Owen ouviu o xingamento vindo de uma das árvores a sua esquerda. Viu uma pequena escada e um corpo se equilibrando entre o objeto e a copa. Aproximou-se devagar já imaginando de quem se tratava. Ellis tentava alcançar alguns limões, mas sem sucesso. A escada usada não era muito longa e a estatura dela também não ajudava muito.
- Precisa de ajuda? - perguntou ao se aproximar.
Surpresa com a presença, ela se desequilibrou mais, pendendo para um dos lados e quase caindo se não fosse a rapidez de Owen em manter a escada e ela no lugar.
- Você está bem? - perguntou ele.
- Estou, obrigada.
- Desculpe, eu não queria te assustar.
- Tudo bem, eu que estava distraída.
De cima, Ellis observava o homem que mantinha a mão em sua cintura mesmo quando já não corria o risco de cair. Engoliu em seco sentindo o calor dele atravessar a blusa e aquecer sua pele.
Deslizou pela escada com ele as suas costas e sentiu a respiração em seus cabelos. Virou-se para ele sorrindo timidamente.
- Não devia ter me oferecido para colher os limões, a vida já anda muito azeda e eu querendo piorar a situação caindo daqui de cima.
Owen sorriu mostrando os dentes muito brancos e fazendo Ellis quase se desequilibrar novamente.
- Eu farei isso para você - ofereceu-se ele.
Ela assentiu e o Owen subiu na escada alcançando facilmente os limões. De baixo Ellis observava o corpo delineado dentro das roupas que se ajustavam aos movimentos. Ela mais que ninguém era uma apreciadora do corpo humano. Seu trabalho como pintora nas horas vagas lhe exigia que fosse uma observadora dos detalhes e Owen tinha o tipo físico que ela adoraria retratar. O observando de perfil, ela podia ver os ângulos iguais e perfeitos. Um rosto atípico, uma beleza sem igual, másculo, porém suave.
Owen tentou entregar algumas frutas, mas percebeu que Ellis estava totalmente concentrada em uma análise de seu rosto e corpo. Sorriu ao perceber a curiosidade com que ela lhe observava.
- Tudo bem aí? - perguntou sorrindo.
- Sim... Ah, claro! Desculpe, eu não estava... - tentou se explicar. - É que eu pinto nas horas vagas, também faço gravuras... de pessoas e paisagens em geral. Então eu gosto de observar, para recriar - explicou na esperança que ele lhe entendesse.
- Que interessante! Não deve ser fácil, meus parabéns.
- Obrigada - respondeu tímida.
- E você vai me pintar? Desenhar?
- Você gostaria?
- Sim, eu gostaria - respondeu a olhando fixamente.
Ellis também permaneceu com o olhar vidrado no homem acima, o interesse mútuo era inegável. Sorriu para disfarçar a timidez e dessa vez aceitando os limões que ele lhe entregava.
- O que vão fazer com eles? - perguntou Owen mudando de assunto e evitando que ela ficasse mais embaraçada.
- Vamos misturar com vodka, tequila, usar nos petiscos...
- Então vão precisar de muitos.
- Sim - respondeu devolvendo o sorriso que ele lhe lançava.
- Seu primo disse que você trabalha em um museu - revelou sem esconder que ela fora um dos assuntos entre ele e Douglas.
- Sim, trabalho no Museu Real, no centro de Vitoria.
- Gostaria muito de conhecê-lo, dizem que é um dos pontos turísticos mais bonitos de todo o Canadá.
- Eu sou suspeita para falar, mas concordo. O museu Real da Colúmbia Britânica é muito lindo, tem um cinema e recebe exposições de arte regularmente.
- Me parece muito interessante.
- Quando quiser pode nos visitar, ficarei feliz em acompanhar você.
Owen já descia, vendo a cesta nas mãos dela cheia com os limões que acabara de colher.
- Será um prazer! - respondeu frente a ela que o olhou com um sorriso no olhar.
- Nunca pensei que os amigos do meu primo se interessassem por arte ou antiguidades.
- Eu gosto, sempre vou ao teatro e a concertos, ópera...
- Sério? - perguntou surpresa. - E sobra tempo para as noitadas, bebedeiras e a pegação?
Owen riu.
- Na verdade, eu já passei dessa fase.
- Hum! Deve ser por isso que é a primeira vez que te vejo em uma das "reuniões" do Douglas.
- Provavelmente - concordou. - E você, participa de muitas dessas festas?
- Não, essa é a primeira. Às vezes o acompanho quando vai assistir campeonatos de futebol em algum pub com essa mesma turma, então já conheço todo mundo e todo mundo já me conhece.
- Eu só conheço alguns, a maioria são desconhecidos para mim - revelou. - E você tem o mesmo mau gosto para times que o seu primo?
- Só vou para conversar e rir com as garotas, não entendo muito de futebol.
- Ellis! - chamou uma das garotas da porta da casa principal. - Conseguiu?
- Consegui! - gritou de volta.
Ellis tentou segurar a escada com a outra mão, mas não foi muito bem sucedida.
- Pode deixar que eu guardo - ofereceu-se ele.
- Obrigada.
Ellis lançou um olhar doce para Owen que mal conseguiu respirar. A viu seguir de volta para casa e permaneceu parado no mesmo lugar a admirando sumir entre as pequenas árvores.
***
A noite alguns convidados dançavam ao som da música eletrônica que tocava no jardim, enquanto outros se espalharam pelas mesas conversando e bebendo a vontade. A decoração do jardim estava simples, mas muito bonita. Lâmpadas coloridas enfeitavam as árvores ao redor, enquanto refletores potencializavam a iluminação. Sentiu a nostalgia tomar conta ao lembrar das festas que faziam na república da faculdade em Vancouver quando estudavam e onde conheceu os amigos ali presentes. Ainda nos primeiros semestres conseguiu seu primeiro emprego na área administrativa, em uma rede de hotéis e resort no qual agora era um dos administradores. O Shangri-La Hotel transformou-se em seu lar no fim de seu casamento e permanecia assim até agora.
Sentiu o peso de um braço em seus ombros.
- Não vai ficar só olhando, né? - Douglas o empurrou em direção a pista de dança improvisada e o lançou em direção ao grupo de garotas que soltaram gritinhos, divertidas com a invasão, enquanto os amigos riam da timidez de Owen. - Não se acanhem meninas, ele está solteiro. Na verdade está carente, precisando de consolo, então vocês podem ir para cima com vontade.
- Douglas, não exagere - pediu Owen.
- Você precisa se divertir, passou muitos anos casado, precisa se aventurar.
Uma das jovens se aproximou de Owen e o puxou para mais perto enquanto outra se posicionou atrás dele. Um dos amigos trouxe bebidas e os entregou.
- Um brinde aos longos anos de amizade e a liberdade - disse Douglas comandando o brinde.
Taças tilintaram e bebidas foram derramadas antes que muitos pudessem dizer saúde. Owen esvaziou seu copo e através dele viu a imagem mais bela de toda sua existência. Ellis, ao longe, conversava em outro grupo enquanto o observava pelo canto dos olhos disfarçadamente. Ela usava uma minissaia com estampas de flores e um top cujo decote deixava o volume dos seios muito provocantes. Cabelos longos e muito claros chamavam atenção em meio a escuridão da noite, uma tiara trançada com pequenas flores circundava sua cabeça, combinando com seu jeito meigo.
Seguindo o instinto, ela o fitou de lado encontrando os olhos de Owen a observando intensamente. Ellis sentiu um arrepio percorrer sua espinha, não se sentia incomodada com o olhar dele, mas sim com a resposta dos seus sentidos a um estranho. O amigo do seu primo era charmoso, bonito e tinha uma seriedade em suas expressões que ela achava muito sensual. Não conseguiu deixar de pensar nele desde aquela manhã quando o recebeu e a fixa presença de Owen em sua mente só aumentou depois de sentir as mãos dele em sua cintura.
Quebrou o contato nervosamente voltando a atenção para as amigas, mas não conseguiu se concentrar no diálogo novamente. Pediu licença e se afastou até a mesa de bebidas. Ao longe pôde ver que Owen ainda dançava com as garotas e parecia se divertir muito. Pegou um prato e serviu-se de alguns petiscos.
- Estava me analisando para lembrar do que deve desenhar?
Ellis surpreendeu-se com a voz dele a suas costas. Não teve tempo de responder, pois ele já emendou outra pergunta:
- Dança comigo?
Viu-se segurando em uma das mãos de Owen e andando com ele até onde todos estavam. Apesar da aparente timidez, Owen mostrava-se bem decidido. Tinha uma aura sensual, apesar de ser contido. Não podia negar que estava impressionada, não só com a beleza, mas com a forma dele de agir. Impressionada e curiosa.
Mantendo uma distância segura, dançou com ele ouvindo seu primo os incentivar a chegarem mais perto um do outro.
Owen sorria divertido com as investidas de Douglas que não perdia a chance de bater em um deles tentando fazê-los desequilibrar e cair direto um nos braços do outro. Não demorou muito para que isso acontecesse. Ellis foi apoiada por Owen enquanto Douglas ria e vibrava com a conquista.
- Como ele pode ser tão besta? - perguntou Ellis.
- Ele pode ser bem pior, acredite! - respondeu Owen.
Ignorando os comentários, Douglas gritou para o DJ:
- Música lenta! - dirigiu-se a eles. - Vão se divertir e parem de me acusar.
Ellis olhava incrédula para o primo ainda apoiada em Owen, que gentilmente a virou em seus braços e a fez circundar seu pescoço com as mãos enquanto ele a envolvia com os braços. Os refletores daquela área foram desligados dando um ar mais íntimo. Gritos e risos foram ouvidos em meio a escuridão, apenas a luz do palco improvisado e das casas refletia no local. A música suave tocava e foi impossível não se deixar envolver pelo momento. Owen era tão suave, a segurava com determinação, porém com cuidado, como se fosse uma joia preciosa. Em meio aos feixes de luz viu o olhar sensual que ele lhe lançava e não conseguiu desviar o seu.
Owen era hipnotizante, sentia seu corpo pedir para que ele se aproximasse mais, queria provar do calor másculo. Os músculos bem definidos por baixo da roupa só a deixavam mais curiosa a cada minuto. Não perdia a oportunidade de observá-lo, e diferente do que havia alegado, não era só pela pintura. Owen chamava sua atenção, o magnetismo dele pedia por seus olhos, pedia para que ela o admirasse por inteiro. Nunca foi de se aventurar com estranhos, todos os seus namorados foram amigos antes e só sentiu algo por eles depois de algum tempo. Não que Owen seria algo seu, mas aquela atração era muito mais do que ela já havia sentido por qualquer homem.
Sentiu o coração disparar enquanto ele corria o olhar por seus traços como se pudesse acariciar seu rosto. Trocando o olhar por uma das mãos, descia pelas costas sensualmente. A música mudou e a batida diferente foi sentida, Owen aproximou-se mais, virou-a de costas e a encaixou entre suas pernas movendo-se com ela lentamente. Segurou as mãos delicadas fazendo-a se apoiar em suas pernas, as mesmas que ele a viu olhar interessada enquanto estava no alto da escada. Ellis mordeu o lábio inferior involuntariamente quando sentiu os músculos sob suas mãos, o gesto foi suficiente para Owen entender como um convite. Aproximou-se lentamente dos lábios dela tocando suavemente com os seus. O beijo a seguir foi delirante, invasivo e possessivo com ele apertando seu corpo e quase fazendo os seios pularem do top.
Envolvidos pela música sensual, deslizavam nas curvas que prometiam prazer e entrega total. Ellis pensou que seu coração pararia pouco antes de Owen interromper o contato das bocas. Seu corpo queimava pedindo por mais, enquanto ele ofegava e beijava seu pescoço querendo saborear a pele macia. Owen a fitou intensamente em busca de uma resposta silenciosa para aquilo que ele queria... Que ela queria...
Sorriram um para o outro sabendo que em nada adiantaria fugir, o prazer os aguardava.