mim. Não sabe minhas manias, ou o que eu gosto de fazer, nem sabe se eu já tive meu primeiro beijo ou não.
Harry se engasgou do lado dela, rindo, ao ouvir a conversa dos dois.
- Qual é a graça? – A princesa perguntou ao irmão.
- A graça é que todo mundo sabe que você já teve seu primeiro beijo.
- O que quer dizer com isso? – Harriet perguntou cruzando os braços.
- Bem, quando você beija o filho do duque de Williborn no jardim, em pleno baile de verão, é meio difícil de esconder das outras pessoas.
- Ah sim, o Lorde Tobias, ele era muito bonito. – Hannah disse, entrando na conversa. – Também não podemos nos esquecer do príncipe William, na festa de ano novo.
- E teve o Conde Simon no...
- Olhe quem fala, os dois hipócritas. – Ela apontou para o irmão. – Você beijou a princesa Kendra no meio do salão de baile, com todos olhando para você, e ainda foi rejeitado por ela minutos depois. E você, - voltou-se então para a irmã caçula – não pense que ninguém viu seus beijos com o Lorde Philip.
- O que você disse? – Anthony perguntou a Harriet, com os olhos arregalados.
Ela percebeu que falara alto demais muito tarde. Olhou para a irmã, pedindo perdão em silencio.
- Ah céus, acho que estou envelhecendo rápido demais. – O rei murmurou. – Quando foi que isso aconteceu, Hannah?
- Ah pai, fala sério. – Harry disse, cortando sua carne. – Ela já tem dezoito anos, pode ter sido o primeiro beijo dela, mas com certeza não foi o último.
Hannah balançava a cabeça desesperadamente em sua direção, mas Harry só percebeu depois que já tinha terminado a frase. Novamente o pai arregalou os olhos para sua filha mais nova.
- O que ele quer dizer com isso?
- Nada, papai. – Harriet foi a seu socorro. – Só que ela tem a vida toda pela frente, vai beijar outra pessoa, com certeza.
- Ninguém aqui vai beijar ninguém! – Ele disse. – Vocês ainda são muito novos, ontem mesmo eu estava trocando as suas fraldas.
- Querido, quem trocou as fraldas deles foram as criadas. - Nicole falou, com uma sombra de riso no rosto.
- Ah Majestade, eu entendo completamente o que você quer dizer. – A rainha Mary disse. – Eu ainda vejo os meus como bebês também. Principalmente o Jonathan.
Harriet deu um olhar de pena para o Jonathan, que virou o centro das atenções pelo resto do jantar, com a rainha Mary contando histórias de sua infância. Mas pela primeira vez da chegada da família de Guinevra, ela conseguiu sorrir despreocupadamente.
- Vou lhe dar um conselho. - Harriet sussurrou na direção de Jonathan. - Quando tiver cortejando alguém, tenha certeza que não tenha outras pessoas na sala que já te viram de fraldas.
- Vou me lembrar isso da próxima vez que pedir alguém em casamento. - Ele retrucou, rindo.
Assim que acabou o jantar, o rei e a rainha chamaram a sua primogênita para uma conversa, e Harriet não pode deixar se sentir um nervosismo, misturado com ansiedade.