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Após chorar mais algum tempo, não sei ao certo quanto, Ruth acaba dormindo próximo ao meu ombro. Ela ressona alto, e vez ou outra os resquícios do choro vem e volta. Foram fortes emoções pra um dia só. Então, ergo seu corpo em meus braços com cautela e subo as escadas rumo ao quarto de hospedes. Caminho com leveza até o final do corredor, e abro a porta com certa dificuldade, apesar dela ser magrinha de poucas curvas.
Ao meu aproximar do colchão fofinho, deito seu corpo aos poucos ali para que possa descansar um pouco. Fico paralisado apenas admirando seu rosto a penumbra da noite do quarto pouco iluminado, a não ser pela pouquíssima luz do abajur no criado mudo.
Ela é majestosamente linda!
Acompanho, de mesmo modo, o subir e descer do seu peito devagar, o rosto sereno e perfeito. A cubro e saio do quarto na ponta dos pés indo pro meu, que é logo ao lado oposto.
Tiro toda a roupa no caminho até o banheiro e tomo um banho quente, decidindo dormir apenas com uma calça de moletom azul a muito esquecida ali. Devido o cansaço, os olhos logo pesam e tudo fica escuro.
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Acordo em sobressalto e assustado, escutando gritos e choro vindos do cómodo ao lado. Ruth!
Rapidamente levanto e corro em direção ao barulho, e encontro ela se revirando na cama.
- MAMÃE, NÃO VAI! FICA AQUI! - grita ela no pesadelo, e me aproximo mais. Vejo que está com o rosto banhado de lágrimas. - EU NÃO VOU VIVER SEM VOCÊ. NÃÃÃÃÃÃO! - exclama estridente, porém nem mesmo isso foi capaz de acorda-la.
Sento suavemente ao seu lado e pego em seus ombros com cuidado e os balanço, tentando sem sucesso, fazer com que ela abra os olhos.
- Ei princesa, acorda! Está tudo bem, sua mãe está bem. Acorda! - peço, próximo ao seu ouvido. Demora um pouco, mas logo ela abre os olhos e os fixa nos meus com medo exalando por todos os seus poros.
- Onde ela está? Ela não morreu, não é!? - questionou ainda perdida devido o pesadelo, colocando a cabeça no vão do meu pescoço.
Paralisei.
- Ela está bem, sendo devidamente cuidada no hospital. Logo mais teremos ótimas notícias, você vai ver. - tranquilizo-a, passando a mão vagarosamente por seus cabelos castanhos em forma de carinho. Aos poucos, ela vai se acalmando, até que adormece novamente ali. Ajeito seu corpo novamente na cama, mas dessa vez fico parcialmente sentado ao lado para ter certeza de que ela ficara bem.
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- Psiu...
Escuto alguém me chamando, mas estou com tanto sono que não consigo dar importância.
- Ei, Lucas, você deve estar com um torcicolo horrível. - tentou a pessoa mais uma vez.
Como assim? Eu estou na minha cama e...
Abro os olhos rapidamente e levanto o corpo rápido, tudo logo dói. Constato, por fim, que não estou na minha cama e muito menos no meu quarto. Com a pontada que sinto na região do pescoço, volto a encostar o corpo na ponta da cama.
- Também me assustei quando acordei e te vi ai. Está doendo muito? - disse Ruth, já de pé e de banho tomado a minha frente. A mesma jeans e regata branca de ontem a noite, afinal, não trouxe consigo outra troca de roupa. Está um pouco desconfortável e sem graça.
Será que está ofendida por eu ter pego num sono aqui?
Em resposta a sua pergunta, apenas confirmo levemente com a cabeça. Inferno de dor chata! Ao passar pela região dos ombros e notar a pele nua, entendo a reação dela. Estou sem camisa e apenas de moletom da cintura pra lá. Na correria em tentar entender os gritos de ontem á noite, esqueci de pegar a peça.
Ela se aproxima e me pede para ir sentar na cadeira que está próxima a porta do quarto. Assim que o faço, ela dá a volta na mesma, pondo as mãos em meus ombros. Seus dedos frios tocam a minha pele, me dando um breve calafrio.
- Vai se sentir melhor depois disso. - Seus dedos vão de encontro ao meus pescoço, e um calafrio percorre toda a minha espinha novamente. Escuto quando ela sorri, e começar uma massagem deliciosa. Suas mãos e dedos percorrem toda a extensão dos meus ombros, pescoço e descem pelas costas até o limite do cós da calça.
No começo dói, mas suas mãos macias fazem com que o incomodo apazigue pouco a pouco. Vou relaxando e logo já não sinto mais tanto incomodo na região. Estico e movimento a cabeça de um lado pro outro, tendo certeza de que a dor foi embora.
- Muito obrigada, suas mãos fazem milagre. - Levanto e sinto que meu corpo não descansou, pois a preguiça em toda sua extensão é grande.
- Por nada. Bom, eu acho que já vou indo. - diz vindo para minha frente. -Antes, tenho que te agradecer muito pela hospitalidade e também pelo que está fazendo por minha mãe. Agora, eu preciso muito ir vê-la. - pontua, me deixando ali sozinho na ponta do quarto e sai.
Me espreguiço e vou atrás dela. Porém, não mais a alcanço, pois já desceu as escadas foi embora. Sem ter mais o que fazer, volto para meus aposentos e me tranco. Estou com muito sono para pensar em um plano melhor. Deito bem esparramado na cama, e logo adormeço novamente.
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:Peça para que ela segure as pontas por ai, acredito que só irei na parte da tarde. Ou talvez não.
(Instruo minha secretária.)
: Qualquer coisa, estarei no celular. Obrigado Leila.
(Desligo em seguida.)
Decidi tirar o dia de folga, dado que acordei mais tarde do que imaginei que seria apenas um cochilo.
Com isso, apenas levantei, tomei um banho frio, conversei um pouco com minha irmã enquanto tomava café com a mesma e meu cunhado e vim para o hospital ver como Carla passou a noite e as notícias que o médico possa ter sobre seu estado.
Estaciono o carro e desço, mas antes de entrar, respiro fundo, já me preparando para encontrar aquela bendita recepcionista de outrora.
Fico surpreso ao ver que é um homem que se encontra lá, e consigo respirar aliviado. Me passa o que quero saber com rapidez, e logo estou atrás do quarto que me falara.
Assim que o acho, bato na porta e escuto uma voz autorizar minha entrada. Ponho somente metade do corpo pra dentro do quarto e vejo-a sorrir quando me vê.
Entro e posso ver que ela não esta sozinha, Ruth também está aqui.
Me aproximo de Carla com um grande sorriso.
- Como você está Linha? - Pego sua mão e lhe dou um beijo no alto da cabeça.
- Me sinto bem melhor querido. E quanto a você, Melinda, Steven? - questiona preocupada. Sua voz está um pouco fraca, mas seu semblante não é tão ruim quanto imaginei que seria.
- Sentindo sua falta! Aquela casa é vazia e sem cor sem você.
Vejo a sorrir e aquilo alegra o meu dia.
Viro o rosto para sua filha, que nos assiste quietinha do outro lado da cama. Faço menção em perguntar sobre o sonho de ontem, quando alguém bate na porta e entra.
- Graças a Deus que você está bem. Que susto hein, Carla?! - diz um cara moreno e alto enquanto se aproxima de nós.
Quem será esse?
Ruth sorri para ele e termina com a distância curta que ainda os separava e abraça o mesmo. Ficando agarrada a ele.
- Lucas, esse é Matias Campos. - diz Carla, nos apresentando e nos aproximamos pra um aperto de mãos breve.
- Ele é meu noivo .-Ouço Ruth complementar.
Meu sorriso vai morrendo aos poucos, porém tento segurar a barra para que ninguém perceba.
Que droga, estava muito bom pra ser verdade, a mulher com quem eu sempre sonhei, ser solteira.
Não consigo evitar ficar zangado com isso.
- Bom, passei apenas para saber como você estava, e se precisa de algo. Daqui, vou direto para a empresa.
- Empresa, desse jeito? Resolveu ir informal hoje querido? - questiona Carla sobre meu jeans escuro e camisa social.
Ela me conhece tão bem.
- Preciso apenas assinar alguns papéis, coisa rápida.
Ela assente e lhe dou um beijo na testa novamente.
- Foi um prazer conhecer, Matias.
E saio quase que correndo dali.
Isso é uma merda mesmo, eu já devia imaginar que ela seria comprometida, linda do jeito que é. Areia demais pra mim.
Chego no carro pisando duro, e dirijo rumo a empresa mesmo sem querer, pois é meu único jeito de manter a mente ocupada.
Hora de voltar a procurar a barriga de aluguel!