RETORNO AO PARAÍSO
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Capítulo 8 ERA UMA VEZ... LONDRES - CAPÍTULO 2

RETORNO AO PARAÍSO

Espero que estejam gostando do romance "RETORNO AO PARAÍSO" até aqui.

Vocês imaginam onde pode estar o Wagner? Mistério...

"Era uma vez... em Casa Branca" tem cinquenta e seis páginas e eu dividi desse jeito para ficar mais fácil e mais simples para os leitores do Recanto das Letras, onde o postei pela primeira vez, e aqui no Lera, lerem sem cansar muito.

Esse é o segundo capítulo do livro escrito em 1980 e chama-se "Era uma vez... em Londres?". Ele tinha cinquenta e nove páginas e vai ser uma honra se continuarem acompanhando.

Obrigada por essa companhia. Deus abençoe a todos!

Obrigada!

Velucy

CURIOSIDADE1: Na cidade de Casa Branca, no Estado de São Paulo, NÃO existe originalmente o Hospital Santa Mônica, apenas a Santa Casa de Misericórdia. Mas existe (descobri anos depois quando estive lá numa de minhas últimas visitas) um prédio enorme que foi idealizado por um médico da cidade (fato verídico!), que está só construído, mas não terminado. Só há o esqueleto dele. Esse prédio está localizado na Rua Luís Gama, no mesmo lado da casa do Doutor Jairo Telles e diante da casa do Doutor Cláudio Valle que eu idealizei. Fiquei parada muito tempo diante dele para acreditar. Um dos mistérios desse livro...

*E BOÇOROCA são formações terrestres imensas, como cânions feitos por um rio, que existem em torno da cidade inteira. Só indo lá pra ver ou pesquisando na internet.

CURIOSIDADE 2: Eu já sonhei várias vezes em ver "Retorno ao Paraíso" como novela de verdade na televisão, na Globo ou em qualquer outra televisão. Aliás, eu sonho em ver todas as minhas histórias como novelas e imagino um rosto para cada um dos meus personagens e o ator ou atriz que o faria. Quem sabe um dia... Eu tenho fé!

Pra dividir com vocês essa minha loucurinha gostosa, meu doutor Cláudio tem o rosto do Bruno Ferrari, o Vicente da novela "Amor à Vida" na Globo. A Tânia tem o rosto da Vitória Strada e a Mônica... a Mônica se parece com a Sabrina Petraglia, irmã do Vicente. Tem os cabelos bem curtinhos e pretos. Já o Wagner tem o rosto do Caio Paduan quando fazia Malhação. É loirinho de cabelos encaracolados feito um anjo.

Quando eu era mais jovem gostava de ler as histórias e idealizar o rosto dos meus personagens favoritos. Tentem fazer o mesmo. É muito legal!

Sonhar é de graça, meu povo! Graças a Deus!

Obrigada!

ERA UMA VEZ... EM LONDRES? - CAPÍTULO II

PARTE 1

Mas, onde está Wagner?

Neste momento, despertando de um sono de um dia e algumas horas. Ao abrir os olhos, a primeira coisa que vê é um lindo lustre digno de filmes de Hollywood pendurado no teto logo acima da cama em que está deitado. Cama que, por sinal, deixaria com inveja qualquer rei de conto de fadas. A maciez do colchão o faz pensar que está deitado em nuvens, o que dá a impressão de que ainda está dormindo. Ele ergue o corpo e se senta na cama com a cabeça pesando toneladas e percebe que por cima dele há um cobertor muito espesso e lençóis muito finos e ele não consegue acreditar que aquilo seja verdade. Tudo continua parecendo sonho. Como não consegue aguentar o peso da cabeça, deita de novo e esfrega os olhos para ver se acorda de verdade. Mas quando abre os olhos novamente, tudo está lá do mesmo jeito. É tudo verdade. Ele está realmente deitado numa cama imensa, dentro de um enorme quarto, com enormes janelas, com cortinas azuis marinho de renda e tudo que jamais pensou em ver na vida.

- Aqueles caras não tinham jeito de milionários... diz para si mesmo. – Nisso, nem o Walt Disney acreditaria. Onde é que eu estou?

Ele tenta se levantar de novo e sair debaixo dos cobertores. Sua visão aos poucos vai se acostumando com o ambiente e a cabeça fica mais leve gradativamente. Fica feliz por pelo menos não ter mais as mãos amarradas, mas olha para os pulsos e os vê ainda um pouco vermelhos pela pressão das cordas.

Chega à beira da cama e coloca as pernas para fora dos cobertores. Quando pisa no chão, outro susto: o chão parece desaparecer. Debaixo de seus pés há um tapete vermelho muito macio que cobre todo o chão sob a cama.

- Meu... Deus do céu! Que lugar é esse?

Ele apalpa o chão com os pés para se assegurar de que é firme e desce da cama. Olha para si mesmo e percebe que está com um pijama diferente. Não é o mesmo com o qual saiu de Casa Branca. À sua frente há uma porta e ele resolve ir até ela. Ao chegar à porta e tentar abri-la, vê que está trancada.

- Será que foi sequestro mesmo? Não estaria trancada se não fosse, ele diz. – Mas esse quarto... não combina com nada... nem comigo...

Ele olha para as janelas e como as cortinas estão abertas ele se aproxima e olha para fora. Aquela paisagem não tem nada a ver com Casa Branca. O céu está cinzento e há muitas árvores ao redor, cobertas de neve.

- Poxa, mas estava um calor de trinta graus à sombra...

Tenta abrir a janela que parece bem pesada e não consegue. Fica olhando para o imenso jardim e que demonstra que é uma propriedade particular e que ele está no primeiro andar da casa. Volta novamente para dentro do quarto e se senta na cama, ansioso para saber onde está.

Sua espera é curta. A porta se abre e por ela entra uma garota que ele logo reconhece. É Linda. Não está mais vestida como uma mochileira de beira de estrada. Está bem vestida e maquiada.

- Bom dia! ela diz sorrindo.

Ele se levanta e se aproxima dela.

- Você...

- Oi! Dormiu bem?

- Onde é que eu estou?

- Não reconheceu pela janela? ela pergunta, afastando-se dele e indo abrir as cortinas um pouco mais. – Mr. Russel pediu para deixar as cortinas bem abertas pra você se sentir em casa.

- Me sentir em casa? Aquilo lá fora não tem nada a ver com a minha casa. Não sei se você notou, mas está nevando lá fora! Isso aqui não é Brasil. E... espera aí... Mister quem?

Ela sorri, divertindo-se com o nervosismo dele.

- Por que você não toma um banho quente, se troca e desce? Ele está esperando por você lá embaixo.

- Ele quem?

Ela não responde. Aproxima-se do guarda-roupa e tira de dentro dele uma camisa azul, uma calça jeans e um casaco de lã e coloca tudo sobre a cama.

- É tudo do seu tamanho. Eu mesma escolhi. Espero que goste e seja do seu estilo. No banheiro tem sabonete, xampu, toalhas, um roupão e roupas de baixo.

Ele olha para as roupas e ignora.

- Como eu vim parar aqui e... onde é aqui?

- Mas como você faz perguntas! Quando você descer, vai saber de tudo.

- Isso tudo faz parte daquela encenação de ontem?

- Não foi ontem. Você dormiu um dia e algumas horas. Hoje é domingo. O banheiro é ali e eu volto depois pra te acompanhar até lá embaixo.

Ela sai do quarto. Wagner não sabe o que pensar.

- Domingo?

Ele olha para as roupas e acha melhor fazer o que Linda sugeriu, se quiser saber rápido o que realmente está acontecendo.

Meia hora depois ela está de volta. Quando entra no quarto, vê Wagner diante o espelho já vestido e gosta do que vê.

- Perfeito...

Ele se volta para ela.

- Espero que tenha gostado.

- Você tem bom gosto, mas... quando é que eu vou poder sair desse quarto de bonecas?

- Não é um quarto de bonecas. É o seu quarto.

- Meu quarto é aquele que eu deixei lá em Casa Branca por causa de uma estupidez, uma burrice. Nunca mais vou ser gentil com ninguém que aparecer na minha casa depois da meia noite, mesmo que seja uma garota bonita. Por falar nisso, onde estão seus amiguinhos?

- Você vai vê-los logo.

- Não pense nenhuma bobagem. Não estou com nenhuma vontade de ver nenhum deles. Principalmente aquele cavalheiro gentil que me pregou um soco no rosto que até agora está ardendo.

Ela ri.

- Você tem um jeito engraçado de falar.

- Ah, tenho? Fico feliz em divertir você.

- Mas não fique nervoso. Logo você vai saber que não é nada disso que você está pensando.

- Então me deixa sair daqui logo.

Ela abre a porta e lhe mostra o corredor. Ele sai e para, sem saber para onde ir. O corredor é enorme.

Ele fica parado e não sabe o que fazer nem para onde ir. Linda toma a dianteira, sorrindo, e ele a segue. Percorrem quase dez metros de um longo corredor, ladeado por paredes repletas de quadros que Wagner deduziu serem bem antigos e caros. O rapaz não consegue fechar a boca, tão abismado está com todo o luxo que vê a sua volta.

No fim do corredor, eles chegam ao início de uma longa escada, toda atapetada, que desce até uma sala espaçosa, na qual caberia duas vezes a sala da casa grande da fazenda que ele sempre achou que já era enorme. Toda a decoração do lugar e igualmente luxuosa.

- Fala a verdade, Linda, é aqui que gravam os filmes da Branca de Neve?

- Não. Essa casa é na Terra mesmo e é sua.

- Minha? Você bebeu...

- Sua sim, confirma uma voz masculina que vem de uma das várias portas que ligam a grande sala a outros cômodos da casa.

Wagner se volta e vê um velho de mais de setenta anos, baixinho que o faz lembrar-se do Papai Noel. Pelo menos este foi o personagem que lhe veio à cabeça no momento em que o viu.

- Dormiu bem? - ele pergunta, num sotaque inglês, aproximando-se de Wagner devagar, apoiado numa bengala, e observando-o de alto abaixo por cima dos óculos pequenos que tem sobre o nariz.

Aquilo deixa Wagner encabulado, confuso e mudo.

- Eu lhe fiz uma pergunta. Não ouviu?

- Se o senhor responder a minha, eu vou responder a sua.

O velho dá uma sonora gargalhada.

- E qual é a sua pergunta, filho?

- Quem é o senhor? E onde eu estou?

- São duas perguntas. Qual é a mais urgente?

- As duas... e eu tenho muitas mais, pode crer.

O velho continua observando o rapaz de alto a baixo e, depois de muita inspeção olha, para seu rosto.

- Você está em Londres, capital da Inglaterra.

- Londres? Mas...

- E eu sou seu bisavô: Stanley Tybald Aubrey Russel. Já ouviu falar de mim?

Sem acreditar, Wagner o olha desconfiado e balança a cabeça negando.

- Eu nunca soube que tinha um bisavô, muito menos em Londres...

- Como é o sobrenome do seu irmão?

- Russel... Valle, ele diz, ligando tudo.

- Não faz sentido?

- Eu nunca tinha ouvido falar do senhor, ele diz ainda desconfiado.

- E nem poderia. Seu pai me detesta.

- Por quê?

- Porque eu sou o velho mais rabugento, avarento e implicante de toda a Inglaterra e ele me roubou a neta, minha única neta. E a levou para morar naquele Saara subnutrido que é o Brasil.

- Então ele tem razão de não gostar do senhor.

- Eu não pedi sua opinião, o velho diz zangado e apontando o indicador bem perto do rosto dele.

Wagner se afasta um pouco, mas continua.

- E já que não queria minha opinião porque me trouxe pra cá de maneira tão estúpida? Se queria que eu o conhecesse deveria ter sido mais gentil. Como o senhor acha que minha família deve estar agora depois desse meu desaparecimento? Devem estar achando que eu fugi de casa ou morri.

- Eu não me importo com o que sua família pensa ou deixe de pensar, ele diz com tranquilidade. – Eles merecem esse sustinho. É assim que vocês falam em português, não é?

Até esse momento, Wagner não tinha reparado no sotaque do velho e, em seu pensamento, elogia seu ótimo desempenho na língua latina, mas resolve manter esse ponto de vista para si mesmo.

- Você fala inglês, menino? - Mr. Russel pergunta, indo sentar-se numa poltrona de espaldar alto, acolchoada em veludo marinho.

- Mais ou menos, meu pai e meu irmão falam muito bem, porque um é fazendeiro e o outro é médico e precisam disso, mas eu não estou com a mínima vontade de fazer isso na atual situação, se é o que o senhor pretende que eu faça. Eu adoro minha língua.

O velho solta outra gargalhada estridente.

- Grande piada! No fundo, todos vocês jovens brasileiros são loucos por cantores estrangeiros: americanos ou ingleses. Eu sei disso.

- Nada a ver. Música é outro assunto.

- Mesma coisa. Não me enrole, filho. Eu conheço você desde que usava fraldas. Sente-se aí. Não gosto de falar com alguém mais alto do que eu.

Wagner se senta numa outra poltrona.

- Linda, mande ver um lanche para nós três. Você nos acompanha, não?

- Se o senhor faz questão...

- Faço, ele diz, sorrindo.

- Vou providenciar, diz ela saindo da sala.

- Está com fome, garoto?

- Acho que sim. Eu estou dormindo há um dia e pouco... acho...

O velho fica olhando para ele com olhos sorridentes, como se o estudasse.

- Igualzinho a ela... - ele fala, depois de alguns segundos. – Só não tem seus olhos azuis, infelizmente. Você já viu ou tem alguma fotografia de sua mãe?

- Tenho uma, num porta-retratos no meu quarto.

- Seu pai lhe fala dela?

Wagner fica sem saber o que responder. Na verdade, Leonardo nunca lhe falou da mãe. Ainda mais depois de seu casamento com Magda. O nome de sua mãe só era pronunciado muito raramente por ele mesmo quando menino em conversas com o irmão que muitas vezes desconversava. Coisa que ele nunca entendeu direito.

- Bem... muito pouco... - ele finalmente responde.

- Eu fazia ideia. Ele não se deu ao trabalho nem de colocar a memória da mulher na mente do filho.

- Papai se casou de novo quando eu tinha sete anos. Ele não se sentia muito bem em comentar sobre ela na frente da Magda.

- Quem é Magda?

- Minha madrasta.

- Mas você sabe ao menos o nome dela?

- Claro, era Cristina.

- Christy. Christy Marie Russel. Foi assim que meu filho a batizou e registrou.

- Eu a conheci como Cristina... Se é que eu a conheci. Eu tinha meses de idade quando ela morreu.

- Eu sei disso. Por culpa do seu pai.

- Que é que o senhor sabe sobre isso? O senhor não pode falar assim do meu pai.

- Eu sei tudo sobre isso! E eu estou na minha casa. Posso falar mal de quem eu quiser e quando eu quiser, principalmente em se tratando do seu pai!

Wagner se levanta nervoso.

- Mas eu não sou obrigado a ouvir, sou?

- É!

- O senhor não tem autoridade sobre mim. Eu mal o conheço e não pedi pra vir pra cá. Nas leis brasileiras isso é sequestro, rapto e eu quero voltar para São Paulo.

Mr. Russel encosta-se tranquilamente na cadeira, sorrindo irônico e diz:

- Pode voltar.

- É óbvio que eu não vou poder voltar sozinho. Foi o senhor quem me trouxe.

- E não vou mandá-lo de volta até que tenhamos conversado tudo.

- Tudo o quê? Eu não quero conversar nada, nem quero ouvir o senhor falar mal do meu pai ou da minha família, mesmo que seja pra defender minha mãe. Uma mãe que eu nem conheci.

Mr. Russel se levanta sério e pensativo. Aos poucos o sorriso vai aparecendo em seu rosto e ele finaliza:

- Eu gosto de você, garoto. É bem como sua mãe.

Linda entra para anunciar que o lanche está servido.

- Você deve estar com muita fome. Isso tira o humor de qualquer um. Vamos comer alguma coisa.

O velho começa a andar na direção da porta pela qual Linda apareceu, mas Wagner se coloca na frente dele e o faz parar.

- Eu não quero tomar nem comer nada. Eu quero voltar pra casa. Meu pai, meu irmão e minha madrasta devem estar aflitos por minha causa. Eu quero voltar.

O velho o olha por alguns segundos e diz:

- Um telefonema o deixaria mais tranquilo?

Wagner percebe que não vai ser fácil dobrar a vontade do lorde inglês e com um suspiro responde:

- Serve.

- Linda, depois da refeição, faça uma ligação para o Brasil. Você sabe o número, não sabe?

- Sei, sim, senhor, ela responde.

- Satisfeito agora? - ele pergunta ao bisneto. – Você vai perceber que eu não sou nenhum bicho de sete cabeças. É isso mesmo, Linda?

- Certinho, Mr. Russel, ela responde com um leve sorriso.

- Vamos comer? - ele manda.

Ele passa por Linda na porta. Antes de segui-lo, Wagner pergunta a ela em voz baixa:

- Você é o que dele? Cabo eleitoral? Secretária ou o quê?

- Acreditaria se eu dissesse que eu sou amante? - ela pergunta no mesmo tom.

- Não... - fala Wagner rindo.

- Então eu sou tudo, menos isso. Enfermeira, governanta, secretária, neta postiça, um pouquinho de cada coisa.

- E chefe da gang também?

- Vice... Ele tem um homem nesse cargo efetivamente.

- Falando sério, Linda... Ele é mesmo meu bisavô?

- Quando você descobrir quem ele é interiormente, vai querer que ele seja, mesmo que não seja. É um amor de pessoa, pode crer.

- Wagner! Linda! - grita o velho, alto o suficiente para ser ouvido no outro quarteirão. – Vocês vêm ou não!?

- Imagine se não fosse... - fala Wagner.

********************************

CASA BRANCA

Quando o telefone toca na sala da casa grande da fazenda, um frio corre pela espinha de todos que estão na casa e o ouvem. Cláudio ficou sentado perto dele o tempo todo e o atende com o coração aos pulos. Tânia está a seu lado e Mônica perto da janela. Magda e Bárbara aparecem na porta da cozinha, seguidas por Matilde. Beto vem de fora onde estava com a turma.

- Alô... - Cláudio atende.

- Cláudio!?

- Alô! Fale mais alto, por favor. A ligação está horrível.

- Cláudio, sou eu, Wagner.

Os olhos de Cláudio brilham e ele se senta.

- Wagner! É você mesmo? Que aconteceu? Você está bem?

- Eu estou ótimo. Tranquilize o papai e o pessoal. Eu estou bem.

- Onde você está? Está falando de onde?

- É meio bizarro, mas... eu estou em Londres.

- O quê?! Londres?

- Isso mesmo.

- Mas como é que você foi parar em Londres, cara?

- Eu ainda não sei detalhes, mas acho que eu estou seguro.

- Acha? Quem te levou praí? Não foi sequestro, foi?

- Mais ou menos... Digamos que eu fui... raptado amigavelmente, à força. Eu estou na mansão Russel. Esse nome te diz alguma coisa?

Cláudio olha para Magda e repete.

- Russel?

- É, na casa do nosso bisavô.

- Stanley Russel...

- Você já ouviu falar dele? Eu nem sabia que ele existia.

- Você nunca se interessou pela árvore genealógica da família, mas... tem certeza que é ele? Pode ser um golpe de alguém que...

- Cara, se não é ele, tem tudo a ver. É muito velho, bem velho e não tem cara de sequestrador. O cara é podre de rico e falou mal do nosso pai o tempo todo.

- Ah, então é ele mesmo.

- Você tem muito que me contar quando eu voltar pro Brasil. Por que eu nunca soube disso?

- Acho que você não vai precisar que eu lhe conte nada. Se ele te levou daqui dessa forma, acho que ele quer contar tudo pessoalmente. Só tenho medo do jeito que essa narrativa vai sair da boca dele.

- Como assim? Não entendi nada. Ele é perigoso?

- Só te peço pra selecionar bem o que esse homem tem pra te contar. Ele odeia o nosso pai.

- Já percebi.

- Ele pode querer colocar você contra ele.

- Mas o que o papai fez de tão errado? E por que você o trata como "esse homem"? Ele é nosso bisavô.

- Ele está aí por perto?

- Não, eu pedi pra telefonar sozinho.

- Eu não posso te explicar por telefone porque eu também não sei de muita coisa, mas Stanley Russel pode transformar os Valle em pó se quiser, num estalar de dedos.

- Como assim?! Por quê?

- Bem, isso é irrelevante agora. O importante é que você está bem. E eu estou muito feliz com isso. Estava ficando quase maluco preocupado com você. Todo mundo aqui.

- O papai está aí?

- Não, senão não era eu quem estava falando com você. Ele foi pedir ajuda à polícia de Campinas pra te procurar.

- Escuta, Cláudio, eu já estou nas primeiras páginas dos jornais?

- Da Folha de Casa Branca, com certeza, Cláudio responde sorrindo.

- Poxa, que legal! Eu vou tirar a maior onda com a turma quando voltar.

- Estão todos aqui preocupados com você, o Beto e companhia limitada.

- Fala pro Guto que eu fui sequestrado mesmo e que estão pedindo cem milhões de resgate por mim. Tenho certeza que ele vai acreditar.

- Você não tem juízo mesmo.

- Estou brincando. Manda um beijo pra Magda, pra Didi e pra todo mundo que se preocupou comigo. Eu vou ter que desligar, agora. O velho disse que é avarento e a conta vai ser grande. Eu estou me sentindo um rato de porão nesse casarão. Você precisa ver. Cabem duas Quatro Estrelas no jardim dele!

- Eu acho que você está exagerando, mas... como ele está te tratando até agora?

- Eu acho que bem... Ele me chama de garoto, de meu filho e outros trecos... mas parece inofensivo. Ele tem mais de oitenta, não tem não?

- Oitenta e cinco, acho... Quando o papai se casou com a neta dele, ele tinha... cinquenta e oito mais ou menos. Deve ser isso.

- Você está por dentro, hein?

- Não há nenhuma vantagem nisso. Eu o conheço menos que você agora. Eu nunca o vi. Só sei que é muito rico. Talvez três vezes mais que o papai.

- Pela casinha que ele tem eu posso calcular... mas, fala sério, Cláudio, o que você acha que ele quer comigo?

- Não sei. Na melhor das hipóteses pode estar querendo só te conhecer.

- Mas me tirar daí a força...

- Ele é um velho sozinho, milionário e excêntrico. Acho que deve ter pensado que você não quisesse ir de livre e espontânea vontade e papai poderia não deixar também, por isso achou mais fácil te pegar na marra.

- E eu nem vi a viagem. Dormi o tempo todo... Bom, vou desligar, tá? Se ele deixar, depois eu ligo de novo. Estou me sentindo melhor depois de ter avisado você. Eu vou me divertir um bocado, se vou.

- Cuidado com ele, hein. Ele pode te colocar nos joelhos e te aplicar meia dúzia de palmadas.

- Eu já pensei nisso umas duas vezes nesse curto espaço de tempo que eu estou aqui. O velhinho é baixinho, mas tem um gênio... Mas está mais fácil eu fazer isso com ele. Oitenta e cinco anos... Ah, maninho mais velho, é verdade que a nossa mãe se parecia comigo, ou melhor, é verdade que eu me pareço com ela?

Cláudio fica em silêncio por um instante e responde:

- Parece sim. Você nunca reparou pela foto?

- Nunca nem liguei pra isso. Só sei que ela era muito bonita.

- Era sim. Você é uma versão masculina dela. Só não tem olhos azuis.

- Foi o que ele disse. Posso te encher mais um pouquinho?

- Você não faz outra coisa, Cláudio diz sorrindo.

- Só umazinha... Como ela era, digo, como pessoa?

Cláudio fica sério e respira fundo. Aquele assunto sempre o deixou desconfortável.

- Wagner, a gente está no telefone. Desligue, tá? Foi muito bom ouvir sua voz de novo. Espero que você volte logo.

- Eu também e aí você me explica por que me deixa sempre no vácuo quando fala da nossa mãe. Dá um beijo na Magda e nas meninas e diz pro papai... que eu não vou acreditar em nada do que aquele velho rabugento disser... que eu o amo demais.

- Anotado.

- Tchau, maninho.

- Bye.

Cláudio desliga o telefone e olha para todos que ouviram a conversa toda em suspense, olhando para ele. Ele sorri e se volta para Magda que já está ali sentada no sofá perto dele.

- Ele está bem mesmo? - ela pergunta.

- Graças a Deus. Ele foi levado daqui pelo bisavô e está em Londres nesse momento. Beto, pode passar a notícia pro pessoal lá fora.

- Nossa Senhora do Desterro ajudou.

- Não tenha dúvida. Do Desterro, do Rosário, das Dores... Todas elas.

Beto sai. Mônica sai com ele.

- Você disse que ele... estar lá não o deixa fora de perigo. Que o velho pode colocá-lo contra seu pai, Cláudio?

- É. Ele não gosta muito do papai e é capaz de colocar bobagens na cabeça do Wagner.

- Que tipo de bobagens? - Tânia pergunta.

- Não sei, mas imaginação é o que não falta pra ele. O casamento do meu pai com a primeira mulher não foi lá muito normal e ele não perdoa o papai até hoje.

- Eu espero que ele perceba que o Wagner não tem culpa nenhuma disso, Magda fala.

- Bom, de qualquer maneira, graças a Deus, nós já sabemos onde o Wagner está. O papai vai resolver o que fazer: se deixá-lo lá ou colocar a Scotland Yard atrás do Mr. Russel. Eu vou até o Santa Mônica e à Santa Casa avisar todo mundo que está tudo bem e depois ver se está tudo em ordem no orfanato.

- Eu vou com você, diz Tânia.

- Não precisa. Fique, eu vou voltar pra cá à tarde.

- Eu preciso dar uma olhada na casa e, se vamos ficar aqui, queria pegar umas roupas pra nós dois.

- Eu faço isso. Vai ser muito cansativo você ir e voltar. Eu faço uma viagem só. Fique aqui com a Magda e sua mãe.

Ela aceita não muito satisfeita. Cláudio olha para Magda.

- Eu quero conversar com o papai sobre tudo isso, mas como ele vai chegar antes de eu voltar, conta pra ele o mais importante: que o Wagner está bem, está em Londres e se Deus quiser volta logo pra gente.

Ela sorri e ele a abraça.

- Eu volto à tarde.

Cláudio beija Tânia e sai. Lá fora, a turma toda de Wagner está em volta da caminhonete de Beto comemorando a notícia do encontro do rapaz. Mônica está no meio deles.

- Eu sabia que não poderia ser sequestro, diz Guto. - Se fosse, o Wagner estava ferrado. Ninguém daria um tostão por ele.

- O cara está em Londres, diz Leo. - Isso vai dar conversa pra um mês quando ele voltar.

Quando Cláudio sai da casa e se aproxima deles, Beto pergunta:

- A gente não sabia que vocês tinham família na Inglaterra, Cláudio. É sério mesmo isso?

- É, mas eu gostaria que vocês não espalhassem isso pela cidade nem pra ninguém ainda. É um assunto de família e eu não vou querer ficar respondendo sobre isso. A cidade é pequena e eu tenho pacientes que podem fazer perguntas...

- Fique sossegado, isso não sai daqui, não é, turma? - ele pergunta a todos que concordam unanimemente.

- Mas que isso é muito legal, é! - fala Guto. – Porque será que ele nunca falou pra gente?

- Porque ele não sabia, responde Cláudio.

- Ele descobriu isso agora? - Sandra pergunta.

- Foi.

- É... Pelo menos a gente tem certeza agora que ele não fugiu daqui, diz Janete, olhando para Mônica com uma ponta de despeito.

Todos olham para ela e Beto a repreende:

- Janete... por favor!

- E por que ele fugiria? - Cláudio pergunta a ela.

- Todo mundo aqui sabe do rolo em que meteram ele. O Wagner estava apavorado com isso. A primeira impressão que eu tive foi que ele tivesse saído daqui de Casa Branca pra não se complicar.

É a vez de todos os olhos se voltarem para Mônica que não sabe o que fazer de tão envergonhada.

- Janete, você gosta do meu irmão? - Cláudio pergunta.

- Todo mundo sabe que eu amo o Wagner, ela responde.

- Então não espalhe esse seu pensamento pra mais ninguém. O Wagner não fugiu de nada, nem deve nada pra ninguém. Cuidado com as coisas que você diz, antes de ter certeza de que são verdades.

Ela desvia o olhar e se cala.

- Bom, gente, eu vou até a cidade. Se quiserem ficar por aqui, estejam à vontade. Tenho certeza de que a Magda vai adorar receber vocês.

- Não, a gente também está indo, diz Beto. – Eu vou avisar meu pai. Ele está bem preocupado também. Se você quiser escolta até a cidade, a gente vai com você...

- Vai ser um prazer, Cláudio aceita.

- Todo mundo pra caminhonete, cambada!

Todos começam a entrar no veículo. Mônica pergunta:

- Posso ir com você? Meu pai levou nosso carro e... eu preciso de uma carona. Quero dar uma passada no orfanato. Me deixa lá?

- Claro.

Eles entram no carro que sai da fazenda, seguido pela caminhonete de Beto.

Na varanda da fazenda, Tânia está encostada na porta, observando tudo. Sente arder dentro dela um ciúme contido.

No carro, Cláudio diz:

- Eu tenho que te agradecer por tudo que você fez desde ontem.

- Não precisa. Eu gosto muito da sua família. Adoro suas irmãs e a Magda. Foi um prazer.

- Por mim também. Você sempre teve o dom de me acalmar.

- Você não precisa me agradecer por isso.

Ele olha para ela, respira fundo e se cala, passando a prestar atenção na estrada.

*****************************

LONDRES

Depois do lanche, o velho Mr. Russel vai para seu escritório e se tranca com seu advogado, Mr. Bartley. Não sai de lá pelo resto da manhã. Linda trata de mostrar para Wagner o resto da casa.

- Ele vive sozinho em tudo isso? Sem nenhum parente?

- É estranho que você não saiba nada sobre ele, mesmo que fosse o lado mau. Você nunca ouviu nada a respeito da sua família inglesa?

- Nada. A única coisa que eu sabia é que minha mãe perdeu os pais ainda criança e casou com meu pai anos depois. Ah, sabia também que ela era de origem europeia, mas nunca pensei que tivesse ainda parentes vivos, muito menos um avô milionário.

- Mr. Russel vai contar tudo pra você com o tempo. Eu não quero me meter nisso... por enquanto.

- Por que ele te contratou pra me raptar? Justo você, uma moça que parece ser mais nova que eu.

- Ele não me contratou, eu me ofereci.

- Se ofereceu? A troco de quê?

- Você vai saber disso também, mais tarde.

- Você é cheia de mistérios. Abre o jogo. Eu não conto pra ele que você me contou.

- Eu confio em você, só não confio nos vários ouvidos que essa casa tem.

- Não me diga que aqui dentro tem espiões?

- Não propriamente espiões, mas... informantes muito comprometidos com ele que não deixariam que nada desse errado com seus planos.

Wagner ri.

- Estou adorando tudo isso. Quer dizer que eu faço parte de um plano dele.

- Desde que nasceu.

- Isso é muito legal. Eu, Wagner Valle Neto, faço parte de uma história de suspense e sou o mocinho! Estou doido pra ver o "happy end".

- Cuidado! Antes de ter o "happy end" o mocinho passa por maus bocados, hein!

- Mas sempre tem uma mocinha por perto, ele diz, olhando-a nos olhos.

Linda desvia o olhar e diz:

- Eu posso ser uma agente do outro lado.

- Não leva jeito. Você não tem cara de vilã... e nem de anjo...

- E tenho cara de quê, então?

- Depois eu respondo, ele diz com um sorriso malicioso. – Ainda estou analisando.

- Você não perde tempo, hein?

- É... E isso já me deixou numa encrenca dos diabos, ele diz, lembrando-se de Mônica.

Eles chegam a um recanto no jardim onde há um banco e se sentam nele.

- Eu sei.

- Sabe? Sabe do quê?

- Eu sei de quase tudo sobre você.

- Quase tudo? Como? Não vai me dizer que essa coisa de espião acontece de verdade. Você me espionava?

- Tirava informações. É diferente.

- Pra ele?

- Isso mesmo. Foi bom você perguntar isso. Não tem nada de pessoal nas coisas que eu fiz.

- E o que você sabe a meu respeito?

- Já disse, quase tudo.

- E o que está faltando?

- Depois eu conto.

- Ah, já entendi. O velho mistério. Mas, vamos mudar o jogo, elas por elas. Você sabe tudo de mim, eu só sei seu nome e que é uma ótima atriz, não sei nada sobre você, comece.

- O quê?

- Eu quero te conhecer. Conhecer a única mulher que conseguiu me fazer, fazer uma coisa que eu não queria... sem que eu estivesse bêbado, claro.

- O quê? - ela pergunta sorrindo.

- Eu não mostraria o armazém da fazenda pra qualquer pessoa depois da meia noite e ainda oferecer o lugar como pousada por uma noite, sem autorização do meu pai. Só quem poderia fazer isso era ele. Se eu estivesse em casa agora, ele teria me esfolado vivo.

- O castigo foi merecido então?

- Não pode ser chamado de castigo. Está valendo a pena. Mas você ainda não me disse como você e seus amiguinhos me trouxeram pra cá. Me colocaram num caixão?

- Mais ou menos isso. Do que você se lembra?

- Bom, me lembro do soco e me lembro que dois grandões me empurraram até um carro na estrada e nós entramos nele. Depois o brutamontes que me bateu colocou um pano molhado na minha cara e eu apaguei. Não vi mais nada.

- Dali mesmo nós fomos pro aeroporto onde estava o jatinho particular de Mr. Russel. Na cidade de Campinas, o aeroporto é Vira...

- Viracopos?

- Isso. Dentro do jato havia lugar suficiente pra caber o carro onde a gente estava, de modo que nem precisamos sair dele pra entrar no avião. Você tinha sido colocado debaixo do banco traseiro do carro porque é óbvio que haveria uma inspeção nele antes que fosse embarcado. Como tudo foi feito com muito cuidado, ninguém notou nada e viemos pra cá sem maiores problemas.

- Debaixo do banco? Não tinha um lugar mais apertado, não?

- Mr. Russel pensou em tudo. O carro tem muito espaço, depois eu te mostro. E quando entramos no avião você saiu de lá, claro.

- E eu dormi o dia inteiro só com aquele coice de mula?

- Quando você ameaçava acordar era sedado de novo. Mr. Russel achava que se você acordasse dentro de um prazo muito curto de tempo, iria querer avisar sua família e ele não teria coragem de recusar, mas ele queria dar um susto neles primeiro.

- O homem é fogo, hein? Eu vou querer saber e muito breve o motivo dessa rixa com meu pai.

- Ele vai te contar tudo, não se preocupe.

- Por que ele se trancou lá no escritório e não quer mais falar comigo?

- Não é que ele não quer falar com você, ele tem muitos negócios a tratar.

- Nessa idade e rico como é... no lugar dele, eu me aposentaria.

- De certa forma é disso que ele está tratando.

- Quem vai cuidar de tudo isso quando ele parar?

- Isso só ele vai poder dizer. No testamento dele vai estar esclarecida essa dúvida e mais outras que você possa ter.

- Testamento? Que coisa mais fúnebre... Ele realmente está dobrando o cabo, mas não parece estar precisando de testamento ainda.

- Eu também penso assim, mas, na idade dele, a morte não manda recado. E ele tem muito dinheiro. Não pode deixar essa fortuna nas mãos de qualquer um.

Os dois ficam algum tempo sem falar. A neve começa a cair mais forte, o frio fica ainda mais cortante como se quisesse atravessar os agasalhos.

- Uma hora dessas, eu estaria de sunga curtindo o sol de trinta graus à sombra na beira da represa. Vamos voltar pra casa?

- Você vai se acostumar.

- Como você se acostumou? Eu sei que você não é daqui. Muito pelo contrário, você é portuguesa. Seu sotaque português é um charme.

- Mais eu morei algum tempo no Brasil. Sou portuguesa de nascimento. Eu vim pra cá com quinze anos.

- E trocou nosso país tropical por essa geladeira?

- Eu vim trabalhar.

- Com quinze anos?

- Eu não nasci em berço de ouro como você. Meu pai era português e perdeu tudo no Brasil. Conseguiu um emprego num cargueiro e, como só tinha a mim, conseguiu me trazer junto com ele pra cá, primeiro pra Portugal, depois norte da França. De lá pra cá foi um pulo. Meu pai morreu e Mrs. Russel, que era dona de um orfanato em East End, me encontrou e me trouxe pra cá pra ser dama de companhia dela. E eu não saí mais daqui.

- Então faz pouco tempo que ela morreu.

- Quatro anos.

- Você sabe se minha família ficou sabendo?

- Não, não ficou. Eu acho que ninguém lá tinha interesse em saber disso. Você e seu irmão não a conheciam. Seu pai não tinha nenhum tipo de relacionamento amigável com Mr. Russel e vice-versa, por isso não havia motivo para informá-los.

- Eu nunca imaginei que houvesse tanto problema entre as famílias dos meus pais. Meu pai nunca tocou no assunto, nunca. Nenhum comentário. É certo que eu não entendia por que meu irmão tinha um nome estrangeiro entre o nome dele e o sobrenome do meu pai, Russel Valle. Eu não tenho Russel no meu nome. Tenho o nome do meu avô paterno, Wagner Valle Neto, mas também nunca me importei em perguntar pro velho quem tinha sido minha mãe. Se tinha família ou não. Ela morreu quando eu era um bebê. Pra mim era suficiente saber que ela se chamava Cristina, ou Christy, como eu descobri hoje pelo meu bisavô, e era muito bonita, mas na idade em que eu podia começar a fazer perguntas sobre isso, meu pai se casou de novo. Uma surpresa pra mim. A Magda só tinha vinte e dois anos. Um ano depois, nasceu minha irmã mais velha, outra novidade. Aí eu comecei a me encostar na situação. Me apeguei à nova mulher, comecei a chamá-la de mãe e esqueci o resto. Esqueci que um dia uma mulher chamada Cristina havia sido mulher do meu pai e havia me colocado no mundo... Bizarro, não?

Linda não responde.

- Vamos voltar pra dentro da casa? - ele pede. – Está muito frio aqui fora.

- Vamos, ela concorda.

RETORNO AO PARAÍSO – ERA UMA VEZ... EM LONDRES?

PARTE 1

            
            

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