Capítulo 6 Capitulo VI

Levanto da cama com custo, notando no relógio de cabeiceira não passar muito das 6h da manhã. sentindo todo meu corpo ainda exausto. A noite de sono não foi das mais bem aproveitadas, pois os sonhos com ela me assolavam a todo momento, o que me fazia acordar de estante em estante. Apesar de reconhecer seu rosto neles, não me recordo de forma concreta, tampouco com exatidão de detalhes, se eram coisas boas ou ruins.

Me ponho de pé com custo, sentindo cada parte do meu corpo reclamar por fazer-lo sem ter descansado devidamente. Após me livrar da calça de moleton, sendo esta a única peça que usei para tentar ter uma boa noite de sono sem sucesso, caminho preguiçosamente de encontro a uma boa ducha de água fria. Talvez isso consiga aplacar um pouco o cansaço do corpo, bem como a tensão com toda essa história.

Fecho os olhos quando as gotas geladas tocam meu rosto, descendo com rapidez para o resto do corpo, me permitindo aproveitar a sensação maravilhosa de paz que isso me trás, girando vez ou outra para que caia também em minha nuca e costa. Apenas sai quando os dedos enrrugados, por sua vez, clamavam por uma toalha quentinha.

O pequeno caminho do banheiro ao closet era uma gratificação de tão bem aproveitado, bem como dono de todos os meus constantes atrasos,devido a grande janela de vidro fumê que separavam ambos. Por ela, podia ver toda a cidade que já estava a todo vapor sob um sol frio de início da manhã. Com isso, e também após ver a roupa de corrida jogada na poltrona disposta por ali, decido por correr um pouco. Faz tempo que não faço isso.

Melhor meio de extravassar a tensão: causando dor aos músculos.

Depois de me equipar com um bom moleton azul de capuz e uma calça legging preta, bem como um tênis de mesma cor que a calça, saio do quarto em direção as escadas rumo a cozinha. Esta, permanece com o mesmo silêncio de ontem a noite. Ali, pego apenas uma maçã disposta sobre a fruteira na bancada da cozinha e alcaço as chaves de casa próximas ao hall em sequência. Usando as escadas de emergência, chego a recepção do prédio. Cumprimento todos aqueles que me exclamam um "bom dia" cheio de dentes, inclusive o porteiro Jonas. Um senhorzinho de quase 80 anos, baixinho e cheio de vigor apesar da idade avançada, que sempre me oferece uma xícara de café amargo e forte, independente de quantas vezes me veja no mesmo dia. Ele havia criado esse engraçado habito após um dia em que eu estava atrasado demais para comer em casa, e meu motorista estava com meu carro na oficina para completar a situação da minha boa sorte aquele dia. Me ofereceu a pequena xícara transparente que jazia o líquido preto quentinho, com um grande sorriso de satisfação no rosto. Desde então, ele sempre faz isso ao me ver. E eu amo muito isso nele. A simplicidade e o carinho para com todos deste prédio, ainda que por muitas vezes ninguém dê valor a isso..

Me faz lembrar meu pai... do que um dia foi ele pelo menos. Antes de toda essa história de CEO poderoso e imponente lhe subisse a cabeça.

Saco o celular do bolso, junto aos airpods e já na calçada inicio meu trajeto. Cumprimento mais algumas pessoas no percurso, antes de aumentar a música no último volume e correr o mais rápido que meus pés aguentam.

Mais uma vez eu vejo você parada me observando

Seu olhar, seus olhos estão tentadoramente abertos

Convidando-me a chegar mais perto de você

Não posso evitar

Há fascinação no ar

Eu tento lutar contra esta sensação forte

Mas não há chance de escapar dessa tentação

(BLACK DIAMOND - STRATOVARIUS)

Como ainda é cedo, e o fluxo de pessoas está bem reduzido, acaba por facilitar um pouco a minha corrida. Assim, não preciso fazer muitos desvios e mantenho a cabeça ocupada. Passo pelo parque, e olho em volta: O cheiro de orvalho, a brisa fria e o tempo nublado me fazem parar um pouco. Me encosto em uma das árvores dispostas por ali, até que de repente a chuva fina começa. Relaxo um pouco e abaixo a cabeça.

O que eu faço pra conseguir o que quero? Sempre fui capaz de tudo, por que deveria ser diferente agora?

Sem conseguir respostas dentre meus próprios pensamentos, aumento mais o volume da música e me perco na batida sem me dar conta da letra.

Sinto alguém tocando meu ombro e levanto o olhar devagar, ao me dar conta de quem se trata, pulo num susto.

- O que faz aqui? Por acaso, está me perseguindo, senhorita?

- Bom, a menos que você tenha comprado os direitos dessa atividade, não deixando que mais ninguém a prátique e eu não esteja sabendo... estou fazendo o mesmo que você. - pontua apontando para minha roupa de cima a baixo e sorri.

- Perdão, estou meio atordoado. Não dormi direito. - Coço a cabeça e acabo rindo timidamente. - Não sabia que morava próximo daqui, Ruth. Se bem que a pergunta se torna tola, já que sequer te perguntei isso da última vez em que nos vimos. - questiono conforme limpo algumas folhsa que havia caído por sob o moletom molhado.

- Não moro. Matias está hospedado em um hotel aqui perto do parque, e como não gosto de ficar sozinha no intervalo em que ele está fora de casa, decidi vir espairecer. - o simples mencionar de seu nome faz a raiva que já estava estava esquecida retornar com força total. Principalmente por que as palavras dele ecoam em minha cabeça.

Preciso fazer a proposta,discretamente.

- Entendo. Bom, vai parecer estranho, mas.. Você tem planos para mais tarde? Gostaria de jantar comigo?

Aguardo sua resposta, enquanto ela me encara meio sem entender esse meu pedido inusitado. Porém, já abri minha boca e não vou recuar.

- Eu não sei se seria uma boa idéia. Meu noivo é bastante ciumento e não sei como ele reagiria a isso.

Droga!

Mas, eu não vou desistir. Tem que haver um jeito para que eu consiga falar com ela a sós.

- É um bom ponto. Enfim, o convite está de pé para quando quiser e puder, Qualquer dia, basta um breve telefonema. Estarei esperando sua disponibilidade. - me estico um pouco, já preparando o corpo para continuar, tentando não transparecer que sua negativa me afetou um pouco.

Ela sorri, com as bochechas um pouco avermelhadas,e posso dizer que este breve gesto foi capaz de iluminar todo meu dia nublado.

- Pensarei com carinho em seu convite. Bom, está apressado para ir embora ou podemos correr juntos um pouco?

Apesar de sentir que com aquilo, ela queria apenas uma forma de não se sentir culpada da minha cara amarrada, eu seria louco de dispensar um convite desses. Principalmente querendo tanto uma coisa, como eu quero.

- Ainda que eu estivesse ocupado, você jamais saberia após um pedido desses. Com certeza, podemos. Vamos lá, gastar essas energias, princesa. - Vejo-a corar, provavelmente resultado pelo que lhe chamei, e posso dizer: Só ficou ainda mais linda.

Corremos por entre as árvores do parque, passámos por alguns prédios e desviamos de algumas pessoas, isso sem deixar de conversar animadamente entre uma puxada longa de ar e outra. Em uma certa altura, noto meu sapato desamarrado e me abaixo rapidamente para fazer um laço rápido. Pela minha visão periférica, posso notar sapatos pretos mal enceirados se aproximando e eles logo param a minha frente.

Bufo.

Levanto a vista devagar e de cara amarrada, juntamente com o corpo. Logo, encaro Matias, que me olha fixamente de braços cruzados.

Coitadinho, pensa que me dá medo.

- Eu disse para você ficar longe dela. - Apenas o encaro, sem dizer uma palavra para não perder a classe. Olho pro lado, e posso ver que Ruth está visivelmente assustada e envergonhada.

- Olha só cara, não sei se percebeu mas, você não manda em mim. E outra, por que não vai cuidar da sua vida? Até onde eu sei e ela me mostra, Ruth sabe se defender bem sozinha. - digo com desdem e sem levantar muito a voz. Vejo quando ele cerra os punhos sem deixar de me encarar. Me preparado para fazer o mesmo.

Não tem o menor perigo que eu apanhe nesta palhaçada que ele armou.

Estava pronto para acerta-lo, quando Ruth decidiu abrir a boca.

- Estavamos apenas conversando, Matias. Não há nada demais. - sua voz está tremula, como se ela estivesse com medo, bem como suas atitudes dizem o mesmo. E isso é bem confuso para a minha cabeça.

Matias agarra seu braço, e posso ver que coloca força enquanto faz isso. Me raiva toma um ápice ainda maior.

- Não quero saber de desculpas, eu disse em alto e bom som que não queria este metido a riquinho perto de você. Não falei? - Ele grita e ela se recolhe no lugar. Como Ruth pode se sujeitar a uma situação dessas?

Ele estavaaos poucos arrastando-a pra longe, quando puxo seu ombro o fazendo voltar a olhar pra mim. Quando o faz, acerto seu rosto em cheio com um soco, que cambaleia e solta o braço dela. A marca de sua mão esta evidente na pele branca dela, e isso só faz com que eu fique cada vez mais enfurecido e cego de odio.

Quando vejo que ele se prepara pra levantar, empurro com o pé para que se mantenha no chão, mas que ao mesmo tempo me encare.

- Vou te ensinar na mão que não se trata mulher com esse jeito bruta, seu vacilão! - Me preparo para bater nele novamente, quando sinto duas mãos me segurar e puxar para longe. Ruth está com o rosto banhado em lágrimas e bastante assustada.

- Não continua com isso, por favor. - ela suplica chorosa e em seguida já vai se abaixando para acudir o cretino que esta com o nariz sangrando.

Eu disse que não ia apanhar. E sua atitude, me deixa possesso.

- Você ainda tem coragem de fazer isso na minha frente? Defender o cara que te machuca assim? Não se dá conta de que merece algo muito melhor. - grito, puto da vida.

Ruth o ajuda a levantar e continuo olhando aquilo tudo pasmo e extremamente irritado.

- Depois nos falamos, Lucas. - diz baixinho enquanto o segura com dificuldade. Estava prestes a me dar as costas, porém seguro seu ombro de leve.

- Você sabe que as coisas só tendem a piorar quando deixamos que elas passem, não é!?- Seu olhar é triste e distante, e tudo que eu queria era afastar aquele embuste dela.

- Não aconteceu nada demais, apenas um pequeno desentendimento. Agora eu preciso ir. Até depois! - exclama e vai se virando com o tosco de Matias apoiado em seus ombros de qualquer jeito. Ele, por sua vez, me encara com um sorriso de vitória nos lábios. Com ódio irradiando por todo meu corpo, dou as costas também, e corro de volta pra meu apartamento.

...

Chegando em minha casa pouco depois, começo um quebra-quebra sem fim, jogando longe tudo que vejo pela frente, principalmente os pobres porta retratos da mesinha de centro. Não me importo com o preço pelo qual terei de arcar depois, apenas quero que esse ódio saia de mim a qualquer custo. Sou capaz de matar alguém neste estado.

E Matias seria a vítima perfeita.

Após quebrar a sala inteira, mais meados da cozinha, vejo que não adiantou de nada, pois continuo bufando de raiva. Chuto o sofá uma última vez e passo as mãos pelos cabelos super nervoso ao me jogar nele em sequência.

Ela merece alguém muito melhor que aquele babaca, e agora não vou medir esforços para tira la dos braços dele e fazer com que pague por isso que presenciei hoje com juros e multa.

            
            

COPYRIGHT(©) 2022