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"Conheci toda a família Hampton hoje, e devo dizer, eles são surpreendentemente parecidos. Todos eles! A maioria tem traços iguais, cabelos escuros e olhos verdes. Quero dizer, obviamente você consegue diferencia-los depois de passar algum tempo com eles. Por exemplo: James é o único dos meninos que tem cabelos loiros, e creio que por ser o mais velho, também é o mais recatado é responsável. E Benjamin tem olhos azuis cristalinos e sonhadores, além de ser levemente mais alto que os demais. Mas a diferença é tão pouca que ninguém repararia a primeira vista.
Eles todos são muito engraçados, e adoráveis, na realidade. Creio que não tenha conhecido ninguém na realeza com tanta presença de espírito. Tenho certeza que você vai amá-los tanto quanto eu."
- Trecho da carta de Harriet para Hannah, logo após o jantar na casa dos Hamptons.
Benjamin não poderia estar mais errado ao dizer que era só uma atração. Tá bem, eles conversaram muito pouco no jantar, e o príncipe tinha toda a intenção de seguir com o que disse para seus irmãos. Ia manter-se afastado, na esperança dessa atração sumir. Mas provavelmente o universo estava conspirando para que ele engolisse suas palavras.
No meio da noite, enquanto Ben não conseguia dormir por ter Hannah invadindo seus pensamentos, ele decidiu se levantar e dar uma caminhada. Soltando um suspiro, ele roubou o roupão de Mason, já que costumava usar somente roupas íntimas na hora de dormir, um hábito que adquiriu quando foi morar sozinho.
Ele saiu de seu quarto, andando pelas escuridões dos corredores, ficando um pouco perdido. Teve que se esforçar para se lembrar para qual lado ficava a varanda que ele tinha visto assim que chegaram a propriedade. Olhando ao seu redor, Ben decidiu virar à direita, e ficou feliz ao ver que seu palpite estava certo, porque no final do corredor, foi só dar uma olhada para a esquerda para encontrar as enormes portas de vidro que davam na varanda do terceiro andar.
Ben se enrolou ainda mais no roupão antes de sair do aconchego da casa. Não que do lado de fora estivesse muito frio, Aston era bem quente comparado a Libertas, mas por ser o meio da madrugada e a propriedade ficar no topo de uma colina, rodeada por florestas, Ben sabia que encontraria uma certa ventania do lado de fora.
Assim que ele se apoiou no parapeito e olhou para baixo, conseguiu enfim relaxar. Dali de cima era possível ver uma vila de Aston. E era uma paisagem impressionante, o que fez Benjamin se distrair de seus pensamentos. Eles foram levados a outro lugar, pensando que talvez a família real devesse ter construído seu castelo aqui em cima, ou em alguma colina mais perto da fronteira com o oceano. Era perfeito para se houvesse uma invasão. Benjamin já conseguia enxergar as estratégias de defesa que poderiam ser arranjadas.
Ele soltou um suspiro. As vezes odiava entender tanto de guerra, quando ele só queria paz. Mas seu pai sempre dizia que você pode almejar a paz, mas nunca pode menosprezar a guerra. E ele tem razão. Por mais que você espere que as coisas fiquem tranquilas, nunca depende só de você, e é impossível controlar os passos dos outros.
- É uma vista impressionante, não? - Uma voz perguntou, vindo da porta e dando um susto em Benjamin.
Ele pulou, e se afastou do guarda-corpo imediatamente. Depois se amaldiçoou. Deveria ser mais atento que isso, deveria ter ouvido os barulhos de passos... Certamente não estava agindo como si mesmo naquele dia.
- Sinto muito, não queria assusta-lo. - Hannah murmurou baixinho, se aproximando dele.
- Eu só não esperava encontrar ninguém aqui. - Ben retrucou, percebendo tarde demais como aquilo havia soado rude.
- Se quiser eu vou embora. - Ela respondeu, recuando algum passos.
- Não! - Sua voz saiu alta demais e ele se amaldiçoou.
Ele piscou, atordoado. Assim que ele a viu recuando, Benjamin acabou com a distância entre os dois, e segurou o pulso da princesa. Hannah encarava aonde ele a tocava. Benjamin sentia um formigamento, quase como uma queimação, e uma grande necessidade de acabar com os poucos centímetros de distância que restavam entre os dois. Porém ele não fez, não sabia como interpretar o rosto de Hannah, não sabia se ele havia ultrapassado algum limite. Apesar de o povo de Aston serem conhecidos por serem calorosos, e muito amigáveis, ele não pode deixar de pensar que entre alguns nobres, um toque é algo muito íntimo.
Benjamin não sabia ao certo como tinha conseguido manter a expressão neutra. Ele aproveitou aquele momento de distração dela para analisa-la de perto. Ela tinha um nariz delicado e empinado, assim como Harriet. Mas diferente dos irmãos mais velhos, Hannah tinha olhos menores, mais puxados, um rosto mais redondo também. Sua boca era mais carnuda, e parecia ser macia...
- Eu quis dizer... - Ben começou a falar, antes que fizesse uma loucura. - Eu não quero ficar sozinho, só pensei que estava... Eu não me importo de ficar sozinho... Mas adoraria uma companhia e... Droga! Está saindo tudo errado.
Ele passou suas mãos pelos cabelos pretos, em um gesto exasperado. Aquilo chamou a atenção de Hannah, que voltou seu olhar até Benjamin e sorriu. O coração dele se derreteu. Aquele era, provavelmente, o sorriso mais lindo que ele já tinha visto.
- Vossa Alteza gostaria de beber alguma coisa? - Hannah perguntou, inclinando sua cabeça. - Ou comer algo? Posso pedir para um dos criados.
- Não está todo mundo dormindo? - Ben franziu as sobrancelhas, olhando para o lado de dentro como se pudesse ver um dos empregados pular das sombras a qualquer momento.
- Lorde Perington sempre faz turnos com empregados durante as madrugadas, quando se tem convidados. Nunca se sabe quando um dos nobres vai querer algo. E aparentemente, a maioria deles é incapaz de ir até a cozinha e pegar um copo d'água sozinho.
Hannah revirou os olhos. Aquilo fez Benjamin soltar uma gargalhada, ele não pode evitar.
- A senhorita estava me oferecendo, há dois minutos atrás, para chamar um criado para fazer qualquer coisa para gente.
- Bem, admito que cozinhar não é meu forte. - Ela franziu o nariz, mas deu de ombros, parecendo não se importar de admitir aquilo. - Mas também, eu gostaria de ficar aqui, com milorde.
- Ah!
Benjamin não soube o que dizer, somente conseguiu exclamar com a surpresa. Mas obviamente aquilo foi um gesto errado, porque o divertimento que havia nos olhos de Hannah sumiram, deixando-os nebulosos.
- Eu vou embora. - Ela falou, se virando para sair.
Ben rapidamente se colocou na frente dela, em um gesto inesperado. Hannah esbarrou em seu peito e perdeu o equilíbrio momentaneamente. O príncipe colocou os braços ao redor dela para ajuda-la a recuperar o equilíbrio. Naquele momento, conseguiu sentir o cheiro dela, de rosas e... algo que não conseguia identificar. Não importava, era inebriante.
Ele teve que se forçar para solta-la e dar um passo para trás. Hannah o observava com os olhos semicerrados.
- Não precisa ir. - Ben sussurrou, inclinando sua cabeça para o lado. - Eu... Eu sou o...
- Benjamin. - Ela completou, ficando corada nas bochechas. - Eu sei.
- Como? A maioria não consegue diferenciar nenhum de nós. Sua Alteza mesmo não conseguia no jantar.
- Bem, vocês de fato se parecem muito. Os rostos são absurdamente iguais, como se fossem todos gêmeos. Mas minha irmã já tinha me falado algumas coisas. Como por exemplo, o senhor é o único com olhos azuis. Todos os outros tem olhos verdes. E também é levemente mais alto.
- Era de se esperar que isso me diferenciasse dos outros. - Ben murmurou. - Mas mesmo assim, raramente sabem quem eu sou. Nem James que é loiro, e o herdeiro, as pessoas conseguiam identificar.
- As pessoas passam muito tempo olhando para elas mesmas, por isso não percebem. - Hannah soltou um breve suspiro. - Eu acho que tenho sorte por não ter que passar por esse tipo de situação.
Seria, de fato, muito difícil confundirem Hannah com alguém, principalmente no sul de Aston, aonde a maioria da população tinha pele morena, cabelos escuros, e olhos grandes da mesma cor. Tudo nela era um contraste com o resto da população. Seus cabelos quase brancos, os olhos pequenos e dourados, sua estatura pequena e delicada, a pele clara. Era como se destacasse no meio de uma multidão. Ou talvez fosse somente Ben que pensasse aquilo. James já tinha dito para ele, mais de uma vez, que era como se Ashley se destacasse na multidão, que eu olhar sempre a encontrava, involuntariamente, era quase impossível não vê-la. Talvez fosse a mesma coisa com Hannah para Benjamin.
- Considerando que a única outra pessoa que eu conheço que tem o cabelo quase branco é o seu pai, ficaria mesmo difícil confundi-la com alguém. - Ben murmurou, o que fez Hannah abrir um sorriso.
- A cor do cabelo e da pele, são as únicas coisas que tenho dele. - Hannah disse, dando de ombros. - O resto é inteirinho da minha mãe.
- Eu não acho. Eu acho você única. - Ele fez uma pausa, vendo-a entreabrir seus lábios. - Hannah, eu...
- Hannah? - Uma voz a chamou do lado de dentro. - Hannah? Você está por aqui?
A princesa soltou um suspiro, se afastando de Benjamin e voltando-se ao corredor escuro.
- Estou aqui, Dani. - Hannah respondeu, tentando enxergar através das sombras. - Na varanda.
Uma menina morena de olhos castanhos claros apareceu na porta, lançando olhares na direção de Hannah a Benjamin.
- Oh! Não queria atrapalhar nada. - Ela murmurou.
- Não atrapalhou. - Ben disse, até porque não tinha mais nada que ele pudesse falar sem parecer rude. - Eu já estava indo me deitar, se me dão licença.
- Boa noite. - Hannah falou, o observando se afastar. - Te vejo amanhã?
Benjamin parou de andar, completamente surpreso. Ao se voltar a princesa, viu que ela tinha um largo sorriso no rosto, e ele não pode evitar, abriu um sorriso também.
- Claro.
Ao se afastar, deu graças a Deus pela intromissão. Pois estava prestes a beijar Hannah. Ela estava tão perto, seus lábios carnudos entreabertos e... ele não sabia se podia se controlar. Benjamin não conseguia deixar de pensar em como tudo era ridículo. Ele era um príncipe. Um soldado. Treinou grande parte da vida o autocontrole. Como podia deixa-lo escapar tão facilmente por somente alguns minutos sozinhos com Hannah? Aquela mulher provavelmente seria sua perdição.
Mas ele mal se importava. Quando se deitou na cama aquela noite, com o maior sorriso do mundo em seu rosto, ele fechou os olhos e sonhou com Hannah.
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- Milady, quer jogar arco e flecha? - Benjamin perguntou a Hannah, ao se aproximar dela no dia seguinte.
- Harriet está jogando. - Harriet franziu o nariz, de um modo que Ben achou adorável. - Nem em sonhos chego perto daquele estande agora.
Ele não conseguiu se conter e soltou uma risada, o que só serviu para que ganhasse um arqueio de sobrancelhas de Hannah.
- Milorde está rindo, mas jamais ganharia de Harriet. Ela nunca erra o alvo.
- E Sua Alteza? - Benjamin perguntou, sem conseguir perder o sorriso.
- O que tem eu? - Ela parecia levemente confusa, e surpresa.
Benjamim se pegou perguntando quantas pessoas deveriam tentar cortejar a Hannah com o intuito de saber mais sobre a Harriet. Muitas, provavelmente. Ainda mais considerando que alguns tinham medo da primogênita, e que Hannah parecia ser bem mais acessível.
- Como é sua habilidade em arco e flecha? Ou qualquer outro esporte, na realidade.
- Bem, na realidade, sou bem medíocre. Consigo acertar perto o suficiente do alvo, mas poderia ser melhor. - Hannah fala, franzindo o nariz novamente, um habito que repete toda vez que admite que não é boa em algo. - Não sou muito boa em esportes em geral, mas sou melhor em esportes competitivos.
- Então, milady gostaria de me acompanhar em um passeio pela propriedade? - Ele perguntou, abrindo um sorriso. - Até escolher sua atividade favorita, é claro. Então poderemos participar.
Ela pareceu hesitar, mordendo o lábio antes de abrir um sorriso.
- Claro. - Hannah deu o braço a ele, enquanto os dois caminhavam calmamente. - E milorde? Quais são as suas habilidades?
- Nenhuma física também. - Benjamin respondeu, alegremente. Adorava falar de suas funções e habilidades. - Não que eu não seja bom em nenhuma delas, mas me dou melhor com a lógica.
- Lógica? - Ela ergueu somente uma das sobrancelhas, em uma expressão pensativa, que era pouco típica entre princesas. - Então, Sua Alteza trabalha com estratégias?
- Principalmente de guerras. - Ele disse, logo após de concordar com a cabeça.
- Oh! Isso parece... brutal.
- Não é tão ruim assim, na maioria das vezes consigo terminar um conflito antes mesmo de começar.
- Entendo que seja necessário. Mas se é tão bom quanto diz, talvez suas estratégias fossem mais necessárias em outros departamentos. Como estratégias para melhorar a imagem, ou promover ações beneficentes, e até mesmo em estratégias para melhorar a educação e outros setores.
- Acredite, James e Kat são ótimos em promover imagens, Liam é mais voltado a ações beneficentes do que todos nós juntos, mesmo que ele tente esconder isso, e por incrível que pareça, os trigêmeos são os maiores responsáveis por manter a ordem nos setores de educação, saúde e cultural.
- Os trigêmeos? Sério? - Ela arregalou os olhos, antes de desvia-los dele para esconder sua surpresa. - Eu não quis soar...
- Não se preocupe. - Ben falou, tentando reprimir a gargalhada. - Eu sei que eles podem ser um pouco...
- Intrometidos? Desastrados? E Babacas? - Ela perguntou, incapaz de se conter.
- Pela ordem, eu diria que está se referindo ao Mason, Kevin e por fim, ao Eric.
- O Eric? Sério mesmo? Ontem ele parecia tão...
- Apesar da pose, o Eric gosta muito de visitar os hospitais e analisar de perto a situação, é sempre ele quem trabalha com o ministro da saúde. Ele tem ideias muito sólidas de como melhorar o sistema sem causar grandes furos no orçamento, é impressionante. Sem contar que, uma vez, eu o encontrei vestido de palhaço, para as criancinhas. O que muitos achariam adorável, claro, mas ele fez questão que ninguém soubesse.
- Então é verdade o que dizem sobre sempre nos enganarmos com a primeira impressão?
- Na maioria das vezes, eu diria que sim. - Ben falou, abrindo um sorriso e dando de ombros. - No meu caso, gosto de ser um livro aberto desde o começo.
- Eu também gosto disso. - Ela respondeu, murmurando.
Os dois se encararam por um tempo, e faíscas pareciam se soltar, somente por aquela simples troca de olhares. "Como seria se eu simplesmente a beijasse?" Benjamin pensou. Talvez, se ele se inclinasse em sua direção, ela não se afastaria. Então ele poderia ter seus lábios doces nos dele.
- Oh! Venha! Eu adoro esse jogo. - Hannah falou, abrindo um sorriso enorme e puxando Benjamin.
O gesto brusco, junto com o toque dela, fez com que Ben afastasse os pensamentos de beija-la. Não conseguiu evitar e abriu um sorriso ao ver o entusiasmo dela. Seu sorriso largo, os olhos brilhando em um tom de dourado, e a animação irradiando com ela quase dando pulinhos de felicidade.
Os dois pararam na frente de uma pequena sala provisória com uma única porta e uma bancada na frente. Estava escrito "Escape Room" em uma faixa grande acima da bancada, tinha uma pequena fila com os nobres de Aston, mas ao verem Hannah se aproximar, a deixaram ir na frente. Não era somente porque ela é a princesa, mas sim porque ela é linda e a maioria dos nobres na fila estão em idade de se casar. Benjamin sabia também que todos eles deveriam estar com raiva dele agora, pois Hannah não hesitou em puxa-lo para dentro ao pegar a primeira dica na mão da criada e liberarem sua entrada. Mas ele não se importava nem um pouco com o que aqueles idiotas pensavam, nunca teriam chance com a Hannah de qualquer forma. Ela era muito melhor do que eles.
E isso era perceptível. No modo como ela estava ávida desvendando as pistas, e como ficava feliz toda vez que acertava. Ele podia apostar tudo o que tinha que nenhum de seus pretendentes prestava atenção em quão inteligente ela era, só estavam interessado em sua beleza.
Não que a beleza fosse um ponto negativo... mas tinha muito mais em Hannah. Ele mal a conhecia, mas podia ver. Céus! Se sentia um idiota! Estava pensando como um apaixonado, e a conhecia há dois dias. Aquilo era ridículo.
Por alguma sorte, ele conseguiu se manter impassível, conseguiu fingir que sua cabeça não rodopiava em pensamentos sobre ela. Ben conseguiu se concentrar nas dicas que Hannah mostrava, e como um bom estrategista, já havia descoberto como sair dali, mas mesmo assim deixou que ela terminasse sozinha, só dando palpites de vez em quando, e recebendo olhares enviesados toda vez que tentava ajudar.
Naquele dia, ele participou da caçada dos casais com ela, a levou até o quarto quando machucou seu tornozelo, ficaram conversando o tempo todo. Foram a um passeio de carruagem e até dançaram a noite. E ao ter que se separar dela no dia seguinte, Ben não conseguia deixar de se livrar da dúvida se ele sofreria mais uma vez. Porque o príncipe desconfiava que se sofresse mais uma rejeição, não poderia se recuperar.