Capítulo 5 QUARTZO RUBRO 5

A mente de Darkson fervia em ira, seus olhos fulminavam em chamas direcionadas para seus traidores acorrentados no salão subterrâneo do velho casarão.

- Como puderam pensar que eu seria um tolo em não perceber o que vocês estariam fazendo? – ferveu de raiva entre os dentes - arrrrrrss... Malditos!

- Darkson... Mestre eu... - Endolf tentou falar em sua defesa - eu não estava nessa com este abutre.

- Então por que estava lá seu carniceiro? Diga-me patife?

-Eu pensei que o mestre tinha enviado Endolf para me espionar? - Retrucou Khaliel sentindo o peso das grossas correntes que suspendiam seus braços.

- Ahaha... Idiota como pode? Eu disse que não iria ser piedoso se alguém falhasse aqui... - Darkson gritou de ódio.

- Eu ainda posso trazê-la para o mestre... Eu posso trazê-la... Darkson - disse Khaliel na tentativa de convencê-lo deixar ir.

- Mentira mestre. O abutre está blefando... - Endolf se intrometeu tentando contrariar as expectativas de Khaliel.

- Ahaha!- Darkson riu sordidamente. - O que vocês estúpidos não fariam para escapar da morte não é? Mas não vou matá-los agora. A morte é pouco para corvos fedidos como vocês!

- Deixe-me trazê-la Darkson - Khaliel suplicou.

- Como... Se agora nem posso farejar o cheiro dela? - Darkson disse furioso.

Ele silenciou e pensou um pouco contornando a cama de pedra acolchoada em tecido de veludo e seda. – Bem... Bem... Você corvo maldito vai voltar lá e trazê-la para mim, mas... - Disse Darkson fitando sadicamente Khaliel.

- Não - Endolf estrebuchou de raiva.

- Mas antes... - Prosseguiu Darkson - eu vou apresentar aos chacais ordinários minha ilustríssima irmã Kalimani.

Endolf e Khaliel ficaram a se olhar de canto um ao outro. Nem sequer sabiam que Darkson tinha uma irmã. Desde a pré-adolescência os três tinham sua amizade. Seus segredos e irmandade declarados, apesar da inveja que havia entre eles.

De toda maneira a ambição governava o coração de Darkson. Isso já se manifestava nele quando não mais dividia as coisas que ganhava ou achava com Endolf e Khaliel. E os dois percebiam o quanto sua arrogância crescia. Os distanciando de sua amizade.

Mesmo Darkson não sabia que tinha uma irmã até sua mãe apresenta-la. "É sua irmã mais velha" - dissera sua mãe Manira mostrando a jovem vestida de monge. - Não a abrace, nem a toque – havia dito Manira. - ela cresceu em um mosteiro muito rígido, mas você quem será o mestre dela.

Agora saiu de uma das entradas cavernosas uma magrela moça com pele coberta por cinzas com um colar longo de pequenos crânios de macacos envolta do pescoço. Cobras corais envolviam seus braços e tornozelos como adereços. Uma naja passeava pelo seu corpo. Vestida em estilo asceta de busto enfaixado com pano de algodão e o quadril com cetim pêssego envolto das pernas dando um formato de calça - seus lábios vermelhos exoticamente sensuais que podiam fascinar qualquer um.

Olhos azuis escuros que não refletia nenhuma luz como uma safira sem brilho. Ela aproximou-se dos dois prisioneiros que sorriam pávidos, sem imaginar o que viria a seguir. Sem saber por que razão Darkson chamaria uma mulher mencionando ser sua irmã de aspecto aparentemente fraco.

Kalimani sorriu revelando seus afinados dentes caninos. O que pareceu simpático. Bateu suavemente nos rostos deles com seu cabelo entrançado cor de fogo que exalava agradável aroma de rosas vermelhas. - Seria esse então o pretensioso castigo do mestre? Apenas isso? - Então está bom, ser acariciado por uma mulher mesmo sendo amedrontadora não seria tão assustador.

- É só isso mestre Darkson? Acabou... Posso ir agora? - Articulou Khaliel.

Inesperadamente Khaliel pode sentir a língua de Kalimani rastejando como uma serpente no seu quadril até o peito direito enquanto que a outra mão dela deslizava pelo de Endolf.

- Vocês fedem a luxuria. Porcos! - Disse Kalimani cuspindo no chão.

Darkson fitou Kalimani do seu assento balançando a cabeça como um sinal de concordância.

- Kalimani odeia não celibatário como vocês – Darkson falou - seu olfato é extremamente sensível a todo tipo de cheiro...

As unhas dela começaram riscando as peles de Khaliel e Endolf que soltaram gemidos prensando os dentes...

Darkson continuou a descrição sobre o perfil de sua irmã... - Ela é gentil com aqueles que se abstêm de todo tipo de ato sexual...

Estrangulou-os fazendo os olhos dos dois quase saírem...

- Ela medita por vinte e quatro horas seguidas... - Perfurou com as pontas das unhas seus abdomens.

- Sua boca profere poderosos mantras sem parar...

As unhas penetraram mais um pouco... Os dois alucinaram afogando-se em extrema dor.

- Adora o Senhor Linga praticando kar baucha (sacrifício) todo dia...

Kalimani os penetrava cada vez mais. O sangue dos traidores saia pelos olhos em lamentação...

A face de Darkson tremulava em raiva ao falar e ao mesmo tempo deliciava-se com o sofrimento de Khaliel e Endolf. Sua irmã que aparentava ser fraca para ambos mostrou-se mais forte do que parecia acendendo até mesmo os medos escondidos de Darkson.

Os aleivosos padeciam em uma dor inexplicável que jamais imaginaram sentir. O pavor os aterrorizava profundamente. Suas cabeças não podiam ficar erguidas sobre seus pescoços, viam-se sendo devorados por enormes víboras infernais enquanto as grandes garras de Kalimani atingiam seus órgãos intestinais. A dor interminável os consumia até a alma, mas...

- Chega! - Exclamou Darkson.

- Me deixe ficar mais um pouco... - Pediu Kalimani passando a língua pelos dentes.

- Não Kali, não... Você já me agradou o bastante. Você deu a eles o que precisavam. Vá... O seu presente a espera... - Ela retirou os dedos de dentro dos corpos e colheu com a boca seus sangues como se tivesse tomando água de uma bica e se foi.

- As Rakshis são muito eficientes. Eu tenho algumas delas aqui no casarão e quando eu as preciso vem em meu auxilio - Revelou Darkson aos súditos mortificados.

- Rakshis? - Resmungou Khaliel engasgado com sangue na garganta.

Os dois foram levados a um porão e tratados com banhos curativos de ervas, estando em molho por três dias.

Enquanto isso Khaliel pensava em como despistar a atenção de Darkson para com ele e Joana.

Endolf tentou falar...

- Então vamos buscá-la... - Endolf se posicionou como se a dor e os ferimentos tivessem esvaecido, fechou os olhos e se resguardou na meditação.

Khaliel o observou por uns minutos. Depois fitou a agua no furô de pedra que vaporizava encoberta por diversas folhas de eucalipto, manjericão, sândalo, cascas desidratadas de açafrão e gengibre. Os cheiros inebriavam e misturavam-se aos aromas dos incensos de cravo e canela espalhados pelos cantos do local.

Khaliel mexeu com os dedos dispersando algumas delas, recriou o semblante de sua amada fazendo ondulações. Assim que pode ver o detalhe que formava os lábios, tocou sublimemente e mergulhou metade do rosto na água. Retornando a cabeça para fora da agua. Muitas das lembranças de infância rodearam sua mente, não vinham com clareza, apenas vultos de momentos.

Um belo rosto de mulher se apresentava com um sorriso atraente, falava algo, mas ele não a ouvia, pensou quem poderia ser esta mulher. E atrás dela um cavaleiro armado montado num majestoso cavalo que olhava fixamente na direção de um menino. - Poderia ser quaisquer pessoas - refletiu antes de fechar os olhos e relaxar.

***

Em Wangelis a chegada de Mizael causara espanto nos dirigentes da faculdade. Ganjin e Utaran logo ficaram curiosos em saber a razão de sua visita inesperada...

- Quanto tempo! - Disse Ganjin.

- Sim quanto tempo - respondeu Mizael em uma reverência.

- O que o trás a Wangelis Mizar? - indagou Utaran.

- Perigo - Anunciou Mizael assombrando a tranquilidade nos corações dos dirigentes.

Ele se aproximou de uma das janelas do escritório e pode ver seu filho Jonathan no campo de treinamento. Admirou silenciosamente as habilidades com as armas que sua progênie administrava.

- Quando ele será iniciado? - Perguntou Mizael a eles.

- Você sabe que é um processo que não podemos apressar. Negociar com os anjos não é fácil... - Esclareceu Ganjin.

- Ele terá de escolher qual lado servir e permanecer. Muitos híbridos nefilins quando desenvolvem certos poderes dificilmente escolhem ser comuns... - Explicou Utaran.

- Afinal o que há? - Ganjin voltou ao inicio.

- Os demonoj estão interferindo na harmonia de Sagrados novamente - disse Mizael. - Temos de estar preparados para qualquer evento iminente - salientou.

- Temos somente quatro batalhões formados... Não é suficiente para abater dois exércitos de demonoj - Disse Ganjin em tom desanimador.

- Então voltarei para Wangelis - anunciou Mizael.

- Voltará? Isso é fantástico Mizar. Eu vou preparar tudo pessoalmente para sua estadia... - Festejou Utaran.

- Espere não se precipite ainda amigo, antes irei buscar a consorte e progênie.

- Quando retornar estará tudo pronto Mister Mizael. - Concluiu Utaran.

***

Khaliel entrara serenamente no quarto de Joana. Ficara a acariciar os cabelos dela. O sono profundo na qual se encontrava trazia-lhe tranquilidade. Ele a apreciou como uma bela rosa de jardim. O perfume de jasmim que exalava da sua pele fazia-lhe sentir como parte dela.

- Eu queria poder ver suas safiras verdes de novo minha Padma - Sussurrou.

Lagrimas cristalina externou-se dos olhos de Khaliel molhando a mão de Joana que ele encostou contra sua face. Uma sensação de culpa tomou conta do seu ser, nunca havia sentido remorso de nada, para ele era desconhecido este sentimento...

- O que faria Khaliel agora?

Entregaria sua amada ao lobo alfa ou fugiria com ela?