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Demorou.
Mas chegou o momento em que ela não queria mais apenas sobreviver aos dias.
Queria respirar. De verdade.
Não só o ar que entra e sai do corpo - mas aquele fôlego profundo que invade a alma e acalma por dentro.
Ela percebeu que respirar não era perder tempo.
Era se lembrar de que estava viva.
Respirou quando desligou o celular por uma tarde inteira.
Quando deixou a louça para depois e deitou no sofá com o filho no colo.
Quando escolheu o silêncio ao invés de se justificar de novo.
Quando abriu a janela e deixou o vento tocar o rosto, como se dissesse: "Você ainda sente. E sentir é um bom sinal."
Ela respirou quando parou de correr atrás do que a feria.
Quando entendeu que não precisava mais provar nada.
Nem para o mundo.
Nem para ninguém.
Nem para si mesma.
Começou a fazer pausas.
Pausas pequenas, mas profundas.
De olhar para o céu.
De ouvir uma música antiga.
De colocar as mãos no próprio peito e dizer: "Calma. Tô aqui com você."
Ali, naquele lugar entre o cansaço e o recomeço, ela encontrou um novo ritmo.
Não o ritmo do relógio - mas o da alma.
Mais lento. Mais consciente. Mais verdadeiro.
E foi ali, respirando com mais gentileza, que ela percebeu:
não precisava fazer barulho para existir.
Só precisava estar presente.
Estar presente na própria vida.
Nos próprios passos.
No próprio coração.
Foi assim que ela começou a voltar pra casa.
Não a casa com paredes.
Mas aquela que mora dentro dela.
A casa onde, enfim, ela podia respirar.