Capítulo 9 Operação Alimentando os Bebês

Depois de ter passado dez minutos prestando atenção, tentando detectar passos do lado de fora de seu quarto, David colocou a cabeça para fora de sua porta, para ver se poderia sair sem ser visto. A barra estava limpa, então ele rapidamente se dirigiu à porta de Nadja. Ele deu três batidinhas fracas na porta. Nadja não atendeu, então ele abriu a porta e entrou, encontrando-a adormecida sobre seus lápis de cor e suas folhas de papel, uma dessas contendo um desenho de três gatinhos, David e ela mesma. David sentiu seu coração se aquecer, ao olhar o desenho.

"Se mais alguém vir isso, vão suspeitar", ele pensou e, então pegou o desenho e o colocou na gaveta da escrivaninha dela, antes de devolver os lápis de cor ao respectivo estojo, as folhas de papel à pasta delas, e depois guardar tudo organizadamente, também na gaveta da escrivaninha.

Ele sorrateiramente desceu as escadas, saiu de casa, correu para o depósito de leite, colocou leite na menor garrafa de vidro que eles tinham e foi voando de volta para casa. Ele não queria acordar Nadja, mas lembrou que tinha que ensiná-la a alimentar e cuidar devidamente dos gatinhos. Então, ele retornou ao quarto dela, colocou a mão no obro dela e gentilmente a sacudiu.

- Nadja... acorda... temos que ir cuidar dos gatinhos... anda...

Na segunda sacudida, Nadja acordou e deu um pulo, ao ver David com a garrafa de leite na mão. Ela nem sequer notou que os lápis e as folhas de papel haviam sumido. E então eles furtivamente saíram do quarto e seguiram para a cozinha.

- Agora, presta bastante atenção! Leite de vaca ao natural, e até mesmo o pasteurizado, é forte demais pra animais menores, faz mal para o estômago e intestino deles. Então, a mesma coisa provavelmente acontece com gatos, principalmente gatinhos bebês como aqueles. É por isso que a gente tem que adicionar água ao leite - David sussurrou devagar, enquanto aparava água da torneira em uma panela de aço. - Eu não sei a quantidade exata de água que deve ser misturada ao leite, pra gatinhos. Então, primeiro vamos experimentar meio a meio e ver se os gatinhos vão ficar bem com isso. Não devemos colocar água demais, senão o leite não vai alimentar os gatinhos como deve. Tá entendendo?

- Mas todo o nosso leite já é pasteurizado. Por que a gente tem que ferver ele, agora?

- Por causa da água que a gente vai misturar nele. Ferver a água a esteriliza, o que significa que mata todos os micróbios nela. E, como o leite pode ter sido um pouco contaminado, depois de ter sido tirado do reservatório, eu acho melhor fervê-lo junto com a água.

David misturou o leite com a água, ferveu a mistura, derramou-a na garrafa de vidro, colocou a tampa nela e a embrulhou em um pano de prato.

- Ah, eu quase esqueci! Precisamos de um conta gotas, pra poder dar o leite pros gatinhos direito. Tem um armário de remédios no celeiro. Vou ver se lá tem. Senão eu vou ter que pensar em outro jeito.

- A gente vai ter que esperar o leite esfriar um pouco, antes de dar pros gatinhos, né?

- Isso mesmo. Ele tem que estar só um pouco morno. Vamos embora.

E lá se foram eles, em direção ao celeiro. O ar noturno estava frio, e o vento que soprava deixava a sensação térmica ainda mais fria, o que deixou Nadja preocupada que os gatinhos não estivessem aquecidos o suficiente, no ninho deles. Ela também temia que eles pudessem ter morrido de fome. Por isso, ela estava com tanta pressa que conseguiu correr mais rápido do que David, apesar de ter as pernas mais curtas. Ela chegou ao celeiro antes dele, e subiu a escada como um foguete.

Quando David chegou no mezanino, ele reparou que umas poucas coisas haviam caído no chão. "Hum-hum...! Mais alguém andou aqui por cima. Mas quem terá sido?"

- Dave... Dave, olha! Nadja sussurrou, apontando para o ninho dos gatinhos.

David caminhou rapidamente até ele e parou diante da visão de uma gata tricolor dentro do ninho, amamentando os gatinhos. Como havia um gatinho preto, um branco, um laranja e branco e uma tricolor, David deduziu que ela era a mãe deles. "Mas como foi que ela veio parar aqui?"

- Ela é a mamãe deles, não é?

David estava distraído demais, tentando imaginar as diferentes maneiras como a gata mãe podia ter ido parar lá em cima.

"Ela provavelmente achou e seguiu o rastro do cheiro deles, e tem vindo aqui pelo menos duas vezes ao dia, depois saído de novo pra caçar."

- Não me admira que os filhotes não tenham morrido de fome - ele pensou, em voz alta.

- Então, ela é a mamãe deles e tem alimentado eles todo esse tempo?! Então, eu fiquei tão preocupada e quase fiquei encrencada à toa - Nadja disse, devagar, fazendo um bico, no final de seu discurso.

- Não é verdade... É ótimo que a mamãe deles esteja com eles. Uma coisa a menos com a qual a gente vai ter que se preocupar. Mas ainda temos que mantê-los escondidos - David disse, desembrulhando a garrafa de leite.

- O que você tá fazendo? Eles não precisam mais disso.

- Os filhotes não precisam, mas a mamãe deles sim. Ela deve estar com fome. E é pra ela que devemos trazer comida, a partir de agora. - David olhou em volta, procurando algo que ele pudesse usar como um recipiente onde a gata mãe poderia beber o leite. Ele se lembrou do pequeno recipiente de plástico que havia visto mais cedo, perto do armário de metal de onde ele havia pegado os cobertores. Ele foi até lá e pegou o pote. Ele retirou a tampa e viu que dentro havia algo que parecia farelo de biscoito.

- Era meu - Nadja disse, sorrindo. - Eu trouxe mais cedo e esqueci de levar de volta pra casa.

- Você não tentou dar os biscoitos pros gatinhos comerem... Tentou?

- Bem... Tentei. Eu pensei que deveria experimentar. Mas, olha... - ela foi dizendo, em meio a risinhos - pelo menos os biscoitos são feitos com leite. E a Mamãe Gata deve de ter comido eles tudo, porque eu juro que deixei eles aí no pote pros gatinhos, mas eles tinham sumido quando eu voltei.

- Você é uma figura, sabia disso? - David disse, enquanto limpava o interior do pote com sua camisa, e depois despejou um pouco de leite nele.

- O que isso quer dizer? Isso é bom ou ruim?

David riu. - Quer dizer que suas ideias são únicas. Considere como um elogio.

- Ah! Obrigada, então! - Ela respondeu, orgulhosa de si mesma, com o queixo erguido.

- E se fala "deve TER comido eles TODOS, ou TODOS eles", não "deve DE TER comido eles TUDO". Se a Mãe te pegar falando errado desse jeito, ela vai pensar que você vai se dar mal na escola, e aí ela vai ficar pegando no seu pé, falando disso, e não vai parar de falar sobre como ninguém quer casar com uma moça burra, pelo resto da sua vida.

Nadja parou para pensar e se retraiu diante da ideia de ser constantemente criticada por sua mãe, pelo resto da vida.

David se ajoelhou e colocou a tigela de plástico perto do ninho. - Aqui, Dona Mamãe Gata. A gente vai te trazer coisa melhor, amanhã de manhã.

David e Nadja se levantaram triunfantes, por terem resolvido um dos problemas, desceram a escada e foram para casa, alegremente. Retiraram os sapatos, antes de entrarem na casa, caminharam até a escada e a subiram, leve e silenciosamente. David deixou Nadja no quarto dela, desejou a ela uma boa noite, depois entrou em seu próprio quarto, sem ligar as luzes, fechou a porta atrás dele, encostou nela e suspirou, contente que tudo estava indo bem, até o momento.

- Cara, eu tô exausto. Preciso muito deitar... - ele murmurou.

- Bem-vindo de volta, David. - A voz grave, intensa, aveludada e monótona de Ettel repentinamente ressoou pelo quarto, indo direto nos ouvidos de David, sobressaltando-o e fazendo-o se atrapalhar para ligar as luzes.

Quando ele finalmente encontrou o interruptor e ligou as luzes, ele viu seu pai sentado na cama, com as costas apoiadas na cabeceira da cama e o travesseiro atrás da coluna lombar. David sentiu-se tonto e quase desmaiou de medo. "Meu Deus... É o meu fim!"

- P-Pai! Há quanto t-tempo você t-tá aqui? - David perguntou, se esforçando para soar natural, ao mesmo tempo em que se sentia como se todo o sangue de sua cabeça tivesse sido drenado, e sua cabeça ficou muito, muito leve. - E o que você t-tá f-fazendo aqui?

Ettel encarou David por quatro segundos, como se não estivesse acreditando no que tinha acabado de ouvir, e então ele lentamente colocou seus pés no chão e respondeu:

- Eu tinha esquecido de te dar os biscoitos que sua professora trouxe pra você - ele apontou para o pote de vidro que estava sobre a mesa de cabeceira de David -, antes de você voltar do serviço. Eu achei que eles deixariam você feliz, então eu decidi não esperar até amanhã de manhã pra entregar eles a você. Ela disse que você pode ficar com o pote, também. De nada!

- Q-que ótimo, Pai! Obrigado! Mas você n-na-não de-devia ter se incomodado.

- E você, David? Havia quanto tempo que você NÃO estava aqui? - Ettel deu uma olhadela para a garrafa de leite embrulhada que ainda estava nas mãos de David. - E o que é que VOCÊ estava fazendo?

            
            

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