Capítulo 6 Mentiras, Verdades e Discussão

- Finalmente, vocês dois chegaram! Espero que a comida não tenha esfriado - Mika disse, se levantando, logo que as crianças apareceram. Então, ela imediatamente se dirigiu ao fogão, para pegar a comida e arrumá-la em seus respectivos recipientes, sobre a mesa. - Otto, venha cá e me ajude a pegar a comida, pra que a gente possa começar a comer logo.

Otto, pela primeira vez em uma eternidade, se levantou e fez o que lhe disseram, sem reclamar.

- Eu pensei que você fosse demorar em torno de cinco minutos. Parece que ela não tava exatamente onde você esperava, hein, Sr. Espertinho? - Otto comentou, de uma forma que David não soube se ele estava brincando ou zombando dele.

- Pelo menos eu fui espontaneamente, sem choramingar, e eu encontrei mesmo ela, não encontrei? - David respondeu calmamente.

- Otto, cale a boca e só foque no seu trabalho, pode ser? - Mika soltou.

"Uau! valeu, Mãe! Mesmo que você não tenha feito isso pra me defender."

- David e Nadja, vão lavar suas mãos, rápido - Ettel ordenou. - Não demorem mais do que DOIS minutos! Eu vou marcar o tempo.

Eles imediatamente correram para a pia mais próxima, que era a da cozinha. Ele abriu a torneira para ela e lhe entregou o sabão. Enquanto ela ensaboava as mãos dela, ele molhava as dele, Depois ela entregou o sabão a ele e enxaguou as mãos dela, enquanto ele ensaboava as dele. Ela esperou que ele enxaguasse as mãos dele, e então ela fechou a torneira. Eles secaram as mãos ao mesmo tempo, no pano de prato. Depois eles correram de volta para a mesa de jantar, com a esperança de terem conseguido retornar dentro de dois minutos.

Ettel estava olhando para o seu relógio de pulso. Eles estavam trinta e cinco segundos atrasados, mas Ettel não se importou, nem mencionou esse fato.

- Muito bem, crianças! Agora, por favor, se sentem.

Eles dois se entreolharam, suspirando de alívio.

Mika e Otto terminaram de arrumar a comida na mesa e finalmente se sentaram, também. Todos deram graças e depois começaram a se servir.

- Então, Nadja, posso perguntar por que você saiu da mesa sem permissão, e aonde você foi? - Ettel começou, antes de levar a primeira garfada de comida à boca.

Todos olharam para Nadja. Quando ela deu uma olhadela para David, ele sutilmente balançou a cabeça negativamente e depois apontou seu polegar para si mesmo. Então, ele se intrometeu:

- Eu tinha dito a ela que em todo sábado trevos da sorte ficavam visíveis na campina, entre as 18h30 e as 19h30. Eu tava só brincando, é claro. Eu não achei que ela levaria a sério. - Isso não era mentira. - Mas foi assim que eu adivinhei onde ela poderia estar. Eu imaginei que ela tinha se lembrado de repente do que eu tinha falado pra ela e quis ir comprovar. E eu não me enganei. Ela tava mesmo lá, de quatro, procurando por algum trevo da sorte que ela achou que tinha visto. Então eu tive que mostrar a ela que não tinha trevo da sorte algum. - Mentira, mentira, mentira e... mentira! Caramba! Impressionante! Uma, duas, três, quarto mentiras seguidas, uma para cada folha do trevo da sorte que Nadja nunca sequer havia ido procurar, mas trouxe sorte a ela do mesmo jeito! Missão completamente realizada, com sucesso! Viva! É de dar inveja ao Pinóquio!

O semblante de Nadja foi caindo mais, a cada mentira que David contou. Todos pensaram que foi porque ela se sentiu envergonhada ou decepcionada, mas na verdade ela estava se sentindo culpada, pois acreditava que David teria que arcar com uma consequência terrível para cada uma de todas aquelas mentiras.

- Essa é a coisa mais idiota que eu já ouvi! - Johann declarou, em meio a gargalhadas incontroláveis.

- Você não pode falar muito, né, Johann? Eu já perdi a conta de quanta besteira você ainda acredita ser verdade. E você é dois anos mais velho do que ela - Otto provocou.

- Ah, sim, eu posso falar bastante! Você por acaso quer que eu mostre, Otto? - Johann perguntou, desafiante.

- Do que cê tá falando, moleque? - Otto perguntou, debochadamente. - Eu só afirmei o mesmo fato que todos já conhecem. Você acredita mesmo em um monte de idiotices sem sentdo, não acredita?

- Bem, pelo menos EU não acredito que a garota mais bonita da escola vai se interessar por mim, se eu ficar comprando coisas caras pra ela - Johann rebateu de volta para Otto, fazendo-o engolir em seco.

- Como é?? - Mika interpelou, com a boca ainda cheia, uma oitava acima do seu tom normal. Ela rapidamente terminou de mastigar e depois engoliu a comida. - De que raios ele tá falando, Otto? Explique neste mesmo minuto!

- E-Ele tá só inventando historinha idiota, pra me responder, Mãe. - Otto respondeu, nervoso.

- Não tô, não. ESSE que é um fato que todo mundo já conhece. Você pode perguntar pra qualquer um da turma dele, que você também vai saber, Mãe.

- Então, você virou chacota pública. Belo trabalho, gostosão! Meus parabéns! - Ettel disse, sarcasticamente, com expressão debochada no rosto.

"Rapaz, isso aqui tá ficando mais divertido a cada minuto!" David pensou, se esforçando para não rir.

- Não é isso que tem acontecido. Na verdade eu tô azeitando ela - Otto disse, tentando soar convincente, mas ao mesmo tempo estava mexendo ambos os pés nervosamente, debaixo da mesa.

- Azeitando?? Que raios é "azeitando"? - Mika questionou, desconfiada. - Isso é gíria pra...?

- Quer dizer "cortejando", querida - Ettel a interrompeu, já sabendo o que passava pela mente dela.

- Cortejando! - Mika exclamou, incrédula, com um riso debochado.

- É isso mesmo, Otto? Você quer dizer que você tem cortejado essa moça, então? - Ettel perguntou.

- Correto. Eu tenho cortejado ela - ele confirmou e levantou o queixo de forma arrogante.

Nesse momento, David não conseguiu mais segurar o riso, tampouco a explosão de comida mastigada que saiu de sua boca, ao mesmo tempo.

- D-Desculpem por isso! Eu vou limpar tudo depois que eu terminar - Ele de algum jeito conseguiu articular as frases, e depois desatou a rir escandalosamente, com sua cabeça tombando para trás.

Nadja não entendeu direito o que estava havendo, mas ficou feliz por não ser mais o centro das atenções, e apenas se concentrou em comer sua comida e pensar em seus gatinhos bebês.

- Qual é a graça? Ah, já sei: você é tão burro que não tem ideia do que significa "cortejar"; tem? - Otto desafiou David. - Ah, foi mal... Você é novinho demais! Criancinhas não sabem dessas coisas! - ele continuou, desdenhosamente.

- Aparentemente, - David ainda estava rindo -, levando em conta o que você disse, é VOCÊ quem NÃO sabe o que isso significa, já que VOCÊ chama ISSO de "cortejar" - ele repondeu, confiantemente.

- AGORA... NÃO É hora para discutir! Vamos terminar esta discussão, por enquanto, e comer nossa janta em paz! Dá pra ser? Otto, você e eu também vamos ter uma conversinha, mais tarde - Ettel disse, firmemente, sem tirar os olhos de seu prato.

Johann olhou para Otto, abriu um sorriso triunfante e fez os movimentos labiais de "toma". David sutilmente gesticulou para ele parar.

Todos se calaram e terminaram de comer suas comidas.

Depois que todos eles haviam terminado de comer, enquanto Ettel conferia uns números da fazenda que ele havia anotado, e também fazia uns cálculos, enquanto David limpava a sujeira que havia feito. Depois, David ajudou Otto a levar a louça suja para a pia, em seguida removeu a toalha de mesa suja e a levou para o cesto de roupa suja. Mika lavou, Nadja secou e Johann guardou a louça. No processo, Nadja deixou um prato cair e quebrar, e Johann a ajudou a recolher os pedaços maiores. Mika varreu o piso logo em seguida, para assegurar que não restaria um pedacinho sequer de louça quebrada.

            
            

COPYRIGHT(©) 2022