Chegaram a casa e foram recebidos com entusiasmo e surpresa. A sogra a abraçou com uma alegria e emoção que nunca vira antes em uma mãe recebendo uma nora. Muito diferente das suas últimas sogras. O pai de Owen, o senhor Herbert Hughes, também a recebeu calorosamente.
- Pensei que fossemos conhecer você na maternidade - brincou ele.
- Não estou tão longe de casa, pai. Claro que em nove meses eu conseguiria vir aqui ou vocês poderiam ir nos visitar.
- A nossa casa está aberta para vocês - afirmou Ellis, simpática.
O irmão se aproximou.
- Ellis esse é meu irmão, Liam.
- Que cunhada bonita você me deu, Owen! - elogiou deixando-a corada e fazendo todos rirem. - Esse bebê vai ser um sucesso com tanta beleza envolvida. Seja bem-vinda a família Hughes, Ellis. Ficamos muito felizes quando soubemos que Owen seria pai.
- Foi uma grande surpresa - emendou a sogra.
- Mas uma surpresa muito boa - garantiu o pai de Owen colocando a mão no ombro do filho. Era inegável que ele estava orgulhoso.
Apesar de estar adorando ser o centro das atenções e estar sendo muito bem recebida, se sentia desconfortável. Não que não houvesse sinceridade nas boas-vindas da família Hughes, dava para perceber que estavam de fato felizes por eles, porém havia algo estranho acontecendo, mas não sabia dizer o quê. Os olhares que direcionaram a ela e a Owen eram cheios de palavras não ditas e sentiu a garganta secar de repente.
Fitou Owen que lhe sorriu daquele jeito amável que trazia segurança a seu coração. Pôs uma mão nas costas dela e Ellis devolveu o sorriso se sentindo bem novamente.
A tarde conversava com Madison, esposa de Liam que contava a ela sobre como fora as suas duas gravidezes. As crianças brincavam em frente à casa enquanto Owen e Liam, mais afastados e relaxados em uma mesa de jardim, também trocavam algumas palavras.
Liam era alto e esguio, diferente de Owen que apesar de alto também, tinha o corpo forte e torneado. A diferença de idade entre eles não deveria ser muito grande, Owen estava no auge dos seus vinte e oito anos, então talvez Liam tivesse entre trinta e trinta e cinco.
- Está me ouvindo, Ellis? - perguntou Madison quando o olhar dela pareceu distante.
- Claro! - respondeu de imediato. - Estou sim!
A afirmação insegura fez Madison sorrir cúmplice.
- Oh! Desculpe, eu não estava. Me perdi analisando como eles são diferentes um do outro e me perguntando quantos anos de diferença eles têm?
Madison sorriu.
- Liam é cinco anos mais velho que Owen. Fez trinta e três há alguns meses. E sim, eles são diferentes, mas os dois são muito unidos. Liam sempre tenta passar isso para os nossos filhos também.
Ellis assentiu vendo as duas lindas crianças brincando e já imaginando como seria quando o seu chegasse.
- Você vai se divertir muito Ellis - disse a cunhada. - Crianças fazem os nossos dias muito divertidos.
Ellis assentiu sorrindo a agora mais ansiosa. Enquanto isso Liam e Owen conversavam sobre Dixon Miller.
- Ele me ligou ontem à noite!
- O quê? Para quê? - questionou Owen ao irmão.
- Disse que você estava com problemas, que precisava de ajuda, de alguém para conversar e fazê-lo ver a realidade. Eu acho que ele pensa que você surtou.
Owen bufou irritado.
- Ele continua te perseguindo? - perguntou, Liam.
- Sim, mas a cada vez que o encontro faço questão de lembrá-lo, sutilmente, que quero distância dele.
- Owen, tenha cuidado! Pela forma como Dixon vem lidando com tudo não me deixa outra ideia a não ser que ele sofre de algum transtorno mais sério. No início pensei que fosse só frustração, mas pelo visto existe algo mais grave nessas atitudes dele e isso pode ser perigoso. Quer se reaproximar de você a todo custo.
- Eu sei! Assim que cheguei de viagem o encontrei na minha suíte do hotel.
- Você não os avisou?
- Não, porque não achei que ele invadiria meu quarto - justificou. - Depois que Ellis chegou só reforçou a necessidade de bloquear a entrada dele em qualquer lugar que eu esteja. Só irei atendê-lo se tiver algum assunto importante a tratar comigo e precisará marcar um horário para isso.
- Ellis não o conhece?
- Não, e nem vai. Se viram quando ela chegou ao hotel, eu estava indo almoçar com ele...
- Owen! - falou em tom de crítica.
- Liam, foi a única forma de tirá-lo do hotel, do contrário ficaria me rodeando a tarde toda - justificou-se. - Mas Ellis me salvou, ela chegou e não estava bem. Subimos para ela descansar e o deixei a ver navios. Foi a única vez que eles se viram e foi muito rápido. Acho que ela nem lembra dele.
- E tomara que ele também não se lembre dela.
- Aposto que não - disse seguro.
- Como eu disse, tenha cuidado. Ele não parece estar nada bem com essa distância e agora com a sua mudança. Não quero nem pensar o que vai dizer quando souber que você está seguindo em frente com sua vida.
- Eu já disse a ele que estava cuidando da minha vida - afirmou fitando Ellis apaixonadamente.
- Sim, mas ele não sabe o que há por trás desse "cuidando da minha vida". Não sabe sobre Ellis, não sabe que você será pai... É disso que falo, ele é uma pessoa frustrada, não é do tipo que quer ver alguém melhor que ele. Talvez fosse bom você falar sobre isso com Ellis, por segurança.
- Acha que o caso dele é tão grave assim?
- Não sei, precisaria tê-lo como paciente para avaliar, mas como a ética não permite e ele também já recusou ajuda, não posso afirmar nada sobre o doutor Dixon Miller.
- Estranho que um médico recuse tratamento. Ele acima de todas as pessoas deveria querer ficar bem.
- Justamente por ser um médico ele não aceita que esteja mal e muito menos que outra pessoa o "cure" de algo. Em minha opinião só essa atitude já é distúrbio demais.
Owen bufou.
- Ele não vai chegar perto de Ellis. Eu não vou permitir.
***
- Oh, meu Deus! Isso é incrível! - exclamou Ellis se jogando nos braços de Owen e beijando-o alegremente. - Meu amor, obrigada! Muito obrigada. É lindo!
Soltou-se dos braços dele andando pelo lugar e olhando para todos os lados.
- Gostou mesmo?
- Eu amei! Nunca tive um ateliê.
Owen sorriu feliz com a alegria dela. Havia alugado uma sala em uma galeria a duas ruas antes do apartamento deles em Vancouver. Com muitas lojas e boutiques de moda e perfumaria, o ateliê de Ellis chamaria muita atenção das mulheres vaidosas que frequentavam o local.
- Vou poder trabalhar muito aqui, pintar o quanto eu quiser - sonhou. - E em agradecimento, vou pintar o meu lindo, sensual e romântico... Pai do meu filho! Isso soa estranho...
Owen sorriu bem humorado.
- Você pode usar "namorado" - sugeriu.
- Ainda parece estranho - bufou escondendo o rosto no peito dele.
- Seremos marido e mulher, Ellis, é só uma questão de tempo.
- Eu sei! - suspirou afastando-se um pouco. - Não estou te pressionando.
- Ah, você está sim, mas um pouco de pressão é bom. Principalmente se for nos pontos certos - sussurrou ao ouvido dela.
- Vou adorar pressionar todos os seus pontos certo, mas antes vou desenhar você.
Ellis o guiou até a poltrona de veludo e sentou-se em frente ao cavalete separando algumas folhas brancas e um lápis em carvão.
- Você não vai conseguir me desenhar tão rápido, tenho que estar no Shangri-La daqui a quinze minutos.
- Fique quieto e mantenha o rosto erguido - ordenou.
- Sim, senhora.
Owen observava os olhos atentos de Ellis, os cabelos loiros presos no alto da cabeça com duas pequenas mechas soltas quase a frente dos olhos davam-lhe um ar jovial, mas também muito sexy. Os lábios pequenos entreabertos e os movimentos detalhados prendiam a atenção dele como ninguém jamais conseguiu. Estava tão feliz com ela ao seu lado, nunca poderia imaginar que um fim de semana se multiplicaria em meses e agora esperava que em anos, dessa vez, para sempre.
- Pare de sorrir! - reclamou ela o fazendo rir mais e levantar-se indo em sua direção. A ergueu para os seus braços e a beijou profundamente.
- Não consigo parar de sorrir quando estou perto de você ou quando penso em você. Ellis, você é minha alegria.
- E você a nossa! - afirmou colocando a mão dele em seu ventre.
Owen sorriu novamente e depois de receber um beijo se foi. Ela voltou ao seu desenho, só tinha conseguido delinear os olhos e muito mal. Teria que levar para casa e fazer lá quando Owen tivesse tempo, só usava fotografias de pessoas em último caso, gostava da emoção de pintar tendo o olho no olho de seus modelos.
- Está ficando bonito!
Ellis pulou da cadeira assustada com a voz a suas costas.
- Quem é você?
O estranho sorriu de canto.
- Me chamo, Miller - respondeu. - Dixon Miller.