Sua arquitetura grega era como um palácio com vitrais quebrados e tetos que abrigavam ninhos de corvos. Salão com colunas de mármore, assim também era o piso.
Outra porta interna grande e pesada levava a outra escada de descida para uma parte subterrânea, com paredes de pedras cobertas por trepadeiras que dava para um salão maior, onde há um altar de mármore, com duas colunas incrustadas com gemas pretas. Entre as mesmas uma cadeira grande de madeira almofadada em veludo vermelho.
Atrás dela outra porta, que quando aberta dava a um corredor iluminado por velas vermelhas e grossas, onde se pode chegar à outra com paredes de barro argiloso, chão de terra e várias entradas cavernosas. No centro da sala uma mesa de pedra forrada com veludo vinho, coberta com tecido de ceda vermelho. Telhado a céu aberto, na qual se pode ver as estrelas e a lua à noite.
Em outro cômodo do casarão, os demônios que pareciam nunca dormirem, há semanas, dançavam embriagados ao som de uma banda de rock. No canto perto de uma coluna Endolf reclamava para com Darkson.
- Você podia ter me escolhido, já teria trazido mais de uma virgem pra você, não confio nesse Khali - comentou Endolf.
- Aha!- Darkson riu - muita para dividir com você não é? Até lua cheia não serviriam mais, tem de ser uma garota especial. Isso me excita, mas não devo gastar minha energia até esse dia, é um sacrifício que devo fazer.
- Eu nunca quero está no seu lugar, patife! – disse aliviado Endolf.
Paullin entrou despercebido. Encapuzado, ficou do outro da mesma coluna, apoiado, escondia as mãos suja de areia, na qual enterrara a espada do anjo Vandell. Ficou quieto a escutar o restante da conversa de Endolf e Darkson. Porém seus pensamentos vagavam ainda nas palavras de Milena e Saulo, e o beijo de Joana. O rosto dela afugentava estes pensamentos, quando vinha em sua mente. Ele fechou os olhos a fim de captar a mesma sensação daquele abraço e do calor dela, mas nessa hora se voltou para uma parte da conversa que lhe chamou atenção.
- Mas o melhor disso tudo é ser o mestre, seu patife. Aha! - Darkson se vangloriou.
- Você deveria se livrar desse Khali o quanto antes. Você sabe por que digo isso. Você sabe do perigo que ele é pra nossa raça - aludiu Endolf.
- Eu sei, eu sei, por isso deixei essa missão com Khali. Mas depois daremos um jeito de nos livrarmos dele.
Ao escutar estas últimas palavras, Paullin relembrou do que disse Milena e Saulo. Nossa raça? Isso o fez refletir. Estariam eles certos? Seria ele de uma raça diferente dos demais? Seria ele um hibrido? Ele estava sendo enganado afinal?
Dúvidas se aglomeravam agora na mente. Precisava de mais respostas, saiu da festa em disparada, confuso, sentiu-se fora do ambiente na qual costumava ficar. Entrou no bosque Sacrários e fixou seu olhar na escultura da mulher-anjo trabalhada em metal, encoberta por argila. Alguns lótus brancos e um cisne flutuavam no lago em frente a ela. Seus sentimentos estavam em ebulição. E o coração propenso a ficar dividido entre bem e mal.
***
Joana acordou atordoada na manhã de sexta-feira, não conseguiu dormir bem a noite passada, a lembrança do beijo e do rosto de Paullin não lhe deixou fechar os olhos. Só conseguia sonhar com a próxima vez. A vez que ele a pegaria novamente pela cintura e falaria àquelas palavras que soaram tão doce e apaixonado para ela. A parede do quarto decorado com pinturas de partituras em grafite feitas por ela mesma refletia sua paixão pela música. Ela e o irmão Jonathan eram uma dupla excepcional. Ele a ensinara a tocar violão e guitarra, aprendera aos doze anos e já dava sinais de uma belíssima voz acústica.
Pela primeira vez perdera a hora de ir à escola, não costumava usar relógio despertador, pois sabia exatamente que hora acordar. Entrou no banheiro e tomou um banho rápido, sem molhar os cabelos, vestiu o uniforme. Escutou a voz de Milena chama-la de fora da casa: "Vamos Joana, estamos atrasadas!".
- Abriu a janela do quarto e pondo a cabeça para fora, respondeu: "Tudo bem já estou descendo!".
Ao passar em frente do quarto de seus pais, viu a porta entre aberta, antes que se despedisse, percebeu que falavam algo, parecia ser a respeito dela, escutou as palavras "revelar a ela", quis ouvir mais, porem Milena a chamava. Então se distanciara da porta e dissera: "Mãe, pai já estou indo, beijos!".
- Até mais querida! - Respondeu a mãe.
Desceu as escadas depressa. Pensou em seu irmão Jonathan. Desde que foi para faculdade de Wangelis, não se comunicou mais, nem sequer uma lembrancinha de natal, muito menos um e-mail, e mesmo seus pais não demonstravam preocupação sobre isso. O que havia afinal? Será que algo acontecera com Jonathan? Porque os pais não falavam sobre ele? O que estariam escondendo dela? Saulo buzinava o carro gritando: "Vamos Princesinha dos anjos!".
- Você sabe que ela não gosta de ser chamada assim - lembrou Milena a Saulo.
- Não tem nada demais um pouco de humor pela manhã - ironizou Saulo.
Joana entrou no carro sentando no banco detrás.
- Desculpa o atraso, perdi a hora - disse redimindo-se.
- Ah! Finalmente. Já estava na hora de mostrar um pouco de rebeldia, mocinha - Falou Saulo sarcasticamente.
- Ah! Muito obrigada pelo apoio, Saul - recíproca Joana.
- Para Saul, seu humor me mata – Milena rebateu - e ai Joan preparada pra maratona de hoje? - Completou Milena.
Milena mal terminara de falar, e os dois celulares de Joana tocaram quase que ao mesmo tempo. Joana verificou sua agenda no tablet, ensaio da banda depois das aulas, tocar com a banda no sábado à noite, organizar o pic-nic no lago do bosque São Miguel para o domingo... Participar de um evento em família a noite de domingo, suspirou, atendeu um celular de cada vez confirmando aos outros integrantes que estava tudo certo. Milena notou as olheiras no rosto de Joana e olhar distraído dela, resolveu puxar um assunto para descontrair.
- Então... Está rolando alguma coisa entre você e o tal Paullin?
Joana voltou a olhar para Milena ao escutar o nome de Paullin, pensou antes de responder, não porque estava em dúvida, mas porque tinha certeza de todos seus sentimentos por ele. No entanto será que ele sentia o mesmo por ela? A certeza que tinha era das palavras dele que ainda soavam na sua mente, então disse: "Provavelmente sim, por quê?".
- Provavelmente? O que significa? O que já aconteceu de fato?
- Mile, para... – Interferiu Saulo.
- Olha o bom humor falando sério! – Milena entortou a boca.
- Ai! São muitas perguntas pra um interrogatório só, não acha? – Joana retrucou.
Saulo estacionou o carro.
- Pronto. Chegamos. Salvei você dá loba Mile.
Joana guarda os celulares e o tablet na bolsa. Enquanto Milena acaricia a cabeça de Saulo e começa a beija-lo. O que era muito natural para eles, para Joana ainda era novo, sentia-se envergonhada ao vê-los demonstrando sua intimidade. Observou os traços sensuais de Milena. Como ela tinha coragem? Como poderia fazer isso com tanta espontaneidade na sua frente, como se não estivesse ali.
Joana abrira a porta do carro dizendo: "Mile, espera pelo menos eu sair do carro. Não sei como vocês podem ser tão sarcásticos em tudo e se amarem tanto?".
- Adorei o sarcástico, agora fiquei excitada - disse Milena mordendo os lábios.
- Isso é bom - Saulo falou deslizando a mão do abdômen até a cintura de Milena.
- Oh, Deus! – Joana entojou. - Como vocês são luxuriosos, como podem? - Expressou Joana com desprezo.
- Aha! Esse é o nosso natural querida - Milena excitou-se apertando os seios.
- Está bom! Vou-me, beijos, obrigada pela carona. Não esqueçam o ensaio hoje à tarde, ok – Joana lembrou ao casal.
- Ok! - Concordou Milena afundando um beijo em Saulo.
Ao partirem, Milena lembrara a Saulo da vez em que se beijaram diante de uma assembleia de falanges que os prenderam um tempo atrás. Antes disso Saulo e Milena não se conheciam. Até ele salvá-la de uma perseguição por demônios, na qual seria levada para cumprir um ritual.
Havia corrido há dias, amedrontada. Uma mocinha de apenas 13 anos. Cansada de lutar, ferida, cortes por todo corpo, nem conseguia voar, mal sabia usar seus poderes.
Seus cabelos longos e negros cobriam o rosto, seminua, com um tecido fino que cobria apenas a parte intima abaixo do quadril e as coxas. O som das tornozeleiras douradas e das pulseiras que hipnotizaram os demônios por um tempo, enquanto dançava o Hamalya, uma mistura de dança antiga de Angkor e Egípcia atraiam mais ainda os caçadores. Tentara subir um portão gradeado, puxaram sua perna direita, estava muito fraca para se segurar, perfuraram sua panturrilha. Caindo desmaiada.
Dias depois acordara numa cama em um quarto pequeno. As feridas nos braços e pernas bem enfaixadas. Não sabia onde estava. Tampouco conhecia o rapaz que a olhava com admiração. Vestido de xamã, de cabelos longos, presos em rabo de cavalo, olhos puxados, íris castanho mel e pele parda, aparentando ter vinte anos, no entanto tinha somente quatorze anos.
O jovem Saranon falara para não temê-lo. Ele matou os demônios e curou seus machucados. Mitria (codinome Milena) contara a Saranon que sua família fora assassinada. Negociara com os demônios para se entregar ao ritual em troca de deixarem sua família livre. Porém estes a enganaram.
Suas irmãs haviam sido violentadas e mortas, seus irmãos lutaram até o ultimo fôlego de suas forças. Seus pais esquartejados, a casa fora incendiada pela própria Mitria, para despistar os demônios. Mas eles a queriam. Sentiam seu cheiro. Desejavam saborear cada gota do seu sangue puro e virgem. Seus primos e tios terminaram por exterminar cem mil demônios que sobraram dos quinhentos mil que havia espalhados nas cidades vizinhas de Sagrados. Os demônios lutavam por poder e autoridade total, forçando os híbridos proliferados se submeterem a servi-los, estes sendo mais rebeldes e poderosos não aceitaram, mas estavam em número menor, assim a família de Mitria fora a mais prejudicada.
Mitria aprendera a dança da mãe, como suas irmãs mais velhas e as mais novas, esta descendia de uma família grande de híbridos proliferados por Kardiel, um caído, e, Kaleni uma mulher-demônio. Seus avós maternos haviam entregado sua mãe Lakshya a Demantis, um príncipe demônio vindo da Inglaterra, que tinha conhecimento de muitas literaturas. Adorava colecionar livros de autores de várias culturas, viajara por muitos países, principalmente visitando bibliotecas e museus, tanto que fundou a biblioteca de Sagrados.
Elegante, cavalheiresco, e sedutor, não resistira à dança e beleza de Lakshya, a quinta filha dos Kardimas.
Kardiel e Kaleni geraram vinte filhos. Dez rapazes e dez moças. Belos, de fisionomia exótica, combinados com aspecto celeste e sombrio. Os rapazes logo que se desenvolveram se espalharam pelo mundo procriando outros seres, no entanto as moças permaneceram com os pais.
De traços sensuais próprios, Kaleni ensinou as filhas à magia e os movimentos sedutores da dança que levava o espectador a alucinar, esquecendo-se de si mesma. As filhas sob sua supervisão foram dadas em casamento a poderosos híbridos que continham poderes místicos, vindos dos subterrâneos de Bali e Egito.
Mas os demônios mais temidos de todos os outros existentes, até mesmo pelos anjos caídos, eram os Bhutanyas e Rakshasas. Os únicos que há milênios obtinham poderes imensuráveis. Eram jovens e imortais. Devido a praticarem métodos que lhe traziam poderes. Sacrifícios e adoração a diversos deuses. Uma raça extremamente dominante, ninguém podia encontra-los com facilidade, duvidava-se até da existência deles, também adorados como deuses por outros demônios, tendo CAVERNAS e GRUTAS como escolas, na qual podiam aprender técnicas de obter poderes místicos avançados.
Agora Milena e Saulo encontravam-se no bosque São Gabriel. Excitando um ao outro, com beijos, caricias, toques agressivos, arranhando-se, mordendo-se como tigres, aproveitavam cada posição com prazer, sob o céu nublado, entre pedras e grama. Amavam-se com intensidade, desde que se conheceram, ficara sempre juntos, quando podiam, intermediavam a favor de algum hibrido em perigo.
***
As onze e trinta, o sinal de saída do Colégio Nossa Senhora da Luz tocou. Joana saiu apressada da sala. Caminhou pelo corredor quase esbarrando nos colegas. Os celulares tocaram. Chegou ao portão e ao passar se deparou com Cleriton, o baterista da banda.
Surpresa, perguntou por que estava ali, pediu para ele caminhar com ela. Do outro lado da rua olhos obscuros de alguém os seguiam, curiosos e impulsivos. Os perseguiu discretamente até um ponto em que Joana e Cleriton pararam de andar. Escondeu-se numa arvore.
Os dois conversavam sobre algo.
- Joana. Eu vim aqui te ver, porque vou sair da banda - Cleriton anunciou. Deixando-a decepcionada, sem acreditar no acabara de escutar.
- Não, não diga isso, agora não Cler? Não hoje, temos ensaio. Não pode ser isso. Não pode está acontecendo... - Disse Joana em desespero.
Olhava nos olhos de Cleriton, ao mesmo tempo em que colocava a mão esquerda na testa e baixava a cabeça.
- Sinto muito Joana, por todos da banda. É que aconteceu um imprevisto... Meus pais vão se mudar para Wangelis e eu vou estudar lá.
Cleriton não queria dizer a verdadeira razão, não queria revelar que tudo estaria a mudar na sua vida por descobrir que era mais que um simples humano.
- Isso é uma pena Cler, mas você mal terminou o ensino médio. Como vai entrar em Wangelis? - Isso fez Joana ficar desconfiada. Lembrou-se de Jonathan que também não terminara bem o médio e foi embora sem nem se despedir direito. Agora Cleriton iria também abandona-la. Joana estava sem cabeça para refletir com mais profundidade no assunto naquele momento.
- Agora devo ir. Se despeça dos outros por mim, por favor. Saiba que o E-Gothic sempre vai está no meu coração e vai ser sempre minha banda - Cleriton disse tocando no ombro direito de Joana.
Foi-se e entrou na van dos seus pais que o esperava.
Cleriton era um dos pilares da banda, ajudava ela a segurar as pontas e participar de todos os shows, seu braço direito. Os belos traços negros dele fascinavam qualquer garota. Estava sempre bem humorado, topava todas as paradas em relação ao grupo, carinhoso e amável com os que se aproximavam dele. Uma das pessoas mais preciosas estava partindo. O que seria agora da banda?
Joana ficou parada sem saber o que fazer, sentia como se seus braços tivessem se deslocado dos seus ombros. Fechou os olhos por um instante pensando como iria resolver isso.
Ao abri-los se assustara com o rapaz de expressão sombria que surgira. Com um sorriso no canto da boca ele a encarava como se fosse devora-la. Ele lambeu os lábios, tocou seus cabelos e o cheirou como se fosse um chacal farejando uma presa. Ele havia escutado a conversa, então se prontificou a falar.
- Sabe... – Iniciou. - Eu sou novo por aqui... E estou procurando uma banda. Você conhece alguma? - Deu a brecha para atrair o interesse dela.
Astutamente mal intencionado, intolerante e sedutor, era Endolf que não conseguia controlar sua luxuria. Agora Darkson corria o risco de fazer um sacrifício em vão, como já acontecera outras vezes. Toda vez que designara demônios sedutores como tal para atrair suas vitimas. Mas Joana já havia entregado seu coração, seria difícil conquistá-la nesse momento.
- Uma banda? Que banda? De que estilo? - Joana indagou confusa.
Endolf mordeu os lábios inferiores, enquanto mirava os de Joana gesticulando, levou a mão direita até o queixo, acariciando com ansiedade respondeu: "Rock gótico, é que eu tocava numa banda, mas vim morar aqui com meus tios".
Joana observou o rosto do rapaz. Seus olhos como turmalinas negras emitia pouco brilho, de formato amendoado. O queixo covadinho intensificava sua beleza, argolinhas nas orelhas, lábios finos lubrificados, pele clara, cabelos pretos com mechas loiras e curtos. Na face esquerda uma cicatriz curvilínea, lhe intrigou.
- Nossa! É... Estou surpresa agora. Sabe... Eu acabei de perder o baterista da banda que eu participo – ela acabou se abrindo - como você se chama? - Joana o perguntou. Ela precisava disso, desabafar, seus dias estavam corridos com a preparação dos shows de divulgação do primeiro single.
- Jardel- ele respondeu - eu posso quebrar um galho pra você se quiser - Endolf disse pegando das mãos de Joana o fichário, demonstrando gentileza.
- Ah... Obrigada. Eu acho que podemos ir caminhando, porque eu vou encher você de perguntas, ok?
- Sem problemas, pode começar... - Disse Endolf sedutoramente. Realmente Joana lhe fez muitas perguntas, este se saiu muito bem, respondendo a todas. Mas ela o estranhava. Estranhava mais ainda como ele aparecera de repente no momento tão preciso em que a situação exigia.
***
Tarde de sexta-feira. Clima quente.
O grupo estava reunido no salão atrás da capela Santa Joana Darc. Endolf como Jardel foi apresentado aos outros integrantes. Joana explicou o que ocorrera com Cleriton, não discutiram muito sobre o fato, pois não havia tempo.
- Alguém sabe do Paul, da Milena e Saulo? - Perguntou Joana ao restante.
- Chegamos! - anunciou Milena entrando.
- É... Nós estamos aqui! - Disse Saulo encarando o novo baterista posicionado na batera.
- Nossa! – Milena arregalou seus olhos pequenos - temos um baterista novo na parada, o que aconteceu com o original? - Ela interrogou irônica.
Esta o rodeou, cheirando discretamente e tocando no cabelo dele. Saulo e ela logo perceberam a mística obscura quando o vira. O que queria afinal? Estava a mando de quem? Mais um demônio, o que pretendia? A tensão entre os três aumentara com a chegada de Paullin, que ao ver Endolf se perguntou o porquê este estaria ali. Será que Darkson o teria enviado para terminar a missão? Ou para vigia-lo?
- Não há mais tempo para explicações, se tivessem chegado antes, saberiam o porquê, ok! Vamos começar – Joana os cortou encerrando o assunto.
Seu olhar brilhou com a presença de Paullin. Entreolharam-se. Aproximou-se dela, deixando-a inibida, pós a mão direita por trás da nuca, acariciando-a sob os cabelos. Por um instante ela pensou que ele iria beija-la na frente de seus amigos. Mas deu apenas um suave beijo na sua testa. Os dois sorriram. Endolf salivou percebendo a intimidade dos dois sentindo-se ameaçado com a atitude de Khaliel. Então todos se posicionaram com seus respectivos instrumentos.
As dezoito e trinta cessaram o ensaio. Saíram todos juntos para a Central Olimpic, um complexo de ginásios com quadras esportivas, vídeos games, teatro e um grande salão de shows. Enquanto os outros membros se divertiam. Paullin, Joana, Milena e Saulo acomodaram-se em uma mesa da lanchonete, pediram duas pizzas e refringente.
- Estou curioso para saber como aquele sujeito se tornou nosso baterista? - Indagou Paullin encarando Joana, tocando delicadamente seu queixo,o que a dominava completamente, deixando-a vulnerável.
- Nós também, amiga - acrescentou Milena.
- Querem saber... Eu também não estou para questionamentos – Joana rebateu. - se liguem nosso único e melhor baterista Cler se foi, por um milagre surgiu um... O que posso chamar de anjo. Meio estranho, mas pelo menos esta quebrando um galho. Logo agora que estamos cheios de compromissos - definiu Joana.
- Nossa! Com esse sermão, não tenho mais perguntas, mas relaxa as nossas férias de dezembro estão chegando... - Apaziguou Milena.
- Tudo bem. Já é o suficiente. Vamos comer - disse Saulo levando a boca uma fatia de pizza.
- Eu pensei que fosse o único anjo para você aqui? - Paullin repreendeu Joana.
- Isso é ciúme? Meu anjo não se preocupe, pra mim só existe você, satisfeito? - Joana esclareceu tentando tranquiliza-lo.
- Mas eu quero mais que apenas ser um simples e ordinário anjo, querida - Disse Paullin passeando os olhos nas feições de Joana.
- Que clima? – Milena interrompeu - então finalmente estão assumindo que estão juntos? Aha! Eu sabia! - Ela logo deduziu confirmando suas suspeitas.
- Isso é sério Paullin? - Perguntou Saulo.
- É mais que sério - Paullin admitiu paquerando o olhar baixo de Joana.
Milena saltou da cadeira dizendo: "Então, vamos anunciar ao mundo!".
- O que vai fazer sua louca? - disse Joana rindo com um brilho no olhar.
Milena correu para o meio da pista de patins e gritou para que todos pudessem ouvir.
- Ei galera! Finalmente a estrela da nossa banda foi fisgada por um garanhão bem aprumado! - Exclamou Milena apontando para Paullin.
Os integrantes se despediram felicitando o novo casal. Paullin sentia-se como um leão que depois de vencer uma árdua luta por território, desfrutava da vitória, no entanto sua batalha só estaria iniciando. Enquanto Endolf fingindo ter ido embora, espumava de raiva escondido pelos cantos do centro de esportes.
Os dois jovens apaixonados andavam pelas ruas. Alegres e despreocupados. Entraram em uma casa de construção inacabada. Paullin encostou Joana na parede, ele ansiava e suspirava para tê-la. Agora era para valer, não iria deixa-la, não iria mais dá-la como uma presa ao seu mestre traidor. Havia claridade através das janelas na casa escura. Levou-a para uma delas. Agora podia ver a face de sua amada, porem Joana não o via bem. Mas nessa hora nada mais importava. Pressionou o corpo dela contra a parede junto ao seu. Fez uma caricia suave nos lábios de Joana. Esta se sentia sufocada pela pressão do corpo dele, mas ao mesmo tempo estava gostando. Medo, timidez, frio, calor e adoração a invadiam.
Sentia-se embaraçada, nunca tinha sequer tido intimidade com um garoto, ainda mais assim com o peito e barriga colado aos seus seios. Tentou empurra-lo com as mãos no quadril dele. Foi em vão. Suspirou forte, gemeu quase sem respirar.
Ele se afastou um pouco, aliviando-a. Segurou o pescoço de Joana. Alcançou sua boca com o dedo indicador. O ar quente que saia de dentro da garganta o agradava. O embriagava. Os olhos ficaram vermelhos, o coração batia acelerado. Tentava o máximo se controlar para não possuí-la ali mesmo. Joana delicadamente apoiou a mão no ombro de Paullin, que se apaziguo, mas o desejo era mais forte.
- Toque-me, toque-me - pediu ofegante para que os toques de Joana acalmassem seus ânimos por prazer.
- Sim, tudo bem, meu... Amor - falou Joana quase sem fôlego - Deixe-me beija-lo, eu quero... - Continuou passando as mãos no rosto de Paullin.
- Você é tão linda – ele disse embevecido pelo brilho que a luz dava as safiras dela. – fascinante. você me harmoniza e me desequilibra como consegue hein? Como consegue me dominar tão facilmente, desde que me deu aquele beijo, fiquei enlouquecido por você, ahrrrr... - Revelou Paullin com as unhas cravadas na parede. Mas Joana não o via com nitidez. Não se dera conta que o ser diante dela era um terrível demônio disfarçado na forma de um belo rapaz. Neste momento as palavras eram mais significativas.
- Talvez isso seja amor, ainda não sei... Eu estou mesmo amando você, sinto essa força aumentar em mim, mas... - Joana Pausou. - Como vou dizer aos meus pais, não sei se vão concordar.
- Não me importo. Eu vou querer você do mesmo jeito. Não interessa se é amor ou paixão, vem... - Segurou a mão de Joana e levou-a até um local. O que parecia ser uma forma retangular em granito que alguém teria construído sobre o chão. Sentou-a, beijou suavemente sua mão direita, num gesto cavalheiresco. Tocou seu queixo e então continuou a falar: "Eu vou marcar você para ser sempre minha".
- Marcar, como? – Joana disse.
Ele abafou a voz de Joana cobrindo sua boca com a mão.
- Do lugar de onde venho, os casais apaixonados se marcam, como um ritual...
- De compromisso? - Presumiu Joana.
- Sim, como um ritual de amor. Mas antes preciso saber se você quer também. Se você esta determinada a estar comigo para sempre - disse Paullin com o olhar fixo no dela.
Joana engoliu a saliva. Era cedo demais para firmar um compromisso com seriedade. Era seu primeiro namorado, não que pretendesse ter outros no futuro. Ela sempre se firmava com responsabilidade, sabia dos seus deveres, procurava nunca quebrar sua palavra. Não esperava se engajar em mais um agora, não dessa maneira.
Paullin a persuadiu com beijos. Prendeu a mão esquerda enrolando os cabelos da amada formando um espiral. Intenso. Ela sentia o domínio dos músculos labiais dele sobre e por dentro dos seus, nos intervalos respondera com um sussurro: ''Sim'' - o que para ele soou como uma canção. Mordeu carinhosamente o lábio inferior dela. Com a mão direita apertou uma das coxas de Joana, transfixou uma unha de cada vez transpassando sua carne pouco acima do joelho. No fundo não tinha intenção de machuca-la, mas seu instinto forçou-lhe.
A dor tomou lugar da emoção. Desmaiou nos braços do demônio. Ele a deitou arrumando-a sobre o granito. Sugou o sangue para estanca-lo. Tirou a roupa dela, deixando-a só de lingerie. Lambeu-a por toda parte, na intenção de deixar sua saliva fundir-se na pele dela para assim mostrar que lhe pertence. No propósito de afastar os outros demônios. Endolf não demorou a aparecer, pois sentira o cheiro dos dois. Principalmente do frescor sanguíneo do ferimento feito por Khaliel.
- Deixe-me desfruta-la um pouco. Deixe-me beber um pouco desse sangue virgem - disse Endolf sedento. Desejava degustar o corpo de Joana estendido sobre a pedra. Mas Khaliel ferozmente caiu sobre ele, o estrangulando.
- Endolf... Seu doente podre, nunca vai toca-la. Ela é minha agora. Minha - afirmou Khaliel.
- Você é um patife traidor. Darkson saberá o que tá fazendo - Disse Endolf ameaçando Khaliel.
- Vá... Conte. Agora eu sei quem eu sou. Não vou deixar Darkson e nem você tê-la – Khaliel desafiou com convicção.
- Ahaha... Patife, será que sabe mesmo quem é? Sabe de onde vem? Diga-me, quero provar do seu poder... - Endolf provocou.
- Arrrrrrss... Eu deveria mata-lo agora, seu chacal insolente - falou com firmeza Khaliel.
- Vá em frente, comece... - Insistiu Endolf.
Ouviu-se um gemido, que fez os dois demônios pararem de respirar por um instante.
- É melhor você sair daqui, pilantra, afinal a banda não pode ficar sem baterista e... Se comportar bem amanhã, você terá um premio, se merecer - Khaliel finalizou. Então o soltou, o lançando para longe do local com força de suas mãos. Antes que Joana acordasse a levou para casa. Especificamente para seu dormitório. A ptialina que se formou na ferida amorteceu a dor. Beijou-a mais uma vez, manteve-se de plantão até o dia seguinte.