Capítulo 8 A FUGA

ANDREW

Deitado, a meia luz que entrava pela janela, pensava em como fugir, já tinha a faca e o beijo deixou Allyssa distraída, mesmo que se lembrasse do objeto, não iria saber que estava comigo, no momento em que ela chamou o soldado, tratei de escondê-la por dentro do colchão de palha rapidamente, antes que ela percebesse. Agora, era só esperar o momento certo, mas algo me deixava preocupado, mesmo sendo parte de meu plano, o beijo despertou um desejo avassalador, e meu lobo afirma que ela não é uma Ômega, e não é comum. Lembrando da profecia de Killian, mesmo que ela seja a Ômega Lunar, eu não posso neste momento me deixar levar por isso, afinal, tenho uma missão a cumprir, e talvez em outro momento possamos nos encontrar

Entretanto, meu lobo possa estar enganado, e essa garota pode ser uma Ômega comum, ou Beta. Sei que não posso nesse momento imaginar qualquer coisa sobre ela, afina ela é grossa, estúpida e não lembra, nem de longe as belas e delicadas damas de Epassi, Spaldi ou Venas, sempre tão arrumadas com seus vestidos repletos de saias e armações, não dá para imaginar Allyssa vestida daquele jeito, além da submissão que elas demonstram aos seus Alfas, e isso definitivamente parece ser impossível, pois mesmo que a marcasse, ela não parece o tipo que submeteria ao que eu dissesse, além de que os Ômegas Lunares são involuntariosos, ge talvez seja mais fácil vê-la usar um vestido com milhares de saiotes, e imaginar tal situação faz um leve sorriso se formar em meus lábios, "não, definitivamente, não! Allyssa vestida como as damas de Epassi? Seria possível? Enquanto penso nela vestida como uma dama, Allyssa entra na cabana como um furacão, recolhe seus pertences que estavam num canto deste limitado espaço, próximo a um pequeno, e velho armário. Observo detalhadamente cada movimento dela, lembro-me do beijo.

- Allyssa, eu queria pedir desculpas pelo que aconteceu, eu não sei o que me deu e acabei agindo por impulso, não queria ser grosseiro e selvagem com você! - falo com ar de arrependimento, mas a garota não responde nada, apenas olhou em minha direção com muita raiva, depois vira o rosto e tornou a guardar suas coisas em uma mochila.

[...]

Allyssa simplesmente me ignorou por completo, e uma pontada de arrependimento toca o meu peito depois de saber através do guarda que ela foi designada para outra missão, e que não ficaria mais aqui. Provavelmente seria por minha culpa, mas o que posso fazer? Nesse momento tenho que tentar fugir, observo o guarda que continua encostado à parede, mas o sono teimava em deixar seus olhos pesados, e o sono foi mais forte, rende-se a ele, e adormece.

Observo qualquer movimento do soldado, ele realmente dorme, cuidadosamente me sento, tiro a faca do colchão, uso o objeto para desparafusar um lado das algemas, ele mexe a cabeça para o lado esquerdo, paro e fico estático esperando alguma reação ou movimento dele, mas não se mexe, e continua dormindo. Recomeço minha tentativa de fuga, consigo soltar o grande parafuso que sustentava um lado das algemas, em seguida prossigo com o outro lado até me soltar em definitivo, um sorriso de satisfação brota de meus lábios. Uso a faca para cortar a corda que amarra meus pés, levanto e coloco a faca no cós de minha calça. Caminho até o soldado, observo e percebo que continua dormindo, ando bem devagar até a janela que fica ao lado da porta, olho e percebo que só há um soldado na frente da cabana, giro a maçaneta da porta bem devagar, abro sem fazer nenhum barulho, coloco a cabeça para fora da porta e vejo apenas o soldado encostado na esquina da cabana, quando me preparo para sair, ouço o soldado que aparentemente estava dormindo dizer:

- Você. - um frio passeia pelo meu corpo, fecho a porta devagar e me viro, o encaro e ele continua. - Você... Eu odeio... Você... Razur... - fala e parece ainda estar dormindo para minha alegria.

Olho mais uma vez pela janela, o soldado continua na mesma posição, pego um pedaço de madeira que é usado para travar a porta, saio bem devagar sem fazer nenhum barulho, deixo a porta encostada, caminho em direção ao soldado que não percebe minha presença, pois noto que parece um pouco sonolento, aproveito o momento e o golpeio na cabeça, o rapaz não tem chance de reação, cai desmaiado. Assim que ele cai, levo minha mão até seu pulso, sua pulsação parece normal, trato de arrastá-lo para dentro da casa, tiro suas roupas, uma túnica verde com capuz, uma camisa branca com mangas longas e uma calça da mesma cor da túnica. Tiro minhas roupas e visto as do soldado, pego a espada, caminho até a porta, fecho-a e sigo meu caminho com muita atenção para não ser surpreendido pelos soldados de Duric, passo entre várias cabanas de madeira, por grandes pinheiros-silvestres que ficavam à frente da vila, até chegar à entrada entre as montanhas que formavam o paredão da Floresta Petrificada. Ao avistar de longe alguns soldados segurando suas tochas, com espadas postas nas cinturas, paro e penso no que fazer, preciso surpreendê-los, há dois soldados de costas para mim, e outro sentado num canto entre as frestas da montanha, ele parece dormir.

Caminho vagarosamente, vou me aproximando aos poucos, e percebo que um deles se afasta, toca o outro que estava dormindo sentado, e os dois entram em uma das frestas, provavelmente devem usá-la como abrigo para dormir, com isso resta apenas um de guarda, ele está bem armado, com espada e um arco. Continuo me aproximando, o soldado parece distraído, não nota minha presença sorrateira naquele espaço, me aproximo ainda mais, e com o mesmo pedaço de madeira acerto sua cabeça, ele cai sem fazer muito barulho, aproveito o momento, pego sua tocha, e continuo minha caminhada. Preciso sair daqui, embora minha atitude me incomode um pouco, mas é necessário.