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ERA UMA VEZ... EM LONDRES?
PARTE 3
LONDRES
Linda e Wagner tomaram o chá das cinco sozinhos e passam o resto da tarde conversando assuntos diversos. Na maior parte do tempo Linda fala mais, pois Wagner quer saber de tudo sobre a vida dela e do bisavô em Londres. Quando anoitece ele começa a ficar preocupado com a demora do velho que não saiu do escritório o dia inteiro.
- Você não acha que ele está demorando demais lá dentro?
- É costume dele fazer isso. Você quer que eu vá chamá-lo?
- Não, se ele está ocupado... Mas é que eu nunca vi alguém ficar tanto tempo num lugar assim. Não sei como ele aguenta.
- Ele não fica só trabalhando. Dentro do escritório dele tem todos os recursos para ele dormir, descansar e se alimentar se precisar, enquanto trabalha.
- Meio parecido com a história do Lord Sandwich.
- Você conhece essa história?
- Conheço. Meu professor de inglês no colégio contou pra gente. O cara que gostava tanto de jogar pôquer que não tinha coragem de sair da mesa de jogo nem pra comer. Aí ele inventou o sanduíche pra poder jogar e comer ao mesmo tempo sem ter que sair da mesa.
- Mas não é bem assim que Mr. Russel faz. Ele tem uma cama, uma mesa para refeições e outra para o trabalho, separadas.
- Eu imagino que sim, estou brincando, ele diz rindo. – Mas ele não sai de lá de dentro.
Um rapaz muito alto e forte entra na sala vestido num grosso casaco de frio. Wagner o reconhece. Ele é o mesmo rapaz que lhe deu o soco no momento de seu sequestro. O rapaz olha para ele com rosto sério por alguns segundos, mas volta-se para Linda.
- Boa noite, Linda. Os rapazes estão perguntando se podem se recolher. Ninguém está mais aguentando o frio. Mr. Russel ainda vai usar o carro?
- Ele não saiu do escritório ainda, mas podem ir descansar. Se ele precisar de alguma coisa, eu me responsabilizo. Obrigada, Teo.
- Se ele precisar de alguma coisa, ligue pra mim. Eu não vou dormir ainda. Vou estar no alojamento.
- Está certo.
- Boa noite, baby.
- Boa noite, Teo.
Teo olha novamente para Wagner e diz:
- Boa noite.
- Boa noite, Wagner responde, mais por educação.
O rapaz demora o olhar meio zangado sobre ele, dá as costas e se afasta. Depois que ele sai da sala, Wagner pergunta:
- Ele é sempre assim, simpático?
- Não, só quando está diante de alguém que é mais novo e poderoso que ele.
- Posso ser mais novo, mas em que eu sou poderoso?
- Ainda não é, mas será.
- Mais mistério, não, por favor.
Linda apenas sorri.
- Mas você também é mais nova e com certeza aqui dentro me parece mais poderosa e ele te trata bem. As mulheres são exceções?
- Ele é meu namorado.
Wagner sente como se tivesse levado um balde de água fria no rosto.
- Namorado?
- Por que o espanto?
- Eu não pensei que... Ah... agora tudo faz sentido. Aquele soco faz sentido.
- Eu sabia que você entenderia tudo. Portanto, não continue com insinuações a meu respeito. Pelo menos não perto dele. Você já sabe das consequências.
- Por que você não me avisou antes?
- Porque eu não sabia que você ia ser tão... saliente comigo.
- Mas eu não fui. Eu não usei nem metade da minha saliência com você.
- E eu também não me importo com isso. Eu sei me defender muito bem. Não sou uma donzela indefesa.
- Você fala igualzinho a Mô... Você me lembra tanto a Mônica.
- Não sou eu, é a sua consciência.
- Ah, vamos mudar de assunto. Eu não quero falar disso. Tem uma coisa que eu ia te perguntar. Por que ninguém fala inglês aqui? Todo mundo é brasileiro?
- Não, claro que não. E você não falou com todo mundo ainda. Teo é do Brasil. Os outros empregados que você ainda não viu, são ingleses, mas entendem bem o português. Mr. Russel deu ordens para que todos pelo menos estudassem e entendessem o português, pra quando você chegasse.
- Very good. Ele me adora e me chama de burro, indiretamente.
- Ele não está te chamando de burro. Ele só não quer que você se acostume com a língua.
- Por quê? Que desculpa esfarrapada.
- Se quiser saber dos detalhes pergunte a ele depois.
De dentro do escritório, eles ouvem a voz de Mr. Russel.
- Linda, venha até aqui, please.
Ela olha para Wagner e com um gesto pede para que ele espere. Ela entra no aposento e fica lá dentro por quase dez minutos. Quando sai, tem uma leve ruga de preocupação na testa que ele percebe.
- Que foi? Algum problema?
- Não, ele disse que quer que você vá dormir. Ele só vai falar com você amanhã.
- Mas essa é ótima! - reclama Wagner. – Ele me deixa de molho um dia inteiro pra me dizer que vai falar comigo amanhã? E ainda me manda ir dormir como seu fosse um garotinho de seis anos?
Ele se levanta e começa a andar pela sala, nervoso, para na frente da porta da biblioteca e sente vontade de entrar.
- Não faça isso... - ela pede.
- Ele não pode fazer isso comigo, Linda. Eu não pedi pra estar aqui.
- Tenha um pouco mais de paciência. Você vai ver que depois de uma noite de sono, você vai estar muito mais disposto a ouvi-lo. Ele vai ter muito que conversar com você amanhã.
- E ele vai ficar aí?
- Vai, disse que ainda vai demorar umas duas horas com Mr. Bartley.
- Você não acha que o vovô STAR está muito velhinho pra ficar acordado até tão tarde?
- Vovô o quê? - ela pergunta, rindo.
- Foram as iniciais que eu tirei do nome dele que é muito grande e muito difícil. É Stanley... Ty...
- Tybald, ela ajuda.
- Isso, Stanley Tybald Aubrey... não é? E Russel no final. S-T-A-R. Uma estrela meio apagada, mas...
- Você é muito criativo.
- O nome dele é grande como o do meu irmão: Cláudio Leonardo Russel Valle. Aliás, estou com saudades dele... de todo mundo, ele diz, com tristeza na voz, pensando no irmão e na família. - Nunca pensei que pudesse sentir isso tão forte...
- Vamos dormir?
- Você não tem mesmo ideia de quanto tempo eu vou ficar aqui?
- Não, isso realmente depende dele.
- Então me ensina o caminho pro meu quarto porque eu já me esqueci.
- Só hoje, você vai ter que aprender.
- Vou fazer um mapinha, aí fica mais fácil, diz ele, subindo as escadas.
Linda sobre atrás dele, rindo.
No dia seguinte, Mr. Russel acorda bem cedo. O relógio da sala bate sete badaladas e ele já está tomando o breakfast na sala de refeições com Julian, o mordomo, ao seu lado pronto para servi-lo. Antes mesmo que ele termine Julian já lhe coloca o jornal do dia sobre a mesa e ele o pega e vai sentar-se em sua cadeira para lê-lo. Para isso usa um pequeno par de óculos apoiado no nariz. Linda entra trazendo a correspondência que deposita numa mesinha próxima.
- Good morming, sir! - ela cumprimenta com um leve sorriso.
- Good morning, Linda, ele responde também com um sorriso afetivo. – Meu bisneto já acordou?
- Não, senhor. Ele ficou até tarde ontem esperando pelo senhor.
- Eu fui dormir muito mais tarde que ele e já estou de pé.
- O senhor é diferente. Tem uma resistência que poucos jovens têm.
Ele olha para ela por sobre os óculos e num meio sorriso diz:
- It's very kind of you.
- Portuguese, Sir...
- Ah, Wagner is not here.
- Está sim, ela diz, apontando com um gesto o rapaz que estava parado no topo da escada, ouvindo a conversa. Mr. Russel sorri.
- Desça, filho. Estava justamente perguntando de você. Venha sentar-se perto de mim.
Wagner desce as escadas e se aproxima do velho, suas feições estão sérias.
- Bom dia, dormiu bem? - Mr. Russel pergunta amável.
- Mais ou menos... E o senhor?
- Maravilhoso. Mas por que essa fisionomia tão fechada? Alguma coisa o aborrece?
Wagner abre a boca para responder, mas o velho o interrompe:
- Deve ser fome! Linda, mande servir o break... ou melhor, o desjejum do meu neto. Vamos para a sala de jantar.
Mr. Russel se levanta e segura no braço do rapaz, indo com ele até a sala de refeições. Linda sai e Wagner se senta à mesa. Mr. Russel se senta também.
- Desculpe não ter-lhe feito companhia ontem. Eu tinha coisas para fazer urgentíssimas com meu advogado Mr. Bartley.
- O senhor está querendo brincar comigo? Eu preciso saber quanto tempo eu vou ter que ficar aqui ainda. Eu tenho uma vida no Brasil e quero voltar pra ela.
- Alguém tratou você mal? Eu o tratei mal?
- Não... Eu só quero saber por que estou aqui e por que fui trazido do Brasil de uma forma tão... maluca. Se o senhor é mesmo meu... bisavô, por que simplesmente não mandou uma carta ou telefonou. Eu teria vindo com prazer...
- Não teria não... As coisas não são tão simples assim. Seu pai nunca permitiria.
- Por quê?
- Você sabia que eu existia?
Wagner balança a cabeça negando.
- Tire as suas próprias conclusões.
- Mas meu irmão sabia...
- É, eu percebi que ele cultiva por mim o mesmo sentimento do seu pai.
- Como... percebeu?
- Eu ouvi o telefonema de vocês.
- Mas eu estava... O senhor ouviu... pela extensão... Isso é invasão de privacidade!
- Essa casa é minha e eu faço o que eu quiser aqui dentro.
- Está legal, não vou discutir isso. Mas como meu irmão conhece o senhor e eu não? Como e por quê?
- Seu irmão conheceu minha neta...
- Claro, ele é filho dela e tinha sete anos quando ela morreu...
- Ele não é filho dela.
Wagner olha para o velho chocado.
- O que?!
- Cláudio Valle não tem o mesmo sangue da minha Christy. Ele foi levado pelo seu avô para que ela o criasse.
Wagner sorri nervoso e se apoia na mesa sentindo uma vertigem. Fecha os olhos e respira fundo, tentando se restabelecer. Mr. Russel se volta para o mordomo.
- Water, please, Julian.
Julian sai da sala e volta em seguida com uma jarra de água e um copo que enche e coloca diante de Wagner. O rapaz toma uma pequena quantidade com as mãos tremendo.
- O senhor está dizendo é... que meu irmão... não é meu irmão?
- Eu não disse isso. Eu disse que ele não é filho da minha neta. É filho do seu pai com outra mulher e seu avô, com pena dele, o levou para que seu pai o criasse quando Leonardo já era casado com Christy. Mas essa é uma história muito longa. Foi pra isso que eu o trouxe aqui. Pra você saber quem é na verdade o seu pai. Tome o seu café, tente se refazer. Depois nós conversamos. Nós temos muito que conversar.
Mr. Russel se levanta e se afasta dele. Cruza com Linda voltando com uma bandeja e diz baixinho.
- Cuide que ele se acalme, Linda. Eu volto em duas horas. Quero almoçar com ele. Bartley vai chegar logo. Diga a ele que eu estou no escritório.
- Sim, senhor.
Ela se aproxima da mesa e senta-se ao lado de Wagner que está pálido e na mesma posição. Ele olha para ela e pergunta:
- Tem certeza de que isso não é um pesadelo?
- Tome seu café. Você está bem?
- Não... pensei que fosse apagar agora. Se eu não estivesse sentado...
- Você deve ter tido uma queda de pressão. Coma alguma coisa. Vai ajudar.
Ela enche uma xícara com chocolate quente e coloca um pedaço de bolo num prato e deposita tudo a sua frente.
- Eu não sei se vou conseguir comer nada.
- Tente.
- Ele acabou de dizer... que meu irmão... não é filho da minha mãe, Linda.
Ela não diz nada.
- Já sei... você não pode falar nada... E ele, vai me colocar de molho novamente? Joga uma bomba na minha cabeça e vai me deixar de molho outra vez?
Wagner coloca as mãos no rosto e começa a chorar.
- Tente se acalmar e se alimentar um pouco.
- Vocês ingleses só pensam em comer? - ele diz, nervoso, enxugando o rosto e bebendo mais um gole de água.
- Eu sou portuguesa, mas penso muito nisso. Tem uma expressão brasileira que diz que saco vazio não para em pé e eu concordo plenamente com ela. Faça uma forcinha. Eu faço companhia pra você.
Ela começa a se servir de uma xícara de café.
- O seu namoradinho não vai entrar e...
- O Teo não manda em mim e não tem nada demais eu tomar café com você.
- Não sei não... Pelo jeito dele ele tem ciúme até de eu olhar pra você.
- Não pense nisso. Coma.
Ele acha melhor seguir seu conselho. Mas continua pensando no que acabou de saber.
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CASA BRANCA
Cláudio acorda às cinco horas do dia seguinte e olha para o lado na cama. Ouve o barulho do chuveiro no banheiro e deduz que Tânia já está tomando seu banho.
Ele sai da cama, pega roupas na mochila e vai para o quarto do irmão tomar seu banho também. Desce e vai até a cozinha onde Diana já está tomando café com a mãe e Matilde.
- Bom dia, meninas, ele diz, beijando as três.
- Bom dia! - respondem elas.
- Sente-se e tome seu café, diz Magda. – E a Tânia?
- Deve estar se trocando. Já, já ela desce. Eu vou querer só um cafezinho, Matilde. Papai já acordou?
- Está aí fora, esperando por você. Eu disse que você ia sair cedo hoje e ele só está te esperando pra ir pra lida.
Matilde lhe entrega a xícara de café que ele bebe rapidamente.
- Obrigado, Matilde. Diana, eu te espero lá fora. Tchau, Magda.
- Não vai nem comer nada?
- Não, eu como no hospital. Eu tenho que deixar a Tânia em casa, a Diana na escola e tenho que estar no hospital às oito. Beijo.
Ele sai e vai se juntar ao pai, a Lopes e aos peões todos em volta dele, no terreiro diante da casa grande.
- Bom dia, pai. Bom dia, pessoal.
- Bom dia, doutor! - respondem todos.
- Você queria falar comigo?
- Só quero que você ligue pra Londres e tente falar com o Wagner. Essa estadia dele naquela casa está me dando nos nervos. Cada minuto que ele passa lá parece que ele fica mais longe de mim ainda.
- Pode deixar. Eu ligo, mas acalma seu coração, pai. O Wagner está bem.
Diana sai com Magda e depois de beijar a mãe, corre para o carro do irmão. Tânia sai da casa também e se aproxima de Magda que segura sua mão.
- Tchau, Magda...
- Obrigada por tudo e... cuide-se e desse bebê. Você está muito pálida.
Tânia a abraça e beija seu rosto. Desce as escadas e olha para Leonardo.
- Tchau, seo Leonardo.
- Tchau, filha.
Ela passa por Cláudio sem olhar para ele e entra no carro.
- Que é que ela tem, filho? – Leonardo pergunta a Cláudio discretamente. – Vocês brigaram?
- Não... ela não dormiu muito bem.
- Cuide dela, rapaz. Meu neto está ali dentro.
- Pode deixar, pai. Tchau, gente.
O carro chega à frente da escola Rubião Júnior minutos depois. Diana despede-se dos dois e desce. Mais algumas ruas e eles estão na Luís Gama, diante de casa. O casal foi em total silêncio desde que saiu da fazenda. Tânia sai do carro quando ele entra na garagem e entra na casa. Cláudio tranca o veículo e entra logo depois dela. Tânia joga a mochila e a bolsa no sofá e põe as mãos na cintura, esperando por ele. Cláudio fecha a porta da sala depois de passar por ela e ainda com a chave do carro na mão, aguarda, pois sabe que ela vai dizer alguma coisa.
- Você acha que vai ser muito simples se separar de mim, não é?
- Não, não acho, já disse que não acho, mas é o que tem que ser feito. Não há mais condição de a gente ficar junto, você não percebe isso? Se a gente se separar, ainda pode ficar o pouco da amizade que existia entre nós quando a gente se casou. Eu quero recuperar o respeito que eu tinha pela Tânia com quem eu me casei, mas a gente não tem mais nenhuma afinidade. Nós não somos mais um casal há algum tempo, você não percebe?
- Eu estou esperando um filho seu, como não somos um casal?
- A gente não planejou isso. Eu não planejei esse bebê. Você deixou que acontecesse sem me avisar. Eu sinto muito se aconteceu e gostaria que você me perdoasse, mas eu não posso continuar casado com você. Eu não te amo mais e você sabia disso...
- E está me trocando por quem? Quem é ela? Não se termina um casamento de oito anos por nada.
- Eu não estou trocando você por ninguém. Eu só quero acabar com a farsa que é esse casamento de oito anos. Nós dois somos um presente que os Telles deram pros Valle porque pensaram que havia um casal de adolescentes apaixonados em nós dois. Foi tudo um grande engano. O Wagner foi o primeiro que percebeu isso logo no início.
- Não coloque aquele idiota no meio...
- Não jogue sua frustração em cima do meu irmão. Ele sempre jogou na minha cara que eu não te amava e ele tinha razão. Se a gente corrigir isso agora... alguma coisa pode ser salva na nossa vida ainda... até mesmo a criação do nosso filho que não tem culpa nenhuma de nada.
- Não! - ela grita e tampa os ouvidos com as duas mãos, fechando os olhos e sentando-se no sofá. – Eu não quero ouvir mais nada.
Cláudio senta-se na mesinha de centro diante dela e coloca as mãos sobre as suas, tentando acalmá-la.
- A gente ainda pode fazer isso, Tânia...
- Não me toca... - ela diz, olhando-o nos olhos, com lágrimas rolando silenciosas por seu rosto.
Ele retira as mãos devagar.
- Não foi isso que você falou pra mim ontem? Eu também não quero que você me toque mais.
- Tânia...
- Eu não vou te dar o divórcio! Eu já te falei várias vezes. E se acontecer de você conseguir se separar de mim, meu pai e meu tio vão acabar com você... Você não vai sair ileso disso, pode ficar certo. E por mim... você não coloca os olhos nessa criança... nunca!
- Você não pode fazer isso...
- Posso e vou! Agora sai daqui.
Ele se levanta, chorando também e afasta-se dela. Abre a porta, entra na garagem e no carro e sai. Consegue dirigir até avistar a praça da matriz e para. As lágrimas não o deixam prosseguir. Apoia os braços no volante e esconde o rosto neles. Tenta respirar, enxuga o rosto e continua os poucos metros que existem até a Santa Casa.
Ao chegar, procura entrar pela emergência onde as pessoas estão todas ocupadas com outras coisas que nem o percebem passar. Procura um banheiro, lava o rosto, se refaz e sobe ao seu consultório. Passa pela recepção onde Regina já está trabalhando, diz um rápido bom dia e entra em sua sala. Quando ele coloca o jaleco branco, como de costume, Renata bate à porta e entra em seguida.
- Está tudo bem, doutor?
- Está... me dá cinco minutinhos e... manda entrar a primeira mãe, por favor.
- Sim, senhor.
Ela sai e ele se senta em sua mesa, procura se desligar de tudo que aconteceu, respira fundo mais uma vez e começa seu dia de trabalho.
Cláudio procura trabalhar sem se deixar levar pelas emoções por que passou naquela manhã e com algum esforço, consegue. Gosta tanto do que faz que tudo acaba ficando secundário e ele consegue esquecer. De repente, Regina entra na sala e comunica:
- Terminamos por hoje, doutor. Precisa de mais alguma coisa?
- Obrigado, Regina. Eu só queria que você ligasse pro Santa Mônica e dissesse que eu não vou pra lá hoje. Tenho um assunto importante pra tratar no orfanato do Desterro. Mas deixe só um recado pro doutor Jairo. Eu não preciso mais falar com ele. Já... consegui resolver.
- Sim, senhor.
- A Mônica já chegou?
- Já. Ela está tomando café no refeitório. Quer que eu a chame?
- Não... não, pode ir almoçar.
- Doutor, tem tido notícias do seu irmão?
- Tenho e não tenho. É justamente por isso que eu vou ao orfanato. Vou falar com a Bárbara e pedir pra ela pra ligar de lá.
- Espero que ele esteja bem.
- Ele está. Obrigado, Regina.
Ela sai e cruza com Miguel que entra.
- Oi, Rê. Tudo bem, boneca?
- Bom dia, doutor Miguel, ela responde, sorrindo.
Miguel tem nas mãos uma caixa que coloca sobre a mesa de Cláudio.
- O que é isso? - ele pergunta.
Miguel fecha a porta e diz:
- Veio do orfanato... pra você. Estava na recepção e a Beth ia trazer pra cá, mas eu me ofereci e trouxe.
- Você virou garoto de recados, agora? O que é isso?
- Não sei. Acho que você vai precisar abrir.
- Não está com cara de presente, pelo menos não está embrulhado pra presente.
- Abre logo, caramba! - ele diz curioso, sentando-se à frente da mesa.
Cláudio começa a abrir a caixa e dentro dela há um bolo muito bonito.
- Um bolo...?
- Uai! Olha, tem um cartão aí dentro.
Cláudio apanha o pequeno cartão e lê.
- "Não estranhe. Eu sei como minha filha é e sei que ela não tem paciência pra comprar nem fazer essas coisas. Quero que vocês comemorem essa data com muita doçura. No estado em que Tânia está ela vai querer comer tudo sozinha. Não deixe. Desejo do fundo do meu coração de mãe, sogra e futura avó muito coruja que vocês tenham toda a felicidade que puderem conseguir. Parabéns, meus filhos. Bárbara.".
Cláudio fica olhando para o bilhete e depois para o bolo, em silêncio. Senta-se e fica olhando para tudo sem saber o que pensar.
- Você tinha esquecido, não é? - Miguel pergunta.
- Dezembro... Nem me passou pela cabeça...
- Isso acontece.
- Não, não acontece. Pelo menos não se comemora o aniversário de oito anos de casamento brigando.
- Você brigou com a Tânia, hoje?
- Briga feia. Eu pedi o divórcio pra ela, ontem... e reforcei isso hoje de manhã...
- Caçarola...!
- O que eu vou fazer com isso?
- Se quer um conselho... compre um anel de brilhantes, um buquê de flores, peça desculpas e entrega tudo com o bolo em sinal de muito amor e carinho...
- Você não está ajudando, Miguel. Foi minha sogra quem mandou isso e pra ela está tudo as mil maravilhas entre nós. Com certeza ela vai perguntar pra filha se ela recebeu e eu só quero saber como eu posso chegar com isso em casa pra comemorar o aniversário de um casamento que não existe mais.
- Eu te aconselhei várias vezes pra abrir o jogo com todo mundo e acabar com esse casamento de fachada. O que piora um pouco a situação é que a Tânia está grávida, mas eu te dou os parabéns pela coragem. Filho não prende marido se ele não está feliz.
- Não foi coragem, foi desespero.
- Você deve estar mesmo muito desesperado pra ter feito isso agora.
Cláudio une as mãos sobre a mesa e apoia a cabeça nelas, sem saber o que fazer.
- Mas eu vim até aqui pra te chamar pra um café, diz Miguel, levantando-se. – Não adianta fica chorando o leite derramado. Vem.
Cláudio se levanta e passa por ele indo para a porta e abrindo-a.
- Você não vai levar o bolo? Parece tão gostoso.
- Cresce, Miguel... - Cláudio diz.
Miguel o segue um tanto decepcionado, olhando ainda uma vez para o bolo.
Ao chegarem ao refeitório do hospital eles vêem, de longe, Mônica sentada, sozinha, numa das mesas.
- Olha quem está ali! - Miguel diz, com uma animação quase forçada.
Cláudio para ao ver Mônica, mas Miguel o puxa pelo braço levando o amigo até a mesa.
- Podemos fazer companhia, minha enfermeira favorita?
Ela sorri com uma xícara de café nas mãos.
- Claro, doutores. Detesto tomar café, sozinha.
- Era só ter convidado e a gente vinha.
- Só não fiz isso porque os dois estavam ocupados e meu pai estava entrando na sala de operações.
- E a Beth? - Miguel pergunta.
- Ela não veio. Foi escolher o vestido de noiva com a mãe em Rio Pardo. Vocês sabem: ela vai se casar na véspera de Natal.
- É uma pena. A gente vai perder uma ótima enfermeira. O futuro marido dela é um burro por não deixar que ela trabalhe depois de casada.
- Também acho. Eu até já conversei com ele, mas ele está irredutível. Eles não vão morar aqui. Vão pra Poços. Ele é de lá. E por sinal é um lugar lindo.
- Obrigado pela parte que me toca. Eu também sou de lá. Eu também sou "mineirim" de Poços. E pretendo fazer a mesma coisa quando me casar.
- Com quem? - ela pergunta, sorrindo.
- Com a minha mulher, oras bolas. Eu não sei ainda quem ela é, mas solteiro eu não fico. O que você está tomando?
- Café e pão de queijo.
- Café puro? Garota, não foi isso que seu médico recomendou.
Ele apanha o copo de café que está diante dela e vai até o balcão do refeitório.
Mônica olha para Cláudio e percebe que ele está muito calado. Pergunta:
- Está tudo bem?
- Não... - ele responde, sem olhar para ela.
- Posso ajudar?
Ele olha em seus olhos.
- Pode... mas não quer.
Ela desvia o olhar e pega um pãozinho de queijo que morde e sorri para Miguel que já vem voltando para a mesa. Ele voltou com dois copos de café puro e um com leite que coloca na frente dela.
- Cortesia da casa. Café puro não faz bem na gravidez.
Mônica e Cláudio olham para ele ao mesmo tempo.
- Miguel! - ela ralha com ele, em voz baixa.
- Calma, garota, eu não disse que é você que está grávida. E ninguém está ouvindo a gente. Estávamos falando da Beth.
- Não, a gente estava falando de você. Você está sempre falando em casamento, mas nunca se decide. Eu sei de pelo menos cinco enfermeiras aqui dentro que dariam seu diploma pra passar pela sua inspeção.
- Eu não sou tão fácil assim e já tenho alguém em vista, ele diz, tomando um gole de café e apanhando um pãozinho de queijo no prato diante dela. – Se isso não fosse feito em Minas, eu inventaria. Eu sei fazer um pãozinho de queijo que nenhuma mulher poria defeito.
- Mentiroso... - Mônica duvida.
- Não acredita? Estou mentindo, Cláudio?
- Não, eu já provei. Ele levava pra gente na faculdade. Eram muito bons.
- Ainda não acredito. O Cláudio é suspeito. Vocês são amigos. E por que você não traz pra nós aqui?
- Que garota desconfiada, Jesus! Eu não tenho mais tempo depois que comecei a clinicar. Eu só faço quando vou pra casa e, quando faço, não sobra.
- É piada sua. Isso não é verdade.
- É sério, garota.
Leda se aproxima da mesa apressada e toca o ombro de Cláudio.
- Com licença, doutor Cláudio, há uma pessoa na emergência que quer ser atendido pelo senhor.
- Por mim? Meu plantão acabou a dez minutos, Leda.
- É alguém que o senhor conhece. O Luís Augusto Antunes, amigo do seu irmão. Ele está na emergência com a perna quebrada e quer ser atendido pelo senhor.
Cláudio acha estranho, mas, por ser amigo do irmão, se levanta e vai com ela que antes de segui-lo olha para Miguel com um olhar comprido. Mônica sorri discretamente e olha para o copo.
- Qual é a graça? - Miguel pergunta. - O Guto querer ser tratado por um pediatra aos dezenove anos?
- Não, o olhar que a Leda lançou pra você. Ela te adora.
- Que pena, mas não é o meu tipo. Ela é uma gracinha, mas muito sem... tempero.
- Engraçado, antes de casar a mulher tem que ter tempero, depois se o marido chega em casa e ela está cheirando a alho e cebola, a coitada é chamada de bucho. Dá pra entender?
- Ah, você entendeu. Ela não faz meu tipo.
- E qual é seu tipo? Pode-se saber?
- Hum... morena, cabelos bem curtinhos, dezessete anos, olhos castanhos, um metro e sessenta e dois e grávida de quatro meses.
Ele fala tudo isso olhando em seus olhos. Miguel acabou de descrevê-la. Mônica fica boquiaberta, séria no início, mas olha em volta e acaba rindo.
- Seu bobo!
- Sou mesmo. Um grandessíssimo idiota, mas amo você.
- Miguel! Você sabe que...
- Nada disso. Calada. Eu não falei isso pra receber um fora de você aqui. Já estou muito velho pra isso. Eu não te coloquei contra a parede, só respondi sua pergunta. Não quero resposta, porque não tem resposta e, mesmo que tivesse, eu já sei qual seria. Esquece o que eu falei, tá?
Ele se levanta, bebe o resto do café, beija a ponta dos dedos, toca sua boca e se afasta.
- Tchau, gata.
Mônica o segue com os olhos e diz para si mesma:
- Médico errado, Mônica.
Guto está esticado numa maca na sala de emergência gemendo de dor e cercado pela turma que faz tudo para acalmá-lo. Quando Cláudio chega perto dele e examina sua perna, pede a Leda.
- Leda, avisa o doutor Alonso, rápido. Já devia ter feito isso.
- Ele não quis, doutor...
- Ele não tem querer. Ele não é paciente pra mim.
- Não, doutor Cláudio, eu não quero outro médico... Guto geme agarrando-se no braço dele.
- Calma, Guto. Como aconteceu isso?
Todos querem responder ao mesmo tempo.
- Gente, um de cada vez, por favor, e calma. Isso é um hospital. Beto, que foi que houve?
- Ele caiu e a moto caiu em cima da perna dele.
- Como? Ele estava onde? Vocês não estavam apostando corrida, estavam?
- Não, era... uma corridinha de nada, responde Leo.
- Corridinha de nada...? Isso vai ficar pelo menos dois meses engessado.
- Tudo isso? - o doente pergunta. – A perna toda?
- Acho que sim, mas eu estou falando só pela experiência do que eu tenho visto. Eu não vou poder cuidar de você...
- Não, tem que ser o senhor...
- Guto, eu sou pediatra. Isso é caso de ortopedia. O doutor Alonso já vem vindo. Fique tranquilo, ele...
- Não quero outro médico...
- O doutor Alonso vai saber o que fazer, Guto. E vocês vão ter que esperar lá fora.
- Ele tem razão, Guto, diz Beto. – A gente te espera aí fora.
- Ai, mamãe. Deixa pelo menos a Dina ficar, doutor.
- Não dá. Vai ficar tudo bem.
A cada gemido do rapaz, uma expressão de dor aparece no rosto de cada um dos jovens, que vão saindo lentamente orientados pelo segurança.
Alonso se aproxima e ao ver aquela porção de jovens em volta do rapaz, pergunta:
- Seu fã clube, Cláudio?
- Mais ou menos... - Cláudio responde. – São amigos do meu irmão.
- Leda, encaminha o rapaz pro raio X. Garotada, fora, agora! - Alonso diz, com educação, mas com energia, apontando a porta da saída.
- Deixa eu ficar com ele, doutor? - pergunta Dina.
- Você é o quê, mãe dele?
- Claro que não...
- Ele é menor?
- Não, mas...
- Então fora, bonitinha. Quando mais rápido vocês saírem daqui, mais rápido a gente cuida dele. Ele já foi pro raios-X e logo, logo vai estar no quarto. Aí vocês vão poder vê-lo e levá-lo pra casa, certo? Pedro, ajuda aqui.
O segurança segura Dina pelo braço e vai levando a moça para a saída junto com os outros. Quando eles já estão atrás do vidro da porta de entrada, Alonso volta-se para Cláudio e diz em voz baixa.
- Segura seu fã clube lá fora, senão eu mando o juizado vir prender todo mundo.
Bate no ombro dele e vai por onde Leda levou a maca. Cláudio vai falar com os rapazes e moças e tentar acalmá-los.
Depois de algum tempo, Guto já está com a perna engessada até o joelho, batendo papo com Leda.
- Meu pessoal pode entrar aqui agora? - ele pergunta.
Ela olha para Alonso e ele diz:
- Pode. Eles devem estar com o Cláudio lá fora. Leda, por favor, pegue uma cadeira de rodas pra levar o Luis Augusto até lá fora.
Leda providencia a cadeira de rodas e acompanha Guto até a recepção, onde os rapazes e moças o cercam, crivando o rapaz de perguntas felizes. Guto se sente o centro das atenções e afirma, quando perguntado, que não doeu nada e que, pelo tratamento que teve, até gostaria de quebrar a perna mais vezes. Por isso agradece a todos.
Alonso, diante de toda aquela gratidão, coloca o braço em volta do ombro de Cláudio que esteve ali com eles todo o tempo e reitera:
- Da próxima vez que você quebrar a perna, Luís Augusto, vá se acostumando que o doutor Cláudio é pediatra, não pode ser seu médico mais, ok? Você vai ter que se contentar comigo mesmo.
- Desculpa, doutor, não vai acontecer de novo.
- Ele pode mesmo ir pra casa, doutor? - Beto pergunta.
- Você está de carro?
- Eu estou.
- Então pode, mas aviso que ele não pode andar muito ainda. O gesso ainda não secou direito.
- Pode deixar. A gente cuida dele direitinho, diz Dina. - Obrigada, por tudo.
- Ei, turma, não é obrigado não. Quanto foi, Cláudio?
- Você tem plano de saúde, Guto?
O rapaz balança a cabeça, negando. Cláudio olha para Alonso e diz:
- Vocês têm como pagar?
Ninguém se manifesta.
- Eu não tenho aqui, diz Beto, mas eu arranjo com meu pai e volto pra acertar tudo hoje mesmo.
- Não precisa, Beto, fica por conta dos donativos que teu pai dá todo mês pro hospital.
Cláudio é ovacionado com aplausos e assovios.
- Parem com isso! Aqui é um hospital, Cláudio pede.
Todos se calam e Guto agradece:
- Nunca vou esquecer, doutor. Viu porque eu queria ser atendido por ele, gente?
- Agradeça a Humberto Lage. Agora sumam daqui, por favor.
Beto e Leo ajudam Guto a se erguer da cadeira de rodas e o colocam na caminhonete. Quando todos vão embora, Cláudio parece ter se livrado de um terremoto.
Alonso fala:
- E o meu trabalho, não valeu nada? Você levou a fama toda?
Cláudio dá de ombros e sorri. Miguel se aproxima dele e quer saber:
- Que gritaria foi aquela?
- O fã clube do Cláudio, diz Alonso. - A turma do Wagner. Um deles se arrebentou debaixo da moto.
- Coisa grave?
- Não, poderia ter sido pior. Só quebrou a perna e ficou um pouco arranhado. Já foi pra casa.
- É a juventude sadia do Brasil.
- Sadia e folgada, diz Alonso. - Nenhum deles trabalha.
- O pior é que meu irmão está no meio, diz Cláudio.
- Quer saber de uma coisa? - pergunta Miguel, colocando o braço em volta do ombro de Cláudio. - Bobos somos nós que esquentamos com trabalho, responsabilidade, dinheiro e outros bichos. O negócio é deixar a vida correr.
- Ah, é? E quando é que você vai comprar a sua moto, colocar sua jaqueta de couro nas costas e se juntar a eles?
Alonso ri.
- Eu disse: nós somos bobos. Eu me incluí. Motocicleta não vai pagar meu quarto na pensão, nem encher meu estômago, muito menos botar gasolina no meu carro. Eu prefiro continuar sendo bobo. Paguei muito caro pela minha faculdade e pelo meu CRM. Deixo esse privilégio para os filhinhos de papai.
Essa última frase Miguel disse batendo no ombro de Cláudio.
- Sabia que ia sobrar pra mim. Obrigado pela parte que me toca.
- Ah, mas você é diferente, meu amiguinho. Você não é um filhinho de papai do tipo comum. Nunca vi um cara que nasceu rico dar duro do jeito que você dá. Se eu não te conhecesse a quase dez anos, eu diria que você é ganancioso. Trabalhar na Santa Casa de Misericórdia de Casa Branca, no Hospital Santa Mônica e ainda no Orfanato do Desterro demonstra que você parece querer ficar mais rico o que você já é. Mas você não é ganancioso. É apenas um excelente médico, um homem de respeito, um ótimo filho, um irmão maravilhoso...
- Miguel, para por aí, Cláudio pede. – Você está doente ou amanheceu com vontade de puxar meu saco hoje?
- Não, só queria te pedir uma grana emprestada. Dava pra adiantar algum até o fim do mês?
Cláudio ri e balança a cabeça.
- Ele riu! Alonso, o doutor Cláudio riu! Faz uns dois meses que eu não vejo esse cara rir.
Cláudio se afasta deles e olhando em volta, assegurando-se que ninguém está prestando atenção, mostra o dedo do meio para Miguel que olha para ele boquiaberto. Em seguida se afasta e entra no elevador, saindo dali. Alonso ri a valer e se surpreende também com aquele gesto vindo de quem veio, porque Cláudio não faria isso em ocasião nenhuma.
- Eu queria ter fotografado isso! - Miguel exclama. – Isso é pecado, Cláudio Valle!
RETORNO AO PARAÍSO – ERA UMA VEZ... EM LONDRES?
PARTE 3