Capítulo 5 CONTATO INESPERADO

ANDREW

- Está sentindo o mesmo que eu, não está?

Ao me ouvir, Allyssa me desvia o olhar, e balança a cabeça em negação e afasta a sua mão.

- Não, não estou sentindo nada! Você está ficando louco?

- Não finja que não sente nada, sei que você sentiu o mesmo que eu, toda essa energia, e do mesmo jeito que seu cheiro está me deixando louco, o meu também está te deixando... - minha afirmação parece gerar uma revolta em Allyssa, que torna a olhar para mim, e percebo a raiva que emana dela.

- Não, não sei do que está falando, e acho que já cansei de ouvi-lo falar tanta besteira!

- Eu sei que é difícil para uma Ômega tão poderosa quanto você aceitar que...

- Cala a sua boca! Eu não sou Ômega Alfa, Beta, ou qualquer outra coisa, e eu não senti nada do que você falou, entendeu?

- Você está fugindo da verdade!

- A verdade aqui, é que você é prisioneiro!

Antes que eu responda, ela se vira, abre a porta e sai. Uma vez o mago Killian foi preso pelo exército do palácio, e eu como sempre fui curioso, quis conhecê-lo sem que meu pai soubesse, e na minha ida a sua cela, ele me disse que meu futuro seria ao lado de uma Ômega Lunar, e que isso mudaria minha vida. Sempre achei que poderia ser verdade, afinal, nunca me senti fortemente atraído, ou apaixonado por ninguém a ponto de querer marcá-la, mas ao mesmo tempo essa história do mago parecia impossível, já que ômegas desse tipo são raros, mas desde que conheci Allyssa passei a ter certeza de que essa profecia pode ser verdadeira. Não sei se pode haver outra explicação para o que sinto quando ela está por perto, seu cheiro e toda a energia poderosa que emana dela me deixa perturbado. Sei que preciso sair daqui, mas o que faço em relação a Allyssa?

ALLYSSA

Sinto a força do vento batendo em meu rosto a cada passo percorrido durante a minha corrida sem propósito. Como fui deixar aquele homem tocar em mim e despertar uma vulnerabilidade que desconhecia? Isso me deixou completamente assustada, e sem nenhuma reação. Avisto uma árvore à beira do rio, reduzo a velocidade de minha corrida, paro e sento. Observo a correnteza do rio com sua água cristalina.

"O que há com você, Allyssa?"

É você de novo?

"Sou eu, mas por que você fugiu do nosso Alfa?"

Ele não é nosso Alfa! Pare de falar bobagem dentro da minha mente!

"Não adianta você fugir da verdade, ele é nosso Alfa!"

Pare de falar dentro da minha mente, agora!

Junto às minhas mãos diante do meu rosto, balanço a cabeça em negação. Deslizo minhas mãos sob meu cabelo, mas parece que não adianta muita coisa, o rosto dele vem à minha mente, e uma sensação estranha, um calor, uma energia eletrizante percorrendo todo meu corpo, seu olhar penetrante que parecia ler a minha mente, me sentindo presa diante de um predador, sem reação e completamente impotente. O que eu faço?

[...]

Caminhando pelos campos da plantação, alheia ao meu redor, percebo alguém chamar meu nome, mas parece distante de onde estou, olho para trás e avisto o meu irmão.

- Allyssa! Allyssa! Allyssa! - grita ao se aproximar.

- Balck, por que está gritando?

- Por que estou gritando? Eu te chamei várias vezes e você não respondeu! O que aconteceu com você? Parece distante e sem rumo...

- Não aconteceu nada, eu só estou cansada! Ah, vou dormir na cabana da prisão, fui definitivamente designada para cuidar do prisioneiro! - respondo num tom raivoso.

- O problema é com o prisioneiro?

- Se eu pudesse o matava nesse exato momento! - respondo com tanta raiva, que meu irmão se aproxima mais e me abraça.

- Seja lá o que esteja acontecendo, você sabe que sempre pode contar comigo, não sabe?

- Sei.

Solto-me de seus braços, o encaro, e sinto uma vontade imensa de falar o que está acontecendo comigo, mas a coragem passa bem longe de mim. Apenas me despeço e continuo minha caminhada até a cabana. Ao chegar me deparo com ele deitado sobre o colchão de palha, parece estar dormindo, observo por um instante, mas prefiro parar antes que ele acorde e toda aquela situação desconfortável, volte a acontecer.

- Allyssa, eu gostaria de me desculpar com você, sei que fui um pouco invasivo com aquela história, e...

- Idiota, sem limites e o quê mais?

- Eu sei, quero sinceramente me desculpar com você!

- Ótimo! Por que não começa ficando calado? Você me dá nos nervos!

- Eu realmente sinto muito, e...

- Que droga! Por que você não cala a boca? Ou deseja ver a lâmina da minha espada perfurar alguma parte do seu corpo? - pergunto, mostro a espada, e ele observa atentamente a arma.

A pergunta surtiu efeito, ele se calou. Há comida em cima da mesa, e ele parece observara o espaço em que estamos, separo o mingau de trigo para nós dois, reparto o pão. Caminho até a porta e chamo um dos soldados para me ajudar com o prisioneiro, já que terei que soltar um lado da corrente para que o maldito coma sozinho.

O Alfa segura o prato que lhe entrego depois que lhe entrego, me afasto e sento no chão, o observo comer, ele me olha, e em seguida torna a dar atenção ao prato. Entre uma porção e outra que coloca na boca, Paolo parece comer com tanto desespero.

- Vai devagar, vai acabar se engasgando!

Assim que profiro a frase, ele tosse bastante, seu rosto instantaneamente fica com uma coloração avermelhada e isso fez com que eu largue minha espada num canto, e me aproxime dele, me agacho diante do homem, que tosse desenfreadamente, mas sou tomada de surpresa quando seus braços se envolvem ao redor do meu corpo com muita força, e antes que eu tome alguma providência, ele aproxima seus lábios dos meus com uma urgência feroz...