Capítulo 8 Capitulo VIII

Acordo atordoado, olhando em volta abismado e assustado. O quarto está tomado pela luz da manhã e noto pela visão periférica que Ruth ainda dorme o sono dos justos, alheia a tudo que a cerca. Com isso e muita cautela, levanto da cama devagar para não acorda-la. Dou a volta na cama e visualizo seu rosto com mais calma após o episódio da noite passada. Seu olho direito está inchado, tem pequenos hematomas pela bochecha e testa, além de um corte superficial na ponta da boca.

Minhas pernas vacilam e caio de joelhos no chão, analisando com ainda mais atenção o resto do pescoço até a altura onde o cobertor me permite. Marcas avermelhadas circulam seu pescoço e desconfio que Matias tentou enforca-la. Não duvido que tenha tentado algo tão absurdo no ápice da sua cegueira de ciúmes. Abaixo a cabeça e escondo-a nas mãos antes de me sentar por sob meus pés.

Isso em parte é culpa minha! Eu deveria ter entendido os sinais e te-lá arrastado comigo quando presenciei aquela cena ontem de manhã.

Continuo ali me martirizando baixinho, quando sinto carícias em meu cabelo. Levanto a cabeça devagar para encara-la.

- Quem fez isso com você, pequena? - questiono me fazendo de desentendido, mesmo sabendo bem a identidade do agressor miserável.

Ela levanta com cuidado e senta.

- Eu não quero falar disso, por favor. - suplica quase num sussurro. Olho-a de relancee e é minha vez de levantar.

- Não precisa dizer nada, na verdade. Eu sei que foi ele, por mais que você insista em negar. - a raiva me toma mais uma vez e puxo o abajur do criado mudo, o jogando longe. Percebo que ela se assusta e logo me dou conta de que ele deve ter feito essa mesma cena, me arrependendo amargamente de ter deixado minha fúria me dominar.

Merda.

- Me desculpe! Eu... Eu

Ela me encara pelo que me parece ser longos minutos e não diz nada, apenas e mese ergue e ficamos frente a frente. Após uma longa tragada de ar, me abraça.

- Não me deixa sozinha, eu não ageunto mais tudo isso.

Sua voz é tão baixa, que quase não consigo entender. Mas, após captar a mensagem, a aperto em meus braços e tento tranquiliza la.

Ficamos ali por uns instantes, e depois nos separamos.

- Vou preparar algo para comermos, imagino que esteja com fome. - pontuo brincalhão, como meio de tentar mudar de assunto, já que percebo que ela não quer falar do ocorrido. E por hora, vou respeitar isso.

Ela assente.

- Vou tomar um banho, enquanto isso.

ela tenta dar um passo na direção do banheiro, mas suas pernas vascilam e ela cai de volta na cama, fechando e apertando os olhos com a dor.

Não posso crêr que ele fez mais isso!

Rapidamente, vou a seu encontro e estendo a mão.

- Me deixe te ajudar. - cautelosamente, ponho sua mão em meu ombro, a ajudando a levantar e andar até o banheiro. Em nenhum momento, ela se importa de esta quase nua em minha frente.

Deixo a sentada no vaso, e ligo a torneira colocando a banheira pra encher. Acredito que ela não tenha forças o suficiente pra aguentar uma ducha de pé.

- Imaginei que seria mais confortável pra você. - digo enquanto me afasto para pegar alguns sais de banho e sabonete líquido. Ruth acompanha cada passo meu, com um sorriso tímido nos lábios.

Termino de preparar tudo e coloco uma toalha bem perto dela, para que não tenha que fazer muito esforço.

- Bom, vou lhe dar privacidade. Não hesite em me chamar se precisar de algo.

Me aproximo e beijo suavemente sua testa.

- Obrigada!

Diz em réplica ao sorrir e encosto a porta ao sair.

Corro pro andar de baixo para da um jeito na destruição e desordem que causei. E me surpreendo ao chegar lá, e ver que está tudo em ordem.

- De nada. Apesar de que agora você me deve um grande favor para o resto da vida. - diz Melinda com uma xícara de café em mãos ao sair da cozinha me encarando.

Respiro aliviado e vou ao seu encontro.

- Já disse que te amo?!

Agarro-a pela cintura com cuidado para não acabar tomando um banho de café e ela ri divertida.

- Olha, eu amo você também, mas acho que precisa urgente de um banho.

Faz uma cara ruim e balança a cabeca de um lado para o outro em negação.

- Enfim, vai me contar o que aconteceu aqui? - questiona ao fechar a cara em minha direção e pousar a xícara na ponta da mesa do café.

- Outra hora, com mais calma. - digo rapidamente ao notar que Ruth desce as escadas desconfiada.

Assim que minha irmã pousa os olhos nela, sua feição se transforma e a xícara de café voa por sob minha cabeça, antes de começar a me bater sem parar.

- VOCÊ POR ACASO ESTÁ LOUCO? SEU ESCROTO. POR QUE FEZ ISSO COM ELA, O QUE A POBRE GAROTA TE FEZ? - grita a plenos pulmões histérica e vejo ali que minha irmã realmente não me conhece direito.

- Acalme se! A última coisa que precisamos é deixar Ruth mais abalada do que ela já está. E eu jamais seria louco de fazer uma coisa dessas, como pode cogitar isso?

Ela franze o cenho e para de me bater, se afastando e sentando em uma das cadeiras da mesa em seguida.

- Seu irmão na verdade, só tem cuidado e me ajudado. - sibila Ruth, ao terminar de descer as escadas e se colocar ao meu lado.

Melinda para nós dois por umas duas vezes, e baixa o olhar para o chão envergonhada após essa cena toda.

- Me desculpem. Eu deveria aprender a ouvir antes de tirar minhas próprias conclusões.

- Tudo bem maninha, você tem meu perdão sincero.

Beijo sua cabeça quando ela se levanta para me abraçar e me viro.

- Sente-se melhor, Ruth?

Ela sorri e assente.

- Venham, preparei o café! - diz minha irmã, ganhando nossa atenção para si.

Melinda se solta de meus braços e corre em direção a cozinha. Eu e Rutha seguimos em seguida. Nos sentamos um ao lado do outro na mesa posta e nos servimos.

- Fui ver a Linha hoje, e seu medido me falou que ela está reagindo bem e logo vai poder voltar pra casa. - diz Melinda, servindo se de uma nova xícara de café, já que a anterior literalmente criou asas e voou.

Até que enfim uma ótima notícia!

Olho para Ruth, e ela esta pálida. O que houve?

E antes que eu pudesse perguntar...

- Melinda, como é o nome do médico? - ela pergunta receosa, e contínuo sem entender essa preocupação repentina.

- Hum.. Doutor Matias Castelo.

Minha irmã responde antes de colocar uma garfada de panqueca na boca.

Deixo que os talheres caiam no prato fazendo um barulho horrível ao identificar de onde vem o medo estampado na feição de Ruth.

- Ele não vai encostar num fio sequer de cabelo da Carla. - grito ao bater com força minha mão na mesa, fazendo um estrondo enorme. Minha irmã me olha sem entender.

Ruth encara com fixação algo abstrato na parede e noto a tempo seu olhar ficando fraco. Ela vai desmaiar. Apenas tenho tempo o suficiente de esticar os braços para o lado certo.

- Meu Deus, Ruth! - exclama Melinda em choque.

Ergo-a nos braços desmaiada e com a ajuda de minha irmã, deito-a no sofá.

- Foi esse tal de Matias quem fez isso com ela, que a deixou assim. Mas, agora que sei onde ele supostamente trabalha, vou ate lá e vai ser agora! Cuide dela pra mim, e não a deixe sair sozinha. -digo ríspido antes de sair pela porta da frente de casa, pegando apenas as chaves do carro e a carteira antes disso.

Esse covarde vai se ver comigo!

...

Não demorei muito a chegar aqui, considerando meu atual estado de nervos. Estacionei o carro de qualquer jeito na primeira vaga que vi e já pulei fora do veículo em sequência procurando o infeliz porta a dentro. Passo por vários corredores cegamente, e logo o encontro parado em frente a porta do quarto de Carla. Corro até lá e toco seu ombro, ele me olha e lhe acerto um soco sem pensar duas vezes.

- Você por acaso é maluco? - pergunta com a mão no local onde bati.

- Estou, pra te matar!

O levanto pelo colarinho e acerto mais um soco, quando ele cai, subo em seu corpo e começo a distribuir um após o outro com cada vez mais força.

Sinto dois caras me puxarem pra longe dele, e posso ver o trabalho bem feito que fiz.

Uma mulher, também médica se aproxima e me olha incrédula.

- Por que toda essa violência contra o pobre médico, meu rapaz?

- Ele merecia bem mais que isso, pelo que fez com Ruth noite passada.

- E o que ele fez? - ela questiona com ambas as mãos na cintura.

- Deu uma surra nela, imagino que tenha ido até além. Não duvido nada vindo dele.

A senhora de cabelos castanhos e meia idade me olha incrédula.

- E onde ela está? Por Deus, está tudo bem com o bebé?

Perai, que eu acho que não entendi direito.

- Ela esta grávida? - pergunto irado e a mulher confirma com a cabeça. - Agora eu te mato, desgraçado. E não tem diabo que me impeça.

            
            

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