- O que realmente aconteceu, Senhor? Como ele conseguiu fugir?
- Eu não sei, as informações que chegaram até mim foram que ele soltou as algemas enquanto Maylon dormia, bateu em outros soldados e conseguiu fugir! - me respondeu com uma expressão séria em sua face, olha em direção a todos que estão em frente a sua casa. - Eu gostaria de saber como ele conseguiu fugir, mas neste momento precisamos encontrá-lo, mas depois que o encontrarmos, farei uma investigação mais apurada para saber o que realmente aconteceu!
Duric instruiu a todos para procurar dentro de todo Território Rebelde, pois provavelmente ele ainda estaria em algum lugar por ali. Ouvi atentamente as instruções de Duric, que dividiu os grupos e determinou em que locais iríamos procurar, mas algo me incomodou, parece que eu não estava inserida em nenhum grupo. Perguntei em que grupo ficaria, mas não me respondeu e todos olharam para mim, me senti muito constrangida, parece que ele encontrou um culpado por essa história da fuga.
- Senhor, eu não ficarei em nenhum grupo?
- Acho melhor não!
- Mas Senhor, eu sei que posso ajudar a...
- Não é preciso! Volte para casa, e se eu precisar de sua ajuda a chamarei, e eu espero que me obedeça! - diz em um tom alto, me encara com firmeza, e eu sinto que não terei nenhum espaço para argumentar. - Dois grupos devem ficar responsáveis pelas buscas dentro de nosso território, e outros três grupos devem procurar fora. Então os que vão procurar aqui devem começar agora, e os que vão procurar lá fora devem seguir até suas casas para pegar o que for necessário!
Não esperei por mais instruções, já que eu estava fora da missão, segui em direção à minha casa, mas se ele acha que vou aceitar facilmente o que ele determinou, está muito enganado.
[...]
Os grupos saíram em direções diferentes, enquanto eu segui sozinha no caminho que levava a uma das áreas que contornavam um lugar conhecido como Lagoa de Pedra, que possuía águas cristalinas e transparentes que ficava no entorno da Floresta Petrificada. Observei de longe, haviam treze soldados no grupo que seguia para a Lagoa, resolvi acompanhá-los de longe, sem que percebessem minha presença, eles se separaram, e alguns entraram nas fendas que existiam ao longo de toda a extensão das montanhas, e alguns entraram no bosque que havia mais adiante
Passei a acompanhar o grupo que seguia por dentro do bosque, repleto de Pinheiros gigantes, mas especificamente ao leste e com uma grande extensão para ser percorrida. Eles caminharam durante um bom tempo e quando estavam na metade do caminho, eles pararam, e eu tratei de fazer o mesmo e me esconder atrás de um pequeno arbusto. Assim que notei o motivo dos soldados pararem, percebi que teríamos problemas, afinal eram alguns soldados do exército do Rei.
Enquanto nossos soldados pararam e se escondiam entre as árvores, observou atentamente, e percebi que entre eles avançavam pelo caminho, e se eu continuasse neste arbusto, eles me encontrariam. Afastei-me um pouco para trás com muito cuidado para não escutarem, continuei a recuar até adentrar a floresta de pinheiros, e quando avisto o que parece ser uma grande pedra entre mais arbustos, e que parece não ter ninguém por aqui, percebo que encontrei o esconderijo ideal. Adentro o arbusto, e piso em algo, parece um pé, coloco a mão em minha espada, e antes que a puxe, alguém encosta em meus ouvidos.
- Nem pense nisso, Allyssa! - a reação é a pior possível, meu corpo se arrepia ao ouvir aquela maldita voz, e sentir a ponta da faca em meu pescoço.
- Então é aqui que você se esconde, seu maldito!
- Infelizmente os seus soldados, e os do Rei atrapalharam os meus planos!
- Os soldados do Rei devem estar aqui para te salvar, então por que você está se escondendo?
- Eu não quero que eles me levem de volta!
- Por quê?
- Você é muito curiosa!
Enquanto a declaração de Paolo me intrigava, os soldados do Rei continuavam vasculhando a área, e pelas conversas eles estavam procurando por alguém, e esse só poderia ser o homem atrás de mim, mas algo não fazia sentido, eles diziam que o levariam de volta para o Castelo real.
- Dispersem, o príncipe deve estar por aqui em algum lugar!
O Príncipe? Eles tão procurando pelo Príncipe? O que aquele idiota faz por aqui? Será que veio atrás do amigo dele? Assim que eles se afastam de onde estamos, Paolo continua segurando a faca, enquanto ele se distrai observando o exército, puxo a faca de vez da sua mão, e me viro rapidamente para encará-lo, o empurro na pedra atrás de nós, aponto a faca para o seu pescoço, e seguro minha espada.
- Você é mais esperta que eu pensei!
- Você me subestima demais, Paolo! Agora me diga, por que não foi com o exército do Rei? E por que estão à procura do Príncipe?
- Isso não é problema seu!
- Você ainda é um prisioneiro de Duric, então é problema meu! E estou achando que você não é quem diz ser...
- Acha que eu sou o Príncipe?
- Não. Acho que é um mentiroso, que provavelmente deve ter tentado sequestrar o Príncipe, por que essa história de que aquele mimadinho fugiu do Castelo, não dá para acreditar!
- Acredite no que você quiser!
A movimentação da busca dos soldados do rei continua por perto, e quando viro o rosto para observar ao meu lado, Paolo simplesmente me empurra, e consegue fugir mais uma vez.
- Espere!
Comecei a andar rapidamente entre os pinheiros sem olhar para trás. Olho e não vejo ninguém me seguindo, ando mais rápido, e avisto o maldito a minha frente. Paolo também olha para trás, sorri para mim, e corre. O que me faz fazer o mesmo, corro mais rápido que posso, mas não consigo alcançá-lo, percebo que ele se afasta ainda mais, uma ideia passa pela minha cabeça. Lanço uma faca. Seu pé é atingido, ele cai, me aproximo com satisfação mesmo percebendo que ele se contorce ao sentir a dor da faca perfurando sua pele.
- Eu disse a você que parasse, mas você não me ouviu! - falo ao me aproximar, aponto a espada no peito dele.
- Você é louca! Isso está doendo demais! - ele se senta e levanta a calça, a pequena faca ainda estava cravada superficialmente em seu pé, e havia feito um corte médio, mas que sangrava muito.
- Não toque na faca! Você é um molenga, isso é um corte superficial!
- Superficial porque não foi em você! - ele responde e choraminga, eu sorrio ao ver a reação do grande Alfa.
- Deixa eu puxar essa faca e limpar o ferimento, mas antes de tudo isso precisamos sair daqui!
- Nem pensar que eu vou deixar você fazer isso!
- Então eu vou gritar, e chamar a atenção dos exércitos que estão à sua procura, o que acha?
Ele faz menção com cabeça, puxo a faca, o ajudo a levantar, e seguimos pelo caminho dos pinheiros. Assim que avisto uma parte mais densa do bosque, com muitos pinheiros próximos, que podem servir como esconderijo, por alguns instantes, faço menção para que sentemos. Tirou um pedaço de pano da minha bolsa, e uma garrafa de água, jogo sob o seu pé, passo um pedaço do pano para limpar, e em seguida envolvo o pé para estancar o sangue. Antes que ele faça qualquer coisa, o algemo, e amarrou uma corda na algema, o forçando a levantar, depois apalpo seu abdome e as pernas para ter certeza de que não carrega alguma arma consigo. Ele me observa com um sorriso quando olho para ele, o puxo forçando a caminhar, mas o rapaz emite um som de dor, e usa o corpo com força para não sair do lugar.
- Eu não quero voltar a ser prisioneiro!
- Acho que você não tem muita escolha, Paolo! Se ficar, pode ser pego pelos soldados do Rei, que provavelmente estão à sua procura, e você também não quer voltar com eles. A segunda opção é seguir comigo e continuar sendo meu prisioneiro...
- Seu prisioneiro? Eu continuo seu prisioneiro, se você me castigar com beijos! - responde sarcasticamente com um sorriso no olhar.
- Dá para você parar de falar tanta asneira! Preste bem atenção, eu só não acabo com você agora, porque sua vida é muito importante para os planos de meu líder! Estamos entendidos? - respondo e aponto a espada no rosto dele, pressionando com a espada e puxo o rapaz com mais força para que ande.
Caminhamos o mais rápido possível, mesmo que Paolo não quisesse ajudar, chegamos ao bosque de vidoeiros-brancos, as chamadas árvores do pântano, assim que eram conhecidas as árvores que contornavam toda aquela área e que costumavam crescer em solos florestais úmidos com abundância de luz, era o caso da pequena floresta ao redor da Lagoa de Pedra. O caminho que trilhamos daria diretamente na entrada do território rebelde, mas de longe, avistamos outro grupo de soldados do Rei que pareciam estar acampados por ali, tivemos que recuar e tomar outro caminho, voltamos alguns metros até chegarmos num trecho repleto de vidoeiros-brancos, com pequenos arbustos bem próximos a uma outra parte das montanhas, longe da Lagoa de Pedra.
À essa altura, e pelo fato de estarmos cercados, e para não correr o risco de sermos pegos, sugeri que deveríamos procurar algum lugar para passar a noite, pois o pôr do sol já estava próximo. Ele não concordava, mas não teve escolha, foi puxado com força, usando a corda que amarrava as algemas, dou um nó na árvore, amarro e o mando sentar. Junto algumas folhas e gravetos para fazer uma fogueira, ele senta, e apenas me observa atentamente, e isto me deixa irritada.
- O que você está olhando? Nunca viu alguém fazer uma fogueira?
- Já vi, mas não tão linda assim!
- Eu já te falei para parar com isso, você parece não entender o que falo! - digo enquanto esfrego com muita força um graveto numa pedra.
- Sabe o que eu acho Allyssa? Que sua irritação é mentira!
- É, e por quê?
- Na verdade você disfarça o anseio por meu beijo com essa falsa irritação, que demonstra quando falo algo ou te observo, só para não assumir que quer me beijar novamente!
- Ah, que interessante, Você acha mesmo que seu beijo foi grande coisa? - o encaro com um sorriso.
- Eu sou um Alfa Lúpus, e nenhuma Ômega jamais ficou indiferente aos meus beijos, Allyssa!
- Ah... Lá vem você com esse blá, blá de Alfa Lúpus! Você é um tolo, convencido, e eu não sou igual às suas Ômegas, eu vivo uma realidade bem diferente. Sabe o que eu anseio, Paolo? Ah, você não sabe, porque para você e seu amiguinho, o Príncipe Andrew, tudo em Ascabaltt está maravilhosamente bem, mas para mim tudo ficará bem quando tivermos um reino justo, um Rei que governe para o POVO e pensando no POVO, é com isso que eu anseio, não é com beijo sem graça, de um Alfa Lúpus!