- Eu gostaria de reencontrá-la, mas não sei se estou preparado para algo mais sério.
- Eu acho que você está, gosta dela e isso já é preparação suficiente para o início. Com o tempo as coisas vão acontecendo.
- Quando voltar a Vancouver eu resolvo isso.
- Ela é prima do seu amigo, peça o telefone, ligue, converse e a chame para sair.
- O contato dele estava no meu telefone que perdi, lembra?
- Você é muito irresponsável com celulares, quantos já perdeu? Esse deve ser o centésimo! - criticou.
- Odeio celular!
- Então envie um e-mail, procure em uma das milhares de redes sociais. Tenho certeza que você é capaz de encontrá-la ou encontrar alguém que entre em contato com ela.
- Claro!
- Owen, não procure desculpas para se isolar. Se você gostou tanto dela então tente.
Owen se despediu do irmão, virou-se em sua poltrona e olhou pela janela da sala de reuniões em que estava. Havia sido escalado para aquele encontro de negócios e precisou viajar até a Índia na última semana. O silêncio da antes lotada sala agora só era cortado pelo som de sua caneta tamborilando no braço da poltrona. A sua frente a vasta e movimentada capital, Nova Deli, estava surpreendentemente parada. A chuva tomava conta da cidade impedindo o costumeiro ir e vir de pessoas.
Liam estava certo, pensou, não tinha motivos para fugir. Era estranho se sentir daquela forma por uma mulher depois de tantos anos, mas não podia negar que gostou da companhia mais do que esperava. Quando voltou a Vancouver depois daquele fim de semana, não conseguiu parar de pensar em Ellis Hill. Ela era simplesmente incrível. Imaginou que depois de anos de relacionamento fosse demorar muito para se deixar envolver por alguém, porém ela havia lhe feito reagir de forma inesperada. Só de pensar nela seu coração apertava daquela forma deliciosa e ao mesmo tempo sufocante que só os apaixonados podiam sentir.
- Ellis... - sussurrou saboreando o nome dela em seus lábios e sorrindo em seguida.
Precisava mesmo reencontrá-la.
***
Ellis chorava inconsolável no banheiro do museu em que trabalhava.
- Querida, saia. Vamos conversar! Não pode ser tão ruim assim.
Segurava o teste de gravidez nas mãos e o resultado positivo quase a fez desmaiar. Ultimamente estava sentindo um desconforto anormal, cansaço e falta de ar. Procurou o médico acreditando estar com algum problema pulmonar causado pela química das tintas que usava em suas pinturas. Tinha máscaras que eram mais que recomendadas, mas não gostava de usar, o momento de criação era seu momento de liberdade, não gostava de nada preso a ela.
Uma gravidez não era o fim do mundo, mas nem conseguiu contatar o pai da sua criança. Todas as ligações que fez para o número que Douglas lhe dera caíram na caixa postal. O que faria agora?
Muitos pensamentos passavam por sua cabeça naquele momento, como cuidaria de uma criança e continuaria com seu emprego? Não podia voltar para a casa dos pais, cada um já vivia sua própria vida e ela já era uma adulta, ou pelo menos tentava ser.
Olhou o teste de gravidez novamente e as lágrimas voltaram a rolar por seu rosto. Owen não havia lhe prometido nada, tinha sido apenas um fim de semana. Ele estava saindo de um relacionamento, um casamento, com certeza não queria se prender novamente. Não que ela fosse obrigá-lo a casar, mas um filho era uma grande responsabilidade.
- Ellis! - insistiu a amiga de trabalho novamente. - Saia, deixe-me ajudá-la.
Tinha que pensar em uma solução e rápido.
***
No fim da semana, Owen já estava novamente em Vancouver, precisava entrar em contato com Douglas, estava decidido a procurar por Ellis. Ela pensaria que estava louco, talvez lhe desse um fora, mas não poderia deixá-la passar por sua vida apenas como uma lembrança boa de uma aventura.
Desceu do carro em frente ao Shangri-La Hotel e foi recebido com euforia pelos funcionários. Depois de passar por todos os setores da empresa conhecia do ajudante de cozinha ao CEO da rede.
- Bem vindo, senhor Hughes! - cumprimentou uma das recepcionistas quando ele aproximou-se. - Entreguei sua correspondência ao senhor Miller. Ele o aguarda em sua suíte.
Owen sentiu os nervos gelarem. O que Dixon estava fazendo ali?
- Obrigado, Susana - agradeceu apesar de não ficar nem um pouco satisfeito com a invasão de Dixon e muito menos com a entrega de sua correspondência.
Claro que pelo grau de intimidade que tinha com ele, era normal que as pessoas o confiassem seus assuntos particulares, mas naquele momento se sentia invadido.
Entrou em seu apartamento e o encontrou sentado no sofá folheando uma revista automobilística.
- Bem-vindo ao lar, senhor Hughes - cumprimentou observando-o com um sorriso cínico.
- O que faz aqui, Dixon?
- Não vai me cumprimentar? Perguntar como estou ou o que tenho feito?
- Apesar de você não ter sido convidado, bem-vindo ao meu lar - não fez questão de mostrar seu mau humor. - Pelo que vejo você está bem, então não vou perguntar. E estou muito cansado para ouvir histórias então também não vou perguntar o que você tem feito.
Dixon levantou-se pacientemente.
- Tudo bem, já estou acostumado com esse seu jeito... Displicente. Você sempre esteve ocupado demais para ouvir qualquer coisa que eu tivesse a dizer.
Owen deu de ombros encaminhando-se para a suíte e vendo Dixon segui-lo.
- Só gostaria de saber por que trocou de número e não me avisou?
- Não troquei de número. Perdi meu celular.
Dixon arregalou os olhos.
- Para variar, não é?! Mas perdeu em Vitoria ou em Nova Deli?
Owen suspirou irritado.
- Anda me seguindo? Isso é muito estranho...
- Talvez eu seja um psicopata - respondeu enquanto o via passar em direção a porta.
- Ou talvez você seja o tipo de pessoa que não tem o que fazer. Diferente de mim que sou muito ocupado como você já sabe. Então se me der licença, eu preciso trabalhar. - Owen abriu a porta para ele sair e Dixon sorriu de canto enquanto aproximava-se dele.
- Eu me preocupo com você. Se vim até aqui foi porque pensei que algo grave estivesse acontecendo. Fico feliz de saber que você está bem. Não sou seu inimigo Owen, ao contrário, sou seu amigo.
Owen fitou os olhos azuis e a expressão muito séria de Dixon.
- Eu sei disso. E você sabe que também pode contar comigo se precisar de algo.
Dixon assentiu olhando o relógio no pulso.
- Preciso de companhia para o almoço.
- Tenho muito trabalho.
- Você não para nem para comer? - perguntou exaltado e arrancando um riso divertido de Owen. - É só um almoço, vamos!
- Ok!
***
- Como se chama? - perguntou, a recepcionista do Shangri-La, vendo a jovem loira a sua frente.
- Ellis... Ellis Hill - respondeu. - Vim aqui ontem saber se o senhor Hughes havia regressado de viagem. Deixei o meu contato...
- Desculpe, mas ontem havia outra pessoa e o senhor Hughes, chegou há pouco tempo - esclareceu. - Quer deixar seu contato novamente, eu posso repassar para ele assim que o vir.
- Não, eu gostaria de falar com ele pessoalmente e o mais rápido possível.
- Posso tentar, mas ele só atende com hora marcada, senhorita Hill.
Ela suspirou.
- Por favor, é algo muito importante - suplicou com os olhos marejados.
A recepcionista percebeu o ar nervoso e ansioso da jovem.
- Vou ver o que posso fazer. Um minuto, por favor.
Ellis assentiu vendo a mulher se afastar com o telefone em mãos.
Depois que contou a sua amiga e diretora do museu o que estava acontecendo ela lhe aconselhou a ir em busca de Owen. Saiu de Vitoria no início da semana e estava hospedada em um hotel simples na entrada da cidade. Chegou ao Shangri-La e foi informada que Owen estava viajando a negócios, voltava aquela mesma semana, mas não sabiam lhe informar qual o dia, assim suas idas e vindas ao luxuoso hotel tornaram-se corriqueiras durante aquela semana.
Douglas não sabia de sua gravidez, aliás, ninguém de sua família sabia, primeiro queria conversar com Owen, saber o que ele pensava sobre aquilo, se estava disposto a ser pai... Ellis bufou, se sentia uma idiota, ele tinha que querer, era responsabilidade dele também. E se Owen pedisse para ela fazer um aborto? Seria uma grande decepção.
- Desculpe, senhorita Hill, mas ninguém atende na suíte do senhor Hughes. Deve estar ocupado.
Ellis mordeu o lábio inferior nervosamente.
- Se quiser pode esperar - sugeriu a recepcionista consternada com a expressão preocupada dela. - Posso ligar novamente daqui alguns minutos.
Ellis assentiu.
- Obrigada!
Dirigiu-se ao luxuoso ambiente onde algumas pessoas liam jornais e bebericavam café. Do lado de fora o sol do meio dia transmitia um calor nada atraente, mas o frescor do ar condicionado do hotel amenizava os impactos daquela primavera já com ares de verão.
Massageou as têmporas, estava tão cansada. Toda aquela tensão, medo e incertezas estavam acabando com os seus nervos. Relaxou na poltrona macia. Fecharia os olhos por alguns minutos.
***
- Senhor Hughes! - chamou a recepcionista ao vê-lo sair do elevador. - Senhor Hughes!
Owen virou-se e viu Susana acenar para ele. Dirigiu-se ao balcão.
- Tem uma moça esperando pelo senhor na sala da recepção.
- Disse sobre o que é o assunto?
- Não.
- Peça o nome e o telefone e repasse a secretária da administração. Peça que marque uma hora para a próxima semana.
- Senhor, ela parecia ter urgência em lhe falar. Está bem preocupada e já vem aqui há uma semana lhe procurar.
Owen franziu o cenho, virou-se e não viu ninguém conhecido.
- Qual delas?
- Ela está na poltrona de costas para cá.
- Disse como se chama?
- Senhorita Ellis Hill.