Capítulo 4 James - Capítulo 3

- Você me delatou. Essa era a sua grande jogada? - James perguntou a Ashley, assim que chegou na sala de aula no dia seguinte.

A sala estava vazia. Só tinham os dois. James havia chego mais cedo, somente para conversar com ela, e foi só fazer um pedido com um sorriso charmoso, que o professor abriu a sala para os dois e os deixou sozinhos. Assim que a menina passou pela mesa dele, o príncipe a intercedeu, a chamando e fazendo-a parar para falar com ele.

- Eu não tenho uma grande jogada. Porque não quero ser só mais uma marionete nessa sua corte dos bobos que você tão orgulhosamente exibiu ontem na frente do prédio. - Ashley retrucou, sem se dignar a lançar um olhar para o príncipe.

- Ou porque é covarde demais. - James disse, o que chamou a atenção da garota, que o olhou com ódio. - Você se esconde, por trás dos livros e dessa fachada de quem não se importa com nada. Mas a verdade é que você quer revidar. Quer que eu sinta gosto do meu próprio veneno, quer que eu pague. Quer me humilhar. Mas não tem coragem nenhuma para fazer.

- Eu posso acabar com você em um piscar de olhos. - Ela retrucou, com chamas saindo de seus olhos.

- Ah, eu estou contando com isso.

Ashley se afastou, passando pela sala como um furacão, até a sua cadeira nos fundos. James abriu um sorriso de satisfação, aquilo estava saindo mais divertido do que ele esperava.

Mas assim que ele se sentou em sua cadeira, e abriu o compartimento de sua mesa, ouviu o alto barulho de explosão. A tinta o atingiu, sujando de seus cabelos até a blusa perfeitamente colocada. O príncipe se levantou, sem ao menos abrir os olhos. Se virou até aonde sabia que Ashley estava, e retirou o excesso de tinta que havia em seus olhos, quando os abriu, viu que a menina tinha um enorme sorriso em seu rosto.

- Você disse que não tinha uma grande jogada. - James disse, entredentes.

- E não tenho. Veja isso como um... bem, olho por olho, dente por dente. - Ela disse, enquanto batucava seus dedos em seu queixo.

- Esse é o pior que você pode fazer? - James perguntou, abrindo um sorriso debochado em sua direção.

- Claro que não. Não se preocupe, o pior ainda está por vir.

James não se deu o trabalho de responde-la. Simplesmente saiu da sala, passando por seus amigos na porta de entrada, que riram ao ver o príncipe coberto de tinta vermelha. Ele foi ao seu dormitório para tomar um banho e trocar de roupa, mas os seus únicos pensamentos eram: Se era guerra que Ashley queria, era guerra que ela iria ter.

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A semana seguinte foi marcada de brincadeiras. Desde as mais bobas, como James ter trocado os sachês e sal e açúcar de Ashley, o que a deixou furiosa, e ela ter desaparafusado a cadeira de James, de forma que quando ele sentou, caiu diretamente no chão, arrancando risadas de seus amigos. Até mesmo para coisas mais sérias.

Na quarta-feira, James teve que sair da aula rapidamente para ir até uma reunião do conselho, mas assim que chegou em seu carro, o encontrou completamente coberto de post-it. O para-brisa estava coberto, com post-it verdes e vermelhos, com uma grande mensagem para ele, para que todos que passassem por ali pudessem ver: "O rei dos bobos terá que encontrar uma nova carruagem se quiser chegar a tempo." Tinha um menor, com uma mensagem pequena: "Agora é a sua vez, espero sua jogada". Ao puxar esta pequena mensagem, viu que havia algo escrito atrás também: "Eu o desafio". Ele teria achado a situação divertida, em qualquer outro momento. Porém isso lhe causou um atraso na reunião, e um grande esporro logo em seguida.

Então, na quinta-feira ele decidiu se vingar a altura. Ele havia conversado com a colega de quarto de Ashley, e descobriu que ela tinha um compromisso. Estando do dormitório, foi fácil conseguir surrupiar a chave do carro dela, sendo astuto de deixar seu casaco no quarto da colega dela. Encheu seu carro de neve artificial, tanto quanto conseguiu colocar pelas janelas quase fechadas. E assim que terminou seu feito, deixou uma mensagem para ela no para-brisa do carro, em letras grandes, para que todos pudessem ver. Logo em seguida, ele retornou ao dormitório com o pretexto de pegar o casaco de volta, e recolocou as chaves, disfarçadamente, no jarro que havia pego, perto da porta da sala que elas tinham em comum. A menina não desconfiou de nada, o que foi um alívio, porque James pode aproveitar a cara de surpresa de Ashley ao encontrar seu carro naquele estado. Irritada, ela primeiro retirou o pequeno cartaz que James tinha feito, que dizia: "Lhe trouxe a neve para acompanhar seu coração frio e sem compaixão. Espero ansiosamente por sua jogada. A menina abriu a porta, tentando tirar o máximo da neve que conseguiu, e foi quando James se afastou, com medo de que ela percebesse sua presença e pulasse no pescoço dele.

As coisas continuaram assim por mais duas semanas. Um atacava, e esperava que o outro correspondesse a altura. Haviam explorado a criatividade, Ashley contratou um quarteto à capela para cantar uma música tola para ele, o tornando alvo de piadas de seus amigos. James contratou um palhaço para atazana-la durante um dia inteiro. Ela distribuiu cartazes pela cidade, oferendo serviços de namoro, e colocou o número dele. Já James havia explodido uma bomba de fedor no banheiro do quarto dela. Para completar, Ashley transformou o quarto de James em uma praia. Sim. Na droga de uma praia. James a amaldiçoou quando encontrou seu chão coberto de areia, e uma piscina infantil em um dos cantos. Ela não poupou detalhes, colocando peças que deveriam ter sido retiradas do acervo do teatro. Coqueiros falsos, um grande painel com o céu azul e a pintura de um sol, cadeiras de praia e até mesmo um ukulele.

Foi apenas na semana seguinte que James decidiu revidar, em uma quarta feira. Assim que Ashley chegou em seu quarto, o encontrou completamente cheio de bolinhas coloridas. Ela mal conseguia andar para chegar a sua cama, e demorou boas horas para conseguir se livrar de todas as bolas. Quando enfim, seu quarto estava livre, ela pode encontrar uma caixa em cima de sua cama. A abriu, e puxou de dentro dela um enorme vestido de gala, listrado de preto e vermelho muito escuro. O vestido era lindo, tinha detalhes prateados por todo ele. E assim que ela o retirou completamente da caixa, pode ver um pequeno envelope do lado de dentro. Ao abrir, encontrou uma carta de James: "Lady Ashley, assumo que essa brincadeira está ficando divertida, mas peço que façamos uma trégua. Este sábado, haverá um baile no palácio, como você provavelmente deve saber. Não sei se fazia parte de seus planos comparecer a tal evento, mas suplico que me dê a honra de ser a minha acompanhante. Estarei te esperando, ansiosamente, aonde nos encontramos pela primeira vez, uma hora antes do baile".

A garota devolveu o bilhete para dentro da caixa, assim como o vestido. Fechou tudo, colocou embaixo de seu braço e marchou para fora de seu dormitório. Teve que sair do prédio, e andar até o outro lado do campus, já que James não dormia ali.

Conseguiu ouvir a música antes mesmo de alcançar o quarto dele. Estavam claramente dando uma festa.

Ashley esmurrou a porta o mais alto que pode, com a certeza que qualquer coisa menos do que isso, não conseguiria ser ouvida. James abriu a porta com um largo sorriso no rosto, sabendo exatamente quem estava do outro lado, e o que ela tinha vindo fazer ali. Antes mesmo que pudesse abrir a boca, a garota já estava empurrando a caixa em seu peito.

- Não gostou do presente? - James perguntou, piscando os olhos inocentemente. - Ou talvez eu tenha errado no tamanho, mas se for isso, tenho certeza de que posso...

- Eu não quero nada que venha de você! - Ashley praticamente gritou as palavras, atraindo a atenção dos amigos de James, que estavam sentados no sofá e no chão, enquanto bebiam.

- Não sei para que toda essa agressividade, é somente uma oferta de paz.

- Você está tentando comprar uma paz falsa. - Ela retrucou, cheia de raiva.

- Ah, pequena Ashley, não seja tão ressentida. - Gui disse, se aproximando dos dois. - Pegue uma cerveja, se junte a nós. A noite já estava começando a ficar mais interessante, Benjamin ia dançar para a gente.

A garota simplesmente o encarou como se ele fosse uma criatura de duas cabeças, que a estava chamando para passear de unicórnio em uma floresta de doces. Depois ela balançou a cabeça, se afastando da porta para voltar ao corredor. James a seguiu, ainda segurando a caixa com uma mão, e fechando a porta atrás de si com a outra.

- Espere! - James disse, a vendo se virar com certa relutância. - Qual é o problema? Eu quis fazer algo legal.

- Oh! Me desculpe, eu interpretei a situação toda errada então. - Ela começou a dizer, com a voz cheia de deboche. - Deve ter sido o cansaço pelo trabalho de ter retirado cem mil bolinhas de dentro do meu quarto!

- Não seja tão presunçosa. Seu quarto é muito pequeno, não caberia cem mil bolinhas nele.

Ela abriu a boca, e fechou, parecendo com mais raiva do que nunca. Tinha vontade de dizer muitas verdades na cara do príncipe, mas pareceu pensar melhor e soltando um enorme grunhido, ela deu meia volta e começou a marchar para longe. James era esguio, e conseguiu se colocar a frente dela em um piscar de olhos.

- Ah, vamos, Ashley. Eu coloquei bolinhas em seu quarto, você transformou o meu em uma praia, nós estamos quites.

- Demorei horas para retirar todas as drogas de bolas do quarto. - Ela disse, a raiva tomando conta de sua voz.

- E até hoje eu sinto a areia quando vou me deitar. - Ele abriu um largo sorriso de triunfo ao ver que ela lutava consigo mesma para rebater o que ele havia dito.

- Vamos lembrar que quem começou com tudo foi você.

- Se me lembro bem, depois de você me chamar de rei dos tolos. - Ela não disse nada, o que fez James alargar seu sorriso. - Eu sei que você vai ao baile de qualquer forma, e sei que o vestido vai ficar perfeito em você.

- Por que você quer tanto que eu vá no baile com você? - Ela o encarou intensamente, parecendo por um momento que poderia ler a sua alma.

- Já disse, uma trégua. E aposto que você teria um ótimo momento junto a mim, depois de me conhecer melhor.

Era uma meia mentira. James tinha um outro motivo por trás disso. Ele não havia pedido desculpas a Ashley com o seu pai havia ordenado, mas se o rei visse os dois lado a lado no baile, pensaria que estava tudo bem entre eles. E também, James já estava ficando cansado daquelas brincadeiras. Não que não fosse divertido. Mas vivia com medo da próxima vez que entrasse no quarto encontrar um macaco em cima de sua cama, como um presente de Ashley.

Mas por outro lado, ele não conseguia parar de pensar nela. No modo como ela franzia seus lábios toda vez que ficava irritada com ele, e como seus olhos se iluminavam em um tom de azul quando o encarava. Não conseguia parar de pensar, principalmente, no modo como ela o desafiava, como se não tivesse o mínimo de medo do que ele poderia fazer, como se não quisesse o agradar. Porque na realidade, diferente de todas as outras pessoas no campus, ela realmente não queria agrada-lo, e aquilo o intrigava.

- Sem pegadinhas? - Ela perguntou, estreitando seus olhos.

- Eu não desejo nada além do prazer se sua companhia.

- O que eu ganharia com isso? - Ashley perguntou.

- Você vai poder respirar aliviada por saber que não vai encontrar seu quarto transformado na floresta Amazônica da próxima vez que entrar nele. - Ela arqueou suas sobrancelhas castanhas na direção dele, que deu de ombros. - Era minha outra ideia, mas pensei que as bolinhas dariam menos trabalho.

Ashley o encarou com intensidade. Ela analisava cada centímetro do rosto dele, procurando algo que o entregasse, que revelasse o plano maligno pelo qual ela estava esperando. James simplesmente inclinou sua cabeça, piscando seus olhos verdes inocentemente.

- Bem, eu irei pensar na possibilidade. - Ela falou, puxando a caixa da mão dele, sem muita gentileza. - Agora, se me dá licença.

- Quer que eu lhe acompanhe de volta para o seu quarto?

- Se não se importa, eu prefiro ficar sem o prazer da sua companhia.

James não ficou a observando se afastar dessa vez, simplesmente entrou de volta em seu quarto, aonde seus amigos brincavam e riam ao som da música alta. Gui se aproximou dele, oferecendo uma garrafa de cerveja que James ficou feliz em aceitar. O príncipe se jogou em uma das poltronas livres, os observando jogar verdade ou consequência, como se fossem crianças.

Jake se aproximou de James, colocando sua mão no ombro dele.

- Nós vamos sair nesse sábado. - Ele disse ao príncipe. - Vai ter uma festa, nesse armazém abandonado. Você vai querer ir?

- Não posso. - James falou, dando de ombros. - Tem um baile no castelo no sábado.

- Benjamin vai com a gente. - Gui comentou, do outro lado da sala.

- Vai? - James perguntou ao irmão, arqueando somente uma sobrancelha. - Nosso pai está ciente disso?

- Ele não vai se importar, desde que você esteja lá. - Ben comentou, enquanto dava uma golada na cerveja. - Esse é o lado bom de não ser o herdeiro, irmãozinho.

- Bem, ele não vai se importar, mas duvido que os trigêmeos não notem sua ausência. - James retrucou. - É o aniversário deles.

A mãe deles sempre fazia grandes eventos nos aniversários dos filhos. Sempre bailes muito grandiosos, aonde convidavam todos os nobres de Libertas, e as vezes, até mesmo a realeza de outros países. James sabia que não eram muitas famílias reais que faziam bailes para os filhos antes dos dezesseis, diziam que crianças não deveriam ser apresentadas a sociedade antes disso, já que não conseguiam se controlar. Mas não era nenhum segredo que os Hamptons não eram uma família normal.

- Tem apenas doze anos. Vão fazer mais aniversários.

- Você é quem sabe. Mas se eu fosse você, compraria presentes bem grandes, talvez assim eles te perdoem.

- Você está parecendo nosso pai. - Ben fez uma careta.

- Eu só estou te aconselhando. - James retrucou, com uma certa irritação. - Além do mais, Kevin pode até não perceber. Mas Eric é bem genioso. E Mason é mais ligado com a família do que você imagina.

- James, se eu precisasse dos seus conselhos, pediria por eles. - Benjamin falou, se pondo de pé. - Eu não estou mais com disposição para beber. Vejo vocês no sábado.

Ben passou pela sala, e saiu do dormitório, parecendo um tanto irritado. James soltou um grunhido baixo, se encolhendo na poltrona enquanto bebia o resto de sua cerveja.

- Cara, precisava mesmo do sermão? - Jake perguntou. - Ele tava ansioso. E você mesmo já furou alguns compromissos para sair com a gente.

- Acho que preciso de outra cerveja. - James murmurou, se levantando.

- James, ele não quis dizer... - Gui começou a falar.

- Não tem importância. Estou bem.

Sabia que de todos os amigos, Gui era o único que o entendia. Mas nem mesmo ele poderia compreender o peso das responsabilidades que pesavam em James. A responsabilidade de ser o irmão mais velho perfeito, sabia que se Ben não aparecesse, não teria problema nenhum para ele, mas James certamente seria responsabilizado. Ao pegar a cerveja, abrir e dar o primeiro gole, sentiu um gosto amargo, que não tinha nada a ver com o líquido amarelo e sim com o gosto de seus atos. Não parava de pensar que, quando agia como os outros adolescentes, decepcionava seu pai, e quando agia como o príncipe responsável que deveria ser, decepcionava seu irmão. Estava ficando farto disso, farto de ter que corresponder a todas as expectativas. Farto de ter que fingir ser quem não era.

Talvez Ashley estivesse certa. Aquele espetáculo que James tentava montar, só servia para uma plateia. E em breve ele teria que escolher quem iria querer agradar: seu pai, seus amigos, ou a si mesmo.

            
            

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