Capítulo 3 Quando ninguém vê

Existem partes da vida que ninguém fotografa.

Não aparecem nos stories, nem viram lembrança de calendário.

São momentos silenciosos, quase invisíveis - mas que moldam tudo.

É quando ela segura o choro no banheiro para não assustar o filho.

Quando recolhe a roupa do varal no escuro, cansada, mas sem escolha.

Quando abre o aplicativo do banco e faz contas que não fecham - de novo.

Quando sente o peito doer de saudade de si mesma, mas engole a vontade de parar.

Esses momentos, ninguém vê.

Ninguém vê quando ela troca um desejo por necessidade.

Quando diz "tá tudo bem" para não preocupar.

Quando responde "já tô indo" mesmo sem forças para levantar.

Ninguém vê a solidão de ser forte o tempo todo.

O peso de não ter para onde correr quando o mundo aperta.

Mas mesmo assim, ela não perde a doçura.

Ainda arruma um jeito de dizer uma palavra boa.

Ainda se preocupa com os outros.

Ainda canta baixinho pro filho dormir, mesmo depois de um dia exaustivo.

É nos bastidores que ela se torna gigante.

Porque ali, onde ninguém vê, ela permanece.

E permanecer, às vezes, é a forma mais bonita de amar mesmo quando tudo ao redor grita para que ela desista.

            
            

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