Capítulo 6 Quando ela aprende a se escolher

Não foi de uma vez.

Ela não acordou num dia qualquer e simplesmente decidiu se colocar em primeiro lugar.

Foi um processo.

Lento, quase imperceptível - como as flores que nascem entre rachaduras.

Começou com gestos pequenos.

Como dizer "não" sem culpa.

Como aceitar ajuda, mesmo achando que precisava dar conta sozinha.

Como parar de se desculpar por sentir demais.

Ela percebeu que se doar inteira para o mundo e guardar só migalhas para si não era amor - era esquecimento.

E aos poucos, foi se escolhendo.

Quando sentava para tomar um café em silêncio.

Quando colocava uma música só porque queria dançar, sem plateia.

Quando comprava algo só para ela, sem precisar justificar.

Quando chorava e, ao invés de se julgar, se abraçava por dentro.

Escolher-se, para ela, não era egoísmo.

Era sobrevivência.

Era reconhecer que também precisava de cuidado.

Que também merecia leveza.

Que também era filha de si mesma.

Ela começou a ouvir a própria voz, abafada há tanto tempo pelo barulho das exigências.

E dentro dessa voz, encontrou algo bonito:

uma mulher inteira.

Ferida, mas viva.

Cansada, mas presente.

Assustada, mas ainda com fé.

E ali, naquele espaço novo de si, ela sentiu algo que há tempos não sentia:

paz.

Não a paz de quem tem tudo resolvido,

mas a paz de quem, enfim, se reencontra.

            
            

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