Capítulo 4 VIGIANDO O PRISIONEIRO

ANDREW

Acordar em um lugar desconhecido não é nada bom, principalmente porque pode atrapalhar meus planos, mas o estranho nisso tudo é a sensação de alívio que estou sentindo desde que acordei e me deparei com a garota ao meu lado. Seu olhar curioso sob mim, cada detalhe de seu rosto tão angelical, olhos de um castanho tão profundo, boca carnuda e avermelhada, longos cabelos pretos entrançados, trajando roupas masculinas, túnica e calça que não a deixavam masculina, pelo contrário davam a ela um ar de poder, diferente das mocinhas fragilizadas a que estou acostumado. Não sei o porquê, mas algo nessa garota chamou a minha atenção, não é apenas a beleza, tem algo nela que me deixou descontrolado, e se bem me lembro, não estou perto do meu cio.

Quando os dedos dela tocaram minha cabeça, uma sensação estranha tomou conta de mim, e minha mente ficou em êxtase, seu cheiro me deixa inebriado, e todas as minhas defesas são colocadas abaixo. Não faz sentido o que estou sentindo, e as palavras do mago Killian vem à minha mente:

"Você a encontrará a Ômega Lunar quando menos esperar, ela mudará a sua vida para sempre"

Será que realmente estou diante dela, ou será que as palavras do mago foram para me iludir? Embora, as palavras dele sobre o Príncipe Perdido deixaram meu pai com muito medo. Acho que essa história está me tirando do meu verdadeiro foco, que é encontrar o meu primo, afinal, ela faz parte de algum grupo rebelde, estão me mantendo preso, e se eu não pensar em alguma coisa para fugir desse lugar, eles poderão me executar, ou me usar como garantia.

Além da garota, outra coisa me intrigou. O nome do líder deles, Duric. Esse é um nome conhecido pelo castelo, e isso me fez chegar à conclusão de que não fui capturado por um grupo rebelde qualquer, mas pelo mais importante deles, o Movimento da resistência de Conrai, liderado pelo homem que foi acusado pela morte de meu tio Moriam. Era governador da Cidade-Estado de Conrai, e ninguém sabe ao certo o porquê, mas ele se rebelou contra o Rei, orquestrou o plano para matar meu tio, sua esposa e o filho deles que acabara de nascer na noite dos assassinatos, mas algo parece ter dado errado em seus planos, já que o herdeiro ao trono sobreviveu.

[...]

Observo as possibilidades de fuga desta cabana, mas antes que eu pense com clareza, a porta se abre bruscamente. Allyssa está de volta, e a expressão de seu rosto não parece agradável, coloca um pote de água, uma cesta com frutas e um pequeno pote com sopa em cima da mesa que ficava num canto da pequena cabana de madeira, observa algo fora da cabana através da janela próxima à mesa. Percebo sua inquietação, de alguma forma minha presença incomoda, e talvez eu possa usar isso a meu favor para sair desse lugar.

Quem sabe se eu tentar uma aproximação, posso desestabilizá-la, mesmo sem saber ela pode me ajudar a fugir. Ela olha em minha direção, nossos olhares se encontram, rapidamente vira o rosto e continua olhando pela janela, esse silêncio me incomoda, e eu preciso ganhar a confiança dela.

- Alice, estou com fome!

- Meu nome não é Alice, é Allyssa!

- Desculpe Allyssa! Olha, eu não queria me meter, mas aconteceu alguma coisa com você? Parece triste...

- Não aconteceu nada, eu só estou cansada! Escute uma coisa, você é prisioneiro aqui e está se comportando como se fosse um hóspede, isso está começando a me irritar e só não te mato, porque... - responde em um tom raivoso, mas não consegue concluir sua resposta.

- Está encantada por mim? Eu sei o efeito que causo nas mulheres, Allyssa! Você não seria indiferente a mim! - respondo, a encaro com um sorriso, e ela solta uma gargalhada.

- Eu encantada por você? Poupe-me de suas idiotices, Paolo! As mulheres que se encantam por você, são idiotas e cegas, você não tem nada de atrativo, meu caro!

- Tenho sim! Sou bonito, sou um nobre e sou um Alfa Lúpus... Só isso me garante muita coisa!

Sorrio e seu olhar parece mais raivoso ainda, e isso desperta algo em mim, um desejo intenso de saber o gosto que ela tem, e não consigo tirar meus olhos dela, e não estou sozinho nisso, Allyssa me olha intensamente. Meu coração dispara, um calor intenso toma conta do meu corpo quando sinto mais uma vez cheiro, e algo desperta dentro de mim.

"Ela nos quer, ela nos quer..."

O quê? Não pode ser, não estamos no cio!

"Eu sei disso, mas ela me despertou, seu cheiro é especial, ela não é uma Ômega comum!"

O que você está falando?

"Ela não é uma Ômega comum, eu sinto, ela é..."

Não, não pode ser!

Balanço a cabeça, olhos para o lado. Não consigo sustentar o olhar e pensar na hipótese de Allyssa ser a Ômega Lunar me deixa desconcertado. Escuto a porta se abrir, e se ela for uma Ômega Lunar, também deve ter sentido o mesmo que eu.

"Você não pode ir embora e deixá-la para trás!"

Você está louco, essa garota não pode ser uma Ômega Lunar, ela nunca será submissa...

"Esse tipo de Ômega não nasceu para ser submisso a ninguém, mesmo que seja um Alfa Lúpus!"

ALLYSSA

O que está acontecendo comigo? Não me sinto bem. Ando pelos campos do território sem destino, avisto o rio, me aproximo mais e me sento em uma grande pedra. Sinto um desconforto dentro de mim, como se algo tivesse despertado, o cheiro dele ainda é muito presente.

"Finalmente fui despertada"

O quê? Quem falou?

"Sou sua loba, e falo com você em pensamento, Allyssa!"

Como você foi despertada? Por que nunca falou comigo antes?

"Porque só agora você encontrou o Alfa Lúpus!"

O quê? Que Alfa Lúpus? Aquele prisioneiro idiota?

"Sim, ele mesmo!"

Você está louca!

"Não, ele é o nosso Alfa!"

Não, não, nenhum Alfa vai mandar em mim!

[...]

Passei minha vida desejando que isso nunca acontecesse, mas agora esse lado animalesco foi despertado, e eu me sinto impotente diante de algo que não posso controlar, principalmente enquanto ele estiver por perto. Não consigo parar de olhar para ele, esse cheiro que me deixa tonta, e o quanto desconfortável por perceber que ele me olha o tempo todo, principalmente quando evito contato visual, é torturante ficar tão próximo de alguém que quero manter distância.

- Allyssa, estou com fome, será que você poderia me dar comida? - pergunta com muita delicadeza, diferente de como agiu antes, e isso me incomoda. Levo o prato que estava em cima da mesa até ele, e coloco ao seu lado, e volto a me sentar à mesa, e me concentrar no livro que eu tentava ler antes dele me pedir comida.

- Allyssa, quando tento comer sozinho, machuco ainda mais meus pulsos! Será que você não podia me soltar, ou... - faz uma pausa e me olha de um jeito que me incomoda. - Dar a comida na minha boca!

Não tenho muita escolha, e sem proferir uma única palavra, cedo ao seu pedido, pois não posso soltá-lo. Pego o prato, separo uma porção com a colher e conduzo até a boca dele que abre para receber a sopa, mas continua me olhando com muita intensidade. O silêncio continua e procuro não olhar na direção dos seus olhos, mas sinto que me olha, e continuo me sentindo estranha quando sinto seu cheiro, me deixando um vulnerável demais, algo que desconhecia e não estou gostando de sentir.

- Dá para você parar com isso?

- Parar com o quê? Eu não estou fazendo nada!

- Não se faça de idiota! Você está o tempo todo me olhando e isso me incomoda!

- Por que eu não posso olhar para você? Isso é algum crime?

- Como você é irritante! Já não basta o fato de ter que vigiar você, ainda tenho que aguentar o seu sarcasmo!

- Allyssa, eu não estou sendo sarcástico! Estou impressionado com a sua beleza, nunca conheci uma mulher tão bela quanto você!

Sua resposta me faz encará-lo. Encontro seu olhar que me deixa ainda mais desconcertada, sinto sua mão tocar a minha suavemente. Olho em direção às nossas mãos, e sinto algo diferente, uma energia que parece tomar conta de todo o meu corpo, e as pontas dos seus dedos parecem queimar a minha pele. Torno a olhar para Paolo, seus olhos mudam de cor.

- É você, eu sempre estive esperando por você!