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O cheiro familiar de desinfetante, os passos apressados pelos corredores e o som intermitente dos monitores. Tudo estava igual... e, ao mesmo tempo, tudo parecia completamente diferente.
Laura apertou o crachá contra o peito e respirou fundo antes de cruzar as portas do hospital. Suas mãos tremiam levemente. Ela havia ensaiado esse momento na cabeça por dias. Sabia que não poderia evitar para sempre. Agora, não era apenas ela. Havia uma vida crescendo dentro dela - uma vida que ela amava mais do que qualquer coisa no mundo.
Assim que atravessou o corredor principal, percebeu rapidamente os olhares. Disfarçados, alguns. Escancarados, outros.
- Olha... é a Laura... - ouviu uma voz baixa no fundo.
- Ela voltou. - Outra respondeu.
Laura fingiu não perceber, segurando firme a postura. Ela caminhou até o vestiário, onde sabia que encontraria algumas colegas.
Ao abrir a porta, deu de cara com Camila e Thaís, duas enfermeiras que sempre foram próximas, mas que agora a olhavam com aquele misto de surpresa, pena e curiosidade.
- Laura... - Camila começou, com aquele tom meio cuidadoso - a gente... bom, a gente ficou sabendo.
Thaís completou, meio desconcertada:
- Todo mundo meio que... já sabe.
Laura respirou fundo, colocando a mão instintivamente sobre a barriga, que já começava a despontar, apesar das roupas largas.
- É verdade - disse, sem rodeios. - Eu estou grávida.
O silêncio se espalhou por alguns segundos. Então, Camila quebrou o gelo:
- E... é do Hikaru, né?
Ela assentiu, mantendo o queixo erguido, apesar da dor apertar no peito.
- Sim. - Seus olhos marejaram, mas ela segurou. - E, sim... ele voltou para o Japão.
Thaís franziu a testa, solidária:
- Ele sabe? Sobre o bebê?
Laura apertou os lábios, olhando para baixo, lutando para manter a voz firme.
- Sabe. - Sua mão apertou ainda mais a barriga. - Mas a vida dele... a vida dele é lá. E agora... a minha vida é aqui. Com meu filho.
Camila se aproximou e segurou sua mão, apertando com carinho.
- Você é muito mais forte do que imagina, Laura. E você não está sozinha. A gente tá aqui, tá? Sempre.
Thaís sorriu, tocando de leve o ombro dela.
- Vai ser a médica mais incrível e a mãe mais maravilhosa desse hospital. Pode apostar.
Pela primeira vez naquele dia, Laura sorriu de verdade. Ainda doía, claro. A ausência de Hikaru era um peso que ela não sabia se um dia deixaria de carregar. Mas, olhando para as amigas, para aquele lugar que sempre foi seu segundo lar, ela sabia que não estava completamente sozinha.
E agora... era mais forte. Porque não era mais só por ela. Era por dois.