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Antes de ser mãe, antes de ser tantas responsabilidades, antes de aprender a resistir com os dentes cerrados e o coração cansado... havia uma mulher.
Ela ria alto.
Gostava de se olhar no espelho sem pressa.
Sonhava com viagens que ainda não tinha feito, escrevia pensamentos soltos num caderno velho, e adorava sentir o vento bater no rosto quando andava sem destino.
Mas com o tempo, as urgências chegaram.
O amor por si mesma foi sendo colocado em segundo plano - não por falta de importância, mas por falta de tempo.
O espelho virou passagem rápida.
O corpo, um abrigo.
A alma, um depósito de tudo que ela ainda não conseguiu digerir.
A mulher que ela era foi ficando adormecida.
Ali, bem no fundo.
Aguardando uma brecha, uma pausa, um respiro.
E às vezes, num gesto simples, ela reaparecia.
Quando Luma dançava sozinha na cozinha.
Quando passava perfume mesmo sem sair de casa.
Quando colocava um colar só porque sim.
Ou quando chorava de saudade de si e depois enxugava o rosto com carinho, como quem diz: "Ainda tô aqui."
Ela não queria voltar a ser exatamente quem era.
Queria apenas se lembrar - de vez em quando - que ainda era.
Ainda era feita de sonhos.
De vontade de viver algo leve.
De desejo de ser olhada como mulher, não apenas como função.
A mulher que ela esqueceu de ser não sumiu.
Ela só ficou quieta, esperando a hora em que Luma se olhasse de novo - com os mesmos olhos que tem para os outros.
Com a mesma gentileza que oferece ao mundo.