- Se você está a amando, deve protegê-la de tudo e de todos, nunca deve deixa-la - Saulo aconselhou. - agora que sabe quem você é. No entanto a sua verdadeira origem ainda é desconhecida.
- Darkson me pagará por todas as mentiras - disse Paullin com raiva entre os dentes.
- Hum... - Milena gemeu como gato - então esse é o nome do chefão, Darkson - ela enojou pondo a língua para fora.
- Podemos ajuda-lo, mas antes terá que ir a corte das falanges - sugeriu Saulo.
- Ahaha! Nunca - Paullin protestou com deboche. - Porque iria? Quando essa turnê acabar, vou à cordilheira do Himalaia. E Joana irá comigo.
- Por que a cordilheira? - Saulo indagou intrigado - o que tem lá para ver ou encontrar?
- Resquícios, talvez - respondeu. - sinto que tenho alguma conexão com o lugar. Não sei ao certo.
- Você fala como se fosse fácil - continuou Saulo - mas quem garante que ela vai aceitá-lo depois de saber sua identidade?
- Aha! Queridos essa eu quero ver. Será um desafio - disse Milena atribuindo a algo que Paullin não entendeu.
- Desafio? - Falou Khaliel (codinome Paullin) grilado.
-Sim. Um desafio com certeza - Saulo acrescentou - o pai de Joana, ele é um... - Saulo relutou com olhar baixo.
- Um o que? - Paullin olhou para Milena e Saulo esperando a resposta.
- Não se preocupe você já ganhou o coração dela, tigrinho, arrrrrrss... - Disse Milena tentando mudar de assunto.
- Você logo saberá - dessa vez Saulo falou naturalmente como se fosse uma razão que Paullin não devesse se preocupar por agora.
- O que estão querendo me dizer afinal? - Disse Paullin ansioso.
- Querendo dizer que se você não tiver os mínimos cuidados com Joan pode acabar se dando muito mal - advertiu Milena.
- E como um demônio mal pode se dar mal hein? - Khaliel deu um rápido sorriso de canto com humor frio.
- Nossa você tem humor afinal! - Ironizou Saulo.
A sensação de relaxamento no corpo estirou lentamente os membros de Joana. Uma alegria expressou-se no rosto. Levantou, tomou banho de espuma com essência de rosas feita artesanalmente pela mãe. Vestiu-se e desceu ao encontro da banda.
Aos olhos dos amigos que a esperavam, pareceu deslumbrante de felicidade. Calça jeans azul com pedrinhas brilhantes decorando até a barra. Blusa branca com um corselete por cima, destacava seu busto e cintura. Unhas douradas, cabelos trançados e botas. A fragrância de rosa vermelha que exalava fez os olhos de Paullin revirar, despertando seus desejos mais íntimos e perversos. Ao encostar sua testa na de Joana, estes desejos foram rebatidos. Mizael e Agatha os viram da porta de entrada da casa. Logo perceberam o clima sentimental e entre os dois.
- Estamos prontos? - Joana disse mordendo o beiço.
- Sim, estamos prontos e... - ele respondeu paralisado pelo olhar dela - você está fascinante. Eu tenho de me controlar para não fazer loucuras.
- Então vamos! - Chamou Joana.
- Não vai nos apresentar seu affair querida? - Interrompeu Agatha, mãe de Joana, deixando-a envergonhada.
- Maman síl. vous plai? - Joana retrucou com a mãe. - Eu pretendia contar quando voltasse do show. Agora temos de ir, temos muita coisa pra arrumar.
Abraçou a mãe. O pai apoiou a mão direita sobre sua cabeça num ato de benção, recitando algumas palavras em devangeli (linguagem angelical). Mizael direcionou também seu olhar para Milena e Saulo, estes de pronto curvaram as cabeças sutilmente por um segundo em respeito ao seu tutor e protetor, porém Paullin manteve-se circunspecto. O pai de Joana se aproximou dele tocando no ombro.
- Espero que cuide bem de minha filha - disse.
Neste instante Mizael sentiu algo forte fora da sua percepção. Algo profundo e misterioso. Mas que não seria impossível desvendar. Não conseguia ler a mente de Paullin. Seria ele um hibrido como Milena e Saulo ou outra espécie ainda desconhecida? - Isso o deixou curioso.
Todos entraram na van e partiram.
Fora uma viagem de oitenta quilômetros. Ao chegar montaram o palco. Almoçaram no Band Food e arrumaram-se no hotel Monster.
Às dezoito horas da tarde o publico aos poucas se aglomerava no salão de eventos. O The Killers é uma das maiores casas de shows da Vila dos Arcanjos, ficava na fronteira com Vila das Luzes. O espaço é bem maior que a casa de show "Asas", local onde o E-Gothic costuma tocar. Agora o grupo estava se expandindo com seu primeiro álbum denominado ''Ascensão''. Enquanto Joana caminhava por um corredor que dava para o camarim Endolf a abordou. Ficou sedento de luxúria ao se aproximar dela.
- Nossa você está... Magnífica!- disse com sede - sugiro um abraço para dar sorte. Ele umedeceu os lábios e enrolou alguns fios do cabelo de Joana nos dedos.
- Ah- ela disse já tirando os fios dos dedos dele - eu ainda não estou pronta. O abraço vai ficar para final do show - isso gelou a vontade abrasante dele - é o que a gente sempre faz. É uma tradição da banda, bay! - Respondeu Joana, causando decepção em Endolf que ficara a cuspir na parede.
Os organizadores do The Killer vendiam os ingressos. CDs e camisetas com o nome do E-Gothic que saiam ligeiramente. Ás dezenove e quinze o salão já estava cheio de fãs e os próximos que iriam se tornar por vir pela primeira vez ver a banda tocar ao vivo. Um fã-clube fora formado por alguns recentemente quando souberam do lançamento do álbum.
As luzes do palco acenderam. Gritos ecoaram.
Paullin, Milena, Saulo e Endolf se posicionaram com os seus respectivos instrumentos. Vibraram um som de guitarra e bateria.
Joana entrara estonteante, formidavelmente vestida com um corselete de couro sintético branco por cima de uma regata de malha fina. Um colar dourado rodeava o pescoço em forma de espiral e braceletes em cada antebraço, calça bem colada com botas que cobriam até acima dos joelhos de abotoaduras douradas também. Uma maquiagem egípcia fascinante, sua voz soou agradavelmente aos ouvidos dos espectadores que estavam encantados por ela. O publico ficara hipnotizado por sua bela voz. Pedira para abaixar o som um instante, agradecera a todos por estar ali a compartilhar com ela um momento importante da sua vida na qual se dedicara arduamente. Compondo músicas, passando as notas no violão e incentivando o grupo com muita determinação.
Abriu cantando Ascensão:
Na... Na... Na... (Bis)
You came as a nice dream...
When I was a nightmare.
His eyes invaded me
His hands gripped me.
I felt my strength increase with her and then everything changed when you came into my mind
Stole my heart
Then he made me cry with cold words
After making me fall in love with you
Nothing can be crueler... Na... Na... Na...
Male voice: I also was in darkness and you enlightened me as the afternoon sun and made me reborn with the morning rays...
He held me absurdly with sweet words
Hypnotized me with his fascinating eyes, now I am your girl...
Chorus: Never let my hands
Never let me fall
Never leave my heart
Never let me go without you
Let's rise united to heaven ... Na... Na... Na...
Joana animava a todos fazendo com que cantassem o refrão junto com a banda.
Em meio ao aglomerado de gente o olhar negro de Darkson refletia a imagem da cantora. O ódio ardia em chamas no peito por perceber a conspiração de seus súditos no palco - mesmo sem terem combinado tal traição. Teria então de agir. Decidiu castigá-los.
Pensou em fazê-lo naquele instante. Mas para intimidá-los demonstrou uma fração do seu poder. Alucinou Joana que descera do palco pela escada caminhando entre seus apreciadores que hipnotizados por sua voz abriam espaço.
Ela apoiara uma das mãos nos ombros daquele que imaginava ser seu amado - mas é somente uma ilusão óptica que este criara para atraí-la. Paullin enfurecia-se de ansiedade por ver sua querida Joana nos braços do maligno Darkson no meio da multidão. Endolf aspirava em esta ali neste momento junto a seu mestre. As luzes do salão acendiam e apagavam, causando furor nos espectadores que também alucinavam.
O cheiro da moça não lhe é mais possível agora, os poros não expeliam cheiro de carne que o malicioso Darkson desejara sentir. Na tentativa de passar a língua na pele de Joana, algo o impediu, deixando-o bloqueado. Apesar de deslizar suas mãos pelos membros dela, não encontrava possibilidade de ir além. O olhar ardente flamejava na direção de Khaliel. Multiplicou-se. Uma de suas duplicatas alcançou seu traidor.
- O que você fez? - Disse. - O que você fez? Patife. Diga-me... Maldito? - Darkson rangeu de raiva - o aroma do sangue da minha escolhida, eu não posso sentir. Eu vou matar você - disse furioso.
A única sensação que tem agora é de possessão, não da sua parte, mas da parte de outrem, seu fiel escudeiro a teria possuído antes dele, concluiu.
- Mate-me - Khaliel desafiou - ela nunca será sua. Seu patife desconjurado - respondeu com firmeza.
- Então terás teu castigo e não será a morte. Porque morrer é pouco para você, maldictos proliferis - Darkson ameaçou.
Perto de Endolf a outra duplicata dirigiu-lhe a palavra: "Tu terás o teu..." - Endolf engoliu a saliva.
O show prosseguiu.
***
O sucesso do E-Gothic fora mais que o esperado. No dia seguinte a banda partiu cedo rumo ao bosque São Gabriel na cidade de Sagrados para comemorar.
Exaustos, deitaram-se sobre a grama. Bradaram de alegria como de costume. Depois de um mergulho Paullin e Joana se recolheram atrás de uma pedra entre arbustos. Recostados, trocavam caricias e beijos. Logo Joana adormecera. Ele a deixou. Sentou-se a margem do lago, seus pensamentos flutuavam pelos raios de sol mesclados na água.
Endolf parou de pé ao seu lado.
- Você foi esperto - falou. - como o fez, diga-me, como? Nem eu teria sido tão astuto, mas de uma coisa eu sei, você não a possuiu como deveria, por quê?
- Se você não calar a maldita boca vou sugar seu ar vital mesmo ainda estando vivo - Paullin ameaçou.
- Olha que é verdade?! - disse Milena. - Eu já vi. Se fosse você sairia agora mesmo - ela interrompeu saindo de um mergulho, seguida por Saulo.
Os dois sentaram-se cercando Paullin de cada lado. Enquanto que Endolf saia sem chance de rebatê-los. Este não seria tolo. Afinal enfrentar três híbridos não seria vantajoso para um demônio.
- Você deveria falar com Mizael. Ele pode te ajudar a descobrir mais sobre sua origem - investiu Saulo, mas Paullin continuava introspecto a olhar o lago.
- Saranon não vamos insistir? - advertiu Milena. - Khaliel deve decidir sozinho, venha - ela encerrou levantando-se.
- Esperem! - Pediu Paullin. - eu quero saber mais...
Saulo contara sua história...
Vindo de uma tribo xamã, os Panchalas ou pancha balom (cinco forças). Sua mãe Sheliar, um anjo-feminino que pertencia à falange ruga cielo, descera a terra em busca de Haliel. Seu suposto amor que teria sido banido da sua falange violeta celeste. Mas por infortúnio fora levada a um ritual por um mestre demônio da linhagem Rakshasa. Sua mãe fugira e o criou dentro da tribo que depois fora eliminada pelos demônios. Sheliar o havia treinado, desde pequeno Saranon sabia o que era. Sabia de seus poderes e do que era capaz. Isso aumentou o interesse de Khaliel que estava agora determinado a vasculhar seu passado.
A mão de Joana o afagou. Paullin a puxou levando ao colo.
Saulo afastou-se rindo da cena.
Brincaram na água. Afundaram-se. As curvas dela o provocaram. Ele lavou-a para fora do lago em um local mais discreto. Apalpou-a nas coxas, estava perdendo o controle. Ele a queria ali mesmo. Ela fez um esforço se esquivando da posição que Paullin a pós.
Ele era forte demais com seus dedos apertando próxima a virilha. Khaliel controlou-se para não revelar seu lado sombrio. Remexeu-se entre as pernas dela. Porem para evitar a transformação e não machucá-la liberou-a de suas garras.
Ela correu para arvores. Por um momento ele ficara paralisado sem entender a atitude dela. Entrou no jogo de pique esconde. Mesmo que ela não percebesse, ele podia alcança-la com rapidez. Joana soltava gargalhadas, mostrando-se brincalhona. Paullin permanecia com humor frio. Deu apenas um sorriso forçado. Impacientemente a agarrou por trás selando o fim do joguete.
-Você me pegou finalmente! - Disse eufórica.
- Nunca mais fuja de mim, nunca... - Apertou-a contra o corpo.
- Não me deixe sem fôlego dessa vez... - Ela virou de modo que pudesse ficar frente a ele.
Encostou-se a um pé de mangueira. Beijou-a agressivamente.
- Espere! Seja delicado, assim... - Ela aos poucos controlou os beijos, ensinando como fazer de modo doce e agradável.
- Eu não consigo me controlar quando estou com você. Preciso de você Joana, não posso mais viver um dia sequer sem estar perto de você - ele ofegou - preciso dos seus beijos, preciso do seu aroma, preciso do seu toque. Você é minha perdição. Oh inferno! Minha maldição.
Joana o tocou suavemente na face dele. Nunca se sentira tão desejada, as palavras penetravam-lhe os sentidos como a letra de uma música soada ao som de um piano. Isso causava temor e aceitação.
- Eu quero que saiba que... - ele continuou - eu não sou como pensa, tem uma parte de mim que... - Joana o interrompeu tapando sua boca. Ela balançou a cabeça em sinal de negação e disse: "Não importa agora. Eu quero você com todas as partes, mesmo que eu tenha que procurar por alguma parte que esteja perdida por aí" - declarou certa de que sentia por ele.
- Eu a desejo mais que minha própria vida... - ele beijou-a com fervor. O coração de Khaliel palpitou forte. De repente foram atormentados por gritos.
- O que foi isso? - Joana murmurou assustada. Os dois retornaram a área do piquenique para ver como estavam os outros. Os encontraram jogados na grama com perfurações nos corpos. Um vento forte soprou. O tempo tava fechando. Um nevoeiro tomou conta do lugar. Quase não podiam ver as arvores que eram engolidas pela fumaça fria. Milena e Saulo tomaram a frente sacudindo os corpos estendidos, nenhum sinal de vida.
- O que esta acontecendo aqui? - Milena se perguntou. - É muito forte... - Falou sufocada pela nevoa. Sentiram o ar ficar pesado. Aliviaram-se quando o ar ficara leve novamente.
Joana mexeu nos seus companheiros. Não havia possibilidade de salvá-los.
- Meu Deus! - disse. - O que houve? O que está acontecendo? Porque eles estão... Não é possível... - Desesperada não entendia o que acontecera.
Uma sensação de formigamento correu por todo seu corpo. Como se suas pernas e braços estivessem titiladas. Ver seus amigos de infância e de grupo mortos ali foi como se seus membros tivessem se deslocando abruptamente. Verificava seus pulsos e tentava em vão ouvir se seus corações ainda batiam.
Saulo expressou seu pensamento: "Pensei que eles fossem nefilins?" - Seu olhar passou pelos rostos de Joana, Paullin e Milena, se tocando do que havia acabado de dizer.
- Se morreram... É porque são simples humanos - acrescentou Milena menosprezando a raça.
- Nefilin? O que quer dizer com isso? - Quis saber Joana que se sentia perdida com a situação.
- Sei quem pode estar fazendo isso - supôs Paullin - ele quer me castigar.
- Quem quer castigar você? - Indagou Joana. Ouviu-se um grito. Foram ver de onde vinha. Para surpresa dos quatro lá estava Endolf transformado com seus caninos expostos rangendo em extrema dor. Joana estarrecida arregalou seus olhos verdes.
- O que pensa que está fazendo seu patife? - Perguntou Khaliel irado.
- Não sou eu que... - A voz de Endolf soou abafada como se estivesse sendo enforcado por algo. Khaliel foi até Endolf e antes que dissesse alguma coisa foram encobertos pela nevoa cinza. Que como uma grande boca de fumaça os sugou. Sumiram sem o mínimo de rastro.
Para onde teriam ido?
Joana os procurava com o olhar em todas as direções, pasmada e incrédula.
- Digam-me o que aconteceu aqui? - Joana exigiu resposta do casal.
- Seu pai poderá explicar melhor - respondeu Milena. - Vamos!
- Meu pai? O que ele tem haver com isso?
Os dois a seguram pelos braços e como um surto de segundos reapareceram na sala da casa de Joana. Esta ficara mais ainda perplexa.
- O que pensam que estão fazendo? - Repreendeu Mizael logo que os viram.
Joana continuara como estava.
- Mizael aconteceu uma coisa! - Milena iniciou a conversa. Por um segundo Mizael pensou que a coisa que Milena se referia talvez tivesse sido a manifestação nefilin da filha. Porem não o era.
- Os demônios voltaram Mizael! - Exclamou Saulo.
Mizael não demonstrara surpresa com o fato, no fundo sabia que esse dia ia chegar. Contudo esse fato também alterava a questão a respeito de Joana. Agora teria de encara-la e contar a verdade sobre sua origem. - Mas é cedo demais para revelações. Não queria que esse momento tivesse chegado antes do tempo dela. Ela só tinha quinze anos, seus poderes não haviam se manifestado.
Como receberia uma noticia tão iminente?
- Pai o que está havendo? O que você tem haver com tudo isso? Meus amigos eles... -Chorou assustada, tentando se recuperar da tonteira causada pela transportação repentina.
Mizael tentava desviar os olhos da filha formulando uma resposta que não afetasse sua relação com ela. Fitou Milena e Saulo que mandaram pensamentos dizendo o aconteceu com os membros da banda no bosque.
- Joana!- Disse a mãe entrando na sala. - Você está tremula e abatida. Oh chére, o que houve?!
Agatha abraçou a filha.
- Acho que... - Tentou dizer Milena.
- Pai? - Falou Joana esperando uma explicação.
Mizael aproximou-se de Joana acariciando sua testa com dedo polegar direito.
- Ainda não é a hora... Ninfa - Foi apenas o que Mizael disse antes de fazer a filha adormecer nos braços da mãe.
- Não! Por que Angelis, por quê? - Expressou Agatha em angustia desaprovando a atitude do esposo.
- Deixe-a dormindo por uns dias. Eu preciso ir até Wangelis.
- E quanto a nós? - indagou Saulo - O que faremos?
- Por favor, fiquem aqui e as protejam. Se for preciso usem seus poderes - ordenou Mizael em tom pacífico.
- Mizael não vá! - Insistiu Agatha.
- Agatha, por favor... É preciso... Eu tenho de evitar que algo pior aconteça.
- Tenha cuidado mon amour - disse Agatha com expressão preocupada.
Milena e Saulo prestaram seus respeitos antes de Mizael sair. Este estirou as asas de plumas amarelas cobrindo-se e sumindo celeremente. Agatha levou a filha para o quarto com assistência de Saulo e Milena.
- Merci chor - Agatha agradeceu aos dois e pediu que Saulo saísse para trocar Joana que se encontrava num estado de sono profundo. Ela com ajuda de Milena a vestiu com um vestido branco rendado que cobria até a panturrilha, feito e costurado pela própria Agatha.
- Estou perdendo minha Joan Milena - disse Agatha em lamentação.
- Não Agatha, você não a está perdendo, logo ela acordará e... - Disse Milena.
- E tudo vai mudar chére - Agatha interrompeu - vents mauvais, vents mauvais... - Lamentou repetindo um ditado que sua avó disse antes do acidente de carro que lhe ocorrera em Paris na qual conhecera Mizael.
Agora falara depois de muito tempo sobre o ocorrido que quase a matou. Expressou o que sentiu passeando pelas lembranças. Da noite de glamour na passarela enquanto desfilava vestida nas costas com asas de anjo e lingerie vermelha, da saída do evento para o bar com amigos até o momento em que acordou no hospital.
- Então ele estava lá não é? - Milena conjecturou.
- Oui il était, era ele sim. Meu Mizair. Mas naquele dia... - Continuou Agatha com ar nostálgico - ele saiu e me olhou serenamente com um sorriso delicado e saiu... Levantei-me para segui-lo. Tinha sumido. Eu passei dias o procurando - tinha algo nele que me atraiu. Os olhos dele de um castanho amarelado me fascinaram, brilhavam como um cristal, ''une glace saphir''... - Agatha refletiu um pouco. - Os de Joana são assim, mas com algo a mais e Jonathan também - disse orgulhosa fitando o rosto da filha.
- E quando o encontrou de novo? - Perguntou Milena curiosa sentada na beirada da cama de Joana.
- Oui, oui... Quando voltei ao hospital fiquei sabendo que ele me salvou. Eu fui ao endereço fornecido - a porta do apartamento estava apenas encostada. Eu entrei até a sala, mas nada. Fui até o quarto, também não estava lá, adormeci na cama e então no dia seguinte pude ver aqueles olhos novamente me observando. Desde esse dia não o deixei mais.
Agatha fora modelo dos quinze anos aos vinte, foi criada pela avó que também se chamava Joana. Sua mãe era uma notável estilista de Paris, Angeline Minthos e seu pai Pierre Gelaine um excepcional empresário da moda. Os pais se separam quando tinha apenas dez anos. Agatha por decisão própria decidira morar com sua avó que cultivava varias ervas no pequeno quintal de casa e tinha uma lojinha de chás. Agora o olhar de Agatha sondava pela janela o belo jardim de casa que ela mesma cultivara todo dia. Sentia um pesar no peito por algo incerto que ainda estaria por vir e para aumentar sua insegurança Milena por impulso relatou sobre os integrantes da banda que haviam morrido no lago.
- Como isso foi acontecer Mile, como?
- Não fique assim Agatha darei um jeito de avisar as famílias de nossos amigos.
O que viria agora?
Será que Mizael conseguirá evitar a tempo uma catástrofe?