Capítulo 8 Onde ela aprende a respirar

Demorou.

Mas chegou o momento em que ela não queria mais apenas sobreviver aos dias.

Queria respirar. De verdade.

Não só o ar que entra e sai do corpo - mas aquele fôlego profundo que invade a alma e acalma por dentro.

Ela percebeu que respirar não era perder tempo.

Era se lembrar de que estava viva.

Respirou quando desligou o celular por uma tarde inteira.

Quando deixou a louça para depois e deitou no sofá com o filho no colo.

Quando escolheu o silêncio ao invés de se justificar de novo.

Quando abriu a janela e deixou o vento tocar o rosto, como se dissesse: "Você ainda sente. E sentir é um bom sinal."

Ela respirou quando parou de correr atrás do que a feria.

Quando entendeu que não precisava mais provar nada.

Nem para o mundo.

Nem para ninguém.

Nem para si mesma.

Começou a fazer pausas.

Pausas pequenas, mas profundas.

De olhar para o céu.

De ouvir uma música antiga.

De colocar as mãos no próprio peito e dizer: "Calma. Tô aqui com você."

Ali, naquele lugar entre o cansaço e o recomeço, ela encontrou um novo ritmo.

Não o ritmo do relógio - mas o da alma.

Mais lento. Mais consciente. Mais verdadeiro.

E foi ali, respirando com mais gentileza, que ela percebeu:

não precisava fazer barulho para existir.

Só precisava estar presente.

Estar presente na própria vida.

Nos próprios passos.

No próprio coração.

Foi assim que ela começou a voltar pra casa.

Não a casa com paredes.

Mas aquela que mora dentro dela.

A casa onde, enfim, ela podia respirar.

            
            

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