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Ainda fugando, Ruth vai aos poucos se soltando de meu braços. Em seguida, me encara meio perdida.
Simplesmente não consigo decifrar o que esses olhos azuis querem tanto me dizer.
- Perdoe-me, senhor Weber, eu estou meio desorientada. Aconteceu tudo tão de repente.
- Te perdoo se esquecer isso de senhor, acredito que tenhamos quase a mesma idade. Me chame apenas pelo primeiro nome. - estendo a mão para um breve aperto após o longo abraço, e sou surpreendido por uma sensação que lembra muito uma leve descarga elétrica. Ela parece sentir o mesmo, pois sorri sem quebrar o contato visual. Quando noto que ela faz menção em dizer algo, o soar da porta branca por onde Carla a pouco passou, ganha nossa total atenção. Um médico de estatura baixa e cabelo grisalho logo saí de lá a passos largos e precisos muitas horas depois da entrada de Carla.
- Parentes de Carla Rodrigues. - diz o médico, fazendo com que Ruth corra em sua direção.
A princípio, nos mantivemos longe. Afinal, ela tem mais direitos por ser filha. Os dois conversam um pouco e em seguida ela desaba no chão, literalmente. E então num impulso, corro até lá para aplacar um pouco sua queda. Ela chora copiosamente com o rosto afundado nas mãos.
- Doutor, o que aconteceu? - questiono, conforme ergo Ruth em meus braços.
- Carla está com Leucemia em fase terminal, sinto muito. - pontua o homem de jaleco branco e automaticamente meu coração se quebra ao ouvir isso. Nós nunca esperamos que alguém tão próximo, possa estar a beira da morte assim, tão nova.
- Tem algum tipo de cura, vocês não podem fazer nada para salvar a vida dela?
- Na leucemia, a pessoa tem uma contagem muito alta de glóbulos brancos. Os glóbulos brancos cancerosos, contudo, não funcionam como deveriam. Dessa forma, a pessoa fica propensa a contrair infecções. Essas infecções podem trazer risco à vida. Estamos fazendo exames para descobrir qual o melhor tratamento para a paciente. - explica o médico pausadamente, enquanto tento consolar uma Ruth que chora copiosamente.
- Façam tudo o possível para salvar a vida dessa mulher doutor, ela representa muito para cada um de nós. - supliquei.
- Ela está muito fraca e debilitada, e demos alguns medicamentos para aplacar a dor e também para que ela consiga descansar um pouco. Por hora, ela não pode receber visitas. Volto a conversar com vocês no caso de alguma melhora ou no resultado dos testes. - diz por fim, pedindo licença e se retirando na sequência. Nos deixando ali, ainda atônitos com toda a situação e sequer conseguindo digerir suas palavras.
Ergo Ruth ainda em meus braços com dificuldade, e juntos caminhamos devagar para as cadeiras de onde a pouco saímos novamente. Acomodo-a ali, e logo sou puxado discretamente por Melinda para o lado.
- O que ele disse Lucas, o que ela tem? - questiona minha irmã já apreensiva por ver Ruth chorar tanto.
- A Carlinha tem leucemia em estado terminal e eles ainda precisam fazer testes e exames para descobrir com qual tratamento o corpo dela vai reagir melhor. - explico já com o nó preso a garganta. Melinda a princípio me encara embasbacada, como se a ficha da gravidade ainda não tivesse caído de fato. E quando isso acontece por fim, ela se põe a chorar assim como Ruth. Ela pula em meus braços em busca de conforto, e afundo meu rosto no vão de seu pescoço próximo ao cabelo. O cheiro de jasmim invade minhas narinas e logo me remetem o amaciante que tanto Carla gosta de usar nas roupas. É estopim para que as lágrimas caiam em forma de cascatas. Steven, que apenas ouvia tudo um pouco mais ao longe, chora junto a cada um de nós. Afinal, Carla é um anjo a sua maneira na vida individual de cada um.
Ainda não consigo acreditar que isto está acontecendo. Não consigo cogitar que... Deus, por que ela?
Poucos minutos se passam, e Ruth ergue a cabeça devagar, enquanto limpar os olhos e o rosto inchado. Seu semblante cansado e olhos vermelhos quebram o coração de vez. Pois, você acaba por sentir-se inútil, dado que nada pode fazer para aplacar a dor dela.
- Obrigada por, estarem aqui e, mostrar que minha mãe é mais que uma simples empregada pra vocês. - diz em um sopro de voz e sorri fraco. Em seguida, faz menção de se levantar e ir embora. Como meio de faze-la parar, seguro seu braço bem de leve e ela estaciona no lugar.
- Por que não fica conosco, senhorita Rodrigues? Acredito que já esteja bem tarde. - Saco o celular rapidamente do bolso e por incrível que pareça, desde que Carla deu entrada até agora, que pra nós o tempo parecia não passar, lá fora ele passou e a todo vapor, pois já é quase dez da noite. Nesse meio tempo, Melinda me solta e vai para os braços de seu namorado.
Ruth olha em seu relógio de pulso, confirmando o que eu disse. Parecendo vencida, ela diz:
- Vocês moram perto daqui? - questiona e apenas balanço a cabeça em afirmativa. - Tudo bem então, quero ficar mais perto da minha mãe. - Sorrio em resposta, agradecendo aos céus por ela não ser tão teimosa quanto minha irmã. Todos levantamos e seguimos para fora do hospital. Mas antes, deixamos avisado na recepção de que qualquer coisa poderiam nos ligar e viríamos correndo. Melinda foi em seu carro junto ao namorado e fiquei com Ruth aguardando enquanto Bruno recolhia meu carro.
- Você veio de carro ou moto?
- Moto. Ainda estou juntando minhas economias para comprar um carro.
Assenti, e logo Bruno chegou e seguimos para meu apartamento. Por todo o caminho, não trocamos uma palavra sequer, se instaurando um silêncio dilacerante. Devido o pouco trânsito, logo estamos entrando no estacionamento subterrâneo de meu prédio. Saímos e juntos, caminhamos em direção ao elevador. Este demora um pouco, mas logo vem. Dando tempo para que Melinda e Steven nos alcancem.
Tudo isso aqui fica mórbido e absurdamente vazio sem Carla aqui. Dou espaço pra que todos entrem e fecho a porta em seguida. Melinda e meu cunhado sobem para o quarto, e eu fico na sala com Ruth. Ela olha tudo como uma criança curiosa, já parece estar bem mais calma.
Depois de um tempo, se aproxima de onde estou ao pé da escada e lado a lado seguimos para o sofá.
- Agora entendo por que mamãe falava que aqui parecia um castelo. É tudo tão lindo. - Linha é mesmo uma fofa, em todos os sentidos. E olha a filha que tem, puxou tudo seu. - Não queria conhecer as pessoas de quem tanto ouço falar num momento como esse, mas o destino é fogo, não é!? - Ri e continua me olhando como se esperasse uma reação. E eu como o belo idiota que sou, permaneço estático e em silêncio aqui vislumbrando sua beleza.
- Tenho sua mãe como minha mãe, e tenho certeza que Melinda também. - Consigo finalmente falar.
Vou arriscar algo, e espero que dê certo. - Desculpa a intromissão mas, o que você faz da vida?
Ela me olha por um momento, e depois resolve falar.
- Sou estudante de Medicina, entrei no curso a pouco tempo e ainda não sei bem que área seguir dentro dela. - Se acomoda melhor no sofá e continua; - Mamãe sempre me incentivou muito, fez e faz de tudo para pagar minha faculdade, e eu ajudo como posso, trabalhando aqui e ali do jeito que dá. - Fala tudo de cabeça baixa, e de repente me encara profundamente.
- Eu não posso perder minha mãe! - As lágrimas começam a cair novamente e eu ponho a mão sobre seu rosto tentando acalma lá.
Me aproximo e passo a mão levemente por seu rosto.
- Nós vamos conseguir salva la, você vai ver.