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Um mês inteiro havia se passado, e James sentia-se cada vez mais estúpido. Lá estava ele, sentado no dormitório de seu irmão na faculdade, encarando o nada com Benjamin ao seu lado, e tudo parecia errado.
No aniversário de seus irmãos, ele dançou com Ashley, disse que ela estava linda, e sentiu como se tivesse saído de um sonho. Mas durou exatamente uma noite. Porque ela decidiu ir embora com seu pai, e assim que saiu, James sentiu todo o seu corpo gelar. Era o medo falando com ele, medo de não corresponder as expectativas de Ashley. "Seu show só funciona para uma plateia", a voz dela ecoava na cabeça dele.
Ele sabia que estava sendo estúpido. Esteve fugindo dela durante um mês inteiro. Não a ignorava, mas também não trocava mais que três palavras por vez, antes de correr na direção contrária. A menina devia estar confusa, ou com raiva. Provavelmente a segunda opção, considerando que se tratava de Ashley. Mas James não conseguia evitar. Porque não sabia o que dizer a ela, não sabia como agir. Não sabia se deveria continuar com o teatro do cara babaca, ou do príncipe perfeito. Não sabia o que ela esperava dele.
James estava nesse teatro fazia muito tempo. Tentava mostrar ao seu pai que não podia corresponder as expectativas dele, por isso, correspondia as expectativas de seus amigos e colegas. Mas para os outros nobres, tentava ser o mais perfeito possível. Mas ele já não conseguia diferenciar quais partes eram realmente ele e quais eram encenações. Não sabia se, finalmente desarmasse o teatro, Ashley gostaria dele.
A porta do dormitório foi aberta, e Gui o invadiu, parando abruptamente ao olhar de Benjamin para James.
- Eu vim chama-los, está tendo uma festa na quadra de futebol. - Gui disse, tentando manter sua voz neutra.
- Não sinto vontade de sair. - Ben respondeu, sem olhar para o Gui.
- Nem eu. - James falou, com um suspiro saindo de seus lábios. - Na verdade, eu nem deveria estar aqui. Meu pai só deixou eu ficar porque acha que estou fazendo um trabalho.
- Então vamos aproveitar esse momento, e vamos a festa! - Gui exclamou, se aproximando dos dois.
- Acho melhor eu continuar aqui.
- E definhar até a morte? Qual é o problema de vocês dois?
- Você sabe qual é o meu problema. - Benjamin retrucou, cruzando os braços. - Eu fui enganado, na frente de todos.
- E você? - Gui se virou para James. - Vai dizer que ele simplesmente te contagiou com a tristeza dele?
- Algo do tipo. - James murmurou, dando de ombros.
- Já chega! - Gui falou, alto demais. - Vocês dois não vão ficar aqui, vão se levantar e se divertir. Isso já está ficando patético!
- Como mais você chamaria um príncipe que foi enganado por uma menina, e levou um soco de seu namorado, e outro que, em plenos vinte anos, a caminho de ser o futuro rei, foi posto de castigo pelo pai? - Benjamin perguntou, finalmente virando os olhos azuis cristalinos para Gui.
- Eu chamaria de infortúnios, que acontecem na vida de todos. - Ele falou, fazendo gestos exasperados. - Mas você não vê os outros desistirem de viver a vida por causa disso! Eu, como amigo dos dois, me recuso a deixa-los aqui.
- Eu poderia chamar os guardas para expulsa-lo. - James falou, virando a cabeça para o irmão.
- Isso seria legal. - Ben respondeu, abrindo um meio sorriso.
Gui simplesmente revirou os olhos. Já tinha passado tempo o suficiente com os dois para não se incomodar com ameaças do tipo. Também sabia que não seria penalizado quando, após perder a paciência, foi ao banheiro, encheu um balde de água e voltou para jogar nos dois.
- Pronto. - Gui falou, depois deles terem o praguejado, amaldiçoado e xingado. - Agora, mesmo se não quiserem ir, vão ter um motivo para se levantarem.
Demorou certo tempo para conseguir ajeitar os dois decentemente, e arrasta-los para a festa. James conseguia ouvir a música tocando assim que eles saíram do prédio. Conseguia ouvir as risadas e o falatório, e sentiu-se cada vez mais desanimado. Isso foi até chegar ao campo. De um lado, haviam mesas montadas para brincadeiras, como beer pong, bares, e uma mesa com aperitivos. Do outro lado, havia uma enorme aparelhagem de som, com um DJ. Os jovens dançavam na frente dele, conforme a música, que explodia das caixas de som.
E foi quando James a avistou.
Parecia exatamente como a primeira vez que ele a tinha visto, e ao mesmo tempo, não tinha nada a ver. Ashley usava um vestido justo ao corpo, e curto. Muito curto. Deixando a amostra suas pernas longas. E o vestido tinha um decote enorme. Aquilo estava chamando atenção de todos os caras ao redor dela, e isso trazia uma pontada de ciúmes em James. Ela dançava ao ritmo da música, com um sorriso em seu rosto. Seus cachos ruivos balançavam suavemente de acordo com seus movimentos, e os olhos azuis brilhavam.
Ele sentiu uma grande vontade de ir na direção dela e beija-la. Céus, como ele queria sentir aqueles lábios nos dele. E parecia uma grande bobagem ele não poder fazer. Por que ele não a tinha beijado antes? Não fazia o menor sentido.
- Ela está aqui. - Ele ouviu o irmão dizer.
- Eu sei. - James falou.
Então ele balançou a cabeça. Não poderiam estar falando da mesma pessoa. James não havia contado a ninguém seu recente interesse em Ashley. Ele se voltou a Benjamin, e acompanhou o olhar dele para uma menina ao longe. Tinha uma pele negra, cabelos encaracolados, e dançava colada a um cara, provavelmente o namorado dela. A menina era muito bonita, James não podia negar.
Ele voltou seu olhar a Benjamin, que parecia cada vez mais desolado.
- Vem, vamos pegar uma bebida. - James falou, levando o irmão na direção do bar, para longe da pista de dança.
- Sabe do que você precisa? - Gui perguntou, os seguindo de perto.
- Minha dignidade de volta? - Benjamin perguntou, enquanto deixava o irmão pedir três cervejas para eles.
- Uma garota nova.
- Benjamin não vai ficar com outra garota só para esquecer essa. - James falou, se virando para eles com os copos na mão.
- Por que diz isso? - Benjamin perguntou, na defensiva.
- Você é mais do tipo romântico. - James deu de ombros. - Acho que nunca te vi beijar uma garota que não conhecesse e gostasse. Você sempre gosta de corteja-las antes. Mesmo que não namorem, você gosta de ter uma história por trás.
- E olhe aonde isso me levou. - Benjamin murmurou. - Mas você tem razão. Outra garota não vai me fazer ficar melhor.
- Então tente achar outra garota que goste. - Gui disse, como se fosse a coisa mais simples do mundo. - Pelo menos converse com uma delas, tente algo. Você é um príncipe. Metade das garotas aqui estão interessadas em você. A outra metade está interessada em James.
- Não seja tão dramático. - James comentou, revirando os olhos. - Nem todas as garotas estão interessadas na gente.
- Vamos recapitular. - Gui falou, levantando três dedos. - Vocês são bonitos, com olhos claros, ombros largos, musculosos, o que por sinal, eu nunca entendi porquê vocês malham, deveriam pelo menos dar uma chance ao resto de nós, e têm esse sorriso sedutor também... enfim. - Ele abaixou um dos dedos. - São ricos. - Ele abaixou o segundo dedo. - E tem aquele pequeno detalhe de serem da realeza.
- Bem, eu conheço uma pessoa que não está interessada em nenhuma dessas coisas. - Benjamin falou, fazendo um gesto de cabeça na direção de algo atrás de James.
O primogénito se virou para encontrar Ashley, a poucos metros dele, flertando com outro cara. Era visível no modo como se portava. Os dois estavam sentados em um banco, e a menina se inclinava na direção do cara, sorria e jogava o cabelo. Ás vezes, entre risadas, ela tocava em seu braço ou seu peito.
James encarou aquilo enquanto um gosto amargo penetrava a sua boca, o ciúmes parecendo espalhar por todo o seu corpo como um formigamento. Aquilo deveria ser karma, ou algo do tipo, ele pensou. Ele merecia aquilo. Havia ignorado ela, e ia perde-la. Na verdade, ele nunca a teve, e aquilo parecia doer ainda mais.
James virou todo o líquido amargo de seu copo em uma golada só.
- Acho que preciso de outro desses. - James comentou.
Ele bebeu vários daquele, mas nenhum parecia fazer efeito o suficiente, de qualquer forma. James tentou se distrair, tentou conversar com outras pessoas, ajudar seu irmão a se distrair, dançou, jogou, e bebeu mais um pouco. Mas seus olhos sempre se voltavam para Ashley. A menina continuava se inclinando na direção de outro, continuava dançando com outro, e rindo com outro.
Aquilo parecia ser demais para ele suportar. Ou fora isso que o príncipe pensou, ao menos. Mas ele continuou suportando, a observando de longe, enquanto ela se divertia com outro. Um nó se formava em sua garganta, e seu peito pareceu muito pesado de repente. O tempo passou, a noite finalmente havia chego, e foi quando, por um segundo de distração, Ashley sumiu de sua vista. Ele girou, a procurando com o olhar, mas não a encontrou em lugar algum.
James saiu de perto de seu irmão, sem dizer nada, e foi em direção ao banheiro. Talvez ela só tivesse ido até lá.
Antes de chegar ao banheiro, ele passou pelo canto mais escuro da festa, aonde os casais vão para se beijar, e foi ali que ele a encontrou. O garoto a beijava, seus corpos colados um no outro, completamente alheios ao mundo a volta deles. James não percebeu o que estava fazendo, até já ter feito. Puxou o garoto para longe de Ashley, o acertando no nariz com tanta força que o derrubou no chão. Pessoas exclamaram ao redor deles, e quando o príncipe se virou, Ashley o encarava furiosamente.
- O que você pensa que está fazendo? - Ela perguntou.
- Vamos conversar em outro lugar. - Ele respondeu, ao ver vários olhares nos dois.
James a puxou para longe dali. Passando direto pela festa, até o prédio mais próximo que estava aberto. Ele nem sabia ao certo aonde eles haviam entrado, mas não tinha importância, desde que estivessem sozinhos. O lado de dentro do prédio estava escuro, de modo que a única iluminação vinha das luzes do lado de fora pelos vidros da porta. E era o suficiente para ver o olhar fuzilante da garota.
Ela estava furiosa. Era possível ver isso em seus ombros tensos e no bico que se formava em seu rosto. Mas James provavelmente estava mais. Não fazia parte de sua personalidade sair por aí distribuindo socos, mas céus, vê-la beijando outro o deixou assim.
- Você estava beijando outro. - Ele falou, como se aquilo explicasse tudo.
- Isso não é motivo para você afastá-lo de mim e quebrar seu nariz! - Ela gritou na direção de James. - Céus! Você perdeu completamente o juízo.
- Sim! Eu perdi! - James gritou de volta. - Passei o dia inteiro vendo vocês dois rindo, dançando e se acariciando! Aquele beijo foi demais para mim!
- Isso não é da sua conta, James! Eu fico com quem eu quiser, você não é meu namorado!
- Não, não sou. - Ele respondeu, com a voz mais baixa, ficando sem argumentos. - Mas é que...
- Mas o que, James? Porque eu não sei o que você quer de mim! Você me enlouqueceu com aquelas brincadeiras, depois me chama para um baile! Foi gentil, dançou comigo, e quase nos beijamos, mas então você decide me ignorar! Durante um mês! Agora vem aqui, como se tivesse algum direito sobre mim? Eu sinceramente não sei o que você quer de mim, porque eu juro, James que...
Ela não completou as palavras. Porque James já tinha pressionado seus lábios contra os dela, tinha a empurrado contra a parede, colando o corpo dele no dela. E aquilo era melhor do que qualquer coisa que ele já havia fantasiado antes. Ela o beijava avidamente, como se não houvesse nada que ela desejasse mais no mundo que aquele momento. Era um beijo rápido, quente, faminto. As mãos dele encontravam as curvas do corpo dela, passando lentamente, até pararem em seus quadris.
Ele sentia como se tivesse pegando fogo, como se pudesse entrar em combustão a qualquer momento, sentia seu coração batendo tão forte, que parecia impossível que ele ainda estivesse em seu peito.
E principalmente, sentia uma grande necessidade de nunca mais acabar com aquele beijo.
Ashley afastou seu rosto somente um pouco, enquanto arfava por conta dos beijos que a haviam deixado sem ar. Aquilo enlouqueceu James ainda mais, que a beijou pelo pescoço, enquanto a menina tentava procurar as palavras que queria dizer.
- Eu ainda não sei... O que você quer de mim, James? - Ela perguntou, sua voz saindo trêmula.
- Eu quero você, Ashley. - James falou, enquanto subia os beijos de seu pescoço até sua bochecha. - Só você. - Ele se aproximou o máximo possível de sua boca, roçando seus lábios de leve nos dela. - Desculpa por não ter admitido isso antes, estava com medo.
- De que?
- Das suas palavras. "Seu teatro só funciona para uma plateia." Fiquei com medo de que... - A voz dele falhou, enquanto ele soltava um longo suspiro. - De que você tivesse gostado somente do príncipe perfeito que conheceu naquele dia do baile, ou do babaca que sou na faculdade. Fiquei com medo de que quando eu finalmente acabasse com esse espetáculo... você não iria me querer mais.
- Eu quero você, James. Sei que não é perfeito, tão pouco que é um idiota. Sei que é gentil, engraçado, que se preocupa com os outros.... É esse James que eu quero.
- Acho que posso ser esse James. - Ele falou, um sorriso surgindo em seu rosto.
- Só promete que não vai fazer isso de novo. - A voz de Ashley parecia um pouco triste. - Eu gosto de você, James, e não quero ser ignorada novamente.
- Eu te prometo, que nunca mais vou sair do seu lado. Porque eu também gosto muito de você. Você me deixa... Quando eu estou com você, eu... Ashley, você...
Ela abriu a boca para perguntar algo, confusa com a falta de jeito dele, e antes que ela pudesse dizer mais alguma coisa, ele a beijou novamente. Não foi como o último beijo, que era faminto, desesperado. Esse foi delicado, e parecia querer transmitir todos os sentimentos que James não conseguiu colocar em palavras.