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James é o mais velho dos filhos, e com um enorme peso em seus ombros. Ele tenta ser o filho perfeito, o príncipe perfeito, mas no fundo sabe que esse não é ele. É só quando vai para a faculdade, que se vê livre e capaz de ser quem ele quiser, que James decide mudar radicalmente, tentando mostrar para os outros um lado inconsequente, um lado que não se importa com as regras. E é quando ele conhece Ashley, uma menina determinada que o faz perceber os erros que está cometendo.
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James tinha dezoito anos quando enfim pode ter alguma educação fora do palácio. Seu pai não era tão rígido em relação a certas coisas, de modo que, permitia que James viajasse e até mesmo saísse com seus amigos uma vez ou outra. Mas em relação a educação, o rei sempre havia dito que um príncipe herdeiro deve estudar dentro do palácio. Afinal, não existia educação melhor.
Mas bastou um único argumento de James para que o rei permitisse que ele assistisse algumas aulas na universidade: como ele saberia qual é o tipo de educação de seus súditos, se nunca permitiram que ele se juntasse ao povo? Como ele poderia governar justamente se não tivesse um gostinho do que os plebeus viviam?
E foi assim que o rei permitiu que James assistisse aulas relacionadas a ciências políticas na faculdade, desde que continuasse estudando no palácio e fazendo seu trabalho.
Tudo isso não passava de uma mentira para que ele pudesse se divertir com outros meninos de sua idade. Para que ele tivesse um gostinho da liberdade, por menor que fosse.
Acontece que James era muito bom com as palavras. Ele tinha quase que um dom, de encantar todos a sua volta. Não ia negar que sua aparência, com os cabelos loiros, olhos verdes brilhantes e o sorriso torto, ajudava. Mas era o modo como James se dirigia as pessoas, um modo que as faziam se sentir especial, por ter um momento ao lado do príncipe.
E durante dois anos, James aproveitou tudo que a universidade poderia dar a ele, tudo que ele podia conquistar. Noites nos bares com happy hour, eventos esportivos, festas de fraternidade... James não perdia nenhuma. Não era exagero dizer que ele era o cara mais popular do campus. Não só por ser um príncipe, mas sim porque todos gostavam de seu charme. Suas piadas, suas brincadeiras e as festas que ele dava secretamente em um bar da faculdade eram apenas alguns dos motivos.
E tudo havia melhorado ainda mais quando seu irmão, Benjamin, entrou na faculdade também. Os dois eram inseparáveis, como uma dupla implacável. Era impossível ver um sem o outro.
Tudo isso mudou em uma só noite.
James e Benjamin haviam reunido um grupo de meninos para pichar um grande mural na frente do prédio de ciências. Havia um professor, junto com os seus alunos mais dedicados, que viviam implicando com eles. Sempre arrumando problemas para o seu lado, colocando a culpa de tudo o que acontecia neles, não que eles não tivessem feito todas as coisas das quais estavam sendo acusados, mas em geral, eles sempre conseguiam se livrar dos problemas. E James havia chego em seu limite, ia se vingar, nem que fosse a última coisa que fizesse. Além do mural, tinham preparado uma surpresinha, com uma bomba de tinta, para os alunos particularmente desagradáveis.
Estavam na calada da noite, e James se arrumava no seu quarto na faculdade, quando ouviu uma batida na porta e ela abrindo logo em seguida.
Ben estava parado ao lado de Gui, um amigo em comum dos dois, e eles olhavam para James como se ele tivesse perdido completamente a cabeça.
- O que você está usando? - Ben perguntou, o olhando de cima a baixo.
James usava uma calça preta, e uma blusa de lã da mesma cor, que tinha mangas longas e gola alta. Para combinar com seu conjunto, ele tinha botas, luvas e um gorro. Também segurava uma máscara, mas parecia ponderar se ia colocar ou não.
- O que vocês estão usando? - James retrucou, apontando para a roupa normal dos dois. - Estamos prestes a cometer um ato de vandalismo.
- Ah! Que alívio! - Gui retrucou, abrindo um sorriso. - Por um segundo achei que você estivesse indo roubar um banco.
- Podem rir a vontade. - O mais velho disse, ao ver os dois trocando risadas. - Quero só ver quem vai estar rindo mais se vocês forem reconhecidos, e eu não.
- Já pensou que isso pode chamar mais atenção do que roupas normais? - Benjamin perguntou, erguendo uma só sobrancelha. - Se alguém nos vir perambulando pelo campus a essa hora, não vai achar nada demais. Porém, se alguém te vir, podem ser que acabem chamando a polícia.
- Pode ser que eu não tenha pensado nisso direito. - James retrucou, jogando a máscara longe e se livrando do gorro. - Mas ainda acho melhor ir todo de preto.
- Meu irmão, senhoras e senhores, o próximo rei de Libertas: o cara que não pensa em todas as etapas. - Ben falou em um tom irônico, enquanto James franzia o nariz.
- Se meu governo der errado, sempre existem mais nove irmãos para dar o golpe e tomar o meu trono.
- Eu não consideraria nove. Liam só tem seis anos.
- Não sei se você já viu bebês e crianças em algum momento da sua vida, Benjamin, mas eles crescem.
- Eu sei disso. Mas quando ele for maior de idade, você já pode ter assumido há muito tempo, terá muito mais experiência que ele.
- Isso é muito mórbido, considerando que para isso, nosso pai deveria estar morto.
- Bem, se o modelo já terminou de se vestir, nós podemos ir? - Gui perguntou, erguendo suas sobrancelhas na direção de James.
- Está bem! Estou pronto.
Os três saíram em conjunto na calada da noite. Se encontraram com o resto dos seguidores de James, ou pelo menos era assim que Benjamin os chamava, no térreo do dormitório oeste. O pequeno grupo andou pelo campus da faculdade conversando em sussurros, trocando confidências e rindo. Assim que chegaram na frente do prédio de ciências, todos eles pararam.
O plano ia ser simples, primeiro iam pichar um mural, com a ajuda de Jake, que tinha uma grande habilidade para grafitar. Depois iam colocar bombas de tintas, que eles haviam preparado previamente nas salas de aula, de modo que quando entrassem, tudo ia explodir, com jatos de tinta voando para todos os lados.
Exceto que, sentada nos degraus da entrada do prédio, estava Ashley. James nunca tinha sido apresentado oficialmente a ela, só sabia o nome dela porque a menina era irmã de uma das amigas de Charlie. Uma das filhas mais nova do barão Lester. E apesar dela ter aquela postura que somente os nobres tinham, a garota era deplorável, só usava roupas velhas e surradas. James nunca a via com ninguém, sempre sozinha, sempre pelos cantos, acompanhada de seus livros. Ela era definitivamente estranha.
- Oh! Parece que temos companhia. - Benjamin falou, depois de dar um assobio baixinho.
- Eu vou lá, faço com o que ela saia. - James falou, abrindo um sorriso que todos consideravam charmosos.
- Cuidado meninos, James vai jogar seu charme, protejam seus olhos e ouvidos para não sejam atingidos sem querer. - Gui comentou, fazendo com que todos rissem, enquanto James caminhava até Ashley.
A menina estava sentava no degrau, apoiada na porta, e tinha um livro tampando o seu rosto. Ela estava tão concentrada na leitura, que mal viu James se aproximar, o que o impressionou. Por um minuto ele pensou que eles poderiam começar a fazer o mural, estourar a bomba na cara dela e gritar seu nome repetidamente, que ela não desviaria seu olhar do livro.
- Oi, linda. - James falou, e percebendo que Ashley nem se dignou a olha-lo. - Queridinha.
- Não me chame assim. - Ashley falou, sem parar de ler.
- Tudo bem, como você quiser, Ashley. - James falou, estalando a língua, enquanto ouvia seus amigos rirem as suas costas. - Escute, eu sei que você está muito ocupada, lendo, obviamente.
- Obviamente. - Ela repetiu de um jeito debochado.
De alguma forma, a confiança de James foi abalada. Ele teve que tossir algumas vezes para disfarçar o som de desconforto que irrompeu de sua garganta. A garota nem se prestava a olhar para ele, agia como se ele fosse inferior, ou como se não fosse digno de sua atenção, e isso nunca tinha acontecido com James antes.
- É só que você está no nosso caminho, e eu não queria te incomodar, mas...
- Então não incomode.
- Você pode ler em qualquer outro lugar.
- E eu tenho certeza que você pode fazer esse seu showzinho em qualquer outro lugar também. - Ashley falou, finalmente abaixando o livro.
James ficou surpreso quando finalmente pôs os olhos nela. Sempre a via de longe, com o nariz enfiado nos livros, sempre nas sombras. Nunca a tinha visto de tão perto e de forma tão clara. Ela se parecia com sua irmã, a Lily, que era amiga de Charlie. Exceto que ela conseguia ser mais bonita. Seus cabelos, castanhos avermelhados, caiam em cachos por volta de seu rosto redondo. Ela tinha olhos azuis esverdeados. Suas feições eram delicadas, mas sua expressão era de pura determinação.
- Meu showzinho? - James perguntou, abrindo seu sorriso novamente e recobrando sua confiança. - Não sou eu que passo minha vida coberta de trapos e escondido atrás de livros para que ninguém descubra que eu sou da nobreza.
Ele conseguia ouvir as risadas de seus amigos ao longe. Tinha certeza que eles não ouviam o que os dois estavam conversando, mas isso não os impedia de fazer piadas e brincar entre eles. Ashley lançou um olhar para os amigos de James, antes de se voltar para o príncipe, e se levantar, claramente irritada.
- Ei, espere, eu não quis te ofender. - James falou, colocando sua mão na dela, e inclinando a cabeça para o lado, de um jeito inocente. - Eu acho muito audacioso o modo como você se porta, e só falei aquilo porque queria o espaço. Veja só, eu e meus amigos somos artistas frustrados, que precisamos colocar para fora o que sentimos.
Ela estreitou os olhos na direção dele, antes de abrir um sorriso irônico.
- Tenho certeza que esses seus discursos devem funcionar com seus... seguidores. - Ela disse essa ultima palavra com certo desprezo na voz. - Mas não funcionam comigo. Se acha que eu estou irritada pelo o que você disse, pense de novo. Talvez o que você não esteja enxergando seja que esse show todo que você monta e atua tão bem, só sirva para uma plateia.
Ela puxou sua mão de volta, se desviando do príncipe e passando dele para ir embora. James deu meia volta, acompanhando ela com o olhar.
- O que você quer dizer com isso? - Ele perguntou, antes que ela ficasse distante demais.
- Que você age como esse grande babaca, disfarçado de príncipe encantado. Você diverte seus amigos com essas suas brincadeiras, e todos riem sem se preocupar com o dia de amanhã. - Ela falou, se virando para ele, e dando passos para trás. - Só que um dia, eles vão embora, e só vão sobrar seus súditos. E você estará sentado em um grande trono, e usando uma grande coroa reluzente, e verá que depois de tudo que aprontou, você não passa de mais um tolo. O rei de todos os tolos.
- Eu não sou um tolo. - James disse. - E não tem nada errado em se divertir um pouco.
- Não, se vocês não tivessem planejando explodir tintas no meio das aulas e atrapalhar os outros. - Ela arqueou as sobrancelhas, abrindo um sorriso. - Mas por favor, continuem, eu não queria atrapalhar o príncipe dos tolos.
- Quem disse que vamos explodir tinta nas aulas?
- E não vão? Pensei que fosse essa a sua ideia brilhante, mas realmente espero que você tenha tido uma ideia melhor. Por favor, eu o desafio.
Ashley foi embora, e James permaneceu observando enquanto ela se afastava. Não conseguia deixar de achar a menina metida, arrogante, e simplesmente estranha. Exceto que ele também não conseguia deixar de pensar, que aquela era a primeira pessoa, fora de sua família, que o tinha desafiado de alguma forma.
- E aí? O que vocês tanto conversaram? - Gui perguntou, se aproximando de James.
- Ela me chamou de rei dos tolos. - James falou, com um sorriso travesso surgindo em seu rosto. - E me deu uma grande ideia. Mudança de planos, pessoal.