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Solto-me com custo do aperto dos dois brutamontes que são responsáveis pela segurança do hospital, com sede de conseguir dar mais um soco que fosse capaz de apagar Matias dessa vez. Foi quando a senhora ao nosso lado resolveu revelar sua ira.
- Vou perguntar apenas uma vez, e espero que seja a tentativa necessária para ouvir o que quero: você realmente teve coragem de uma barbaridade dessas? - questionou estranhamente calma. As poucas rugas na testa ficam evidentes com sua carranca, o que indicaria que já está na hora de renovar o botox.
Matias permaneceu mudo, apenas encarando-a do chão.
- E então, estou esperando moleque. Diga de uma vez! - seu timbre cada vez mais alto, entregando que sua paciência está se esvaindo mais rápido que areia na ampulheta. Seus olhos azuis se estreitando cada vez mais.
De cabeça baixa, ele levanta. E com bastante dificuldade, fica de frente pra ela.
- Sim, é. Mas em minha defesa...- ele tenta argumentar, mas logo é calado quando um tapa lhe é desferido na face. Matias cambaleia para o lado, sendo amparado pelas cadeiras da ala de visitas. E os seguranças vendo toda a situação, se retiram.
Eu fico apenas como expectador de tudo, me corroendo por dentro de não conseguir lhe matar com minhas próprias mãos. Porém, me contento em ver ele perder o prestígio, que nem sei realmente se tem, no ambiente de trabalho.
- Vou me retirar do plantão para ver o tamanho do estrago que você fez e que fique claro, se algo de grave tiver acontecido a Ruth e o bebê, você vai desejar nunca ter nascido. - ela cospe as palavras sem sequer trocar mais um olhar com ele. Enquanto eu o encaro, vejo que em nenhum momento ele ousa olha-la nos olhos uma outra vez após o tapa.
Ao menos por alguém ele tinha que ter respeito.
A senhora respira fundo, se recompõe e caminha de volta em minha direção.
- Você poderia, por favor, me levar até ela? Aproveita esse meio tempo para me explicar melhor essa trama. - pede quase que numa súplica. Ao encarar seus olhos, posso notar que estão cheios de lágrimas não derramadas. Porém, ela segura firme para não quebrar.
Ela está se envolvendo nessa história mais do que realmente deveria, levando a crer de que seja chefe dele ou algo assim, já que entregou o plantão para ele.
-- Claro, faço questão. Pode ir na frente, que logo te alcanço. - pontuo, abrindo passagem ao sair do meio do corredor para que ela passe. Aproveito para olhar o babaca machucado uma última vez antes de lhe dar as costas.
- Isso não é nem o começo do que estou prestes a fazer com você. Vou fuder com a sua vida. Nós não acabamos!
...
Ambos batemos a porta no carro no mesmo instante, e não me demoro em dar partida. As ruas estão calmas nesse horário da manhã, e agradeço aos céus por isso. O silêncio se instaura no veículo.
- No meio de toda essa confusão, acredito que tenha esquecido de me apresentar, dado que não sei seu nome. Sou Eleonor Castelo. - apresenta-se, quebrando o sossego que havia recaído ali em poucos metros. Estende uma das mãos em minha direção, e rapidamente trocamos um leve aperto.
- Lucas Weber, a seu dispor.
Olho-a de relance e percebo que me direciona um sorriso fraco. Ela está verdadeiramente abalada com toda essa situação. E eengraçado, os dois tem o mesmo sobrenome.
Mas, isso deve ser apenas coincidência.
- Quando tudo isso aconteceu? - questiona ao se acomodar melhor ao banco.
- Ontem a noite, por volta das 18h.
Vejo ela puxar o celular do bolso e olhar algo rapidamente.
- E ela está bem, onde passou a noite?
- Aparentemente sim, ainda não consegui fazer com que ela me contasse o que aconteceu de fato. E eu a trouxe para cá, após ela me pedir socorro. - explico, enquanto coloco o carro na garagem do meu prédio e estaciono. Ela sai do carro, analisando tudo a sua volta minuciosamente. Põe a bolsa por sob o ombro e juntos, caminhamos para o elevador.
Enquanto esperamos, resolvo tirar essa dúvida da minha cabeça que já não aguenta mais de tantos questionamentos sem resposta.
- Desculpa a intromissão, isso com certeza não é da minha conta mas, não pude deixar de notar que seu sobrenome é o mesmo que o dele, por acaso são parentes?
Eleonor me encara e transparece desgosto no olhar e feições.
- Ele é meu filho.
A encaro incrédulo. Minutos atrás eu estava definitivamente montado em cima de seu filho e ela não esboçou nenhuma reação maternal, apenas aquela estritamente profissional. Puxa, tem meu total respeito quanto ao sangue frio.
A pequenaa caixa de metal apita e abre as portas para que possamos entrar, segundos depois elas se abrem novamente, agora já no corredor em meu andar. O movimento no condomínio hoje é baixo, milagre chegar tão rápido aqui em cima. Caminhamos alguns centimetros, e logo toco a campainha.
Melinda é quem atende.
- Que bom que chegou, já estava ficando apreensiva. E essa, quem é ? - Pergunta apontando para a Eleonor que está logo ao meu lado.
- Alguém com quem acredito que Ruth vá se abrir.
Minha irmã concede a passagem para que entremos e posso ver que a pequena Rodrigues está sentada no sofá de frente pra televisão.
- Ruth, querida!.
Assim que escuta a voz da sogra, ela imediatamente se levanta e vem em sua direção, fazendo a mesma ficar sem reação ao ver seu estado.
- Que monstro eu criei, meu Deus. Perdoe-me, minha filha. Em parte, isso também é culpa minha, não dei aquele traste a educação a base de tapas que ele merecia. - desabafa, puxando a nora para um abraço, onde as duas começam a chorar. Uma no ombro da outra.
Eu e Melinda, que ate então olhávamos tudo em silêncio, decidimos por deixar as duas conversarem a sós, saindo de fininho para outro cómodo. O mais próximo e no mesmo andar é o escritório, onde abro a porta e entramos.
- Ela me contou algumas coisas. - solta minha irmã ao fechar a porta atrás de si. A encaro curioso em expectativa.
- E o que ela disse?
Melinda caminha até a poltrona marrom adjacente a minha mesa e senta.
- Em resumo, ela disse que ele teve essa reação explosiva por que tem certeza de que o filho que ela espera é seu.
Ah, como eu adoraria. Ele jamais teria encostado um dedo que fosse nela.
Franzo o cenho sem entender nada. Até Carla ir parar no hospital, eu não fazia ideia da existência de Ruth. Que maluco, retardado.
Sento-me a frente de minha irmã, na parte de trás da mesa.
Então ela continua;
- Ele disse notar as suas investidas pra cima dela, e acusou a mesma de traição imediatamente.
Esse cara é definitivamente sem noção. Passo as mãos pelos cabelos como meio de tentar assimilar toda essa situação e fecho os olhos.
- Você sabe que não tenho qualquer tipo de vínculo com ela. Nos conhecemos a pouquíssimos dias, jamais tentaria algo sem seu consentimento. E pra termos um filho a caminho, no mínimo precisariamos de bem mais que três ou quatro dias.
Melinda se ergue e se aproxima, repousando as duas mãos por sob meus ombros.
- Eu sei disso. Estava lá, lembra?
Me puxa para um abraço, que vou de muito bom grado. E ela continua;
- Nós teremos que ser fortes nas decisões que forem tomadas se quisermos ajuda lá. Pois, pelo pouco que conversamos, deu pra notar que ela gosta muito dele apesar disso tudo.
Suas palavras são como facadas em meu peito e me permito chorar nos braços de minha irmã.Ainda sem entender de fato o real motivo das lágrimas estarem rolando. Melinda me aperta mais em seus braços;
- Sei que essa história mexe muito com você, por que sempre quis um filho. Então te peço: - Me afasta um pouco e me encara; -Cuide e proteja como se fosse seu, e eu prometo, vai ser difícil no início, mas não ira se arrepender.
Ela sorri e volta a me abraçar o mais apertado que seus braços conseguem aguentar.
Como alguém tão jovem, pode saber tão bem o que dizer nas horas certas?!
- Eu te amo, minha bonequinha.
E ali ficamos por um longo tempo, agora jogando conversa fora. Principalmente por que larguei toda a empresa nas mãos de uma estudante de moda.
Eu realmente não estou no meu juízo perfeito.
Mais tarde...
Escutamos batidas na porta, que logo ganham nossa total atenção. Peço para que entre, e Eleonor põe apenas a cabeça para dentro.
- Posso falar com você um instante? - Dirige a pergunta me olhando profundamente nos olhos, e sei que quer conversar a sós sobre Ruth e Matias.
- Vou ficar com Ana, com licença. - Melinda entende a situação e fecha a porta ao sair, nos deixando sozinhos.
- Por favor, sente-se.
Aponto para o sofá que tem ali, e a Srª Castelo se acomoda.
- Tenho que te pedir algo,visto tudo que presenciei e ouvi hoje. Não vou lhe pedir como médica, mas como mãe e quase avó.
Suas palavras são quase súplicas e começo a ficar nervoso.
O que Ruth revelou nesta conversa?
- Sendo para o bem dela, peça o que quiser.
Eleonor fecha os olhos e volta a me encarar com lágrimas nos mesmos.
- Não deixe que meu filho se aproxime dela. Não importa o contexto, apenas não permita. Como mãe, ela deve conhece bem o filho que tem para me pedir isso. E eu, com certeza vou atender de bom grado.
- Não precisa nem pedir, eu já o faria ainda que com sua possível desaprovação. Bem como a gosto dela ou não. Matias não merece aquele coração bondosa e gentil dela.
As imagens dela encolhida ao pé daquela árvore, machucada e indefesa me veem a mente e logo uma lágrima solitária rola por meu rosto. Trato rapidamente de limpa-la. Ainda não sei se de fato posso confiar nela.
- Cuide dela Lucas, ela não merece sofrer mais absurdos como esse. Já basta ter que suportar Carla naquele estado. - pontua antes de se levantar e enxugar o rosto.
Após assentir, convido-a para jantar. Convite esse que ela educadamente nega com um pequeno sorriso.
- Vou esta sempre por perto para quando precisar, mas nesse momento, tenho um filho pra colocar na linha.
Abre a porta e a fecha atrás de si.
...
Algumas horas se passaram desde que Eleonor foi embora. Fiquei trancado dentro desse escritório todo esse tempo imaginando o que faria a partir daqui. Me peguei repensando em todo meu plano, e no qual absurda pode ser a rasteira do destino para quado tudo parece se encaixar perfeitamente. Me estico e levanto, com todo o corpo reclamand das muitas horas sentado numa posição só.
A casa esta bastante silenciosa quando abro a porta, as luzes centrais apagadas e apenas dois pequenos abajures é que salvam os ambientes do breu total. Com isso, presumo que ambas tenham ido dormir. Subo para meu quarto calmamente, me livrando da camisa no caminho. Preciso de um banho.
Tamanho é o susto quando empurro a porta e me deparo com Ruth sentada em minha cama. A encaro sem entender, mas entro e fecho a porta atrás de mim.
Me aproximo dela meio receoso.
- Acho que a gente precisa conversar,
Fala enquanto se levanta e vem ate onde estou, estático ao pé da porta.
- Sobre o que?
- Sobre muita coisa.
Engulo a seco.
O que ela realmente pretende com isso?